SWI, 14/09/2022
Por Luigi Jorio
A Suíça é autossuficiente no abastecimento de energia?
Não. A produção doméstica de eletricidade cobre apenas cerca de 25% das necessidades energéticas do país. Os 75% restantes são importados sob a forma de petróleo bruto, produtos petrolíferos, gás e carvão.
Em comparação aos outros países europeus, a Suíça é um dos países com o menor grau de autossuficiência energética, como mostra o gráfico abaixo:
De onde vem a eletricidade consumida na Suíça?
As 682 centrais hidrelétricas do país produzem mais da metade da energia de origem suíça (61,5% em 2021). O restante vem das quatro usinas nucleares (28,9%), usinas térmicas convencionais (3,6%) e fontes renováveis como a energia solar e eólica (6%).
Nos meses de verão, a Suíça produz mais eletricidade do que consome. No inverno, quando a produção hidrelétrica cai, o país precisa importar eletricidade dos países vizinhos, principalmente da França e da Alemanha.
Qual é a importância do gás russo para a Suíça?
A Suíça não possui reservas de gás exploráveis e depende inteiramente de importações. O gás representa cerca de 15% do consumo nacional de energia (a proporção é de 22% na UE) e por volta de metade desse gás vem da Rússia. Na Suíça, o gás natural é utilizado principalmente para a produção de calor e aquece cerca de um em cada cinco lares no inverno.
Por que se fala de uma possível escassez de energia no inverno?
No que diz respeito à eletricidade, a possibilidade de uma escassez no inverno não é nova. A Suíça não é membro da UE e, após o no inverno não é nova. A Suíça não é membro da UE e, após o fracasso do acordo-quadro com Bruxelas, há receios de que a UE corte o suprimento energético caso haja uma escassez no bloco econômico.
Este ano, o risco de escassez foi agravado pelo aumento geral dos preços da energia, pelo desligamento forçado de cerca da metade dos reatores nucleares na França (que fornecem eletricidade à Suíça durante o inverno) e pela seca prolongada. Os baixos níveis dos rios, a falta de neve nas montanhas e a pouca chuva reduziram as reservas de água em muitos reservatórios.
A redução do fornecimento de gás russo para a Europa também poderia afetar indiretamente o abastecimento de eletricidade na Suíça. A Alemanha, em particular, poderia reduzir as exportações da energia produzida por suas centrais elétricas a gás.
A ameaça da escassez de gás está diretamente ligada à guerra na Ucrânia. A Suíça não tem suas próprias instalações de armazenamento de gás e, portanto, depende inteiramente das importações. Uma escassez na Europa também seria sentida na Suíça.
A Suíça realmente corre o risco de ficar sem eletricidade e gás?
Os alertas são mistos. Werner Luginbühl, presidente da Comissão Federal de Eletricidade, não descarta a possibilidade de cortes de energia por várias horas e aconselhou a população a armazenar velas e lenha. O ministro suíço da Economia, Guy Parmelin, por sua vez, tentou tranquilizar a população e pediu que não houvesse “nenhuma dramatização”. O que é certo é que a quantidade de eletricidade disponível na Suíça neste inverno será menor do que no passado e dependerá em grande parte da produção nuclear na França, do fornecimento de gás russo e das condições meteorológicas.
Mas Léonore Hälg, da Fundação Suíça para a Energia, não está preocupada. “Pode haver momentos em que o abastecimento não esteja 100% garantido em todo o país, mas eu não temo nenhuma repercussão na vida cotidiana”, disse ela à swissinfo.ch. “Mas tudo depende do que acontecerá na Europa, inclusive em relação ao gás.”
Enquanto isso, os lares estão correndo para se prevenir. As vendas de geradores e centrais elétricas (power station) aumentaram significativamente, como relata este artigo
Quais são as soluções do governo suíço para evitar uma crise energética neste inverno?
O Conselho Federal lançou um programa de armazenamento de gás nos países vizinhos e estabeleceu uma meta voluntária de 15% de economia para os próximos meses, seguindo assim o exemplo da UE. As empresas e os lares em particular estão convidados a reduzir as suas temperaturas. Um grau a menos resultaria numa economia de 5 a 6% de gás. A substituição voluntária de sistemas de geração de calor por bicombustível, ou seja, utilizar petróleo em vez de gás natural, resultaria em mais economia.
Em caso de escassez de gás, o governo poderia introduzir medidas mais drásticas, como a proibição do aquecimento das partes não utilizadas de edifícios ou das piscinas, assim como o uso de aquecedores elétricos radiantes, lareiras decorativas ou limpadores de alta pressão.
Em edifícios aquecidos a gás, os interiores só poderiam ser aquecidos até, no máximo, 19 graus. Da mesma forma, a água só poderia ser aquecida até 60 graus. Somente hospitais, consultórios médicos, maternidades ou lares de idosos estariam isentos dessas medidas de emergência. O cumprimento das restrições e proibições deve ser monitorado pelos cantões.
E quanto à eletricidade?
Com relação à eletricidade, o executivo pretende construir uma reserva hidroelétrica para enfrentar possíveis dificuldades no final do inverno. Mas o uso de usinas elétricas alimentadas a óleo não foi descartado.
Como no caso do gás, a Suíça visa uma redução voluntária do consumo de eletricidade. O potencial de economia é enorme, de acordo com o programa federal SwissEnergy. Com pequenas medidas, como desligar a televisão em vez de deixá-la em stand by [modo de espera], as residências poderiam economizar até 50% de eletricidade.
No setor terciário – o maior consumidor de eletricidade da Suíça – também há um potencial considerável de economia: escritórios e lojas poderiam reduzir seu consumo em um terço simplesmente evitando desperdícios, especialmente em iluminação, aquecimento e ventilação.
No pior dos casos, medidas de emergência e, como último recurso, cortes temporários de energia, mesmo nos lares, não podem ser descartados.
A fim de evitar uma situação de escassez, o Conselho Federal divulgou em 31 de agosto uma campanha de conscientização para reduzir voluntariamente o consumo. “A energia é limitada, não vamos desperdiçá-la. Cada um pode fazer a sua parte para garantir que haja o suficiente para todos”, disse Simonetta Sommaruga, chefe do Departamento Federal do Meio Ambiente, Transportes, Energia e Comunicações. As dicas para o público em geral e para as empresas mostram como economizar eletricidade, gás, óleo de aquecimento e outras fontes de energia.
A longo prazo, o governo quer aumentar a produção interna de eletricidade renovável, concentrando-se principalmente na energia fotovoltaica. Mas o futuro do fornecimento de eletricidade do país ainda não foi decidido. Um comitê de políticos e empresários acaba de anunciar uma iniciativa popular pedindo o levantamento da proibição da construção de novas usinas nucleares na Suíça.
Como os outros países estão se preparando?
Diferentemente da Suíça, alguns países europeus já anunciaram restrições e proibições para reduzir o consumo de gás e eletricidade. A Alemanha está considerando proibir a iluminação externa em edifícios e monumentos históricos. A temperatura em prédios públicos não residenciais não deve exceder os 19°C. O aquecimento das piscinas também está proibido.
A Espanha impôs o desligamento das luzes das lojas à noite. A França, por sua vez, proibirá a publicidade luminosa, se preparando para o racionamento de eletricidade nas empresas. Na Itália, ainda não foi tomada nenhuma decisão definitiva (o novo governo o fará após as eleições de 25 de setembro), mas medidas como restrições de aquecimento, redução da iluminação pública à noite e fechamento antecipado das lojas não foram descartadas.
Nota e curiosidade
Em outra matéria, o Swiss Info alegadamente fez um artigo de "verificação de fatos", para tentar "desmentir" matérias que falavam sobre a aplicação de pena de prisão para quem descumprisse a lei de racionamento de gás. Na matéria em questão, eles não negam a possibilidade da aplicação de penas de prisão, mas só relativizam a questão no sentido que "embora também seja teoricamente possível sob a NESA [Lei Nacional de Abastecimento econômico], um juiz também não deve considerar isso proporcional". Ou seja, existe a possibilidade de que um dono de empresa, ou cidadão que não cumpra as medidas de racionamento, e que independente da multa continue a transgredi-las, possa ir preso se o juiz decidir que é proporcional. Tudo fica a critério do juiz, e o órgão regulador só dirá "amém". No final da matéria eles concluem dizendo: "não verídico", sobre as matérias relatando a possibilidade de prisão. Isso não é checagem de fatos, isso é opinião! É uma tentativa grosseira de distorcer os fatos. Isso nós chamamos de falsa narrativa. Onde há um fato concreto, mas os "checadores" arrogando legitimidade para si passam a chamar sua narrativa de fato ou contestação.
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