Emmanuel Mácron foi reeleito na França, e isso não é lá uma grande novidade, pois os prognósticos sempre são claros quando se trata de política francesa. A França foi o primeiro país a ser dizimado por uma classe insurrecional intelectual, e moldada no espírito revolucionário maçônico da busca perpétua por um progresso único e exclusivamente humano: do homem, pelo homem, para o homem. A visão de que o homem é o próprio centro de tudo, e sua evolução passou a ser induzida, nada mais é do que o velho Luciferianismo tentando recriar o velho desejo vaidoso satânico de querer se tornar um deus, a promessa da serpente da busca do próprio sentido desconexo do Logos (razão).
A razão humana é um copo vazio, um céu sem estrelas, um planeta sem mares, um “oásis desértico”, não passa de uma contradição. Mas essa foi a filosofia que os iluministas legaram aos franceses. E sua busca incessante de fazer valer essa tradição vaidosa da busca do sentido no nada continua; e a França moderna é o reflexo disso. A França moderna é uma miscelânea de ideologias tendo como ponto inicial o Iluminismo e a Revolução Francesa (fruto do primeiro). A unidade nacional francesa está em volto de uma soberania pan-europeia, onde aos franceses é prometido um lugar de pompa na mesa dos lordes não-eleitos de Bruxelas, de ministros de estado que trocam de cargos nacionais por cargos (boquinhas) no Parlamento Europeu, e nas instituições europeias.
Os franceses foram condicionados de que o Nacionalismo e individualismo (ambos são intrínsecos) são maus, e algo do passado, algo que causou guerras e divisões, distúrbios e mal-estar. Para eles, a soberania nacional, que equivale ao individualismo nacional, não passa de um comportamento ruim, que alimenta a ganância, e no fim leva a guerra. Para eles, todas as guerras foram por motivos mesquinhos de ganância, e desejos pessoais projetados em um coletivo através de propaganda, e que ao se reconhecer como soberano, e a parte do resto do mundo – das nações – isso torna os povos propensos a guerra. Tudo foi resumido nos livros de história a isso. Todo contexto cultural da pós-modernidade foi retirado de cena. Por exemplo: o cientificismo levou ao Iluminismo, o Iluminismo a Revolução Francesa, e esse pensamento “científico” levou a Teoria da Evolução ao status de dogma, e uma filosofia permeadora em todas as esferas da vida acadêmica e cultural. O resultado foi que boa parte das ideologias ganharam uma pedra angular para a validação da utopia humana. Da escravidão e racismo científico a eugenia; o Darwinismo serviu de base para as vindouras ditaduras que varreriam o planeta.
As guerras foram consequência dessa adoção precipitada a nova ideia de que os homens podem criar uma realidade abdicando da razão. Os franceses acreditam que seu status de europeu vale muito mais do que tomar as rédeas em suas próprias mãos, e que é muito mais cômodo o velho status de membro de uma (suposta) soberania, do que de um estado soberano. O resultado é que muitos cidadãos enxergam a França como protagonista de uma espécie de superestado protetor das guerras e males do século 20, enquanto eles próprios vivem na pele os males da adoção desta ideia. Para os europeus, a União Europeia é a evolução natural e social desse pensamento evolucionista e progressista. Faz mais sentido uma União Europeia que quebranta o Nacionalismo, o estado-nação, e o individualismo, do que uma visão de que cada estado é soberano, e tem suas próprias leis, as quais são moldadas no espírito da cultura nacional. Dissolver a identidade nacional é o mesmo que escravizar as nações, mas para eles isso não é um mal, mas uma dádiva.
Pensamentos de que as perdas serão maiores que os benefícios mexem com o imaginário francês, e isso lhes causa temor de uma insegurança contínua sob a liderança de sujeitos que não recebem validação internacional dos seus vizinhos, da comunidade de modo geral. Para eles, o status é o mesmo que progresso, e esse progresso foi fruto das mudanças inexoráveis do “pensamento crítico” e racional, uma evolução implacável. Retroceder é ir contra essas leis inexoráveis, embora o capricho fale mais alto. Muitas pessoas dizem que a demografia também foi preponderante, mas isso não pesa sob o fato de que os franceses ainda são maioria, e que sua teima em pensar dentro do programa cultural das elites de Bruxelas os colocam de volta nos trilhos da crise.
Fazer parte da União Europeia hoje, não significa mais fazer parte de um mercado, de ter medidas de austeridade pelo bem do seu país, em acordo com o mercado comum. Fazer parte da União Europeia significa abrir mão de sua soberania, em parte primeiro, para depois fazê-lo totalmente. O maior problema da França hoje não é a economia, a desigualdade social, ou falta de equidade de gênero, mas sim o terrorismo islâmico, e a falta de identidade nacional, que é minguada dentro do círculo cultural e político da União Europeia. Quando os franceses reivindicam uma questão doméstica para seus “confiáveis” líderes, eles respondem com policiais e bombas de efeito moral, pois suas reivindicações atentam contra a soberania europeia, que está acima de tudo. Os cidadãos seriam prejudicados pela taxação extra sobre os combustíveis fósseis: os caminhoneiros pagariam mais caro para transportar produtos, seu trabalho autônomo seria prejudicado. Os agricultores pagariam mais caro pelo transporte, ou teriam de ver suas safras serem jogadas no lixo, e gastar mais dinheiro com produtos para produzir mais e passar pelo mesmo processo. Mas a resposta de Mácron é insensível, pois ela reflete a repulsa a uma reivindicação que não faz sentido dentro do programa cultural da elite europeia, de que a soberania e as questões nacionais devem ser sacrificadas por algo maior, no caso, a política verde tendo em vista as “mudanças climáticas”.
Mácron não pode atender aos interesses dos cidadãos e produtores franceses, porque ele escolheu servir a soberania europeia, e não a francesa. Um governo de crises é o que a França ganhou como legado dessa “evolução inexorável” para um governo europeu, e uma “cultura europeia”. Todo sacrifício nacional é feito em nome de uma soberania que se sobrepõe a dos franceses. Para a elite política francesa mancomunada com Bruxelas, os Coletes Amarelos são egoístas, pois querem continuar consumido combustíveis fósseis para prosperar, e viverem suas próprias vidas, em invés de abdicarem do lucro, viverem de subsídios, e dependerem cada vez mais do estado ao ponto de que seu individualismo seja obliterado de vez.
Porém, outro reflexo dessa perda de soberania é a imigração em massa: os franceses não satisfeitos em perderem sua soberania por uma agenda internacional que os coloca em marcha para um futuro miserável, também estão sendo literalmente trocados por uma cultura estrangeira. Para os proponentes de que todas as culturas são iguais, e todas são elevadíssimas, portanto, lícitas, os franceses devem celebrar a imposição de uma cultura que prega a aniquilação das demais, mesmo que esse desejo visceral seja posto em prática. Inúmeras vezes ocorreram a tentados na França, e por inúmeras vezes os líderes e a mídia tentaram atenuar de que essa era a nova realidade, de que tudo o que deveriam fazer é elevar a questão, e tentar promover eles mesmos uma versão boa de uma cultura que literalmente não é. A programação mental que é propagada pelos meios de comunicação e políticos franceses é de que reconhecer uma cultura como o Islã como potencialmente violenta, e inconsistente com a convivência, em si representa um tipo de visão supremacista, e uma evocação ao velho fantasma do regime alemão dos anos 30. O Cristianismo é vendido como uma cultura que gerou as divisões e desigualdades, que atrasou o progresso, mas a nova cultura “iluminada” de relativismo e niilismo é boa, ela lança as bases para a equidade cultural, e todos devem se reconhecer como não sendo especial, mas igual. Todas as culturas têm o mesmo valor, portanto, devem ser celebradas e seus pontos positivos observados.
Assim, a tolerância ao terrorismo, intrínseco da teologia islâmica, passou a ser a bola da vez, acalentado de tempos em tempos, de atentado a atentado. Os franceses, tão ensinados no “pensamento crítico”, agora teriam de se tornar politicamente corretos pelo bem maior, mais compassivos e menos críticos. Suas críticas deveriam ser direcionadas a quem não concordasse com a lógica oficial. O resultado é que o “pensamento crítico” daqueles que pensavam exercê-lo foi suprimido, em favor daqueles que não têm, mas acreditam que têm, assim como esses, que foram silenciados. Mácron é incapaz de criticar o Islã sem antes fazer a dicotomia do Islã extremista do Islã pacífico e secular. A grande ironia francesa: uma revolução que começou como guerra contra a religião, e hoje é um país secular que garante a intolerância religiosa. A França moderna é reflexo de uma degradação revolucionária, de um progressismo que pregava o desprendimento dos valores cristãos, mas a condução da nova sociedade sob a liderança de burocratas revolucionários que pediram o sacrifício individual, em favor do coletivo. O Status Quo na França não é novidade, nada mais é do que uma evolução natural da utopia da razão humana (loucura), sob o "dogma" (Logos a verdadeira razão). As velhas promessas foram requentadas, os velhos desafios permanecem incólumes, e as mesmas abordagens que tornam as coisas sempre as mesmas estão prontas para serem postas em prática. Nada de novo, isso é a França.
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