BTB, 31/05/2024
Por John Hayward
Autoridades dos EUA disseram nesta sexta-feira que o presidente Joe Biden permitiu que a Ucrânia atacasse certos alvos em solo russo com armas americanas.
Um alto funcionário americano que falou à Fox News descreveu a autorização como uma mudança de política “limitada”, que daria à Ucrânia os meios para defender a cidade de Kharkiv dos bombardeios russos de longo alcance:
O presidente recentemente instruiu sua equipe a garantir que a Ucrânia possa usar armas fornecidas pelos EUA para fins de contra-ataque na região de Kharkiv, para que a Ucrânia possa retaliar contra as forças russas que as estão atacando ou se preparando para atacá-las. Nossa política com relação à proibição do uso de ATACMS ou ataques de longo alcance dentro da Rússia não mudou.
ATACMS significa Sistema de Mísseis Táticos do Exército, uma arma de míssil balístico com alcance de cerca de 185 milhas que os Estados Unidos começaram oficialmente a fornecer à Ucrânia em março; embora alguns observadores acreditem que os ucranianos já os tinham antes. Os ucranianos começaram a pedir ATACMS logo após a invasão da Rússia em fevereiro de 2022.
A Casa Branca disse que a decisão de fornecer ATACMS foi finalizada, depois que se descobriu que a Rússia estava “recebendo e usando” mísseis balísticos de longo alcance da Coreia do Norte.
As forças ucranianas estão aparentemente usando os ATACMS com grande eficácia. Na noite de quinta-feira, o Estado-Maior das Forças Armadas Ucranianas, disse que conseguiu usar os mísseis americanos para destruir uma travessia de balsa na Crimeia ocupada que a Rússia estava usando para abastecer suas tropas. Os russos implantaram vários sistemas de defesa aérea para proteger a balsa, mas essas defesas evidentemente não conseguiram parar os mísseis ATACMS.
Outro funcionário dos EUA disse à BBC que a Ucrânia recebeu permissão limitada para usar armas americanas, mas não os letais ATACMS, para “fins de contra-ataque” para “retaliar contra as forças russas que as estão atacando ou se preparando para atacá-las.”
“Nunca dissemos a eles que não podiam abater um avião russo sobre o solo russo que estivesse vindo atacá-los”, acrescentou o funcionário quando perguntado se a Ucrânia tinha permissão para disparar armas antiaéreas no espaço aéreo russo.
Logo após o anúncio dos EUA, a Alemanha também disse que os defensores de Kharkiv estavam autorizados a usar armas alemãs de longo alcance contra alguns alvos em solo russo.
As forças russas têm bombardeado a cidade de Kharkiv, perto da fronteira nordeste da Ucrânia, onde os invasores russos abriram uma nova frente em abril. Kharkiv está a apenas cerca de 12 milhas da fronteira.
Bombas e mísseis russos atingiram estruturas civis em toda Kharkiv, causando dezenas de mortes e ferimentos enquanto destruíam casas, fazendas e mercados. Mísseis russos atingiram um bloco de apartamentos em Kharkiv nesta sexta-feira, algumas horas após o anúncio da Casa Branca, matando pelo menos quatro pessoas.
A decisão de permitir que a Ucrânia revidasse com armas americanas de longo alcance parece ter sido tomada abruptamente. Até a tarde de quinta-feira, a secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, insistia que não haveria “mudança em nossa política.”
“A assistência de segurança que fornecemos à Ucrânia deve ser usada dentro da Ucrânia, e não incentivamos ataques ou permitimos ataques dentro da Rússia”, disse Singh, apenas algumas horas antes de a Casa Branca anunciar que permitiria que a Ucrânia atingisse alvos dentro da Rússia.
Um oficial de inteligência ucraniano disse ao New York Times nesta sexta-feira que comandantes de artilharia ucranianos com armas americanas estavam “felizes”, por finalmente poderem usar suas armas contra alvos na Rússia.
“Agora podemos finalmente atingi-los”, disse um comandante de artilharia satisfeito.
O oficial de inteligência disse que “seu entendimento era de que a Ucrânia tinha permissão para lançar ataques até cerca de 24 milhas dentro da Rússia.”
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamou as novas regras de engajamento de “um passo à frente” na defesa de “nosso povo que vive em vilarejos ao longo da fronteira.”
A Rússia ficou furiosa com os EUA e a Alemanha por darem permissão à Ucrânia para atingir alvos além da fronteira. O Kremlin disse que, mesmo antes dessa permissão ser oficialmente concedida, a Ucrânia já havia lançado armas estrangeiras na Rússia, e as novas ordens ameaçavam escalar o conflito.
“A Ucrânia e seus aliados da OTAN receberão uma resposta tão devastadora que a aliança não será capaz de evitar entrar no conflito”, prometeu Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia.
“A Rússia considera todas as armas de longo alcance usadas pela Ucrânia como sendo diretamente controladas por militares de países da OTAN. Isso não é assistência militar, isso é participação em uma guerra contra nós – e tais ações podem muito bem se tornar um casus belli”, :ele ameaçou:
“O conflito militar atual com o Ocidente está se desenvolvendo de acordo com o pior cenário possível. Há uma escalada constante quando se trata do poder de fogo das armas da OTAN sendo usadas. Portanto, ninguém hoje pode descartar a transição do conflito para sua fase final.”
Questionado se estava se referindo a armas nucleares, Medvedev disse que seria um “erro fatal” para o Ocidente acreditar que a Rússia nunca as usaria.
“Isso não é, infelizmente, nem intimidação nem blefe”, ele disse.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta sexta-feira que os EUA e a OTAN “entraram em uma nova rodada de escalada de tensão, e estão fazendo isso deliberadamente.”
“Eles estão de todas as maneiras possíveis provocando a Ucrânia a continuar esta guerra sem sentido”, disse Peskov.
O presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira, alertou sobre “sérias consequências” se armas ocidentais fossem usadas contra alvos em solo russo.
“Se essas sérias consequências ocorrerem na Europa, como os Estados Unidos se comportarão, tendo em mente nossa paridade no campo das armas estratégicas? É difícil dizer – eles querem um conflito global?” disse Putin. Assim como Medvedev, ele estava falando de guerra nuclear.
Putin disse ameaçadoramente que os países europeus com “pequeno território e populações densas” deveriam estar “cientes do que estão brincando” ao provocarem a Rússia.
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