Euronews, 22 de novembro de 2018
Uma sorridente Theresa May apresentou esta quinta-feira à tarde o novo esboço da declaração política acordada esta semana com a União Europeia como base para o texto final do "Brexit". A resposta da oposição dá, contudo, espaço a poucos sorrisos.
O líder do Partido Trabalhista considera que este novo esboço de acordo para a saída do Reino Unido da união Europeia a 29 de março como "26 páginas cheias de nada".
"Há pouco mais de um ano foi-nos dito que iríamos ter um acordo comercial no final deste processo. Liam Fox disse mesmo que seria o mais fácil da história da humanidade. Afinal, temos 26 páginas cheias de nada", afirmou Jeremy Corbyn, pouco depois da primeira-ministra ter apresentado de viva voz na Casa dos Comuns, o esboço do acordo.
Corbyn alega que o documento está repleto de frases como "iremos olhar para" ou "iremos explorar", acusando o governo conservado de ter conseguido menos do que uma página de texto por cada mês que passou desde o referendo do "brexit" realizado no final de junho de 2016.
"Ao invés de se preocupar mais com o emprego, o governo está mais interessado em enviar mensagens subliminares sobre imigração", acusou ainda o líder trabalhista, para quem a saída britânica da Política Comum de Pescas deixa entender a entrada num outro acordo comum para as águas britânicas -- um dos temas mais fraturantes do lado britânico.
Na resposta ao líder da oposição, Theresa May defendeu que o texto do novo pré-acordo está muito mais detalhado do que acusa Corbyn e que, no caso das pescas, o Reino Unido irá negociar um novo acordo anual sobre o acesso às respetivas águas.
França Holanda e Dinamarca são dos Estados-membros mais preocupados com a eventual perda de acesso à zona económica exclusiva do Reino Unido. Do lado britânico, os pescadores receiam que o governo de May conceda nessa exclusividade em benefício de outros setores económicos britânicos.
A primeira-ministra garantiu na primeira apresentação ao Parlamento deste novo esboço do acordo que o acesso às águas britânicas não seria usado como moeda de troca em negociações alheias.
Na resposta a Corbyn, May deixa implícito a perda de benefícios do Reino Unido existente na atual associação à União Europeia.
Ainda fresca na memória está por exemplo a recente "guerra das vieiras" devido ao acesso de pescadores britânicos a águas franceses numa altura em que os locais ainda não podiam proceder a apanha deste molusco. O "brexit", sem um acordo sobre o tema, impede os barcos britânicos de aceder às águas francesas.
Questionada pela antiga ministra conservadora Justine Greening, uma confessa pró-Europa, se uma eventual rejeição pelo Parlamento deste pré-acordo do "Brexit" se o governo estaria preparado para apresentar uma proposta alternativa ou até mesmo um novo referendo, a primeira-ministra escudou-se no referendo de 2016.
Os deputados aprovaram a realização do referendo e o povo decidiu-se pela separação da União Europeia, por isso, os políticos devem preocupar-se apenas em cumprir o desejo do povo, disse a chefe de Governo.
Theresa May assumiu-se porta-voz dos britânicos e garantiu que o povo agora pretende apenas que os políticos comecem a olhar para o futuro do país pró-"Brexit" e que deixem de empatar o processo.
A primeira-ministra espera estar a dar os derradeiros passos no processo de acordo entre Londres e Bruxelas e conta ver a ratificação do pré-acordo, no domingo, pelos 27 Estados-membros da União Europeia, numa cimeira de líderes, em que May estará presente apenas como parte interessada.
Com essa ratificação dos ainda parceiros europeus, ficará apenas a faltar a discussão e aprovação do documento, em dezembro, no Parlamento britânico.
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