Gatestone, 21 de julho de 2018
Por Judith Bergman
- A polícia informou que crianças muçulmanas disseram a seus colegas de classe que irão cortar suas gargantas e mostram decapitações em seus celulares, de acordo com um novo estudo sobre o salafismo na Suécia elaborado pela Universidade de Defesa da Suécia.
- "Muitas mulheres vivem numa situação pior na Suécia do que em seus países de origem" — funcionário da saúde sueco.
- Essa incapacidade, cegueira deliberada, é provavelmente um retrato mais correto de enxergar que o terrorismo jihadista não aparece do nada e sim é alimentado em determinados ambientes, não é de maneira alguma uma conjuntura exclusivamente sueca. A insistência de tantas autoridades europeias e ocidentais de caracterizarem os ataques terroristas como casos de "doenças mentais" ilustra cabalmente o problema.
Um novo estudo [1] sobre o salafismo na Suécia, conduzido pela Universidade de Defesa da Suécia, pinta uma imagem sombria da radicalização dos muçulmanos em curso na Suécia.
Os salafistas são os "antepassados devotos" das primeiras três gerações de seguidores de Maomé, sua ideologia chegou a ser associada nas últimas décadas à al-Qaeda e ao ISIS, bem como aos grupos locais ligados à al-Qaeda. Segundo o estudo, os salafistas que acreditam no Islã praticado pelos primeiros seguidores de Maomé, tendem a rejeitar a sociedade ocidental em favor de um Islã "puro": "nem todos os salafistas são jihadistas, mas todos os jihadistas são salafistas". [2]
Embora o estudo não forneça uma estimativa sobre quantos salafistas se encontram na Suécia, ele mostra como os meios salafistas evoluíram e se fortaleceram, principalmente na última década, o estudo lista vários casos da influência que eles exercem em diversas cidades e localidades suecas.
Os "salafistas", concluem os autores do estudo, "defendem a segregação de gênero, exigem que as mulheres usem os véus islâmicos para limitar a 'tentação sexual', restringem o papel das mulheres na esfera pública e se opõem categoricamente a ouvir música e a determinadas atividades esportivas".[3].
De acordo com o estudo, muitos salafistas também instruem os muçulmanos a não fazerem amizade com os suecos, referindo-se a eles como "kufr", termo árabe usado para identificar um não muçulmano ou "infiel". O pregador salafista Anas Khalifa salientou:
"isso significa que se você se deparar com um cristão ou um judeu você deve espancá-lo ou ameaçá-lo? Não. Não há uma guerra entre você e cristãos e judeus na sua escola por exemplo. Você o odeia em nome de Alá. Você sente ódio porque ele não acredita em Alá. Você quer do fundo d'alma que ele ame Alá. De modo que é necessário trabalhar com eles, conversar com eles, porque você quer que Alá os guie". [4]
Ao que tudo indica, os salafistas dividiram a Suécia entre eles, geograficamente. Segundo o estudo:
"chama a atenção que os pregadores salafistas, objeto do estudo, parecem cooperar uns com os outros em vez de serem rivais. Na realidade esses pregadores dividem sua da'wa (missão) em diferentes áreas geográficas"[5].
Alguns dos insights do estudo de várias cidades onde os salafistas são atuantes:
Em Borås, crianças não bebem a água da escola ou pintam com aquarelas porque elas dizem que a água é "cristã". A polícia informou que crianças muçulmanas disseram a seus colegas de classe que irão cortar suas gargantas e mostram decapitações em seus celulares. Há casos de "adolescentes que chegam às mesquitas no final de um dia na escola para se 'lavarem' depois de terem interagido com a sociedade não muçulmana". Funcionários da saúde (assistência médica, assistência à infância, etc.) na cidade testemunharam como os homens exercem o controle sobre as mulheres, vistoriando-as mesmo nas salas de espera[6]. Um funcionário da saúde ressaltou:
"percebi que há uma rede que controla as mulheres para que elas não fiquem sozinhas com os funcionários da saúde. Elas não têm condições de dizer a ninguém sobre o que acontece com elas. Muitas mulheres vivem numa situação pior do que viviam em seus países de origem".
Esse tipo de controle das mulheres aparenta ocorrer em praticamente todas as cidades suecas mencionadas no estudo.
Em Västerås a influência religiosa se entrelaça com o crime. "Poderia ser um bando entrando em uma mercearia. Se a mulher do caixa não estiver usando véu, eles pegam o que quiserem sem pagar, chamam a mulher do caixa de 'prostituta sueca' e cospem nela", disse um policial, segundo o estudo. Em outros episódios, sírios e curdos que gerenciam lojas e restaurantes na região são questionados por jovens muçulmanos sobre a religião. Se a resposta não for o Islã, são molestados. Em outros casos, meninos de 10 a 12 anos se aproximam de mulheres mais velhas, perguntando se são muçulmanas, dizendo "este é o nosso pedaço".[7]
Em Gotemburgo, de acordo com o estudo,[8] salafistas disseram aos muçulmanos para não votarem nas últimas eleições porque é "haram" (proibido). "Eles disseram: no dia do julgamento vocês serão responsáveis por tudo que os políticos estúpidos em que vocês votaram fizerem. Eles estavam a postos em frente às seções eleitorais... Em uma seção eleitoral eles balançaram a bandeira do Estado Islâmico", disse um funcionário local aos autores do estudo. Segundo um imã da cidade, Gotemburgo tem sido a capital do wahhabismo (uma versão saudita do salafismo) na Europa desde os anos 90.[9]
Dos 300 muçulmanos suecos que se juntaram ao ISIS na Síria e no Iraque, praticamente um terço veio de Gotemburgo.[10] (Em relação à população do país, um número maior de pessoas foram da Suécia para se juntar a grupos jihadistas na Síria e no Iraque do que da maioria dos países europeus, a proporção somente é mais alta de indivíduos provenientes da Bélgica e da Áustria [11]). O pregador somali-canadense Said Regeah, ao discursar na Mesquita Salafista Bellevue, em Gotemburgo, "chamou a atenção para a importância das pessoas nascerem 'puras' e que somente os muçulmanos são puros. Todos nascem muçulmanos, mas são os pais que os moldam para que se tornem judeus, cristãos ou zoroastristas".[12]
O estudo também faz menção que proprietários, não muçulmanos, de empresas tiveram seus estabelecimentos vandalizados com pichações a favor do Estado Islâmico e que padres foram alvo de ameaças de decapitação.[13]. Samir disse o seguinte: "se vocês não seguirem o Islã estarão condenados ao ostracismo. Há pais aqui que cobrem seus filhos de três anos de idade com véus. É coisa do outro mundo. Nós não estamos no Iraque".[14]
A outro sujeito de nome Anwar foi negado emprego em um restaurante muçulmano porque ele não era religioso. Ele ressalta que a sociedade está deixando os muçulmanos seculares de lado: "eu não necessito de uma Bíblia ou um de Alcorão na minha vida. O único livro que eu preciso é... a lei (sueca). Mas se a sociedade sequer está ao meu lado, fazer o quê?"[15]
O estudo calcula que na região de Estocolmo o número de jihadistas salafistas pode chegar a 150[16]. Os salafistas estão em sua maioria concentrados na região de Järva, uma das "zonas proibidas" de Estocolmo. Vira e mexe jihadistas e criminosos se sobrepõem, esses muçulmanos aterrorizam quem reside naquela região. Uma mulher ressaltou que os salafistas e os islamistas passaram a dominar empresas, mesquitas instaladas em subsolos e associações culturais nos últimos dez anos e que "os suecos não têm ideia do tamanho da influência do Islã político nos subúrbios". Ela elucidou a maneira com que até as crianças são segregadas por gênero e que os líderes religiosos instruem as mulheres a não denunciarem às autoridades caso o marido abuse delas. "As leis suecas não são cumpridas nos subúrbios".[17]
O estudo conclui com uma crítica às autoridades suecas por sua aparente incapacidade de ligar casos individuais de muçulmanos radicais aos "ambientes que moldam sua maneira de pensar e, em certos casos, facilitam o ímpeto de se juntarem a grupos mais radicais e violentos". O estudo menciona, a título de exemplo, o seguinte:
"quando o então Coordenador Nacional Contra o Extremismo Violento realçou que a razão pela qual tanta gente sai da Suécia para se juntar ao Estado Islâmico é 'um enorme ponto de interrogação', ilustra a incapacidade das autoridades suecas (com exceção da polícia e polícia de segurança) de enxergarem que esse problema não apareceu do nada".[18]
Essa incapacidade ou quem sabe cegueira deliberada de enxergar que o terrorismo jihadista não aparece do nada e sim é alimentado em determinados ambientes, não é de maneira alguma uma conjuntura exclusivamente sueca. A insistência de tantas autoridades europeias e ocidentais de caracterizarem os ataques terroristas como casos de "doenças mentais" ilustra categoricamente o problema.
Os autores do estudo também mencionam que as escolas e autoridades locais não sabem como lidar com os desafios criados pelos salafistas. O estudo cita, a título de exemplo, que uma aluna muçulmana queria tirar o véu para brincar de cabeleireira com as outras crianças, mas os funcionários suecos não permitiram por respeito aos desejos dos pais. Em outro caso em uma pré-escola sueca, uma menininha não queria usar o véu, mas os funcionários suecos forçaram-na a usá-lo, "ainda que parecesse errado", porque esse era o desejo dos pais. Os funcionários da escola sueca também disseram que não sabem como agir quando as crianças querem comer e beber durante o Ramadã, visto que os pais as instruíram que elas devem jejuar.[19]
O estudo é um passo importante, primeiro do gênero na Suécia, que finalmente reconhece que há um problema, mas a menos que as autoridades competentes, como o governo sueco e os líderes políticos, que se recusam a reconhecer a realidade sueca, o leiam e o internalizem, o estudo terá sido feito em vão.
Judith Bergman é colunista, advogada e analista política.
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