24 de dez. de 2018

Suécia: 'Superpotência Humanitária'?

Gatestone, 23 de dezembro de 2018 







  • Suécia, a autoproclamada com orgulho "superpotência humanitária", se achando o máximo por defender os "direitos humanos" decidiu tirar um menino de 6 anos de idade que perdeu a mãe, de seus avós e deportá-lo para um orfanato na Ucrânia. Nesse ínterim, a Suécia se recusa deportar criminosos e terroristas dos mais perigosos se houver o mínimo de perigo sequer de que eles possam passar por algum tipo de assédio no país para o qual eles forem enviados.
  • Apesar das duras críticas dos órgãos superiores do governo da Suécia, o governo sueco em desobediência à lei do país autorizou que 9 mil afegãos do sexo masculino, em sua maioria sem documentos cujos vistos de asilo foram negados, que estudassem em escolas de ensino médio juntamente com adolescentes suecos.
  • Já em 2001, uma reportagem publicada pelo jornal Dagen mostrou que os candidatos a asilo cristãos tiveram seus pedidos de asilo negados com maior frequência do que os candidatos a asilo muçulmanos.




Em outubro, a Suécia, ao que tudo indica, gosta de ver a si mesma como uma "superpotência humanitária," resolveu expulsar e deportar um menino de 6 anos para a Ucrânia. O menino é considerado tecnicamente órfão pelo fato da mãe ter falecido e do pai, que reside na Ucrânia, ter renunciado formalmente à guarda do filho em um tribunal ucraniano. O menino, de nome Denis, não tem parentes na Ucrânia e, portanto, teria que ser enviado de pronto a um orfanato.

Em 2015, a mãe de Denis levou-o da Ucrânia para a Suécia, país em que os pais de sua mãe já estavam residindo. Ela solicitou um visto de residência para si e para o filho, porém o visto foi negado por razões ainda não reveladas. As agências de notícias não parecem estar interessadas em saber as razões do seu pedido inicial ter sido negado. A Agência de Migração da Suécia (Migrationsverket) decidiu deportar Denis, apesar dele estar morando com seus avós maternos que se dispuseram oficialmente a adotar o neto.

Denis "não apresentou evidências suficientes de que não irá receber os cuidados adequados ao retornar à Ucrânia" determinou o Departamento de Migrações na decisão. Os agentes do Departamento de Migrações desconcertantemente também se referiram à decisão como a "medida que melhor atende aos interesses da criança".

O fato do menino ser tecnicamente órfão e que os avós, com quem ele mora na Suécia, tenham requisitado oficialmente a adoção, não foi o suficiente para colocar uma pá de cal na deportação, salientou Karin Fährlin, chefe da unidade da Migrationsverket.

"Trata-se de uma questão de... um menino que é cidadão ucraniano e que portanto a família mais próxima ou o pai ou as autoridades ucranianas têm o dever de se responsabilizarem pela criança. Esta é a razão da deportação", ressaltou ela.

Ao cair na boca do povo, a decisão de deportar Denis causou um enorme escândalo na Suécia. Mais de 60 mil suecos incluíram seu nome em um abaixo assinado no Facebook em um protesto contra a deportação e inúmeras celebridades e políticos expressaram sua repulsa com respeito à decisão. "A mãe dele acabou de falecer. Ele não tem pai. Ele tem seis anos e não lhe dão permissão de ficar com os avós na Suécia e será deportado para um orfanato ucraniano. Isso é desumano e repugnante ", escreveu Jessica Almenäs, famosa atriz da TV.

A pressão pública evidentemente tornou a decisão insustentável. Funcionários de alto calibre da Migrationsverket suspenderam temporariamente a deportação e admitiram que tomaram a decisão "precipitadamente".

"Há inúmeras medidas investigativas à disposição que deveríamos ter tomado," salientou Per Ek, secretário de imprensa da Migrationsverket. "É nisso que vamos nos debruçar agora".

Decisões equivocadas são tomadas pelos detentores do poder e pelos órgãos governamentais o tempo todo, mas o que torna esta decisão diferente é que ela foi tomada pelas autoridades de migração da Suécia, o Ministro das Relações Exteriores que sustenta que o país é uma "superpotência humanitária".

A autoproclamada "superpotência humanitária" não deveria tirar de seus avós, netos de 6 anos e deportá-los para orfanatos na Ucrânia. A Suécia se orgulha tanto por defender os "direitos humanos" de todos, que se recusa deportar criminosos e terroristas dos mais perigosos se houver o mínimo de perigo sequer de que eles possam passar por algum tipo de assédio no país para o qual eles forem enviados.

Diferentemente da decisão de deportar Denis, de 6 anos de idade, em junho, o parlamento sueco aprovou uma lei especial que permite que um número extraordinário de candidatos a asilo que tiveram a solicitação de asilo negada permaneçam na Suécia, apesar das duras críticas dos órgãos superiores do governo. A nova lei permitiu que 9 mil "menores" de idade desacompanhados do sexo masculino vindos do Afeganistão, cujos pedidos de asilo foram negados e, por conseguinte, deveriam ter sido deportados, de obterem vistos de residência temporária na Suécia.

Aproximadamente 7 mil desses "menores de idade desacompanhados" ao que consta tinham na realidade mais de 18 anos e, portanto, sequer eram menores. Os vistos temporários seriam concedidos se os "menores" se comprometessem a frequentar a escola de ensino médio ou se já estivessem matriculados. Salta aos olhos que, mesmo aqueles entre os 9 mil cujas identidades não foram verificadas, ao que tudo indica, pelo fato de não possuírem documentos, foram autorizados a permanecer no país.

De modo que, apesar das duras críticas dos órgãos superiores do governo da Suécia, o governo sueco em desobediência à lei do país autorizou que 9 mil afegãos do sexo masculino, em sua maioria sem documentos, cujos vistos foram negados, estudassem em escolas de ensino médio juntamente com adolescentes suecos.

Tanto a polícia quanto as cortes administrativas de migração criticaram a legislação: ela infringiu a lei sueca, que exige que aqueles que querem permanecer na Suécia tenham condições de se identificarem de maneira clara e precisa. Desrespeitar tal requisito reduz a capacidade das autoridades suecas de saberem quem vive no país.

O Conselho Sueco sobre Legislação (Lagrådet), uma agência governamental formada por juízes da Suprema Corte, atuais e anteriores, que deliberam sobre a validade jurídica das propostas legislativas, manifestaram as críticas mais severas feitas até agora em relação à medida. O Conselho deliberou que "chegou-se ao limite do aceitável em termos da maneira que a legislação pode ser formulada". Este veredito, no entanto, não impediu que o parlamento sueco, aprovasse a lei. Nem o fato da maioria dos suecos, 54% serem contra a permissão de deixar 9 mil afegãos entrarem no país demoveu os parlamentares. Segundo o governo, calcula-se que o custo de absorver os 9 mil "menores" afegãos para os contribuintes supere 2,9 bilhões de coroas suecas (cerca de US$319 milhões) nos próximos três anos.

A Suécia determinou então que uma criança vulnerável de 6 anos de idade que acabou de perder a mãe, que está morando com os avós e frequentando uma pré-escola sueca deva ser deportada. (Pelo menos até que a indignação pública tivesse forçado o governo a reexaminar a decisão.)

Lamentavelmente a decisão de deportar Denis pelo jeito não é um equívoco pontual e sim um indício que dá a impressão de ser uma tendência na Suécia de favorecer certos grupos de imigrantes em detrimento de outros.

Já em 2001, uma reportagem publicada pelo jornal Dagen mostrou que os candidatos a asilo cristãos tiveram seus vistos de asilo negados com bem mais frequência do que os candidatos a asilo muçulmanos. De todos os refugiados cristãos que pediram asilo na Suécia em 2000, a menos da metade (40%) foi concedido asilo. Já quanto aos muçulmanos, foi concedido asilo a 75% dos candidatos.

Após a derrubada de Saddam Hussein em 2003, a perseguição aos cristãos iraquianos pelos jihadistas começou a saltar exponencialmente. Mesmo assim, em 2009 a Suécia rejeitava e deportava para o Iraque cristãos candidatos a asilo: dos 25 cristãos iraquianos que a Suécia deportou em 2009, 24 fugiram de novo do Iraque, um se refugiou em Mossul, de acordo com a Sveriges Radio.

Um casal de cristãos que fugiu do Iraque em 2005 e viveu na Suécia por quatro anos foi deportado à força de volta ao Iraque em 2009. Na sequência eles então fugiram do Iraque para a Turquia. "Eu amava a Suécia e o povo sueco, mas nunca vou esquecer a maneira tão desumana que fomos tratados por aqueles que nos expulsaram. Foi um verdadeiro pesadelo. Eles eram realmente suecos?" perguntou o casal à Sveriges Radio.

Naquela ocasião, a Sveriges Radio também conversou com Nina Shea da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA que salientou que uma limpeza étnica dos cristãos estava em curso e que era o bastante somente ser cristão no Iraque para ser alvo de perseguição. Naquela época, organizações de direitos humanos também ressaltaram que não era seguro repatriar os cristãos para o Iraque: com certeza eles serão perseguidos devido a sua fé.

Nada disso, no entanto, conteve as autoridades de migração suecas de deportarem cristãos. As autoridades realçavam, mais uma vez, que os cristãos "não apresentaram evidências suficientes que estavam diante de uma tragédia anunciada, que corriam perigo de sofrerem graves abusos" caso voltassem ao Iraque.

Em 2014 a "superpotência humanitária" deportava as minorias cristãs, como por exemplo os assírios, para o Iraque, onde o ISIS entrou em cena com sua implacável campanha de limpeza étnica de todas as minorias religiosas, cometendo estupros, torturas, escravidão e assassinatos. No entanto, isso não demoveu a "superpotência humanitária". Em uma das decisões de deportar cristãos assírios para o Iraque, as autoridades de migração suecas escreveram

"Devido às atividades do Estado Islâmico no norte, os combates diminuíram em Bagdá. Há, no entanto, ataques terroristas e tiroteios em Bagdá... O Departamento de Migrações concluiu que vocês não apresentaram evidências suficientes de que seu temor de serem seriamente abusados seja justificado... Portanto, vocês não são vistos como... necessitados de proteção... "

Em julho de 2017, as autoridades de migração suecas decidiram que a atriz iraniana Aideen Strandsson que se converteu secretamente para o cristianismo no Irã antes de vir para a Suécia em 2014 com um visto de trabalho, devia ser deportada de volta para o Irã, apesar de que lá ela estaria às voltas com penas de prisão, juntamente com estupros e torturas, padrão nas prisões iranianas e, como apóstata no Irã ela estaria sujeita à pena de morte, e no caso dela seria altamente provável. Na audiência de Strandsson, um oficial de migração da Suécia segundo consta disse a ela que o diabo não é tão feio como se pinta em relação à ida dela ao Irã, porque "seriam apenas seis meses de prisão". Pelo que se sabe, agentes suecos também disseram a ela que a conversão ao cristianismo era decisão dela, de modo que agora as consequências daquela decisão eram problema dela, não deles.

A polícia sueca está sobrecarregada e com atraso, de modo que pelo andar da carruagem, felizmente, poderá levar um tempo considerável até que Strandsson seja deportada. Em agosto de 2018, Strandsson ainda não sabia a data da deportação.

Há cerca de 8 mil cristãos com ordens de deportação foragidos na Suécia, de acordo com o advogado sueco Gabriel Donner, que ajudou cerca de mil candidatos a asilo cristãos sujeitos à deportação.

Segundo Donner, os agentes da migração não entendem porque alguém se converteria ao cristianismo:

"Isso fica mais evidente quando um convertido diz que se converteu devido ao amor que recebeu de Jesus Cristo. E eles um tanto em tom de brincadeira, perguntam ao convertido: o que você quer dizer com amor? Isso é totalmente alheio a eles ".

E tem mais, em janeiro de 2018 o Comitê das Nações Unidas contra a Tortura (CAT) colocou uma pá de cal na intenção da Suécia de deportar o ex-muçulmano Abdul Malik, para o Paquistão. Tendo chegado à Suécia em 2012 do Baluchistão (região do Paquistão), se converteu ao cristianismo em 2015, foi batizado e trabalhou em traduções da Bíblia. Apesar disso tudo, as autoridades suecas não acreditavam que a conversão dele era genuína e em 2017 decidiram deportá-lo. No Paquistão, ele corria o risco de ser torturado e preso, não apenas por suas atividades políticas em nome do Baluchistão, mas também por ter se convertido ao cristianismo.

Considerando tudo isso, a Suécia não parece ser uma "superpotência humanitária", afinal de contas.

Judith Bergman é colunista, advogada e analista política, também é Ilustre Colaboradora Sênior do Gatestone Institute.

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