EFE, 08/05/2018.
O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira que retirará os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015, e voltará a impor as sanções suspensas por causa do pacto, por considerar que há "provas" de que Teerã mentiu quando disse que seu programa atômico tinha fins pacíficos.
"Hoje anuncio que os Estados Unidos se retirarão do acordo nuclear com o Irã", disse Trump em uma declaração à imprensa na Casa Branca.
"Voltaremos a impor o nível mais alto de sanções econômicas. E qualquer nação que ajude o Irã na sua busca de armas nucleares pode ser também duramente sancionada pelos Estados Unidos", advertiu.
Trump assinou uma declaração que, em suas palavras, "começa a retomar as sanções nucleares dos Estados Unidos ao regime iraniano", embora, segundo tenha detalhado o Departamento do Tesouro, algumas delas não entrarão em vigor até que transcorram períodos de entre 90 e 180 dias.
O presidente americano se mostrou disposto a trabalhar com seus aliados para "encontrar uma solução real, integral e duradoura à ameaça nuclear iraniana" que também abranja suas preocupações sobre o programa de mísseis balísticos do Irã e suas atividades "terroristas" no mundo.
"Se o regime continuar com suas aspirações nucleares, terá problemas maiores que os que teve nunca", alertou.
Trump reiterou suas frequentes críticas ao acordo com o Irã assinado em 2015 junto com Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, que limita o programa atômico do Irã em troca da suspensão das sanções internacionais.
"Este era um acordo horrível, que só beneficiava uma parte e que nunca, jamais, deveria ter sido assinado. Não trouxe calma, não trouxe paz, e nunca fará isso", sentenciou.
O governante citou os documentos apresentados na semana passada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que denunciou que o Irã tem um suposto programa atômico secreto e baseou essa acusação em mais de 100.000 arquivos recompilados pelos serviços de inteligência de Israel.
"No coração do acordo com o Irã havia uma grande ficção: que um regime assassino só desejava um programa de energia nuclear pacífico. Hoje temos provas definitivas de que esta promessa iraniana era uma mentira", alegou Trump.
O presidente também criticou os prazos para a caducidade de certas restrições ao programa nuclear iraniano incluído no acordo de 2015.
"Se eu permito que este acordo siga de pé, em breve haverá uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio. Todo o mundo quererá que suas armas estejam preparadas para quando o Irã tiver a sua", indicou Trump.
O governante também antecipou que, embora afirmem que não negociarão um novo compromisso, os líderes iranianos "no final vão querer negociar um acordo novo e durável que beneficie o Irã e o povo iraniano. Quando estiverem preparados, estarei disposto", destacou.
Cronologia da crise do programa nuclear iraniano
DW, 03/04/2015
Enriquecimento de urânio, sanções e negociações: desde 2006, Ocidente e Irã tentam chegar a um entendimento sobre a questão nuclear. Agora, um acordo prévio em pontos-chave abre caminho para um tratado final.
As negociações nucleares com o Irã ocorrem, com várias interrupções, desde 2006. O Ocidente, Israel e alguns outros países suspeitam que os iranianos estejam planejando a produção de armas nucleares. Teerã nega e argumenta que só quer usar a energia atômica para fins pacíficos.
Para um acordo entre o Irã e o chamado Grupo 5+1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Alemanha, foi estabelecido um prazo até o final de março. Atualmente, ambos os lados chegaram a um acordo prévio sobre a diminuição na quantidade de urânio que Teerã pode enriquecer para a produção de energia nuclear, além da redução em mais de dois terços de centrífugas.
Março de 2006: primeiro confronto
Teerã se recusa a cumprir o apelo do Conselho de Segurança da ONU e suspender o seu enriquecimento de urânio no prazo de 30 dias
Dezembro de 2006: penalidades
O Conselho de Segurança da ONU impõe as primeiras sanções contra o Irã.
Fevereiro de 2010: provocação
O Irã anuncia que enriqueceu urânio a 20% e que é capaz de enriquecer ainda a 80%. Com isso, o país poderia produzir armas nucleares.
Janeiro de 2011: silêncio
Em Istambul, as conversações entre o Irã e as cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha são adiadas indefinidamente.
Fevereiro de 2012: Teerã pesquisa
De acordo com informações de Teerã, cientistas iranianos desenvolveram sua primeira barra de combustível nuclear.
Fevereiro de 2012: sanções financeiras
Contas iranianas do banco central do Irã são congeladas na UE. O presidente Barack Obama ordena o bloqueio nos EUA de propriedades e bens do governo e do banco central iranianos.
Fevereiro de 2012: acesso negado
Os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) têm acesso negado pelo governo iraniano à suspeita base militar de Parchin, perto de Teerã.
Março de 2012: sanções contra petróleo
Obama aprova as sanções mais severas até então contra o Irã. O objetivo é dificultar ao máximo as importações de petróleo iraniano no mundo.
Abril de 2012: de volta à mesa de negociações
Em Istambul, são realizadas conversações entre as cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha e o Irã. Porém, sem resultados concretos.
Julho de 2012: sanções mais severas
Obama estabelece novas sanções contra o Irã, para afetar as exportações de petróleo do país. Em fevereiro de 2013, o Departamento do Tesouro dos EUA endureceu as medidas.
Fevereiro de 2013: Nova disposição para negociar
Na Conferência de Segurança de Munique, o ministro do Exterior do Irã, Ali Akbar Salehi, anuncia estar disposto a negociar com os EUA sob determinadas condições. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, vincula negociações nucleares diretas com os Estados Unidos a condições. As declarações são percebidas como de tom mais conciliador do que o habitual. Depois de uma pausa, representantes do Grupo 5+1 e da liderança em Teerã continuam discussões em Almaty, no Cazaquistão.
Março de 2013: ameaça militar
O presidente dos EUA, Barack Obama, sublinha, durante uma visita a Israel, que os EUA podem, se necessário, impedir pela força das armas o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã.
Setembro de 2013: de volta à mesa de negociações
As negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano continuam em Viena.
Janeiro de 2014: relaxamento de sanções
Após o Irã suspender o enriquecimento de urânio, os EUA e a União Europeia relaxam suas sanções. Apesar disso, a disputa em torno do programa nuclear continua. Em novembro, as negociações são, no entanto, prorrogadas até 2015.
Fevereiro de 2015: EUA e Irã negociam
Em Genebra, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e seu colega iraniano, Mohammad Javad Zarif, têm reuniões bilaterais. Segundo fontes da delegação americana, houve progressos. Zarif avaliou as conversas, segundo a agência de notícias Fars, como "construtivas e sérias". Elas continuariam.
Março de 2015: final em aberto
As negociações bilaterais continuam em Montreux, na Suíça. O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, diz, em Genebra, acreditar que o governo iraniano está negociando de forma séria com o Ocidente.
Abril de 2015: acordo prévio
Após oito dias de intensas negociações, agora na cidade suíça de Lausanne, as potências mundiais e o Irã anunciaram um entendimento prévio que viabiliza uma base para um acordo futuro sobre o programa nuclear.
Entre os pontos centrais, Teerã se compromete a reduzir sua capacidae de enriquecimento de urânio e o número de centrífugas de 19 mil para 6 mil. Em contrapartida, as sanções ocidentais deverão ser aos poucos levantadas, depois que inspetores independentes terem verificado que o Irã adotou todos os compromissos.
Ambos os lados prometem elaborar o texto para um tratado final até o fim de junho.
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