ZH, 28/06/2025
Por Tyler Durden
A era digital está chegando. Tarefas repetitivas estão sendo automatizadas, e tecnologias como inteligência artificial e veículos autônomos estão transformando nosso cotidiano — assim como o setor financeiro passa por uma profunda transformação digital. O desaparecimento gradual das agências bancárias físicas é um dos sinais mais claros dessa mudança.
O esvaziamento dos centros das cidades na Alemanha é um sintoma dessa nova era. Aluguéis altos, queda do poder de compra e declínio demográfico — especialmente em áreas rurais — se chocam com os impactos do comércio eletrônico e uma economia cada vez mais digitalizada. Cada vez mais, nossos hábitos de consumo migram para o online, e o setor bancário, por muito tempo ancorado em filiais físicas, não é exceção.
Uma Tendência de Longo Prazo
O lento desaparecimento das redes de agências bancárias na Alemanha vem ocorrendo há anos — um fenômeno global impulsionado pela adoção do internet banking, acesso descentralizado a investimentos e outros serviços financeiros digitais.
Dados recentes da Barkow Consulting, a pedido do Banco Central Europeu (BCE), confirmam essa tendência: em 2023, os bancos alemães fecharam cerca de 560 agências, uma redução de 2,8%.
Pode parecer uma consolidação moderada, mas no contexto reflete uma mudança estrutural de décadas. Há 10 anos, os bancos da Alemanha operavam mais de 35 mil agências. Há 25 anos, esse número era próximo de 60 mil. Hoje, restam apenas 18.933.
Deutsche Bank Lidera o Caminho
Em março, o gigante do setor, Deutsche Bank, anunciou cortes significativos de empregos durante sua conferência anual, citando a necessidade de aumentar a eficiência de custos diante das mudanças do setor.
“Estamos testemunhando uma transformação fundamental no setor bancário alemão”, afirmou o CEO do banco, Christian Sewing.
Somente o Deutsche Bank planeja eliminar cerca de 2 mil postos de trabalho e fechar um “número significativo” de agências ainda este ano.
Consultas com clientes, explicou Sewing, passarão a acontecer cada vez mais por vídeo e telefone. Isso representa não apenas uma mudança para cortar custos, mas também um novo paradigma que ameaça corroer a confiança tradicionalmente construída no atendimento presencial. O modelo se torna mais enxuto e eficiente — mas menos pessoal e, talvez, menos confiável.
Pressões Múltiplas
Bancos comerciais enfrentam há anos uma teia complexa de pressões: avanço tecnológico, digitalização de transações, ascensão do online banking e, acima de tudo, a política monetária.
A pressão sobre as margens forçou cortes de custos em larga escala. Um fator-chave para o encolhimento do setor é a política monetária ultraexpansionista do BCE. Mais de uma década de juros zero ou negativos destruiu o modelo bancário tradicional de lucro via spread de juros.
Caixas econômicas, cooperativas de crédito e até grandes bancos privados não conseguiram operar de forma lucrativa sob curvas de juros artificialmente distorcidas. Depósitos deixaram de render, enquanto custos regulatórios e juros punitivos aumentaram. A política do BCE corroeu as economias dos clientes e privou o setor bancário de sua função essencial.
Fechamentos de agências, demissões e a digitalização acelerada são consequências diretas de uma política que teve como objetivo estabilizar as finanças públicas altamente endividadas da zona do euro.
Países como Espanha, Itália e França, com índices dívida/PIB acima de 120%, não conseguem mais arcar com suas dívidas a taxas de mercado. A intervenção contínua do BCE, com compra de ativos e controle de juros, ganha tempo para esses governos, mas transfere o fardo para bancos privados e poupadores.
Euro Digital e Stablecoins
Agora, uma nova onda de transformação está a caminho. A ascensão das stablecoins — moedas digitais atreladas a moedas fiduciárias como o dólar — representa o próximo nível do sistema bancário direto.
Stablecoins oferecem transações globais rápidas, baratas e 24 horas por dia, sem intermediários, como os bancos tradicionais.
Com o crescimento das finanças descentralizadas (DeFi), os bancos estão perdendo seus papéis como processadores de pagamento e intermediários de crédito. À medida que mais pessoas adotam carteiras digitais e contratos inteligentes, diminui a necessidade de contas bancárias, agências físicas e atendimento personalizado.
As stablecoins aceleram o desligamento dos bancos tradicionais, representando uma perda gradual de controle para instituições baseadas em uma infraestrutura analógica inadequada para a era digital.
O golpe final para as agências bancárias pode vir com a introdução do euro digital — uma moeda programável, desenvolvida pelo BCE com tecnologia blockchain, que tende a impulsionar o uso de carteiras digitais e serviços financeiros descentralizados.
O caminho tradicional por meio dos bancos comerciais se tornaria obsoleto.
À medida que o setor bancário perde sua função como intermediário, os clientes de varejo serão os primeiros a migrar de contas-correntes tradicionais para alternativas oferecidas diretamente pelo banco central.
As agências — antes pilares de fidelidade e acesso ao dinheiro — se tornarão redundantes. O euro digital atua como um acelerador da infraestrutura bancária de varejo, que já se encontra fragilizada.
Teremos que nos acostumar com isso: a agência bancária local, um ícone de toda rua principal europeia, pode em breve se tornar uma relíquia do passado.
Artigos recomendados: Bancos e Moedas

Nenhum comentário:
Postar um comentário