Expresso, 07 de maio de 2019
Por Helena Bento
Decisão de repetir as eleições municipais em Istambul, onde a oposição conseguiu derrotar o partido no poder, tem sido questionada e criticada. Guy Verhofstadt, que lidera o Grupo Liberal no Parlamento Europeu, acusou a Turquia de estar a tornar-se uma “ditadura”
A comissão eleitoral da Turquia ordenou esta terça-feira que as eleições de 31 de março sejam repetidas em Istambul, cidade onde a oposição ao governo venceu, e a decisão tem sido questionada e criticada. A União Europeia já pediu um esclarecimento “o mais rápido possível” e o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Mass, classificou a decisão de “incompreensível”. O Governo francês criticou-a abertamente e o mesmo fez Guy Verhofstadt, o ex-PR belga que lidera o Grupo Liberal no Parlamento Europeu, acusando a Turquia de estar a tornar-se uma “ditadura”.
A decisão de repetir as eleições municipais em Istambul, que foram ganhas pelo Partido Revolucionário do Povo (CHP, de centro-esquerda), tendo aliás o candidato do partido, Ekrem Imamoglu, chegado a ser investido como presidente da câmara daquela cidade, foi anunciada na segunda-feira. O presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, alegou ter havido “irregularidades e corrupção”, pediu uma repetição do sufrágio e a comissão eleitoral aceitou. Ekrem Imamoglu considerou a decisão “traiçoeira” e foram muitos os que saíram às ruas de Istambul, na segunda-feira, para manifestar o seu desagrado. A nova votação ficou marcada para 23 de junho.
“Assegurar um processo eleitoral livre, justo e transparente é essencial para qualquer democracia e é um aspecto central da relação entre a União Europeia e a Turquia”, referiu a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em comunicado. O Governo francês apelou às autoridades turcas para “demonstrarem respeito pelos princípios democráticos, o pluralismo, a equidade e a transparência”, e Guy Verhofstadt afirmou no Twitter que a decisão de repetir eleições pode bem tornar as negociações de adesão da Turquia à UE “impossíveis”.
Mas o que alegou exatamente o governo? De acordo com um representante do AKP (partido no poder) na comissão eleitoral, a votação de final de março foi acompanhada por pessoas que não eram funcionários públicos e alguns documentos com os resultados não foram assinados. Já o CHP vê a situação doutra forma: a decisão “ditatorial” de repetir eleições mostra que “é ilegal vencer o AKP”, afirmou o deputado Onursal Adiguzel. Num discurso perante apoiantes, Ekrem Imamoglu acusou a comissão eleitoral de ter sido influenciada pelo partido no poder.
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