FIF, 11/03/2025
Por Insha Naureen
Cientistas em Israel estão combatendo a chamada “fome oculta” – deficiência de micronutrientes – utilizando técnicas de edição genética CRISPR para aumentar o valor nutricional da alface. Eles conseguiram aumentar o teor de β-caroteno (pró-vitamina A) e ácido ascórbico (vitamina C) na cultura em 2,7 vezes e 6,9 vezes, respectivamente, além de elevar a zeaxantina para “níveis não encontrados normalmente na alface.”
A equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém modificou genes-chave que regulam a produção de vitaminas e antioxidantes para tornar a alface uma opção alimentar mais nutritiva.
“A alface é um vegetal amplamente consumido, mas com baixo valor nutricional. Isso a tornou um candidato ideal para aprimoramento”, afirma Alexander Vainstein, professor da Faculdade Robert H. Smith de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da Universidade Hebraica de Jerusalém, ao Food Ingredients First.
A edição genética proporciona aos pesquisadores uma “capacidade inédita de melhorar a qualidade nutricional das culturas sem alterar seu crescimento ou rendimento”, acrescenta. Além disso, a alface manteve sua aparência normal, mesmo após as modificações genéticas.
“Este estudo é um passo importante para o desenvolvimento de opções alimentares mais saudáveis, que podem ajudar a combater deficiências nutricionais generalizadas nas dietas modernas.”
As descobertas foram publicadas na Plant Biotechnology Journal.
Modificando o DNA para Benefícios Agrícolas
Segundo os pesquisadores, o CRISPR (sigla para Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) é uma ferramenta “poderosa e precisa” para edição de DNA.
A técnica difere dos métodos tradicionais de modificação genética (OGM), pois não introduz DNA estrangeiro. Em vez disso, permite que cientistas façam alterações específicas no código genético da planta.
“O CRISPR envolve a modificação ou desativação de genes sem a introdução de DNA externo, tornando o processo mais preciso e sujeito a uma regulamentação mais simples em comparação com os OGMs tradicionais”, explica o professor Vainstein.
“No estudo, os genes alvo da edição incluíram LCY, GGP1, GGP2, entre outros.”
Durante a pesquisa, a equipe enfrentou desafios para desenvolver novos procedimentos, identificar os genes corretos e projetar uma abordagem que “integrasse múltiplas vias bioquímicas para melhorar várias características simultaneamente”, relata o cientista.
A edição genética também permite que os pesquisadores aprimorem características das culturas, como o teor nutricional, a resistência a doenças e a adaptação ao ambiente, de maneira mais eficiente do que nunca.
Combatendo Deficiências de Micronutrientes
De acordo com especialistas, a fome oculta afeta entre um e dois bilhões de pessoas, devido à falta de nutrientes essenciais como vitamina A, ferro e zinco, prejudicando o sistema imunológico e limitando o crescimento e o desenvolvimento cognitivo.
Os níveis aumentados de β-caroteno na alface melhoram seu papel como precursor da vitamina A, essencial para a visão, função imunológica e saúde da pele.
A zeaxantina em maiores quantidades ajuda a proteger os olhos contra danos causados pela luz azul e a degeneração macular relacionada à idade. Além disso, o aumento da vitamina C fortalece o sistema imunológico e melhora a absorção de ferro.
No entanto, o professor Vainstein ressalta que esses níveis não devem ser comparados diretamente com outros vegetais naturalmente ricos em nutrientes, pois “cada fruta e vegetal tem seu próprio perfil nutricional único.”
“O melhor comparativo é com outras variedades de alface.”
Comercialização de Alimentos Editados por CRISPR
Embora as regulamentações variem entre os países e apresentem desafios, diversos produtos editados geneticamente já começaram a entrar no mercado, observa o professor Vainstein.
Por exemplo, a empresa norte-americana Pairwise introduziu em 2023 nos EUA folhas verdes editadas por CRISPR, afirmando que possuem o dobro do valor nutricional da alface romana tradicional. A empresa também fez parceria com a Bayer para desenvolver milho de porte baixo editado geneticamente, visando aumentar a resistência ao vento e reduzir perdas na colheita.
Por ora, os cientistas seguem focados na melhoria nutricional da alface, afirma Vainstein.
“Há poucos dias, um dos nossos estudos foi aceito, demonstrando o aumento do teor de fibra inulina na alface. Nosso objetivo é integrar essa característica à mesma variedade melhorada de alface,” conclui.
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