Anders Kompass |
DN, 07 de junho de 2016.
Anders Kompass afirma que ONU não tem o hábito de tomar medidas
Um alto funcionário da ONU demitiu-se para protestar contra a "total impunidade" no caso que denunciou, referente ao rapto de crianças pelos "capacetes azuis" na República Centro-Africana (RCA), indica hoje um comunicado da organização não-governamental UN Watch.
A demissão de Anders Kompass, diretor de operações no terreno do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, foi já confirmada à agência France Presse por um porta-voz da própria ONU, que não adiantou as razões da demissão.
"A total impunidade daqueles que abusaram da sua autoridade, em diversos graus, associado à falta de vontade da hierarquia em expressar arrependimento confirma" que a ONU não tem o hábito de tomar medidas, declarou Kompass, citado pela UN Watch.
Nessas condições é "impossível para mim continuar a trabalhar aqui", acrescentou Kompass, de nacionalidade sueca, a trabalhar em Genebra na ONU há mais de 30 anos.
Kompass está na origem da fuga de informação de um relatório confidencial da ONU sobre "abusos sexuais de crianças pelas forças internacionais", entregando o documento à justiça francesa em julho de 2014, alegando que a organização "tarda em agir".
Segundo Hillel Neuer, diretor executivo da UN Watch, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, devem apresentar desculpas a Kompass, que considera "um herói" por tentar proteger as crianças violadas, "contrariamente a outros responsáveis" da organização.
Num relatório publicado em dezembro de 2015, um grupo de peritos independentes criticou duramente a forma como a ONU reagiu às acusações de violações, nomeadamente de crianças na RCA.
A ONU enfrenta há vários meses um escândalo planetário ligado a violações de que são acusados os "capacetes azuis" em operações em países em que têm por missão precisamente proteger as populações.
Segundo o último relatório do secretário-geral da ONU, foram registados 69 casos de agressões sexuais cometidos pelos "capacetes azuis"em 2015, mais do que em 2014.
Entre as missões da ONU, duas registam metade dos casos: Minusca, na RCA, e Monusco, na RD Congo.
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