The Local Fr, 29 de maio de 2018
Os 40 prisioneiros radicalizados que estão se preparando para deixar os presídios franceses nos próximos 18 meses depois de cumpridas as penas são “um grande risco”, alertou o promotor de contraterrorismo da França.
A França já está em alerta máximo para o terrorismo, mas a ameaça à segurança deve aumentar apenas nos próximos anos, segundo o principal promotor antiterrorista da França, François Molins.
As autoridades estão se preparando para libertar cerca de 20 prisioneiros radicalizados em 2018 e mais 20 em 2019, disse Molins em entrevista à BFM TV.
“Há um grande risco de que essas pessoas não estejam arrependidas do que fizeram e após saírem da prisão ao fim da sentença, se tornem até mais radicais devido à sua permanência na prisão”, acrescentou.
“Precisamos conversar muito mais para garantir que eles sejam monitorados adequadamente, o que exige um trabalho completo entre a administração penitenciária, os serviços de inteligência, as prefeituras, os que trabalham no sistema judicial e no Ministério Público”, disse ele.
Atualmente, mais de 1.200 pessoas presas por crimes não relacionados ao terrorismo são consideradas radicalizadas atrás das grades na França, enquanto mais de 500 estão presas por terrorismo, de acordo com reportagens da imprensa francesa.
Enquanto alguns dos presos por crimes de terror estão cumprindo longas sentenças, alguns devem ser libertados nos próximos anos, conforme o alerta de ameaça terrorista permanecer na França.
“O ambiente penitenciário funciona como uma incubadora na medida em que há uma interação” entre esses dois tipos de prisioneiros, observou Molins, que deve deixar seu cargo em novembro, depois de passar sete anos à frente do serviço antiterrorista.
Combatendo uma guerra ideológica.
Os serviços de inteligência franceses já estão lutando para vigiar os milhares de indivíduos na lista de observação de terror do país — alguns dos quais passaram a cometer ataques terroristas — e a libertação de extremistas conhecidos da prisão dá às autoridades mais dores de cabeça.
Um pesquisador do Instituto de Relações Exteriores e Estratégias de Paris, François Bernard Huyghe, disse ao The Local que ele acredita que Molins está certo em descrever a situação em termos tão alarmantes, acrescentando que há várias razões para a gravidade da situação.
“Pessoas radicalizadas estão sendo libertadas em breve porque, para mantê-las dentro, teríamos que condená-las por algo muito sério”, disse ele. “Além disso, como sabemos, as prisões são o melhor lugar para se radicalizar — os jihadistas em potencial podem encontrar ‘heróis’ do movimento na cadeia”.
A segunda razão, disse ele, é que a França é “muito, muito ruim em desradicalizar”.
“Eu nunca conheci uma pessoa sequer que foi magicamente desradicalizada e se transformou em um bom cidadão”, disse ele.
A última razão que ele deu foi que, enquanto os jihadistas em potencial estão cada vez mais se empenhando para encontra informações sobre extremistas online, é provável que eles encontrem pessoas que tenham experimentado a vida como jihadistas, porque agora há várias gerações de combatentes jihadistas que já atuaram.
“Eles podem aprender com os caras mais velhos”, disse ele.
Ele passou a descrever o problema adicional de que a França não pode competir com as promessas oferecidas pelos grupos radicais islâmicos, que oferecem “muito a esses caras jovens dos subúrbios”.
“Em suas mentes, eles estão oferecendo a eles a chance de lutar contra vilões, bem como apartamentos e riqueza material”, disse ele, acrescentando que a França, por outro lado, pode “oferecer a eles a chance de conseguir emprego normal e votar em uma eleição em poucos anos”.
Huyghe continuou descrevendo a solução para o problema como uma questão de longo prazo que precisa incluir o ensino dos valores republicanos, não apenas falar sobre eles.
“Estamos começando a admitir que esta é uma guerra ideológica não apenas social”, disse ele.
Mas ele admitiu que a França está ficando melhor em parar os ataques e que eles [jihadistas] se tornaram menos “tecnicamente bem-sucedidos”.
Plano do governo para deter a radicalização.
A França há muito tem lutado com a questão da radicalização em suas prisões.
Em fevereiro, o The Local informou que o governo francês havia dito que isolaria extremistas dentro das prisões e abir novos centros para reintegrar os jihadistas na sociedade como parte de um novo plano para deter a disseminação do Islã radical.
A França está experimentando várias maneiras de acabar com a tendência ao extremismo de jovens que crescem à margem da sociedade, em subúrbios predominantemente imigrantes, onde organizações como o grupo Estado Islâmico ou Al-Qaeda recrutam.
O plano pretende extrair lições dos fracassos do passado, após três anos marcados por uma série de ataques que deixaram mais de 240 mortos.
“Ninguém tem uma fórmula mágica para desradicalização, como se você pudesse desinstalar softwares perigosos”, disse o primeiro-ministro Edouard Philippe na cidade de Lille, no norte do país, onde apresentou sua estratégia, acompanhado por uma dúzia de ministros.
“Mas na França e em outros lugares existem boas abordagens para a prevenção e a libertação”.
A França está particularmente interessada em impedir o florescimento do extremismo em suas prisões, onde alguns dos jihadistas por trás dos ataques nos últimos anos ficaram sob o feitiço dos radicais.
Um total de 512 pessoas estão atualmente cumprindo pena por crimes de terrorismo na França e mais de 1.139 prisioneiros foram indicados como sendo radicalizados.
Para evitar que o extremismo se alastre ainda mais, Philippe disse que criaria 1.500 lugares em diferentes alas da prisão “especialmente para presos radicalizados”.
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