17 de jan. de 2023

Embrapa anuncia filé de frango de laboratório para final desse ano





Itatiaia, 17/01/2023 



Por Maria Teresa 



Em Israel, já existem restaurantes especializados em carne de laboratório com filas de espera de clientes. Brasil ainda não tem legislação sobre o tema  

Você comeria um suculento filé de peito de frango forjado em laboratório? Pois essa realidade está mais próxima do que se imagina. A Embrapa Suínos e Aves (SC) está à frente de um estudo pioneiro no Brasil para desenvolver carne de frango cultivada em condições controladas. O novo produto tem forma de filés de peito de frango desossado e deve estar pronto para análises nutricionais e sensoriais até o final desse ano. A tecnologia recria tecidos animais em laboratório a partir de células dos próprios animais, proporcionando carnes análogas às naturais.  A inovação atende às atuais tendências de consumo e agregação de valor.  O problema é que no Brasil, ainda não há legislação sobre o tema, porém o Plano Nacional de Proteínas Alternativas (PNPA) está em processo de criação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). 

Embrapa segue os ODS da ONU 2030


O projeto foi aprovado por edital competitivo internacional do The Good Food Institute (GFI), organização não governamental que atua na arrecadação de recursos e financia projetos globais. O aumento no consumo de proteínas ao longo dos anos, novos hábitos alimentares e preocupação com a sustentabilidade têm despertado na comunidade científica a necessidade de ampliar a tecnologia necessária para produzir alimentos e atender à crescente demanda alimentar mundial. 

Para produzir a carne cultivada, células extraídas de um animal, são cultivadas, primeiro em um meio nutritivo em escala laboratorial, depois em grandes biorreatores. O produto final pode ser utilizado para produzir alimentos não estruturados, como hambúrgueres, embutidos e almôndegas ou estruturados, como filés e bifes. 

É um assunto discutido há algum tempo. Mas que está ganhando mais destaque agora porque a tecnologia está ficando mais viável, e, por isso, os investimentos no desenvolvimento dessas proteínas alternativas começam a acompanhar esse momento e estão cada vez maiores”, explica Vivian Feddern, pesquisadora-líder do projeto. Em sua avaliação, a vantagem de investir desde já nesse mercado em franca ascensão é que será possível oferecer tecnologia e/ou proteínas alternativas a empresas brasileiras e de países importadores de produtos pecuários.

Frango é proteína versátil

A opção de estudo da Embrapa pela carne de frango levou em consideração o fato de que é uma das proteínas mais versáteis, consumida em todo o território nacional, além de um dos alimentos mais completos nutricionalmente, importante para dietas saudáveis. Outra vantagem do estudo diz respeito ao acesso ao banco genético de aves da Embrapa Suínos e Aves. 

A técnica e o desenvolvimento

De acordo com Feddern, serão utilizadas as estruturas tridimensionais de nanocelulose bacteriana  desenvolvidas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Essas estruturas apresentam características semelhantes aos cortes de peito de frango como tamanho e aparência e, por isso, serão usadas como suporte ao cultivo das células. Para a obtenção do produto final, que é o análogo a filé de frango desossado, ainda há um caminho de pesquisa que a equipe espera atingir ainda durante o ano de 2023. 

Legislação e consumo 

O mercado global de carne de aves vem crescendo e apresenta, de acordo com órgãos como a OECDFAO, uma estimativa de consumo de aproximadamente 131 milhões de toneladas em 2026. Para pesquisadores, esses dados mostram um cenário promissor para a carne cultivada. “Embora estudos com a cadeia da avicultura sejam mais recentes quando comparados aos produtos da cultura de células bovinas, por exemplo, muitos esforços vêm sendo empregados nos últimos anos e múltiplas empresas se estabeleceram em diversos locais do mundo”, comenta Feddern. 

Entre os países que já estudam a carne de frango cultivada estão: Canadá, República Tcheca, Estados Unidos, Japão, Israel, França, África do Sul e Suíça. Veja outros exemplos:

  • Em 2022, nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) concedeu aprovação para a Upside Foods, da Califórnia, para frango cultivado. 
  • Na Holanda, também em 2022, o parlamento legalizou a degustação da carne cultivada sob condições controladas, destacando que foi o primeiro país a apresentar um hambúrguer cultivado pelo farmacologista Mark Post em 2013 na presença de 200 jornalistas e acadêmicos. Post é também cofundador da empresa de carne cultivada Mosa Meat, sediada na Holanda. 

Enquanto ainda não existe comercialização, os produtos cultivados podem ser apreciados em alguns restaurantes desses países, como em Israel, que possui filas de espera para a degustação e lista de reservas para clientes. 

O Apelo da Sustentabilidade

Segundo reflexões da pesquisadora, a carne cultivada é uma alternativa à produção de carne convencional. Não visa substituir a produção convencional já bem estabelecida no mundo, mas possui potencial para coexistência de ambas formas de produção. 

A produção de produtos cárneos in vitro surge como complemento à oferta de proteína, demandada pelo aumento populacional, com potencial para transformar completamente o negócio de proteínas cárneas, com repercussões positivas para o meio ambiente, a saúde humana e o bem-estar animal. 

Além disso, a carne cultivada atenua preocupações éticas, ambientais e de saúde pública associadas à produção convencional de carne, incluindo emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), uso de terra e água, resistência a antibióticos, doenças transmitidas por alimentos, por zoonoses e abate de animais.

Artigos recomendados: Carne e 2030


Fonte:https://www.itatiaia.com.br/editorias/agro/2023/01/17/embrapa-anuncia-file-de-frango-de-laboratorio-para-final-desse-ano

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