YF, 12/12/2022 - Com Bloomberg
Por Tatiana Freitas
(Bloomberg) -- O consumo de carne no Brasil, maior exportador mundial de carne bovina e de frango, caiu acentuadamente este ano, à medida que o aumento dos preços dos alimentos restringe a demanda. O mais curioso: mais de 90% dos brasileiros dizem que não querem voltar a comer carne como no passado.
67% dos brasileiros comeram menos proteína animal nos últimos 12 meses do que no ano anterior, segundo pesquisa do Good Food Institute (GFI) e da Toluna, uma empresa global de pesquisa (paga). Enquanto a maioria deles mencionou os preços mais altos como o principal motivo para o corte, mais de um terço disse que a preocupação com a saúde foi a principal motivação para a mudança de hábitos. Cerca de metade deles disse que a mudança foi auto motivada.
O Brasil se junta à lista de grandes mercados de carne que reduziram o consumo em meio ao aumento dos preços, provocados por custos mais altos de ração e logística e menores suprimentos (insumos) com o aumento das exportações para a Ásia. Mudanças semelhantes atingiram as vendas de carne bovina na Argentina e nos Estados Unidos, que junto com o Brasil são os maiores consumidores da carne vermelha.
Um em cada três brasileiros que estão reduzindo o consumo de carne adotou a carne falsa à base de vegetais como substituto, ante 25% no ano anterior. Esses produtos são mais populares entre os compradores que cortaram a carne da dieta por questões de saúde, mas também estão sendo escolhidos por clientes prejudicados pela inflação de alimentos, disse o GFI.
Apenas 7% dos brasileiros disseram que querem comer mais carne no ano que vem. No grupo que já compra menos proteína animal, 93% disseram que pretendem manter a dieta atual ou reduzir ainda mais a carne. “Não há ansiedade imediata para aumentar o consumo de carne”, disse GFI, mencionando uma perspectiva promissora para substitutos de carne à base de plantas no Brasil. “Quem restringe o consumo de carne entra em uma jornada para cortá-la ainda mais.”
Carne cultivada deve chegar ao mercado brasileiro em 2024
Por Ana Cristina Gomes
O Brasil deverá começar a produzir e comercializar carne cultivada em laboratório em 2024. A informação é de Raquel Casseli, diretora de engajamento corporativo do The Good Food Institute (GFI).
Existem universidades e centros de pesquisa no Brasil, com projetos sobre proteínas alternativas, tanto para alimentos plant-based, como para carne cultivada. De acordo com Casseli: “O processo regulatório desse mercado no Brasil vai acompanhar o resto do mundo”.
Mercado de carne cultivada
Atualmente, Cingapura é o único país que permite a venda de produtos de proteína alternativa. Em novembro, o FDA (agência americana reguladora de medicamentos e alimentos) aprovou a comercialização da carne cultivada.
Na União Europeia, espera-se que até o final de 2022 se iniciem os processos para aprovação da carne cultivada, com os produtos sendo comercializados em 2024, assim como no Brasil.
A carne cultivada é um método de produção de alimentos de origem animal a partir de células-tronco. Elas são processadas em biorreatores com as condições necessárias para proliferação e segurança biológica, que é extraído por meio de impressão 3D.
Grande parte dos projetos chegou ao estágio de massa proteica, espécie de carne moída. O objetivo das iniciativas de desenvolvimento é, conseguir reproduzir a carne em cortes específicos. Para isso, é preciso utilizar materiais que sirvam como suporte para a impressão 3D, permitindo que as células encontrem condições ideais para o desenvolvimento das características do corte de carne desejado.
Pesquisa no Brasil
Aline Bruna da Silva, docente do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, é responsável pelo primeiro protótipo de carne de frango cultivada, utilizando um nanomaterial feito de celulose comestível que serve de estrutura para o desenvolvimento das células.
Financiada com recursos do GFI Brasil, a pesquisa busca desenvolver a tecnologia necessária para viabilizar os cortes de carne. “Apesar de as empresas e startups serem motores do desenvolvimento de mercado, as universidades podem proporcionar soluções para problemas comuns em projetos de carne cultivada, principalmente na parte tecnológica”, afirma.
Criada em 2017 por Marcelo Szpilman, biólogo marinho e fundador do Aquário Marinho do Rio, a Sustineri Piscis, chegou ao protótipo da massa proteica para empanados e tem como objetivo atingir a estrutura do filé de peixe.
De acordo com Szpilman: “A célula dos peixes tem uma série de vantagens quando comparada à de mamíferos e aves. Uma delas é o fator de crescimento, que faz com que as células tenham muito mais gerações”. Ele aposta no potencial das proteínas alternativas para um futuro sustentável na produção de alimentos. “Efetivamente, a carne cultivada tem um papel importante na questão da sustentabilidade, sobretudo na redução de geração de resíduos como CO2 e metano, que são grandes poluentes”.
Impacto ambiental
De acordo com uma pesquisa da World Resources Institute, para alimentar a população mundial, a produção de proteína animal precisará aumentar 60%. Responsável por gerar 7,1 gigatoneladas de CO2, a pecuária também representa 14,5% das emissões de gases de efeito estufa.
De acordo com estudos da Universidade de Oxford e da Universidade de Amsterdã, a carne cultivada é capaz de suprir a proteína animal com emissão de gases do efeito estufa 96% menores. Alem disso, os pesquisadores apontam que a indústria da carne cultivada precisa de 45% menos gasto de energia e entre 82% a 96% a menos no consumo de água.
O cultivo do hambúrguer de laboratório pelo farmacologista Mark Post, custou US$ 300 mil. Em 2019, o custo do hambúrguer caiu para US$ 8,80, com a regulamentação, esse valor tende a diminuir, tornando os produtos mais acessíveis.
“As empresas ainda têm um grande trabalho pela frente para explicar o que é essa tecnologia, como é produzida a proteína e fornecer informações para que o consumidor se sinta confortável em comprá-lo”, afirma Raquel Casseli. “Não tenho dúvida de que no futuro vamos ter picanha, peixe e frango produzidos em laboratório”.
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