Mail, 10 de setembro de 2018
O governo comunista da China está queimando bíblicas, destruindo cruzes, fechando igrejas e ordenando que os fiéis cristãos assinem documentos renunciando à sua fé, segundo pastores e um grupo que monitora a religião na China.
Os relatos aparecem em meio a uma repressão aparente e massiva lançada por Pequim contra a religião como um todo.
Além do Cristianismo, milhões de muçulmanos no extremo oeste da China vêm enfrentando doutrinação política forçada em supostos “campos de lavagem cerebral”, onde eles precisam comer carne suína e beber álcool como “punição”, disseram grupos de direitos humanos e ex-detentos.
Considerando que, as crianças no Tibet tradicionalmente budista foram proibidas de participar de atividades religiosas durante as férias de verão.
Sob o [ditador] “presidente” Xi Jinping o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung, os crentes religiosos estão vendo suas liberdades encolherem drasticamente, mesmo quando o país passa por um renascimento religioso.
Especialistas e ativistas dizem que enquanto ele consolida o seu poder, Xi está promovendo a mais sistemática supressão do Cristianismo no país desde que a liberdade religiosa foi escrita na constituição chinesa em 1982.
Ao explicar os motivos da suposta repressão religiosa na China, Sophie Richardson, diretora da Human Rights Watch, disse à MailOnline: “O governo chinês há muito tempo trata os grupos religiosos organizados com desdém e hostilidade”.
“Não importa se é o Cristianismo, o Islamismo ou o Budismo, ele os considera veículos e mecanismos para levar a cabo a deslealdade política e o separatismo”, acrescentou Richardson.
Bob Fu, do grupo norte-americano China Aid, que também é pastor, disse no final de semana que o fechamento de igrejas na província de Henan e uma importante igreja doméstica em Pequim nas últimas semanas representam uma “escalada significativa” da repressão.
“A comunidade internacional deve ficar alarmada e indignada com essa flagrante violação de liberdade de religião e crença”, escreveu ele em um e-mail.
Fu postou vídeos do que parecia ser pilhas de bíblias em chamas em Henan em sua conta no Twitter. Ele também forneceu formulários declarando que os signatários haviam renunciado à sua fé cristã.
Ele disse que foi a primeira vez desde a Revolução Cultural radical de 1966-1976, de Mao, em que os cristãos foram obrigados a fazer tais declarações, sob a pena de expulsão da escola e da perda de benefícios sociais.
A China tem cerca de 38 milhões de protestantes, e especialistas previram que o país terá a maior população cristã do mundo em algumas décadas.
Um pastor cristão de Henan, Nanyang, disse que cruzes, bíblias e móveis foram queimados durante uma incursão em 05 de setembro.
O pastor, que pediu para não ser identificado pelo nome para evitar repercussões das autoridades, disse que várias pessoas entraram na igreja assim que abriu as suas portas às 5 da manhã e começaram a retirar itens.
Ele disse que a igreja esteve em discussões com autoridades locais que exigiram “reformas” em si, mas nenhum acordo foi obtido ou documentos oficiais divulgados.
A lei chinesa exige que os crentes religiosos venerem somente em congregações registradas junto às autoridades, mas muitos milhões pertencem às chamadas igrejas clandestinas ou domésticas que desafiam as restrições do governo.
Uma autoridade local falou por telefone com o governo da cidade de Nanyang e contestou a acusação, dizendo que os funcionários respeitavam a liberdade religiosa. O homem se recusou a dar seu nome, como é comum entre os burocratas chineses enquanto uma pessoa que atende os telefones no escritório de assuntos religiosos locais disse que eles “não estão sendo claros” sobre o assunto.
Em Pequim, a igreja de Sião foi fechada no domingo por cerca de 60 funcionários do governo que chegaram às 16hs30 acompanhados por ônibus, carros da polícia e caminhões de bombeiros, disse o pastor da igreja, Ezra Jin Mingri. Sião é conhecida como a maior igreja em Pequim, com seis filiais.
Os funcionários declararam as reuniões ilegais e isolaram as propriedades da igreja, disse Jin, depois de já terem congelado os bens pessoais do pastor em uma aparente tentativa de forçá-lo a cumprir suas exigências.
As igrejas continuarão a se desenvolver. Isolar as áreas onde estão estabelecidas só intensificará os conflitos
Um aviso publicado no domingo no site do governo do distrito de Chaoyang, em Pequim, disse que a Igreja de Sião foi fechada porque não conseguiu se registrar no sistema do governo.
Todas as religiões oficialmente reconhecidas da China parecem ter sido afetadas pela repressão.
No exemplo mais extremo, estima-se que um milhão de uigures e outros membros de grupos minoritários muçulmanos no noroeste do país tenham sido arbitrariamente detidos e enviados a campos de doutrinação, onde são forçados a renunciar o Islã e professar lealdade ao Partido Comunista.
Omir Bekali e Kayrat Samarkand, ambos ex-detidos, disseram ao Washington Post em maio que os prisioneiros foram forçados a comer carne de porco e a beber álcool, que é proibido no Islã, como punição.
A Human Rights Watch disse que um relatório de 117 páginas divulgados hoje que 13 milhões de muçulmanos na província de Xinjiang estão sujeitos a doutrinação política, punição coletiva, restrições ao direito de ir e vir e de comunicações, aumento das restrições religiosas e vigilância em massa que violam os seus direitos reconhecido pelos órgãos de direitos humanos internacionais.
O relatório é baseado principalmente em entrevistas com 58 ex-moradores de Xinjiang – uma região tradicionalmente habitada por seguidores do Islã – incluindo cinco ex-detentos e 38 parentes de detidos, segundo o grupo de direitos humanos de Nova York.
Kairat Samarkand, considerado um ex-detento em um campo de reeducação, é citado pela Human Rights Watch, dizendo que o governo chinês queria “exterminar o povo muçulmano, a escrita muçulmana e o vestuário muçulmano”.
Samarkand, que fugiu da China e agora vive no Cazaquistão, também disse: "Eles estão planejando um país homogêneo. Todo mundo tem que ser chinês. O governo chinês está cometendo abusos de direitos humanos em Xinjiang em uma escala não vista no país em décadas”, comentou Sophie Richardson, da Human Rights Watch.
A China foi intimada a libertar imediatamente os muçulmanos detidos em supostos campos de reeducação política sob o pretexto de “combater o terrorismo” por parte dos especialistas em direitos humanos das Nações Unidas.
O governo chinês disse que está tomando as medidas necessárias para eliminar o extremismo, mas negou a criação dos campos de reeducação. [Ênfase minha].
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