PM, 17/10/2024
Por David Krayden
Um paciente solicitou o MAiD “principalmente porque ele é sem-teto, está endividado e não pode suportar a ideia de [cuidados a longo prazo] de qualquer tipo.”
Médicos canadenses acham "moralmente angustiante" que o programa de eutanásia do país, intitulado Assistência Médica para Morrer (MAiD), agora esteja disponível para pessoas que não estão apenas em estado terminal, mas simplesmente insatisfeitas com suas circunstâncias de vida. Médicos expressaram culpa pela expansão do programa e por sua participação nele, relatou o Daily Mail.
Em 2021, o Canadá permitiu que mais pessoas se tornassem “elegíveis” para o MAiD, incluindo aquelas com doenças incuráveis, mas não necessariamente terminais, levando a um aumento de 30% nas solicitações de suicídio assistido por médicos.
No entanto, documentos obtidos pelo Mail revelaram que muitos médicos não estão satisfeitos com a escalada contínua do programa em direção a mais mortes. Um médico de Ontário compartilhou como um de seus pacientes tinha uma doença pulmonar grave, mas realmente solicitou a eutanásia "principalmente porque ele é sem-teto, está endividado e não pode suportar a ideia de [cuidados a longo prazo] de qualquer tipo."
Outro médico questionou se era moralmente aceitável oferecer MAiD a uma mulher que era obesa e infeliz. Outra mulher estava buscando o suicídio assistido porque estava de luto pela perda do marido.
Uma investigação da Associated Press revelou como médicos estão compartilhando suas dúvidas em postagens online, tanto públicas quanto privadas. As postagens privadas foram enviadas sob condição de confidencialidade. Os médicos que participaram ou realizaram eutanásia ou avaliaram pedidos para isso. Muitos disseram que enfrentavam um dilema moral ao ajudar pessoas a cometerem suicídio que não estavam morrendo de uma doença, mas simplesmente se sentindo mal com o próprio peso.
Um médico de Ontário disse à AP que uma paciente era muito obesa e estava tão deprimida com isso que se descrevia como um "corpo inútil ocupando espaço". Outra mulher procurou o MAiD após perder o marido, um irmão e o gato no período de seis semanas, observou o Mail.
Seu pedido foi aprovado porque as autoridades do MAiD consideraram seu luto permanente, já que ela não tinha mais ninguém em sua vida para ajudá-la a lidar com a perda.
O Canadá se tornou a capital do suicídio assistido do mundo e continua a estabelecer novos recordes de eutanásia. O MAiD foi responsável pela morte de 15.280 pessoas em 2023, 15% a mais do que no ano anterior. Mais de 60.000 pessoas foram eutanasiadas no Canadá, desde que o governo liberal do primeiro-ministro Justin Trudeau iniciou o programa em 2016.
A investigação da AP revelou como um relatório confidencial do Ministério do Procurador-Geral de Ontário admitiu erros no programa à medida que ele crescia. Uma das "lições aprendidas" no relatório foi o caso de um paciente cego de 74 anos, com pressão alta e histórico de derrames. O homem procurou o MAiD por causa da deterioração da visão e sua preocupação de que ela não melhoraria.
O relatório oficial afirma que a equipe do MAiD violou os padrões legais ao não consultar especialistas, ao ter pouca discussão sobre alternativas à eutanásia e ao programar o suicídio assistido de acordo com a agenda da esposa do paciente.
A médica canadense e provedora de eutanásia, Dra. Ellen Wiebe, que não sente tais remorsos, disse recentemente em um documentário da BBC: “Eu amo meu trabalho” porque “não há ninguém mais grato do que meus pacientes e suas famílias.”
Em março, o Canadá optou por estender a "elegibilidade" do programa de eutanásia para pessoas com doenças mentais, uma categoria que também pode incluir viciados em drogas e alcoólatras. Críticos argumentam que esse passo colocaria o programa no campo da eugenia. No entanto, o ministro da Saúde, Mark Holland, anunciou que a expansão do programa ocorrerá em 2027. "Em 29 de fevereiro de 2024, a legislação para estender a exclusão temporária de elegibilidade para receber MAiD, em circunstâncias, em que a única condição médica subjacente de uma pessoa é uma doença mental, recebeu a sanção real e entrou em vigor imediatamente. A data de elegibilidade para pessoas que sofrem exclusivamente de uma doença mental agora é 17 de março de 2027", afirma o governo canadense.
A elegibilidade para o MAiD é estabelecida como:
- ter 18 anos ou mais e capacidade de tomar decisões
- ser elegível para serviços de saúde financiados publicamente
- fazer um pedido voluntário que não seja resultado de pressão externa
- dar consentimento informado para receber o MAiD, o que significa que a pessoa consentiu em recebê-lo após ter recebido todas as informações necessárias para tomar essa decisão
- ter uma doença grave e incurável, doença ou deficiência (excluindo doença mental até 17 de março de 2027)
- estar em um estado avançado de declínio irreversível de capacidade
- ter sofrimento físico ou psicológico duradouro e intolerável que não pode ser aliviado sob condições que a pessoa considere aceitáveis.
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