RTN, 19/10/2025
Por Cindy Harper
A linha entre segurança e vigilância está ficando cada vez mais tênue.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou uma grande reformulação de sua rede global de monitoramento, revelando uma plataforma baseada em inteligência artificial que rastreia conversas e atividades online em tempo real.
Chamado de Epidemic Intelligence from Open Sources 2.0 (EIOS), o sistema é divulgado como um novo passo na “preparação para pandemias”, mas seu alcance vai muito além da vigilância de doenças.
A atualização faz parte de uma integração crescente entre monitoramento de saúde, rastreamento digital e controle centralizado de informações.
Desenvolvido em parceria com o Centro Comum de Pesquisa (JRC) da Comissão Europeia, o novo EIOS foi projetado para vasculhar a internet em busca de sinais de ameaças emergentes à saúde.
De acordo com a OMS, o sistema agora analisa automaticamente postagens em redes sociais, sites e outras fontes públicas para detectar possíveis surtos.
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Embora seja descrito como uma ferramenta de alerta precoce, o sistema efetivamente permite que uma autoridade global de saúde observe as conversas digitais do mundo sob o pretexto da segurança.
A página de colaboração do EIOS na OMS indica que os parceiros também estão explorando projetos como “Detecção de Credibilidade de Artigos de Notícias” e “Sistemas de Classificação de Desinformação.”
Essas iniciativas sugerem um interesse crescente em moldar a forma como as informações são categorizadas e filtradas.
O último projeto parece estar vinculado ao “Misinfo Classifier” do JRC, lançado em 2020 — um programa de IA descrito como capaz de detectar “notícias falsas” ao analisar o tom e a intensidade da linguagem em artigos.
A organização afirmou que a ferramenta obteve 80% de taxa de sucesso, considerando-a “comparável ao estado da arte atual”.
Na época, o JRC informou que o classificador já estava sendo usado pela Comissão Europeia e pelo Parlamento Europeu, e que em breve seria compartilhado com organizações profissionais de checagem de fatos.
A existência desse projeto evidencia como a análise de dados e o controle de informações estão sendo integrados à infraestrutura de saúde pública.
A OMS relata que o EIOS já opera em mais de 110 países e colabora com mais de 30 organizações, incluindo governos nacionais e a Comissão Europeia.
A plataforma é oferecida “gratuitamente” a usuários elegíveis, acompanhada de materiais de treinamento e suporte.
Essa abordagem conecta diretamente os sistemas de monitoramento nacionais a uma rede administrada pela OMS, que coleta e processa dados globais de forma contínua.
O conceito da OMS de “escuta social” (social listening) ajuda a esclarecer melhor essa estratégia.
A organização define o termo como “o processo de ouvir e analisar conversas e narrativas para compreender as atitudes, conhecimentos, crenças e intenções das pessoas.”
Na prática, isso significa que a OMS não está apenas coletando dados sobre doenças, mas também analisando como os cidadãos pensam e se comunicam online.
Em seu anúncio de 13 de outubro, a OMS descreveu o EIOS 2.0 como “mais aberto, mais ágil e mais inclusivo.”
Porém, por trás dessa linguagem, se expande uma estrutura de vigilância que utiliza inteligência artificial para interpretar o comportamento social global.
Um sistema supostamente criado para melhorar a segurança sanitária pode, com facilidade, funcionar como uma ferramenta de monitoramento da opinião pública e da expressão online.
Essa iniciativa combina inteligência artificial, cooperação governamental e rastreamento de redes sociais sob o rótulo de segurança sanitária global.
Ela representa uma mudança do controle tradicional de doenças para a análise contínua da comunicação pública, em que algoritmos determinam quais discussões são “relevantes” ou “enganosas.”
A OMS vem planejando a implementação desse tipo de sistema há algum tempo.
Para os países que optarem por adotar o EIOS, a dependência dos dados e análises da OMS pode vir ao custo da independência digital.
Sob o pretexto de proteger a saúde pública, a OMS está estabelecendo uma rede digital sempre ativa que observa, classifica e avalia o discurso global, redefinindo silenciosamente o que significa gerenciar saúde e informação ao mesmo tempo.
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Fonte:https://reclaimthenet.org/who-eios-ai-surveillance-public-health-monitoring

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