IP, 30/09/2025
Cientistas anunciaram nesta terça-feira que conseguiram transformar células da pele humana em óvulos e fertilizá-los com espermatozoides em laboratório pela primeira vez — um avanço que pode, no futuro, permitir que pessoas inférteis tenham filhos.
A equipe de pesquisadores, liderada por cientistas dos Estados Unidos, alertou que a tecnologia ainda levará anos até estar disponível para potenciais pais.
Especialistas independentes, no entanto, afirmaram que essa pesquisa de prova de conceito pode mudar o próprio significado de infertilidade, condição que afeta uma em cada seis pessoas no mundo.
Se bem-sucedida, a técnica chamada gametogênese in vitro (IVG) permitiria que mulheres mais velhas, ou que não possuem óvulos por outros motivos, pudessem se reproduzir geneticamente, explicou Paula Amato, coautora do novo estudo publicado, em entrevista à AFP.
“Isso também permitiria que casais do mesmo sexo tivessem um filho geneticamente ligado a ambos os parceiros”, acrescentou Amato, pesquisadora da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA).
Nos últimos anos, a ciência tem registrado avanços significativos nessa área. Em julho, pesquisadores japoneses anunciaram a criação de ratos com dois pais biológicos.
Mas o novo estudo, publicado na revista Nature Communications, representa um avanço maior por utilizar DNA humano em vez de DNA de camundongos.
Como foi feito
Os cientistas removeram o núcleo de células de pele comuns e o transferiram para óvulos doados, dos quais o núcleo havia sido retirado. Essa técnica, chamada transferência nuclear de células somáticas, foi a mesma usada para clonar a ovelha Dolly em 1996.
Um desafio, porém, precisava ser superado: células da pele têm 46 cromossomos, enquanto os óvulos possuem apenas 23.
Para resolver isso, os pesquisadores desenvolveram um processo chamado “mitomeiose”, que imita a divisão celular natural e permitiu eliminar os cromossomos extras.
Com isso, criaram 82 óvulos em desenvolvimento (ovócitos), que foram fertilizados com espermatozoides por meio de fertilização in vitro (FIV).
Após seis dias, menos de 9% dos embriões se desenvolveram até o estágio em que poderiam, em tese, ser transferidos para o útero em um processo padrão de FIV.
Contudo, os embriões apresentaram diversas anomalias, e o experimento foi interrompido.
Apesar da taxa baixa, os pesquisadores ressaltaram que na reprodução natural apenas cerca de um terço dos embriões chega ao estágio de blastocisto — etapa considerada “pronta” para a FIV.
Amato estimou que a tecnologia ainda está a pelo menos uma década de se tornar viável.
“O maior obstáculo é conseguir produzir óvulos geneticamente normais, com o número e a combinação corretos de cromossomos”, afirmou.
Impacto futuro
Ying Cheong, especialista em medicina reprodutiva da Universidade de Southampton (Reino Unido), classificou o avanço como “emocionante”:
“Pela primeira vez, cientistas mostraram que o DNA de células comuns pode ser colocado em um óvulo, ativado e levado a reduzir seus cromossomos pela metade, imitando os passos especiais que normalmente criam óvulos e espermatozoides.”
Ela acrescentou que, embora ainda seja um trabalho laboratorial muito inicial, no futuro a técnica poderá transformar o entendimento sobre infertilidade e aborto espontâneo e, possivelmente, abrir caminho para a criação de células semelhantes a óvulos ou espermatozoides em pessoas sem outras opções.
Outros grupos de pesquisa tentam criar óvulos em laboratório com um método diferente: reprogramando células da pele em células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) — capazes de se transformar em qualquer célula do corpo — e, em seguida, convertendo-as em óvulos.
“Ainda é cedo para dizer qual método será mais bem-sucedido”, disse Amato. “De qualquer forma, ainda estamos muitos anos distantes.”
Segundo o estudo, os pesquisadores seguiram todas as diretrizes éticas vigentes nos EUA para o uso de embriões.
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Fonte:https://insiderpaper.com/human-skin-cells-turned-into-fertilisable-eggs-for-first-time/

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