ZMSC, 16/11/2022
Por Tibi Puiu
Uma crise de fertilidade pode estar se aproximando.
Nas últimas cinco décadas, a contagem de esperma masculino em todo o mundo caiu pela metade, de acordo com um novo estudo preocupante. As descobertas prenunciam uma crise de fertilidade iminente que chamou nossa atenção pela primeira vez em 2017, quando os pesquisadores revelaram quedas significativas na contagem e concentração de esperma em homens que vivem na América do Norte, Europa e Austrália. O novo estudo descobriu que essa tendência também é verdadeira para os homens na América do Sul, Ásia e África, mostrando que esse é um problema global – que só vai piorar à medida que o ritmo de declínio continua a acelerar.
O professor Hagai Levine, principal autor do estudo da Escola Hadassah Braun de Saúde Pública da Universidade Hebraica de Jerusalém, diz que as descobertas são como um “canário em uma mina de carvão” e, se não forem mitigadas, “poderiam ameaçar a sobrevivência da humanidade”.
Levine, junto com colegas dos EUA, Dinamarca, Brasil, Espanha e Israel, compilou 223 estudos com dados sobre amostras de esperma cobrindo 57.000 homens em 53 países – incluindo regiões que não haviam sido revisadas anteriormente – e plotou a contagem de esperma no tempo.
De 1963 a 2018, os resultados mostram que a contagem de esperma caiu 1,2% ao ano em média. De 2000 a 2018, a taxa de declínio foi de impressionantes 2,6% ao ano.
“No geral, estamos vendo um declínio mundial significativo na contagem de esperma de mais de 50% nos últimos 46 anos, um declínio que se acelerou nos últimos anos”, disse Levine, que está muito preocupado com as descobertas.
Levine disse que não podia acreditar nos resultados chocantes e teve que verificar novamente. O que mais o preocupa é que este é um fenômeno global sem solução clara ou remédio à vista.
“Como na mudança climática, o impacto pode ser diferente em diferentes lugares, mas geralmente o fenômeno é global e deve ser tratado como tal”, acrescentou. “Parece uma pandemia. Está em toda parte. E algumas das causas podem permanecer conosco por muito tempo”.
Vibes de Filhos dos Homens
Mesmo que um espermatozoide seja necessário para a fertilização, há uma razão pela qual os testículos produzem tanto esperma: a maioria simplesmente não consegue sobreviver à jornada até o útero. Para uma fertilidade ideal, é necessária uma concentração saudável de espermatozóides da ordem de cerca de 40 milhões de espermatozoides por mL.
Se esse limite mínimo não for ultrapassado, a concepção é difícil. Se, à medida que a crise do esperma se desenrolar, um número crescente de homens provavelmente terá acesso à reprodução assistida. Os pesquisadores relatam uma queda na contagem média de espermatozóides de 104 para 49 milhões por mililitro de sêmen, o que é perigosamente próximo de um ponto crítico na fertilidade global.
Este é apenas um estudo observacional, então os pesquisadores responderam apenas o quê, não o porquê, tanto quanto o que pode causar esse fenômeno. Mas isso não significa que os cientistas não tenham noção. Os cientistas apontam para fatores de risco para a redução da contagem de esperma, incluindo dieta, tabagismo, obesidade, estresse, abuso de drogas e álcool, bem como exposição a certos produtos químicos ambientais. Em relação ao último, os produtos químicos desreguladores endócrinos são os mais preocupantes, pois são conhecidos por alterar potencialmente os níveis de testosterona e estrogênio.
Um tanto ironicamente, esta notícia vem logo após o anúncio da ONU de que a população global agora chega a mais de 8 bilhões de pessoas. As pessoas que lamentam que estamos condenados pelas mãos da superpopulação podem se alegrar com as descobertas do estudo. No entanto, não há motivo real para comemoração. A baixa contagem de esperma não é apenas para fazer bebês – pode servir como um marcador para a saúde masculina em geral, então as coisas não parecem muito boas.
“Esse declínio substancial e persistente é agora reconhecido como uma preocupação significativa de saúde pública. Em 2018, um grupo de médicos e cientistas de renome pediu aos governos que reconhecessem a diminuição da fertilidade masculina como um importante problema de saúde pública e reconhecessem a importância da saúde reprodutiva masculina para a sobrevivência da espécie humana (e outras). São necessárias pesquisas sobre as causas desse declínio contínuo e uma resposta focada imediata para evitar mais perturbações da saúde reprodutiva masculina”, concluíram os autores.
As descobertas foram relatadas na revista Human Reproduction Update.
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