Autor: Martin Erdmann, Forcing Change, Volume 5, Edição 1.
Nota do Editor: O artigo a seguir, escrito pelo meu amigo Martin Erdmann, entrelaça os primórdios do movimento psicodélico/LSD com a crescente onda da transformação do Ocidente. Embora tenha uma ênfase na história, o artigo também lida com um tópico que tem impacto em cada família no mundo ocidental — porque somos uma sociedade drogada.
Como editor, acrescentei diversas seções que apresentam detalhes complementares. Na verdade, uma seção vincula as descobertas de Martin com as influências da Igreja Emergente.
Este artigo do Dr. Erdmann foi publicado originalmente no European Journal of Nanomedicine, 2009, volume 2.
Resumo
O cristianismo ocidental sempre forneceu uma base racional e moral para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, incluindo a Nanomedicina Clínica. Todavia, essa base racional começou a ser fortemente disputada há aproximadamente meio século. Este estudo delineará algumas das razões centrais por que intelectuais influentes na Inglaterra e nos EUA, principalmente na parte final do século 20, concluíram que a irracionalidade seria um fundamento melhor para os empreendimentos científicos.
Aldous Huxley imaginou uma sociedade de um mundo futuro que é totalmente controlada por um grupo elitista de cientistas. A obra de ficção dele que é melhor conhecida e que explica essas sérias possibilidades tem o título Admirável Mundo Novo. Alguns anos mais tarde, ele "revisitou" seus prognósticos somente para concluir que tinha subestimado a velocidade da mudança que estava cumprindo seus mais profundos temores. Voltando-se para o misticismo, tanto em suas variedades meditativa e induzida por drogas alucinógenas, ele preparou o caminho para o florescente Movimento do Potencial Humano, que foi formado inicialmente no Instituto Esalen, situado em Big Sur, na Califórnia, no início dos anos 1960s. Além disso, o professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Stanford, Willis W. Harman — que tinha se envolvido na pesquisa dos efeitos cognitivos e sociais do consumo do LSD — realizou seminários no Instituto Esalen sobre as "Potencialidades Humanas". Sob sua supervisão como diretor no Instituto de Pesquisas de Stanford, um estudo científico intitulado Imagens em Transformação do Homem foi realizado de 1972 a 1974, com o propósito de modificar as "premissas conceituais subjacentes na sociedade ocidental" — incluindo uma modificação radical da cosmovisão racional dos cientistas ocidentais.
Como presidente do Instituto das Ciências Noéticas de 1977 a 1996, Harman defendia abertamente um ponto de vista místico para a vida, afirmando que uma abordagem espiritual para a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico expandiria grandemente nossa compreensão da unidade monística do universo. [Nota do Editor: o Monismo é definido no Dictionary of Mysticism and the Occult (Dicionário de Misticismo e do Ocultismo), de Nevill Drury, como "a crença mística e religiosa que tudo é Um, que um Ser supremo e infinito envolve toda a criação. No hinduísmo, essa crença é chamada de Advaita."].
Sobre o Autor
O Dr. Martin Erdmann estudou teologia em Columbia, SC (Mestre em Teologia), em Basileia, na Suíça, e em Aberdeen, na Escócia. Em 1999, ele recebeu uma graduação em História da Igreja Moderna, na Universidade Brunel, em Uxbridge, Inglaterra.
O Dr. Erdmann já lecionou em diversos cursos e por quatro anos chefiou o Departamento de Novo Testamento da Staatsunabhaengige Theologische Hochschule, em Basileia, na Suíça. Como um cientista sênior, ele trabalhou em um projeto de uma Clínica de Nanomedicina, no Hospital Universitário de Basileia.
Ele é diretor e fundador do Instituto Verax, e autor de Building the Kingdom of God on Earth: The Churches’ Contribution to Marshal Public Support for World Order and Peace (Construindo o Reino de Deus na Terra: A Contribuição das Igrejas para Arregimentar o Suporte Público para a Ordem e a Paz Mundiais; Wipf and Stock Publishers, 2005). O endereço do Instituto Verax na Internet é http://www.verax.ws.
Introdução
Nos séculos passados, a ciência, a tecnologia e a educação na sociedade ocidental se beneficiaram grandemente com o fundamento de raciocínio racional que a fé cristã oferece. Parece lógico, portanto, que o desenvolvimento de um campo altamente sofisticado e complexo como a Nanomedicina Clínica seja melhor facilitado por uma contínua afirmação da fé cristã de um universo racional e moral. Entretanto, um forte ímpeto para descartar esse fundamento é observável desde o início dos anos 1960s.
Inspirado em parte pelas publicações de Aldous Huxley e por sua defesa das drogas psicodélicas, intelectuais como Willis W. Harman enfatizaram os exercícios irracionais da meditação e do esvaziamento da mente, ou o uso de alucinógenos como uma base mais propícia para o progresso científico e tecnológico. Propondo uma nova metafísica da ciência/tecnologia, os proponentes do Movimento do Potencial Humano vêem a herança religiosa do Ocidente — baseada nas premissas cristãs — como o maior empecilho para uma evolutiva "consciência cósmica". Obtendo uma compreensão mais abrangente dos processos espirituais e materiais do universo, uma elite misticamente inclinada de mutantes humanos tecnicamente avançados seria capaz de dar partida a uma sociedade socialista mundial homogênea, talvez não muito diferente daquela imaginada em Admirável Mundo Novo.
Admirável Mundo Novo
O famoso escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) expressou sua crescente insatisfação com a civilização ocidental na sátira distópica Admirável Mundo Novo, publicada em 1932. [1]
Apesar de seu tom atemorizador e de uma visão horrível do futuro, o livro estava destinado a se tornar sua obra literária mais aclamada. Retratando magistralmente a desumanidade prevalecente em uma sociedade tecnocrática — que tinha proscrito a arte e a religião, ao mesmo tempo que controlava os assuntos mais privados dos cidadãos — o desdém do autor pelo vazio espiritual da modernidade frequentemente se torna visível na narrativa. O livro retrata o lado tenebroso do totalitarismo futurista.
Para distrair a atenção das pessoas da cruel realidade de serem meros vilões, o regime de governo as mantinha entretidas em um cinema que dispunha de "terminais sensoriais" [2]. Os homens recebiam a autorização de usufruir dos prazeres questionáveis oferecidos pelas "mulheres pneumáticas". [3]. De modo a produzir uma sensação artificial de tranquilidade e êxtase, um amplo suprimento de uma potente droga psicodélica chamada "Soma" era entregue regularmente à população. [4]. Soma era um "narcótico que produzia euforia e uma alucinação agradável... todas as vantagens do cristianismo e do álcool, mas nenhum de seus defeitos." [5] [tradução nossa].
Enquanto o comportamento sexual pervertido era incentivado, a reprodução humana normal era considerada imoral e os embriões eram produzidos por fertilização artificial em usinas; um mecanismo de gestação referido como uma "garrafa" substituía o útero materno." [6].
Em Admirável Mundo Novo Revisitado [7], Huxley expandiu seus prognósticos anteriores de uma sociedade futura ditatorial em que a elite governante empregava técnicas eficazes de lavagem cerebral — "ortodoxias introduzidas na mente por cursos noturnos de ensino durante o sono" [8] — para subjugar as inclinações rebeldes dos seus súditos.
Para se submeterem voluntariamente aos limites impostos por uma sociedade completamente organizada, as infelizes vítimas de um "sistema de castas científico" passavam por um "condicionamento metódico". [9]. Esses procedimentos de subjugação mental eram suplementados por "doses regulares de felicidade quimicamente induzida". [9]. A necessidade de usar a violência seria então um aspecto reprovável das tiranias do passado":
"Sob severa pressão da superpopulação e de uma super-organização cada vez maior, e usando métodos cada vez mais eficazes de manipulação da mente, as democracias mudarão de natureza; formas antigas e antiquadas — eleições, parlamentos, Supremas Cortes, e tudo o mais — permanecerão. A substância subjacente será um novo tipo de totalitarismo não violento. Todos os nomes tradicionais, todos os lemas sagrados permanecerão exatamente como eram nos velhos e bons tempos. Democracia e liberdade serão os temas de todas as transmissões pelo rádio e dos editoriais dos jornais — mas a democracia e a liberdade em um sentido estritamente acaciano. Enquanto isto, a oligarquia governante e sua elite altamente treinada de soldados, policiais, criadores de ideias e manipuladores da mente rapidamente controlarão o espetáculo da forma como acharem apropriado." [10].
Em 1961, o Centro Médico San Francisco, da Universidade da Califórnia, patrocinou uma conferência para discutir os efeitos sociais da tecnologia. Sem querer deixar passar uma oportunidade para apontar para sua visão prevista de uma "ditadura científica do futuro" [11], Aldous Huxley, um dos conferencistas convidados, disse o seguinte:
"Haverá na próxima geração, ou talvez um pouco mais tarde, um método farmacológico de fazer as pessoas amarem sua servidão e produzir ditaduras sem lágrimas, por assim dizer. Produzir um tipo de campo de concentração indolor para sociedades inteiras, para que as pessoas na verdade tenham suas liberdades suprimidas, mas gostem, porque elas serão distraídas de qualquer desejo de se rebelar — pela propaganda, ou pela lavagem cerebral, ou pela lavagem cerebral aumentada por métodos farmacológicos. Esta parece ser a revolução final." [12].
O Êxtase Químico
Em seu livro The Doors of Perception (As Portas da Percepção) [13], Huxley publicou as elucidações detalhadas de suas experiências místicas após o psiquiatra britânico Humphrey Osmond [14] ter apresentado a droga alucinógena mescalina a ele um ano antes (essa droga é derivada de um cacto chamado peiote, originário do México). [15]:
"O homem que retorna pela Porta na Muralha nunca será exatamente o mesmo que era. Ele será mais sábio, porém menos arrogante, mais feliz, porém menos satisfeito consigo mesmo, mais humilde em reconhecer sua ignorância, porém melhor equipado para compreender o relacionamento das palavras com as coisas, do raciocínio sistemático com o Mistério imensurável que ele tenta, sempre de forma vã, compreender." [16].
Huxley explicitamente referenciou a frase "Portas na Muralha", de H. G. Wells, que tinha originalmente descrito o consumo de drogas nos rituais dos cultos de morte. Ambos os autores sabiam que o uso de substâncias alucinógenas sempre tinha sido parte essencial dos ritos iniciáticos das antigas religiões de mistério.
Os sacerdotes no culto à deusa Ísis eram especialmente conhecedores do uso de drogas para induzir nos iniciados experiências de euforia e transcendentais. Praticamente uma década antes, em 1946, a antologia anotada de Huxley dos escritos místicos tinha aparecido sob o título de The Perennial Philosophy (A Filosofia Perene), indicando seu conhecimento profundo das tradições místicas das espiritualidades orientais, antigas e medievais. [17].
O capitão Alfred M. Hubbard (veja a seção "O Capitão") e Gerald Heard estavam presentes quando Huxley tomou outra dose de mescalina em 1955. Naquele tempo, ele estava escrevendo a continuação de The Doors of Perception (As Portas da Percepção), que mais tarde chamou de Heaven and Hell (O Céu e o Inferno). [18].
Em uma carta para o Dr. Osmond, ele escreveu:
"Seu simpático capitão tentou uma nova experiência — a mescalinização em grupo... Como eu estava em um grupo, a experiência teve um conteúdo humano, que a experiência anterior, solitária, com sua qualidade Outro Mundo e sua intensificação da experiência estética, não possuiu... Foi um experiência transcendental dentro deste mundo e com referências humanas." [19].
Pouco tempo depois, Hubbard convenceu Huxley a experimentar o LSD. Em Acid Dreams (Sonhos Ácidos), Lee e Shain afirmam:
"Huxley e Hubbard compartilhavam um gosto singular pelos aspectos revelatórios das drogas alucinógenas. Foi Hubbard quem originalmente sugeriu que uma experiência mística induzida pelo LSD pudesse conter um potencial terapêutico ainda não explorado." [20].
Huxley abrigava em seu coração uma aversão profundamente enraizada contra o cristianismo. Em uma conversa com Timothy Leary, o ex-professor de Psicologia na Universidade de Harvard que estava na linha de frente da contracultura dos hippies, Huxley parecia confiante que sua defesa das drogas psicodélicas superaria qualquer resistência às suas ideias e a uma engenharia social em larga escala:
"Estas drogas cerebrais, produzidas em larga escala nos laboratórios, produzirão vastas mudanças na sociedade. Isto acontecerá com ou sem nós dois. Tudo o que podemos fazer é espalhar a notícia. O obstáculo para esta evolução, Timothy, é a Bíblia." [21].
Concordando plenamente com a opinião de seu mentor, Timothy Leary em seu relato autobiográfico Flashbacks (Imagens Recorrentes) sobre o Projeto das Drogas Psicodélicas na Universidade de Harvard, acrescentou os seguintes comentários:
"Estávamos unidos contra o comprometimento judaico-cristão a um Deus, a uma religião e a uma realidade, que amaldiçoou a Europa durante séculos e os EUA desde os dias de fundação da nação. As drogas que abrem a mente para múltiplas realidades inevitavelmente levam a uma visão politeísta do universo. Sentimos que tinha chegado o tempo para uma nova religião humanista baseada na inteligência, no pluralismo amigável e no paganismo científico." [22].
O Capitão
O seguinte é um excerto de Acid Dreams (1985), de Martin A. Lee e Bruce Shlain, págs. 44-45:
Um espião profissional, ele viveu uma vida de intrigas e aventuras... Suas conexões prestigiosas no governo e nas empresas pareciam como uma lista Quem É Quem na elite do poder na América do Norte. Seu nome era Alfred M. Hubbard. Seus amigos o chamavam de "Cappy" e ele era também conhecido como "pioneiro e divulgador do LSD".
Hubbard é amplamente reconhecido como sendo a primeira pessoa a enfatizar o potencial do LSD como uma droga visionária ou transcendental. Sua fé na revelação do LSD era tanta que ele fez a missão de sua vida despertar o maior número de homens e mulheres. Ele dizia: "— A maioria das pessoas está caminhando em seu sono. Vire-as para o outro lado, faça-as caminhar na direção oposta e elas não saberão a diferença. Mas, há um modo rápido de corrigir isto: dar-lhes uma boa dose de LSD e permitir que vejam por si mesmas para que elas servem."
Ele realmente não era um espião comum. Como um oficial de alto nível da OSS (a agência americana de Inteligência precursora da CIA), o capitão dirigiu uma operação secreta extremamente dissimulada que envolvia o contrabando de armas e materiais bélicos para a Grã-Bretanha antes do ataque a Pearl Harbor. Em plena escuridão, ele viajava em navios com as luzes apagadas até o litoral de Vancouver, onde as embarcações eram remodeladas e usadas como destroyéres pela Marinha Britânica. Ele também pilotava aviões até a fronteira, desmontava as peças e as enviava do Canadá para a Inglaterra. Essas atividades começaram com a calada aprovação do presidente Roosevelt aproximadamente um ano e meio antes de os EUA ingressarem oficialmente na guerra.
Para contornar o obstáculo da neutralidade, Hubbard tornou-se um cidadão canadense em um procedimento irregular (não-oficial).
Enquanto estava baseado em Vancouver (onde mais tarde se estabeleceu), ele pessoalmente entregou vários milhões de dólares filtrados pela OSS por meio do consulado americano para financiar uma infinidade de operações secretas na Europa. Tudo isto, é claro, era totalmente ilegal e o presidente Truman posteriormente concedeu um perdão especial com efusivos elogios ao capitão e aos seus homens.
Não muito tempo depois de receber a condecoração do presidente, Hubbard foi apresentado ao LSD pelo Dr. Ronald Sandison, da Grã-Bretanha. Durante sua primeira "viagem" no ácido, em 1951, ele afirmou ter testemunhado sua própria concepção:
"Foi a coisa mística mais profunda que já vi", o capitão relatou. "Eu me vi como um minúsculo ácaro em um grande pântano, com uma centelha de inteligência. Vi minha mãe e meu pai tendo intercurso sexual. Tudo era claro."[...]
Ele contactou o Dr. Humphry Osmond, um jovens psiquiatra britânico que estava trabalhando com LSD e mescalina no Hospital Weyburn, em Saskatchewan, no Canadá.
[...]
A pesquisa do Dr. Osmond atraiu ampla atenção nos círculos científicos. A CIA, sempre interessada em saber os fatos mais recentes o mais cedo possível, rapidamente enviou informantes para descobrir o que estava acontecendo no Hospital Weyburn. Sem que Osmond e seus subordinados soubessem, durante toda a década seguinte eles foram contactados em diversas ocasiões por pessoal da agência. De fato, era impossível para um pesquisador do LSD não dar esbarrões no pessoal da espionagem, pois a CIA estava monitorando todo o cenário.
Drogas Psicodélicas nas Pradarias
O Hospital Psiquiátrico de Weyburn, aberto em 1921, estava localizado nas proximidades da cidade de Weyburn, nas pradarias da província canadense de Saskatchewan. Com sua segunda ala, o hospital tinha espaço para 3.000 pacientes e funcionários e era o maior edifício na província naquele tempo (cerca de 150.000 metros quadrados). Essa instalação gigantesca tinha seu próprio gerador de energia elétrica, uma marcenaria e uma sapataria, teatro com cenários, salas para recreação e diversas outras operações de apoio. Ele era quase uma pequena cidade, equipado com túneis para a conexão de um prédio a outro. Ele era tanto um hospital quanto um centro de pesquisa e de experiências, um local em que os pacientes podiam encontrar uma variedade de terapias — desde trabalhos artísticos e teares manuais até hidroterapia, lobotomias, terapia com eletrochoque e diversas substâncias químicas experimentais.
Aqui, o Dr. Humphry Osmond realizava sua pesquisa com o LSD e a mescalina nos pacientes mentais, criando o termo "psicodélica" no processo. Como um comentarista explicou: "A era psicodélica não teve início em Nova York, em Londres ou em Paris. Em vez disso, teve início em Saskatchewan — em Weyburn, para ser exato." (http://www.hempology.ca).
Ao longo dos anos, passei por Weyburn em algumas viagens e dirigi pela estrada que leva até o hospital psiquiátrico. Embora ele esteja fechado desde 1971, apenas dar a volta em torno do edifício foi o suficiente para me deixar com um pressentimento que muitos segredos ficaram naquele lugar... Se apenas aqueles muros pudessem falar... Um ano antes de o edifício ser demolido em 2009, em uma espécie de queima de arquivo, conversei com um residente de Weyburn que não via a hora da demolição chegar: "Existem muitos fantasmas ali."
Um poema rabiscado em uma das paredes — conforme registrado por uma foto tirada no interior do edifício:
O relógio parou, as lâmpadas se apagaram.
Todas as pessoas foram embora. Os saguões estão
agora vazios das pessoas que os chamavam de lar.
A Escada Dourada desapareceu,
A massa corrida das paredes rachou,
As cortinas estão manchadas e rasgadas.
As oficinas estão fechadas,
Os jardins estão sem flores, os túneis escuros,
As caldeiras desligadas, e ninguém quer saber.
Não existem mais os choros e os gritos do silêncio
ecoando na noite. Não existem mais os enfermeiros
para ajudarem os doentes a fazerem as coisas certas.
Silêncio nos quartos, sussurros fantasmagóricos nos corredores.
As histórias e casos que eles poderiam contar
Estão agora incorporados nas paredes.
O relógio está parado... As lâmpadas estão apagadas.
O Potencial Humano
Em 1960 Huxley recebeu o diagnóstico de um câncer; sua constituição frágil, já arruinada pelo seu hábito de consumir drogas, começou a deteriorar visivelmente nos anos seguintes. Sem se deixar deter, o literato britânico aceitou no mesmo ano em que adoeceu um convite do Centro Médico San Francisco, da Universidade da Califórnia, para fazer uma palestra sobre as "Potencialidades Humanas".
"Embora sejamos muito parecidos como éramos vinte mil anos atrás", disse Huxley, "ao longo desses anos realizamos um número imenso de coisas que naquele tempo e que por muitos e muitos séculos dali para a frente eram totalmente potenciais e latentes no homem."
Seguindo estes comentários, ele apresentou a teoria que o ser humano possui dentro de si mesmo outras capacidades ainda não exploradas e que precisam ser descobertas e realizadas utilizando-se técnicas e substâncias químicas apropriadas.
"Os neurologistas já mostraram que o ser humano não faz uso nem de 10% dos neurônios de seu cérebro. Se seguirmos no caminho certo, talvez consigamos produzir coisas extraordinárias com esta estranha criatura que é o homem." [23].
Logo em seguida, Aldous Huxley começou a trabalhar em sua obra final, o romance utópico A Ilha, e a proferir regularmente palestras sobre "Potencialidades Humanas" no Instituto Esalen.
O Instituto Esalen
Assistindo à palestra "Potencialidades Humanas" no Centro Médico San Francisco, Richard Price ficou fascinado com o apelo de Huxley para explorar os poderes ocultos da psiquê humana. Em uma carta para Huxley, o amigo de Price, Michael Murphy, quis saber como alcançar os poderes ocultos da mente. Em sua resposta, Huxley destacou a complementariedade da ciência e do misticismo e indicou os escritos dos místicos antigos e dos swamis orientais como fontes de sua própria inspiração.
Em 1962, Price e Murphy estabeleceram um centro de retiro, o Instituto Esalen [24], em Big Sur, na Califórnia, e pediram a Willis W. Harman, conhecido por sua pesquisa sobre o LSD, que dirigisse a primeira conferência sobre potencialidades humanas, chamada de "A Visão em Expansão". [25]. No fim dos anos 1950s, Harman tinha se apresentado como voluntário para ser um dos primeiros casos de teste do capitão Alfred M. Hubbard, na pesquisa das drogas psicodélicas. [26]. Hubbard, um alto oficial da OSS na Segunda Guerra Mundial e um agente secreto que trabalhava para várias agências, incluindo a FDA e o FBI nos anos 1950s, foi colocado na chefia do estudo do potencial terapêutico do LSD. De particular interesse para ele era o potencial da droga para a alteração da mente, supostamente produzindo um estado harmonioso do ser. As implicações sociais do uso extensivo do LSD em reduzir os conflitos civis eram consideradas vantajosas, se cientificamente comprovadas.
Para conseguir realizar sua pesquisa mais eficientemente, Hubbard pediu a Myron J. Stolaroff e a Paul Kurtz para criarem a Fundação Internacional para Estudos Avançados (IFAS, de International Foundation for Advanced Studies) em Menlo Park, na Califórnia, como uma base institucional. [27] Também envolvidos com a IFAS estavam Charles e Ethel Savage, Robert Mogar e James Fadiman. Stolaroff serviu como seu presidente de 1960 até 1970, ao mesmo tempo que era o administrador-executivo para um grupo de pesquisa que realizava estudos clínicos sobre os efeitos cognitivos das drogas psicodélicas. [28]. As descobertas da pesquisa feita usando cerca de 350 voluntários, que tinham tomado LSD e mescalina sob rígida supervisão, foram publicadas em seis trabalhos científicos. [9].
Movendo-se rapidamente do estágio experimental para um cargo administrativo, Harman aceitou a vice-presidência da IFAS e guiou a organização durante a escalada das críticas do público no início dos anos 1960s. O pagamento de 500 dólares por uma única sessão de terapia psicodélica de alta dosagem tinha produzido uma má publicidade em um tempo em que a FDA começava a pensar em proibir o uso do LSD. [30]. No fim de 1962, a fundação publicou seu primeiro trabalho acadêmico, intitulado "A Experiência Psicodélica: Um Novo Conceito em Psicoterapia". O resumo, em parte, dizia o seguinte:
"Os autores, pela administração simultânea de doses maciças da dietilamida do ácido lisérgico (LSD, de Lysergic Acid Diethylamide) e da mescalina, tentaram produzir uma experiência singular para os pacientes que fosse tão profunda e impressionante que mudasse a própria avaliação do paciente de suas experiências de vida no passado e, consequentemente, que pudesse levá-lo a estabelecer novos valores e uma estrutura de referências mais realista do que tinha sido estabelecida anteriormente. A experiência, em um sentido amplo, não é diferente de uma conversão religiosa." [31].
As conexões do capitão Hubbard com o sistema de poder político em Washington, ajudadas por suas credenciais do serviço secreto, fortaleceram a decisão de Harman de continuar com o programa de pesquisa na IFAS até sua dissolução final em 1965. Bastante interessado em continuar seus estudos sociológicos da subcultura psicodélica e seu relacionamento com as agitações políticas da Nova Esquerda, Harman aceitou um cargo na diretoria no Centro de Pesquisa de Políticas Educacionais, do Instituto de Pesquisas de Stanford.
Mais Sobre Esalen
Localizado no litoral da Califórnia, Esalen é um retiro e um centro de disseminação de informações que oferece oficinas de trabalho sobre experiências comunitárias, expansão da consciência e potencial humano. Ao longo dos anos, o instituto tem sido uma plataforma para notáveis como B. F. Skinner, Abraham Maslow, Aldous Huxley, Timothy Leary, Paul Tillich, Carl Rogers, Joseph Cambell e David Korten.
Esalen tem sido descrito como um lugar onde o Ocidente se funde com o Oriente. Ele é um centro onde os líderes culturais se envolvem em encontros de transformação da mente e depois injetam essas experiências e novas cosmovisões na sociedade. Desde sua criação, Esalen sediou conferências e oficinas sobre xamanismo, filosofias esotéricas, metafísica evolucionária, "inteligência paranormal" e fenômenos psíquicos, física quântica e consciência global, psicologia transformacional, yôga, ecologia e espiritualidade, e educação para a transformação social. A psicodelia exerceu uma parte importante na experiência de Esalen, especialmente durante sua primeira década de funcionamento.
Relações internacionais e problemas globais também estão na lista de prioridades na agenda de Esalen. Durante os anos 1980s, o instituto ofereceu oficinas sobre "diplomacia do cidadão", organizada por Jim Garrison e a frase "diplomacia informal" foi criada em Esalen. Durante toda aquela década, Joseph Montville trabalhou incansavelmente para fazer a ponte entre os líderes soviéticos e americanos, realizando teleconferências entre o Congresso dos EUA e o Soviete Supremo e organizando encontros entre o presidente russo Boris Yeltsin e o presidente americano George H. W. Bush. Em 1987, Jim Garrison organizou no Instituto Esalen uma conferência intitulada "Diálogos Sino-Americanos Sobre a Transformação Econômica e Social". Esalen é um dos principais pontos de conexão política e de Nova Era nos EUA.
O Instituto de Pesquisas de Stanford
O Instituto de Pesquisas de Stanford [32] (SRI, de Stanford Research Institute, posteriormente renomeado como SRI International [33]) foi incorporado pelos curadores da Universidade de Stanford em 1946 como um instituto de pesquisas sem fins lucrativos, similar aos mais estabelecidos Institutos Mellon e Battelle. Originalmente um centro de inovação para apoiar o desenvolvimento econômico no norte da Califórnia, ele se tornou uma das maiores organizações de pesquisa sob contrato de terceirização. Alguns dos principais clientes do instituto incluíam no início diferentes setores das forças armadas, como a Diretoria de Pesquisa e Engenharia e o Departamento de Pesquisa Aeroespacial, ambos do Departamento de Defesa.
O SRI assumiu rapidamente um papel vital no desenvolvimento de novas tecnologias militares que estavam sendo usadas pela Agência de Projetos e Pesquisa Avançada de Defesa (até 1972 e de 1993-1996 a agência era conhecida como ARPA, Agência de Projetos e Pesquisa Avançada). [Nota do Editor: Hoje, essa agência é melhor conhecida pelo seu acrônimo, DARPA.]
A rede de computadores da ARPA, uma precursora da Internet, interligava milhares de consoles de processamento de dados, incluindo os da CIA, da Inteligência do Exército, do Escritório da Inteligência Naval, dos laboratórios da Bell Telephone, RAND, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussetts), da Universidade de Harvard e da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). O banco de dados do instituto funcionava como uma "biblioteca" para todo o sistema, catalogando toda a documentação da DARPA.
Fora do setor de defesa, o Instituto oferecia uma variedade de projetos de pesquisa, como o Programa de Inteligência nos Negócios para um número crescente de clientes de prestígio. Entre as grandes empresas que contratavam os serviços avançados de pesquisa do SRI estavam o Bank of America, a Bechtel Corp., Blyth, Eastman Dillon, Hewlett Packard, McDonnell Douglas Corp., TRW e Wells Fargo Bank.
Sentindo falta dos serviços inestimáveis do capitão Alfred M. Hubbard, que tinha se aposentado parcialmente e se mudado para a Colúmbia Britânica, no Canadá, Willis W. Harman conseguiu reativar seu ex-mentor em outubro de 1968. Delineando as razões para seu convite a Hubbard, o Sr. Harman escreveu:
"Nossas investigações de alguns dos atuais movimentos sociais que estão afetando a educação indicam que o uso de drogas, predominante entre os estudantes membros da Nova Esquerda, não é totalmente sem planejamento. Parte disto parece estar presente como uma arma deliberada destinada a produzir uma transformação política. Estamos preocupados em avaliar o significado disto, pois impacta as questões de política educacional de longo prazo. Assim sendo, seria vantajoso termos você no cargo de agente especial de investigação que possa ter acesso a dados relevantes que não são ordinariamente disponíveis." [34].
Hubbard concordou em trabalhar como um "agente de segurança" bem-remunerado no SRI.
"Embora Harman admita que 'Alfred nunca fez qualquer coisa que se assemelhasse a trabalho de segurança', Hubbard foi especificamente alocado ao Projeto Futuros Alternativos, que realizava planejamento estratégico orientado para o futuro para grandes empresas e agências do governo. Harman e Hubbard compartilhavam o objetivo de 'fornecer a experiência do LSD a líderes políticos e intelectuais de todo o mundo'."
Harman reconhece que o 'trabalho de Alfred era administrar as sessões especiais de LSD para nós'. Segundo o Dr. Abram Hoffer, 'Alfred tinha uma ideia grandiosa que, se pudesse dar a experiência psicodélica aos executivos das 500 maiores empresas na lista da revista Fortune, ele transformaria toda a sociedade.'" [35].
Seis anos mais tarde, Harman explicou por que tinha apreciado tanto a especialização de Alfred M. Hubbard como um "agente de investigação especial":
"Os serviços dele para nós consistiam em coletar vários tipos de dados relacionados com a instabilidade estudantil, abuso de drogas, uso de drogas nas escolas e nas universidades, causas e natureza das atividades radicais, e questões similares de uma natureza sigilosa." [36].
Ao fazer os cumprimentos e elogios a Hubbard, Harman estava bem ciente do inestimável serviço que o capitão tinha prestado à equipe de pesquisa do SRI — que foi comissionado em 1972 a escrever um estudo acadêmico identificando "na maior extensão possível quais mudanças nas premissas conceituais que são subjacentes à sociedade ocidental levariam a um futuro desejável." [37].
As Imagens em Transformação do Homem
A Fundação Charles F. Kettering [38] forneceu o financiamento para o relatório Imagens em Transformação do Homem, de maio de 1974. A Divisão de Sistemas Sociais e Urbanos do SRI preparou o relatório mimeografado de 319 páginas [39] sob a direção geral do diretor-executivo Harvey L. Dixon e de Willis W. Harman, que naquele tempo era diretor do Centro para o Estudo de Política Social. Doze anos mais tarde, a Pergamon Press publicou o estudo acadêmico em sua série Systems Science and World Order Library. [40] O relatório original foi preparado por uma equipe de treze pesquisadores [41] e supervisionado pelo painel de seis orientadores, incluindo a antropóloga Margaret Mead, o médico Henry Margenau, da Universidade de Yale, e o agente da Inteligência Britânica Geoffrey Vickers.[42] Embora a responsabilidade editorial final tenha ficado com o pessoal do SRI, o relatório foi totalmente revisado por dezoito acadêmicos adicionais, como Ervin Laszlo, Carl R. Rogers e B. F. Skinner, antes de ser publicado. [43].
A Dimensão Espiritual
Ao apontar para o estudo de Elise Boulding em "Appendix A" [44] ("An Alternative View of History, The Spiritual Dimension of the Human Person, and a Third Alternative Image of Humanness" [45]), o relatório prognosticou uma mudança sísmica no pensamento dos intelectuais ocidentais. A busca obsoleta do progresso industrial, diziam os autores, precisava ser abandonada em favor de uma renovada dedicação ao misticismo religioso. Eles concluíram que, a despeito de seus abundantes benefícios materiais, a busca incessante pelo desenvolvimento técnico e industrial na sociedade moderna era prejudicial ao futuro previsto da evolução espiritual da humanidade:
"Entretanto, muitas das nossas imagens presentes parecem ter se tornado perigosamente obsoletas... A ciência, a tecnologia e a economia tornaram possíveis passos realmente significativos rumo ao alcance de objetivos humanos básicos como segurança física, proteção, conforto material e uma melhor saúde. Mas,... muitos desses sucessos trouxeram consigo problemas por serem bem-sucedidos demais — problemas que eles mesmos consideram insolúveis dentro do conjunto de premissas dos valores sociais — que levou ao surgimento deles. As melhorias na saúde, por exemplo, causaram o crescimento populacional que exacerba os problemas da organização social, da distribuição de alimentos e o esgotamento dos recursos. Nosso sistema altamente desenvolvido de tecnologia leva a uma maior vulnerabilidade e paralisações. De fato, a abrangência e o impacto interconectado dos problemas sociais que estão agora aparecendo representam uma séria ameaça para a nossa civilização... Se essas projeções do futuro se mostrarem corretas, podemos esperar que os problemas associados com múltiplas tendências se tornarão mais sérios, mais universais e ocorrerão mais rapidamente do que o crescimento da própria tendência." [46].
Portanto, dizia o relatório do SRI, uma alteração fundamental e radical na autocompreensão industrial e tecnológica dos seres humanos será necessária para criar uma sociedade mundial mais harmônica:
"Algumas características de uma imagem adequada da humanidade para o futuro pós-industrial foram derivadas: (1) notando a direção em que as premissas subjacentes da industrialização atual teriam de mudar de modo a produzir uma sociedade mais 'funcional'; (2) a partir do exame dos modos em que as imagens da humanidade moldaram as sociedades no passado; (3) a partir da observação de algumas novas direções significativas na pesquisa científica." [47].
Willis W. Harman
Willis W. Harman (1919-1997) foi o principal cientista social e futurista do SRI no fim dos anos 1960s e início dos 1970s; anteriormente, ele tinha sido professor de Engenharia Elétrica e Análise de Sistemas na Universidade de Stanford. Ele chefiou o Instituto de Ciências Noéticas [48] de 1977 até o fim de 1996. O astronauta Edgar Mitchell, da missão Apollo, e o bilionário do petróleo Paul N. Temple [49] tinham criado o Instituto das Ciências Noéticas [50] em 1973 para promover a visão do "conhecimento em expansão da natureza e as potencialidades da mente e aplicar esse conhecimento para a melhoria da saúde e do bem-estar da humanidade e do planeta." [51].
Como autor de vários livros — incluindo Creative Work: The Constructive Role of Business in a Transforming Society (com John Hormann), An Incomplete Guide to the Future, e Global Mind Change e co-editor do The New Business of Business: Sharing Responsibility for a Positive Global Future (com Maya Porter) – a influência de Harman como um importante agente de transformação em sua época na ciência, na tecnologia, na educação [52] e nos negócios [53] foi sentida em todo o mundo.
As ideias centrais do apelo urgente de Harman para a adoção de uma perspectiva holística para a vida podem ser encontradas em seu artigo "Produzindo a Transição para a Paz Sustentável":
"Esta cosmovisão transmoderna emergente envolve a substituição do centro da autoridade do externo para o 'conhecimento interior'. Basicamente, ela se afasta da antiga visão científica que a realidade final são 'partículas fundamentais', e confia nas percepções de unicidade e no aspecto espiritual dos organismos, dos ecossistemas, Gaia e Cosmos. Isto implica uma realidade espiritual e a confiança final na autoridade do todo. Ela equivale a uma reconciliação da busca científica com a 'sabedoria perene' que está no centro das tradições espirituais do mundo. Ela continua a envolver uma confiança na busca científica, mas uma busca cuja base metafísica mudou do reducionista, objetivista e positivista da ciência dos séculos 19 e 20 para um fundamento metafísico mais holístico e transcendental."
"... o centro do desafio atual para a cosmovisão científica pode ser tomado como 'consciência', que se tornou uma palavra-código para uma ampla variedade de experiências humanas, incluindo a conscientização consciente, ou subjetividade, intencionalidade, atenção seletiva, intuição, criatividade, relacionamento da mente com a cura, sensibilidade espiritual e uma variedade de experiências e fenômenos anômalos."
"... A epistemologia procurará reconhecer a natureza parcial de todos os conceitos científicos da causalidade... Em certo sentido final, a realidade não é causalidade — somente o Todo em evolução." [54].
A Espaçonave Terra
Em 1972, o Centro para Pesquisa Educacional e Inovação (CERI, de Center for Educational Research and Innovation) [55], uma organização intergovernamental conectada com a ONU, publicou Alternative Educational Futures in the United States and in Europe (Futuros Educacionais Alternativos nos Estados Unidos e na Europa). [56]. A Fundação Ford e o grupo empresarial Royal Dutch Shell financiaram o estudo. Neste livro, Willis W. Harman declarou que os educadores tinham uma responsabilidade de presidir a transformação global:
"... a substituição de uma visão paroquial para a de 'um mundo' da 'Espaçonave Terra'... Mudança emergente, não a homeostase, é a ordem do dia... É aparente que 'novos' valores estão atualmente desafiando os valores tradicionais." [57].
Harman foi admiravelmente bem-sucedido em produzir essa drástica "substituição". Em seu cargo de consultor da Equipe de Pesquisa de Objetivos Nacionais da Casa Branca, ele:
"... formou e chefiou uma equipe para auxiliar o Escritório de Educação dos EUA nos esforços para aplicar a novíssima disciplina da pesquisa do futuro para guiar as políticas do país em educação e pesquisa educacional." [58].
Harman foi um participante proeminente nos Fóruns Estado do Mundo, de Mikhail Gorbachev. Em uma entrevista à emissora pública de televisão PBS, em abril de 2001, o ex-presidente do Politburo da União Soviética revelou que sua visão da Perestroika foi inspirada pelo conceito da "Espaçonave Terra". [59].
Em 1992, o Instituto Esalen patrocinou um ciclo de palestras de Mikhail Gorbachev em diversas cidades dos Estados Unidos. Em 6 de maio de 1992, Gorbachev fez um discurso em Fulton, Missouri, onde Winston Churchill tinha identificado a barreira ideológica e política que separava as nações capitalistas e comunistas como sendo uma "Cortina de Ferro". Falando para mais de 20 mil pessoas reunidas no campus do Westminster College, e milhares mais que acompanhavam o discurso ao vivo em 132 países, o ex-presidente soviético fechou a cortina sobre a Guerra Fria com seu discurso intitulado "O Rio do Tempo e o Imperativo da Ação". [60].
Naquele sítio histórico, Gorbachev observou que:
"... uma conscientização da necessidade de algum tipo de governo global está ganhando terreno, um governo em que todos os membros da comunidade internacional tomarão parte." [61].
Após apontar o grave problema do "nacionalismo exagerado, que sempre causou muitos banhos de sangue", ele apresentou a solução de um "sistema de segurança internacional e global". [62]. Todavia, o pior dos perigos que todo ser humano enfrenta é a acelerada destruição do meio ambiente. Gorbachev se referiu especificamente às seguintes crises ecológicas:
"Mudanças climáticas globais, o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, a chuva ácida, a contaminação da atmosfera, do solo e da água pelo lixo industrial e doméstico, a destruição das florestas." [63].
Gorbachev concluiu seu discurso com um apelo para imbuir a ONU com uma autoridade indisputável:
"Entretanto, acredito que a nova ordem internacional não será plenamente realizada sem que as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança criem estruturas, levando em consideração as estruturas da ONU e as regionais existentes, que estão autorizadas a impor sanções e fazer uso de outras medidas de coerção, especialmente quando os direitos dos grupos minoritários estiverem sendo particularmente violados." [64].
No Fórum Estado do Mundo, realizado em San Francisco em setembro de 1995, organizado pela Fundação Gorbachev, o ex-líder soviético propôs a criação de um "comitê de cérebros globais" consistindo de grandes pensadores "que sejam amplamente respeitados, bem como cidadãos globais". Eles devem ser encarregados de monitorar a "transformação social" e "focar no presente e no futuro da civilização". [65]. Essas propostas eram idênticas com as do Instituto Esalen, que sugeriu por algum tempo a criação de um Conselho dos Sábios. Para realizar essa tarefa imensamente importante, os futuros líderes mundiais precisarão se conectar ao reservatório cósmico de uma inteligência superior.
Tudo Precisa se Integrar: Brian McLaren, a Igreja Emergente e a Influência do Instituto Esalen
Autor: Carl Teichrib
Alguma coisa simplesmente parece não estar correta...
Brian McLaren é, inquestionavelmente, o pai do movimento moderno chamado de Igreja Emergente e, embora eu não acredite que ele esteja diretamente conectado com o Instituto Esalen (espero não estar enganado), existe uma inegável influência.
Primeiro, Ken Wilber foi claramente vinculado com a ideia da emergência no artigo "Favorite Books from 2003", do blog de McLaren; "o modo de pensar que Wilber promove e exemplifica, aquilo que ele chama de pensamento 'integral' e que eu chamo de pensamento 'emergente', é poderoso e importante." Isto fica ainda mais evidente no artigo "Os Três Pós-Modernismos", em que Brian McLaren sugere que você leia o livro dele, Uma Ortodoxia Generosa, ou o livro de Wilber, A Theory of Everything, se quiser compreender a mentalidade emergente. Esta é uma correlação aberta... Mas quem é Wilber?
Em resumo, Ken Wilber cresceu em uma igreja cristã, rejeitou o padrão bíblico, e é agora um místico budista que adere ao monismo panteísta, e ensina a teoria integral (essencialmente, que Tudo é Um). Wilber e o Instituto Esalen estão vinculados — especificamente por meio da influência mútua entre Wilber e Michael Murphy, o co-fundador de Esalen; eles tiveram um relacionamento bem próximo por muitos anos e exerceram uma influência significativa um sobre o outro." (Veja The Processes According to Esalen). O trabalho de Wilber e do Instituto Esalen — integração e emergência — é essencialmente o mesmo.
Outro exemplo preocupante está no aspecto da política global: Nas páginas 262 e 263 de Everything Must Change (Tudo Precisa Mudar), de McLaren, ele advoga abertamente a visão internacional de Jim Garrison, chegando ao ponto de papaguear a ideia de governança global dele, propondo uma "comunidade global de comunidades".
Quem é Jim Garrison? Ele nasceu na China, em 1951, filho de missionários batistas, e frequentou uma escola missionária em Taiwan. Posteriormente, obteve um mestrado duplo em Teologia na Universidade de Harvard, em Cristologia e História da Religião, e recebeu seu doutorado em Teologia Filosófica em Cambridge. Jim também foi uma personalidade em Esalen, dirigindo o Programa de Intercâmbio Americano-Soviético do Instituto Esalen (veja a seção anterior intitulada "Mais Sobre Esalen"). Depois disso, ele presidiu a Fundação Gorbachev nos EUA, e trabalhou nos Fóruns Estado do Mundo — uma série de encontros de alto nível que reunia líderes globais do mundo empresarial, dos governos e das religiões para promover a causa da unidade mundial. Hoje, Garrison é o presidente do Fórum Estado do Mundo. Ele também é diretor da Universidade da Sabedoria, uma escola dedicada a promover estudos esotéricos e ocultistas.
O mesmo livro de McLaren também apresenta o trabalho de David Korten, um ávido apoiador do governo mundial. Korten é membro do Clube de Roma (uma organização da elite que promove a transformação global), e está envolvido com a série de conferências do Instituto Esalen sobre Capitalismo Integral e Governança. Nas visões de ambos estes homens, Garrison e Korten, McLaren vê modelos funcionais para uma nova "estrutura transformadora".
Aqui está o problema: as ideias de emergência e comunidade global não são exclusivas de McLaren. Em vez disso, elas representam o paradigma de transformação mundial de Aldous Huxley, de Michael Murphy e do Instituto Esalen.
A Consciência Cósmica
Voltando ao assunto das drogas psicodélicas, o estudo do SRI intitulado As Imagens em Transformação do Homem, se referia ao trabalho Varieties of Psychedelic Experience (Variedades da Experiência Psicodélica), de Masters e Houston, publicado em 1966. [66]. Ao produzirem níveis alterados de consciência, certos efeitos dos alucinógenos no cérebro são interpretados "como experiências transcendentes de uma natureza religiosa, ou cósmica" [67]:
"Nos últimos quinze anos tem havido um crescente interesse pelas substâncias químicas que modificam a qualidade e as características da consciência normal do dia a dia, particularmente por meio de drogas como o ácido lisérgico, a mescalina, a psilocibina e outras. Essas drogas, referidas como psicodélicas, alucinógenas ou psicoativas, expandem ou contraem o campo da consciência; elas parecem ser capazes de expandir as percepções e sensações, dando acesso às memórias e experiências do passado, facilitando a atividade mental e produzindo modificações no nível de consciência, incluindo aquelas que são reportadas como experiências transcendentes de uma natureza religiosa ou cósmica." [68].
Em Alternative Educational Futures (Futuros Educacionais Alternativos), Harman também declarou que aquilo que Aldous Huxley tinha chamado de "A Filosofia Perene" está presente nas tradições da Sociedade Rosa-Cruz e da Maçonaria e significa que "o homem pode, sob certas condições, atingir uma consciência mais elevada, uma 'consciência cósmica' e, nesse estado, ele tem conhecimento imediato de uma realidade que é subjacente ao mundo dos fenômenos."
Harman destacou também o comentário de Lawrence Frank que "uma ordem social que tolera essa ampla variedade de pluralismo de normas precisa buscar a unidade por meio da diversidade". Para alcançar este objetivo:
"Nada menos que uma nova filosofia de orientação será necessária. Ferkiss [1969] delineia três elementos básicos e essenciais para essa nova filosofia... um 'novo naturalismo'... 'o novo holismo'... e 'o novo imanentismo'... Experiências educacionais que sejam semelhantes à psicoterapia precisam ser contempladas... que resultem em uma realização sentida da inevitabilidade de um mundo inseparável, e uma mudança sentida nos valores e premissas mais básicas sobre as quais alguém constrói sua vida. Em certo sentido, isto significa trazer algo como a 'tecnologia de transformação da pessoa' para dentro do sistema educacional (por exemplo, com meditação, hipnose, Treinamento em Sensibilidade, psicodrama, yôga, etc.)." [69].
O modus operandi de como Harman planejou essa "nova filosofia orientadora" para moldar o pensamento da população mundial foi delineado por ele em um jornal ocasional da Good Will International (Lucis Trust), For a New Society, a New Economics (Para uma Nova Sociedade, uma Nova Economia) — publicado nas edições de abril, maio e junho de 1987 do Fórum de Desenvolvimento, pela Divisão de Informações Econômicas e Sociais de ONU, e pela Universidade das Nações Unidas. No artigo, Harman referiu-se às teorias da "autorrealização" do psicólogo Abraham Maslow e postulou que:
"Uma reespiritualização da sociedade está ocorrendo, mas de um tipo mais experimental e não institucionalizado, menos fundamentalista e sacerdotal, do que a maioria das formas historicamente mais conhecidas de religião. Com essa transformação vem uma transição de longo prazo na ênfase dos valores."
Em conclusão, ele afirma que:
"... pode de fato existir um conflito entre a religião esotérica dogmática e a ciência positivista. Entretanto, não há um conflito inevitável entre a 'sabedoria perene' esotérica das tradições espirituais do mundo e uma ciência baseada em certos pressupostos metafísicos." [70].
Conclusão
Desde a publicação do estudo acadêmico Imagens em Transformação do Homem, em 1974, a espiritualização da ciência, da tecnologia e da educação tem inquestionavelmente feito grandes avanços. A mudança proposta de um sistema de valores tradicional, baseado no pensamento analítico e racional, para uma visão holística que imagina todos os aspectos da busca intelectual estando em harmonia com os fundamentos místicos do monismo, levou ao surgimento de uma comunidade global que tem um sentido mais elevado da espiritualidade cósmica que supostamente permeia toda a existência.
Entretanto, acreditamos que um cientista ou técnico que esteja dedicado ao avanço do conhecimento teórico e prático da humanidade, especialmente na área da Nanomedicina Clínica, deva evitar adotar uma metodologia irracional em seu campo de pesquisa. Caso contrário, a visão distópica de Aldous Huxley, de uma "ditadura científica do futuro", poderá afinal se tornar realidade.
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Fonte:https://www.espada.eti.br/espiritualizacao.asp
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