Epoch Times, 19 de fevereiro de 2019
Por Jesús de León
Ortega, que está no poder de forma ininterrupta há 12 anos, não aceita a responsabilidade pela crise nem as acusações generalizadas de graves abusos por parte das autoridades contra os manifestantes anti-governo, e afirma ser vítima de uma tentativa de "golpe de Estado fracassado"
O líder camponês Medardo Mairena, que em 2018 participou de protestos contra o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, vai cumprir uma sentença de 216 anos de prisão acusado pelo regime de praticar terrorismo e outros crimes, informou ontem (18) a Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH).
Mairena é um dos mais de 700 presos políticos do regime comunista de Daniel Ortega, e teria que viver três vidas de 72 anos cada para cumprir a sentença de 216 anos e três meses imposta pelo juiz orteguista Edgar Altamirano, titular do Nono Distrito Penal de Juízo de Manágua.
Mairena é um dos representantes da oposição na mesa de diálogo nacional, no contexto da crise sociopolítica que a Nicarágua atravessa desde 18 de abril passado e que deixou centenas de mortos.
“As penas são (…) são o triplo do que o mesmo Ministério Público pediu, que foram 73 e 63 anos, apesar do fato de que a pena máxima no país é de 30 anos”, questionou o advogado de defesa Julio Montenegro, que também afirmou que isso não foi mencionado pelo juiz Altamirano.
“O juiz orteguista, Edgar Altamirano, ilegalmente, triplicou, quadruplicou e quintuplicou as penas impostas aos líderes camponeses e não advertiu seus defensores sobre a leitura das sentenças”, disse o advogado, segundo a La Prensa Nicarágua.
O juiz Edgard Altamirano, que pronunciou a sentença contra Mairena e é descrito pela mídia nicaraguense como fiel a Ortega, condenou, no mesmo julgamento, a 210 anos de prisão a Mena e 159 anos e 3 meses a Icabalceta, ambos líderes camponeses que, junto com Mairena, participaram de protestos contra o governo desde 2013.
Críticas a essas sentenças também vieram da parte de ex-líderes próximos ao atual ditador Ortega.
“A condenação dos líderes camponeses Medardo Mairena, Pedro Mena e Orlando Icabalceta é bárbara, ilegal e injusta. Sem sua liberdade e a de todos os presos políticos, não há diálogo que possa avançar”, escreveu Ramírez, que foi vice-presidente durante o primeiro regime sandinista (1979-1990) e agora é crítico do presidente Daniel Ortega, que também ocupava esse cargo à época.
Mairena e Mena foram condenados pelo assassinato de quatro policiais e um professor durante o suposto ataque contra um batalhão de polícia de Morrito, Rio San Juan, embora os condenados não estivessem no local, porque participaram de uma passeata em Manágua, informou a mídia local La Prensa.
Em 18 de dezembro passado, quando foram declarados culpados, Montenegro declarou que o juiz não considerou as alegações finais do caso porque ele supostamente teria redigido o texto do veredito antes do início da audiência.
Vários meios de comunicação informaram que os policiais sobreviventes declararam em 12 de julho, o dia do massacre da polícia, que quem atirou neles foram os paramilitares e membros da Juventude Sandinista porque os policiais se recusaram a atacar a marcha dos autoconvocados que passava em frente à Prefeitura de Morrito, informou a mídia local La Prensa.
Policías heridos aseguran que los disparos contra los agentes en Morrito salieron de la Alcaldía, pero el Gobierno responzabiliza directamente al lider de movimiento campesino Medardo Mairena de haber planificado el ataque. #SOSNicaragua pic.twitter.com/yivSov6lzv— La Prensa Nicaragua (@laprensa) 13 de julho de 2018
Os eventos ocorreram enquanto os moradores marchavam pacificamente em Morrito, no Rio San Juan, quando foram atacados pela polícia e simpatizantes sandinistas, deixando como resultado um civil e quatro policiais mortos.
Segundo a versão do Movimento Camponês, a polícia reprimiu a marcha e consequentemente houve um confronto.
“Nós responsabilizamos o ditador Ortega pelo que pode acontecer com nossos líderes”, escreveu o Movimento Camponês, ao qual pertencem Mairena e Mena, em sua conta do Facebook.
O movimento também denunciou que, após ser preso em 13 de julho de 2018, sua família só pôde vê-lo uma vez através de um vidro, e que ele lhes contou que estava sendo torturado.
“Eles o torturaram, bateram nele, não o deixaram dormir e o colocaram na cadeia e disseram que matariam a família dele se ele não se declarasse culpado”, disse Alfredo Mairena, irmão de Medardo.
Crimes contra a humanidade
Os protestos contra Ortega atingiram o auge entre abril e julho em toda a Nicarágua, após o qual o governo empregou ações violentas que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) identificou como crimes contra a humanidade.
Desde abril passado, a crise sócio-política na Nicarágua deixou entre 325 e 561 mortos, entre 340 a 767 detidos, centenas de desaparecidos, milhares de feridos e dezenas de milhares no exílio, segundo organizações de direitos humanos.
Ortega reconhece 199 mortos e 340 detidos, a quem chama de “terroristas”, “golpistas” e “criminosos comuns”.
O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) e a CIDH responsabilizam o governo por “mais de 300 mortes”, além de execuções extrajudiciais, torturas e outros abusos contra manifestantes e opositores.
Ortega, que está no poder de forma ininterrupta há 12 anos, não aceita a responsabilidade pela crise nem as acusações generalizadas de graves abusos por parte das autoridades contra os manifestantes anti-governo, e afirma ser vítima de uma tentativa de “golpe de Estado fracassado”.
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mencionou a situação de crise na Nicarágua durante uma reunião com venezuelanos no exílio.
“Um dia, com a ajuda de Deus, veremos o que o povo fará em Caracas, em Manágua e em Havana”, disse Trump na Flórida.
Uma mudança de regime bem-sucedida e pacífica na Venezuela traria mudanças e promoveria a democracia em Cuba e na Nicarágua, disse Trump à multidão.
Com informações da Agência EFE
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