BTB, 30/09/2025
Por Kurt Zindulka
O Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS) foi alvo de críticas por aparentemente defender o casamento entre primos, em meio ao debate sobre a prática e sua prevalência em determinadas comunidades minoritárias.
Apesar de descobertas científicas relacionarem o casamento consanguíneo a uma série de defeitos genéticos de nascimento, efeitos negativos sobre o QI e maior risco de Alzheimer, transtornos de humor e esquizofrenia, o Programa de Educação em Genômica do NHS Inglaterra publicou na semana passada uma orientação que minimiza seus perigos ao mesmo tempo em que ressalta supostos benefícios sociais.
O documento reconheceu os riscos genéticos, mas observou que outros fatores também podem causar defeitos em crianças, como o consumo de álcool e a idade dos pais — “nenhum dos quais é proibido no Reino Unido”. Ao mesmo tempo, o artigo afirmou que o casamento entre primos estaria ligado a “sistemas de apoio familiar mais fortes e vantagens econômicas”.
“Aconselhamento genético, iniciativas de conscientização e campanhas de saúde pública são ferramentas importantes para ajudar famílias a tomar decisões informadas sem estigmatizar determinadas comunidades e tradições culturais”, acrescentou a orientação.
Em contraste com as alegações do NHS sobre supostos benefícios familiares, críticos alertam que tais práticas podem ser usadas como mecanismos de controle sobre mulheres.
Aneeta Prem MBE, fundadora da organização Freedom Charity, disse ao Mail on Sunday:
“O casamento entre primos de primeiro grau não é apenas uma tradição cultural — é um risco de proteção. Na Freedom Charity, vimos como ele está ligado ao chamado dishonour abuse, em que jovens são pressionados desde a infância e recebem pouca ou nenhuma escolha real.”
Casamento entre primos, atualmente legal no Reino Unido, torna-se tema político polêmico ligado à comunidade britânico-paquistanesa
O casamento entre primos, que continua legal no Reino Unido por não ter sido comum no país até recentemente, tornou-se uma questão política sensível em relação à comunidade britânico-paquistanesa. Estimativas indicam que mais de um em cada dois britânicos de origem paquistanesa é casado com um primo de primeiro grau.
Não surpreende, dado o histórico de pesquisas sobre consanguinidade, que os britânicos-paquistaneses também representem uma proporção desproporcional de casos de defeitos genéticos congênitos, com algumas estimativas apontando que um terço dos casos envolve membros dessa comunidade.
A ativista Aisha Ali-Khan, crítica do casamento entre primos, atribui as mortes prematuras de seus dois irmãos — ambos falecidos antes dos 18 anos — ao casamento consanguíneo entre seus pais britânicos-paquistaneses.
Ela declarou ao Mail:
“Tenho feito campanha há anos para destacar os riscos do casamento entre primos de primeiro grau, e finalmente começamos a ver membros mais jovens da comunidade rejeitar a prática. Então, para o NHS dizer que o casamento entre primos é algo que existe há séculos apenas mina o que nós, que temos experiência direta, estamos tentando mostrar.”
O deputado conservador Richard Holden, que defende a ilegalização do casamento entre primos, acrescentou:
“O nosso NHS deveria parar de se curvar diante de práticas culturais prejudiciais e opressivas. Sir Keir Starmer deveria parar de ter medo dos controladores comunitários misóginos e de seus cúmplices que aparecem na forma de professores de sociologia obcecados pelo relativismo cultural, e proibir uma prática que a esmagadora maioria, de todas as comunidades na Grã-Bretanha, quer ver encerrada de uma vez por todas.”
Em nota, o NHS afirmou que a orientação publicada era apenas um “resumo de pesquisas científicas existentes e do debate em políticas públicas”, e que “não expressava uma posição oficial do NHS”.
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