GQ, 17/10/2023
Por Anay Mridul
Comer carne tem sido frequentemente associado à ideia de masculinidade – para ver se estas percepções estão mudando, os investigadores realizaram uma experiência para descobrir se o enquadramento masculino no marketing influenciaria a forma como os homens preterem a comida vegana.
Apesar de haver uma divisão igualitária na população total, na Alemanha – o principal mercado europeu de alimentos à base de plantas – apenas 19% dos veganos são homens. Vários estudos exploraram como a masculinidade pode estar ligada ao consumo de carne e a forma como o veganismo é frequentemente associado à feminilidade.
Usando este precedente, um novo estudo publicado na revista Frontiers examinou os efeitos do enquadramento do veganismo através de uma lente masculina na atitude dos homens, em relação à comida vegana, e explorou se a adesão às formas tradicionais de masculinidade poderia aumentar o impacto de tal enquadramento.
“Os homens podem estar menos inclinados a consumir alimentos veganos devido à necessidade de representar o gênero”, disse a principal autora do estudo, Alma Scholz. “No entanto, com a comida vegana sendo enquadrada de uma forma masculina, os homens podem sentir menos resistência e tornar-se mais propensos a consumi-la.”
Saladas ocidentais fartas versus deliciosas saladas naturais.
 |
| Como os veganos imaginam os carnívoros |
O estudo entrevistou 593 participantes, mas a hipótese só foi testada em 382 onívoros, que receberam aleatoriamente descrições de comida vegana de forma masculina ou não masculina. Foi-lhes pedido que classificassem a adequação dos alimentos à base de plantas para mulheres ou homens de um a sete – sendo um provavelmente mais adequado para mulheres e sete para homens (uma pontuação de quatro significava que não era particularmente adequado para nenhum dos dois).
Não foram apresentadas fotos e a fonte e as cores foram mantidas constantes e neutras. Os pesquisadores usaram atributos convencionais ou masculinos para enquadrar um prato. O primeiro inclui palavras como 'toque especial', 'colorido', 'criativo' e 'delicioso', e os termos 'mais viris' incluíam 'besta', 'carnudo', 'rico em proteínas' e 'recheio'.
Foram utilizados quatro pratos: a salada, o espaguete à carbonara, o hambúrguer e o goulash – foram selecionados porque já podem ter conotações de gênero. Os pesquisadores presumiram que a salada e em parte o espaguete têm uma associação mais feminina, enquanto os outros tendem a ter uma conotação mais masculina.
“A associação de gênero dos pratos foi manipulada através da alteração dos ingredientes, das descrições verbais e dos nomes dos pratos”, explica o estudo. Por exemplo, os pratos masculinos continham “molho”, enquanto os pratos femininos continham “molho de vinho tinto”. No primeiro caso, o prato foi denominado 'Salada Ocidental' e descrito como 'saudável', enquanto o último viu o mesmo prato ser chamado de 'Salada Natural' e descrito como 'saboroso'.
Quando o hambúrguer foi descrito aos entrevistados usando termos convencionais, a avaliação foi de 3,68 – mas subiu para 3,96 quando se usaram palavras masculinas. Os resultados foram semelhantes aos restantes, pois o enquadramento masculino fez com que os pratos fossem considerados menos femininos e mais neutros (todos os pratos ainda estavam abaixo da classificação 4).
Portanto, o enquadramento masculino não fez com que os homens expressassem um desejo muito maior de comer comida vegana, nem melhorou a sua atitude geral em relação ao veganismo. “Uma vez que os estereótipos de gênero também incluem escolhas alimentares, os homens estão mais inclinados a consumir de uma forma baseada no gênero para orientar a percepção social. Caso contrário, poderão ser considerados menos masculinos”, explicou Scholz.
Novas formas de masculinidade
Além disso, o estudo também encontrou resultado contrário às expectativas dos pesquisadores. O enquadramento masculino teve um efeito positivo naqueles que se identificam com novas formas de masculinidade – descritas como “desafiando as normas masculinas tradicionais” e “associadas a valores como autenticidade, expressividade emocional e autoconsciência holística”. Quanto mais os homens prescrevem a estas novas ondas de masculinidade, mais provável é que a sua atitude em relação ao veganismo seja positiva.
Isso indica que uma amostra mais ampla e diversificada pode apresentar resultados diferentes. Os investigadores apelaram a uma maior exploração do enquadramento masculino “para melhorar a percepção dos homens sobre a comida vegana e o conceito vegano”, embora com estímulos mais fortes e intervenções mais longas.
“As nossas descobertas sugerem que a potência de uma intervenção de curto prazo, pode não ser suficiente para contrabalançar as conotações femininas predominantes associadas ao veganismo”, afirmou o estudo. “Apesar do impacto modesto nas classificações de adequação de gênero para os homens, é imperativo reconhecer a resposta neutra em termos de gênero exibida pelas mulheres, indicando que a intervenção não afetou negativamente a sua percepção.”
Scholz explicou: “Com uma intervenção curta, a percepção sobre a adequação de gênero da comida vegana foi desviada da feminilidade e mais próxima de uma posição neutra. Mesmo que esta mudança não fosse completa, as intervenções a longo prazo poderiam ter o potencial de mudanças ainda mais fortes, resultando numa melhoria no gosto dos homens por pratos veganos, e merecem, portanto, uma exploração mais aprofundada.”
Artigos recomendados: Carne e Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário