26 de out. de 2024

Avanços Genômicos Prometem Nova Era para a Detecção Precoce de Doenças em Bebês




SCTD, 24/10/2024 



Um novo estudo mostra que o uso da análise de DNA para triagem de recém-nascidos pode detectar muito mais condições de saúde graves, porém tratáveis, do que métodos tradicionais. O estudo, chamado GUARDIAN, é um dos primeiros grandes projetos a usar o sequenciamento genômico em recém-nascidos, e os resultados iniciais sugerem que essa abordagem pode melhorar significativamente o atendimento médico infantil.

Descobertas preliminares de um estudo de triagem neonatal revelam que a análise de DNA detecta muito mais condições de saúde sérias e evitáveis ou tratáveis, do que os métodos de triagem tradicionais. A maioria dos pais que recebe a opção de sequenciamento genômico prefere aceitá-la.

O estudo, denominado GUARDIAN, é um dos primeiros grandes projetos globais a usar sequenciamento genômico para triagem neonatal e o primeiro a divulgar resultados preliminares.

Potencial Transformador do Sequenciamento Genômico

"Os resultados mostram que o sequenciamento genômico pode melhorar radicalmente o atendimento médico infantil", diz Joshua Milner, professor de Pediatria e diretor de Alergia, Imunologia e Reumatologia na Faculdade de Médicos e Cirurgiões Vagelos da Universidade de Columbia e coautor do estudo.

"O sequenciamento genômico nos permite detectar condições que causam doenças graves e agir para preveni-las em um número significativo de crianças, não apenas em alguns casos raros", afirma Milner, que também é chefe dos serviços de alergia, imunologia e reumatologia do Hospital Infantil NewYork-Presbyterian Morgan Stanley. "Deveria ser instituído como o novo padrão para triagem neonatal, pois pode detectar muito mais do que os métodos atuais."

Comparação com os Métodos de Triagem Tradicionais

No sequenciamento genômico, o DNA do recém-nascido é analisado para identificar centenas de variantes genéticas específicas que causam doenças. A tecnologia tem o potencial de detectar milhares de doenças genéticas, muito mais do que os cerca de 60 distúrbios que a triagem neonatal padrão detecta atualmente. Os genes incluídos na triagem neonatal causam doenças que poderiam ser prevenidas ou tratadas se identificadas na primeira infância.

Entre os primeiros 4.000 recém-nascidos inscritos no estudo GUARDIAN, o sequenciamento genômico identificou 120 bebês (3%) com condições de saúde graves, dos quais apenas 10 foram identificados pela triagem neonatal padrão. Para uma criança, detectar uma rara variante genética causadora de um distúrbio imunológico grave, que não foi identificado pela triagem convencional, resultou em um transplante de medula óssea que salvou sua vida.

"Na minha prática, já vi muitos pacientes que passaram anos indo de médico em médico com sintomas inexplicáveis. Quando finalmente recebem um diagnóstico, a janela para tratar a doença da melhor forma já passou", diz Wendy Chung, que iniciou o estudo em Nova York quando era Professora da Família Kennedy de Pediatria na Universidade de Columbia. Chung, investigadora principal do estudo, é agora chefe de pediatria no Hospital Infantil de Boston e professora na Escola de Medicina de Harvard. "As famílias e os pediatras não precisam mais passar por essas odisseias de diagnóstico com a tecnologia genômica que temos agora. Podemos fazer o diagnóstico ao nascimento."

Evolução e Expansão da Triagem Neonatal

Aproximadamente 1 em cada 300 bebês nascidos nos Estados Unidos é diagnosticado com uma condição de saúde tratável, detectada pela triagem neonatal padrão. Desde sua introdução na década de 1960, a triagem neonatal se expandiu para incluir dezenas de doenças, majoritariamente genéticas. A Administração de Recursos e Serviços de Saúde recomenda a triagem de até 63 condições, mas o painel de triagem varia entre os estados.

"A triagem neonatal é uma das maiores conquistas da saúde pública", afirma Jordan Orange, presidente de pediatria na Faculdade de Médicos e Cirurgiões Vagelos da Universidade de Columbia e coautor do estudo. "É um igualador instantâneo de cuidados de saúde porque todos são triados, garantindo que todos os bebês tenham a mesma chance de uma vida saudável."

A triagem neonatal padrão funciona detectando biomarcadores no sangue ligados a diferentes condições. Para muitas doenças, biomarcadores sanguíneos ainda não foram identificados, o que limita a utilidade da triagem.

Avanços na Tecnologia de Triagem Genética

O sequenciamento genômico, antes raro e de custo proibitivo, tornou-se mais comum e acessível para uso clínico, o que o torna uma opção potencialmente melhor para triagem neonatal.

"Estamos também no meio de uma revolução na medicina infantil e reconhecendo que muito mais condições pediátricas têm causas genéticas do que imaginávamos, e podem ser tratadas", diz Milner. "Isso amplia nossa noção do que procurar."

O estudo GUARDIAN agora busca variantes genéticas ligadas a mais de 450 condições, e novas condições são identificadas a cada ano.

"Seria inviável triar todas essas doenças com testes padrão", diz Orange, "mas com a triagem genômica, há custo mínimo extra ao adicionar uma condição. Podemos triar para distúrbios tratáveis que nunca pensávamos em rastrear antes."

Resultados Iniciais do Estudo GUARDIAN

Iniciado em setembro de 2022, o estudo GUARDIAN ofereceu o sequenciamento genômico a cada bebê nascido nos hospitais NewYork-Presbyterian em Nova York.

Durante o primeiro ano, o GUARDIAN analisou genes ligados a 156 condições raras, mas tratáveis. Os pais tinham a opção de adicionar um painel extra de 99 condições sem tratamentos conhecidos, embora as crianças afetadas possam se beneficiar de uma intervenção precoce.

O estudo coleta o DNA das mesmas amostras de sangue seco coletadas após o nascimento para a triagem neonatal tradicional, realizada para cada participante pelo Programa de Triagem Neonatal do Departamento de Saúde do Estado de Nova York.

O artigo publicado na edição de 24 de outubro da JAMA relata resultados dos primeiros 4.000 recém-nascidos, nascidos entre setembro de 2022 e julho de 2023. Mais de 12.000 bebês já ingressaram no estudo desde sua criação.

Diagnósticos Significativos e Aceitação dos Pais

Dos 147 bebês que testaram positivo com o sequenciamento genômico, 120 foram considerados verdadeiros positivos e diagnosticados com uma condição rara. Apenas 10 dessas crianças foram detectadas pela triagem padrão.

A maioria dos bebês diagnosticados com uma condição genética (92 de 120) tinha uma deficiência enzimática chamada deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). A G6PD não está incluída na triagem padrão, mas indivíduos com essa deficiência podem ter reações de moderadas a graves a certos alimentos e medicamentos, facilmente evitáveis ao serem identificados.

Para uma criança no estudo, o sequenciamento genômico detectou uma condição letal—imunodeficiência combinada grave (SCID, também conhecida como "síndrome do menino na bolha")—que a triagem padrão não identificou. O sequenciamento detectou a presença de uma variante genética rara causadora da SCID, permitindo que os médicos protegessem o bebê de infecções letais.

Direções Futuras e Desafios

O estudo pretende inscrever 100.000 bebês nos próximos anos para compreender melhor como os pais veem o sequenciamento genômico, os custos de tais programas, questões de privacidade e as dificuldades de interpretar resultados em diferentes grupos ancestrais.

A ampliação do sequenciamento genômico aumentará o custo da triagem. Se aplicado aos 210.000 bebês nascidos anualmente no estado de Nova York, aproximadamente 7.700 crianças teriam triagem positiva. Os custos totais aumentariam, com mais crianças exigindo testes de acompanhamento.

"Esses custos precisam ser avaliados em relação aos custos se uma criança adoecer por uma condição que poderia ter sido tratada precocemente e o valor de salvar vidas", diz Milner. "Em última análise, trata-se de quem vai pagar por isso. Quando se percebe que a triagem genômica pode detectar muito mais condições, prevenir doenças e salvar vidas, o custo extra pode valer a pena."

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Fonte:https://scitechdaily.com/genomic-advances-promise-new-era-for-early-disease-detection-in-infants/ 

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