Epoch Times, 22 de maio de 2018
Por Fan Yu
Uma tentativa de controlar a maior empresa de energia elétrica de Portugal, a Energias de Portugal (EDP), por uma empresa estatal chinesa pode ter repercussões na Europa e na América do Norte.
A Corporação das Três Gargantas da China, com sede em Pequim, anunciou em 11 de maio que fez uma oferta em dinheiro de 9 bilhões de euros (US$ 10,9 bilhões) para comprar a EDP. A Três Gargantas já possuía uma participação de 23% na empresa antes dessa tentativa de aquisição.
A oferta representa um pequeno prêmio de 5% sobre o preço de fechamento das ações da EDP em 10 de maio, e avalia toda a empresa numa dívida líquida de 11,8 bilhões de euros.
Um lance de compra pela EDP não é surpreendente, pois há rumores de que a empresa é alvo de aquisições há anos, incluindo por rivais europeus como a francesa Energie e a espanhola Gas Natural. Nos últimos dois anos, a Três Gargantas aumentou de forma constante sua participação acionária na empresa em antecipação a uma aquisição. Outra empresa de investimento estatal chinesa, a CNIC, detém 5% da EDP, o que dá à China uma participação total de 28% antes da última oferta.
A EDP é parte integrante da infraestrutura energética e empresarial de Portugal. Não é apenas a maior empresa de Portugal em ativos, é também a maior geradora, distribuidora e operadora de rede elétrica do país. A EDP também possui ativos no Brasil, nos Estados Unidos e na Espanha.
O acordo exigirá aprovação em Portugal e nos Estados Unidos, onde a EDP possui um grande portfólio de ativos em geração solar e eólica. A Reuters informou que o primeiro-ministro português Antonio Costa disse a repórteres em 11 de maio que “o governo não tem nada contra isso, nem reservas” em relação ao acordo.
China se aproveita do sul da Europa
Se o negócio da EDP se consumar, isso representará a mais recente de uma série de aquisições de ativos por empresas chinesas em Portugal.
Anos de má gestão orçamentária e financeira dessas empresas passaram para as mãos dos chineses. As empresas chinesas têm engolido ativos desde a crise da dívida de 2010-2013 em Portugal, comprando companhias baratas nos setores de seguros, bancários e de infraestrutura. Nos últimos anos, a China aproveitou os esforços de privatização nos setores de serviços públicos e infraestrutura de transporte.
Várias empresas importantes para a economia e infraestrutura de Portugal são pelo menos parcialmente controladas por empresas chinesas, incluindo a EDP, a REN (Redes Energéticas Nacionais), o maior grupo de segurados do país, a Caixa Seguros, e o Millennium BCP, um dos maiores bancos de Portugal.
Além das empresas, Portugal oferece os chamados “vistos dourados” (autorização de residência para investimento) a pessoas estrangeiras. Qualquer um que investir cerca de 350 mil euros ou comprar um imóvel por 500 mil euros receberá residência permanente no sul da Europa.
Para Portugal carente de capital, os negócios são quase faustianos. O Partido Comunista Chinês quer estender sua influência no exterior – especialmente na Europa e na América do Norte – e muitos de seus investimentos estrangeiros diretos servem mais a fins políticos do que econômicos.
A saber, uma passagem curta e pouco discutida dentro das conclusões da cimeira do Conselho Europeu em junho de 2017 ressalta a crescente influência política que Pequim exerce dentro de certos países europeus.
Na cimeira, líderes franceses, alemães e italianos queriam que as autoridades da União Europeia protegessem certos setores estratégicos da aquisição estrangeira.
“A linguagem protecionista apareceu nos primeiros rascunhos, mas não chegou às conclusões finais da cimeira”, informou a revista Politico. “Em vez disso, foi substituída por uma formulação mais enxuta, que acolhe uma iniciativa da Comissão existente para ‘analisar os investimentos de países terceiros em setores estratégicos’.”
Essa pequena mudança efetivamente reduziu o obstáculo para as empresas chinesas e outras estrangeiras adquirirem empresas europeias em setores estratégicos e sensíveis.
Representantes de uma coalizão de nações menores da UE, incluindo Portugal, República Tcheca e Grécia, aparentemente rejeitaram as propostas iniciais. A Suécia também se opôs, o que “pode estar ligado ao fato de que as duas grandes montadoras suecas são de propriedade de investidores chineses”, disse o parlamentar sueco Said Abdu à revista.
Desafios recentes dos EUA
A oferta da Três Gargantas pela EDP exige a aprovação do Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS), que servirá como um teste decisivo para o apetite de Washington por futuras aquisições chinesas.
A EDP detém ativos substanciais de geração de energia eólica e solar nos Estados Unidos, o que representou 65% de todos os novos investimentos feitos em 2017 pelo braço de energia renovável da EDP, de acordo com uma reportagem da Reuters.
A energia renovável está na interseção de energia e tecnologia, dois setores que atraem o maior investimento de saída das empresas chinesas.
O programa “Feito na China 2025” de Pequim é um plano da China para dominar a fabricação e pesquisa de alta tecnologia em setores avançados, como inteligência artificial, robótica, energia nova, aviação e aeroespacial.
Parte desse plano é adquirir empresas estrangeiras que já desenvolvem essas tecnologias. Em 2017, as empresas chinesas investiram um total de US$ 29,4 bilhões em ativos nos EUA, de acordo com dados do Grupo Rhodium. Esses números são um declínio de 35% em relação a 2016, em grande parte devido aos controles de capitais chineses e ao aumento da avaliação de aquisições nos EUA processadas pelo CFIUS, especialmente durante a presidência de Donald Trump.
Provavelmente, a maior aquisição bloqueada pelo CFIUS foi a proposta de compra da Lattice Semiconductor pela empresa de investimentos chinesa Canyon Bridge Capital. Os motivos citados por Washington incluíram a transferência de propriedade intelectual e o uso de produtos da Lattice pelo governo dos EUA.
Em fevereiro, o CFIUS inclusive rejeitou um investimento de um fundo de investimento chinês na Xcerra Corp., uma empresa americana de testes de semicondutores que não fabrica ou projeta semicondutores.
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