28 de nov. de 2023

O traficante uruguaio ajudado pelo governo de Lacalle Pou revela a intrincada rede de corrupção na América Latina

Luis Lacalle Pou e Lula



LDD, 27/11/2023 



O Canal 4 entrevistou o traficante fugitivo Sebastián Marset, que revelou uma trama que envolve os governos do Uruguai, Bolívia, Paraguai e Colômbia

Este é Sebastián Marset, chefe do Primeiro Cartel Uruguaio (PCU), que está sendo procurado pela DEA e pela Interpol. Sua fuga e atual esconderijo no Paraguai parecem saídos de um filme.

Numa trama digna de filme de ação, que já reivindicou o cargo de dois ministros uruguaios, custou a morte de um promotor paraguaio e envolve o Primeiro Cartel Uruguaio, importantes líderes do futebol latino-americano, o Clã Insfran do Paraguai, o Primeiro Comando da Capital (PCC) no Brasil e a 'Ndrangheta da Itália, além dos presidentes do Uruguai, Colômbia, Bolívia e Paraguai, o Caso Marset eclodiu nos últimos dias.

O início desta trama remonta a 2012, quando Sebastián Marset, chefe máximo do Primeiro Cartel Uruguaio, traficou um carregamento de Juan Domingo "Papacho" Viveros Cartes, tio de Horacio Cartes, ex-presidente do Paraguai e atual presidente do Partido Colorado paraguaio.

Marset estava escondido em Assunção, no Paraguai, onde atuou como profissional no time de futebol Capiatá, usando sua carreira no futebol como disfarce, antes de viajar para os Emirados Árabes Unidos em 2021, onde passou muito tempo escondido. Porém, o esconderijo não se manteve e foi lá que Marset foi detido no aeroporto daquele país, quando tentava fugir para a Turquia com um passaporte paraguaio falso.

Para evitar ser deportado dos Emirados, Marset contatou o advogado Alejandro Balbi, atual Presidente do Clube Nacional de Futebol do Uruguai, para realizar os trâmites necessários e solicitar passaporte a chancelaria.

O embaixador do Uruguai nos Emirados Árabes Unidos, Álvaro Ceriani, solicitou duas vezes instruções a chancelaria, informando a particularidade do caso e solicitando instruções, sugerindo que as autoridades demorassem mais tempo para analisar o caso antes de emitir o passaporte.

Através do Ministério do Interior do Uruguai, disseram ao advogado de Marset que, como ele não tinha processos criminais pendentes desde novembro de 2020 ou exigências, estava legalmente autorizado a receber o passaporte.

Alberto Lacoste, vice-diretor de Identificação Civil do governo Lacalle Pou, tentou acelerar a emissão do passaporte a pedido do advogado Balbi. A Chancelaria aprovou o pedido e Marset obteve seu passaporte em 30 de novembro de 2021, ignorando que a Brigada Antidrogas Uruguaia estava cooperando com uma investigação internacional na qual Marset era um dos investigados.

Marset usou uma carta do governo para obter sua liberdade nos Emirados Árabes Unidos e fugiu usando o passaporte, antes que uma busca internacional chegasse da Interpol. Após a revelação desses acontecimentos, eclodiu um escândalo político no Uruguai, que obrigou às renúncias primeiro da vice-chanceler Carolina Ache Batlle, do Partido Colorado (uruguaio), e do chanceler Francisco Bustillo, do Partido Nacional, além do Ministro da Segurança Luis Alberto Heber, do Partido Nacional.


Passaportes usados por Sebastián Marset


Desde aquele momento, o traficante está foragido com pedido de busca e prisão e alerta vermelho da Interpol, além de ser procurado pela DEA. Existem especulações e rumores de que Marset pode estar escondido no Paraguai, Uruguai , Bolívia, Argentina ou Brasil.

Sabe-se que passou muito tempo na Bolívia, onde se escondeu após fugir dos Emirados Árabes Unidos, e onde participou como jogador de futebol profissional do time "Los Leones El Torno", registrado com documento brasileiro, e ficou lá até julho de 2022, quando conseguiu escapar da polícia boliviana após ser descoberto.

Nas operações policiais foram apreendidos 17 fuzis, uma pistola, 1.9, 15 munições, 28 carregadores para armas diversas, quatro coletes à prova de balas e uma frota de veículos composta por 31 veículos, uma motocicleta, quatro quadriciclos e um veículo esportivo Terix.

A polícia boliviana designou quase três mil policiais para a busca do narcotraficante, que até o momento não teve sucesso. O ex-presidente Evo Morales acusou em agosto o governo do atual presidente Luis Arce, seu delfim político que o traiu quando chegou ao poder, de proteger Marset durante sua estada na Bolívia.


Armas encontradas na propriedade de Marset na Bolívia


Assassinato do promotor Pecci e acusação de Marset

O promotor paraguaio contra o crime organizado, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, Marcelo Pecci, dirigiu a Operação A Ultranza PY, onde foram obtidos fortes avanços no desmembramento da rede de tráfico de drogas de Marset no Paraguai.

O andamento do caso chegou a um ponto que o traficante decidiu eliminá-lo. Assim, em 10 de maio de 2022, o promotor Marcelo Pecci foi assassinado por vários tiros enquanto estava em lua de mel em uma praia de Barú, na Colômbia, por pistoleiros que chegaram em jet skis.

Em 9 de agosto do mesmo ano, o jornal colombiano El Tiempo apontou Marset como o autor intelectual do assassinato. Três dias depois, o presidente colombiano Gustavo Petro também o nomeou como suposto autor do crime.

Lacalle Pou, convocado para testemunhar

De todos os funcionários envolvidos em toda a região, o mais preocupado é o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que poderá ser acusado no caso pela suposta destruição de documentos relatados por Carolina Ache.

O promotor Alejandro Machado pretende convocar o Presidente para este caso, focado na suposta destruição de provas envolvendo altos funcionários do governo, incluindo seu assessor, Roberto Lafluf.

Na Justiça, a ex-vice-chanceler Carolina Ache afirmou que Lafluf lhe contou por telefone sobre a destruição de um documento crucial, que continha conversas protocoladas entre ela e o ex-subsecretário do Interior, Guillermo Maciel, nas quais teria sido confirmado que de fato o governo uruguaio sabia da situação judicial de Marset, mas teria decidido conceder-lhe o passaporte de qualquer maneira.

Além disso, a convocação de Lacalle Pou é uma consequência direta das suas confissões públicas sobre a reunião em que Ache foi incentivada a “perder” o seu telefone para evitar que as conversas fossem reveladas. Lacalle admitiu ter participado na referida reunião, embora posteriormente tenha esclarecido que só passou para cumprimentá-la e disse não saber o que ali se discutia.

A entrevista no Canal 4

Toda essa trama explodiu e virou centro das atenções da população quando o traficante Marset concedeu uma entrevista exclusiva ao programa "Santo y Seña", do Canal 4 do Uruguai, que costuma ser considerado bastante próximo do Lacallismo.

Na entrevista, realizada sem revelar a identidade do chefão do crime, Marset garantiu que não gastou “um dólar” no passaporte uruguaio que lhe permitiu sair dos Emirados Árabes Unidos no final de 2021, após sua prisão por entrar naquele país com passaporte paraguaio falso.

Não gastei um dólar na questão do passaporte. Se tivessem me dito que eu tinha que pagar pelo passaporte emitido, eu teria pago. Mas o passaporte é um direito, e tiveram que me dar”, disse Marset à jornalista Patricia Martín, que viajou para (supostamente) o Paraguai e de lá para uma mansão escondida para se encontrar com o narcotraficante uruguaio. As autoridades bolivianas asseguram que o chefe fugitivo está escondido em território paraguaio.

Marset apontou para o ministro do Governo boliviano, Eduardo Del Castillo, que dias atrás havia sugerido que ele se renderia em breve. A verdade é que Marset conseguiu escapar da Bolívia em julho passado graças a ser avisado sobre a operação que se aproximava dele, provavelmente pelos “arcistas” do Governo boliviano.

Dos 400 mil dólares que apreenderam, “300 ficaram para si”, disse ele. “Eles ofereceram cem pela minha captura. Ninguém vai me entregar por cem mil dólares”, enfatizou ironicamente.

Quando a jornalista Martin lhe pediu sua opinião sobre a Bolívia e o Paraguai, Marset afirmou que os dois países são corruptos e envolveu o Clã Insfran na trama. "Eu não confio neles. O caso já se arrasta há dois anos e pessoas inocentes são processadas. Isolaram o tio Rico (Miguel Ángel Insfrán) porque ele pode dizer muitas coisas sobre política e corrupção”, afirmou.

A justiça paraguaia liga Marset ao Clã Insfrán no esquema de tráfico de cocaína da América do Sul para diferentes portos da África e da Europa, e juntos mantêm uma das redes de drogas mais importantes do continente.

Marset também aproveitou a entrevista para se distanciar da megaoperação “A Ultranza”. “Para mim essa operação não tem muitas raízes. Sim, posso estar envolvido, mas há muita coisa que não é como dizem. Eles incluíram minha família como parte da organização e não têm nada a ver com isso. Nem todas as mil páginas falam sobre Marset. A operação tem pouco. A empresa da minha esposa nunca foi utilizada, ela não tem conta em banco. Falam de milhões de guaranis”, observou.

Antes da entrevista deste domingo, Marset defendeu-se das acusações contra si através de vídeos em que respondia às autoridades dos países que o procuram. O último, de poucos dias atrás, tinha como alvo Del Castillo, que há duas semanas publicou imagens da comemoração dos 30 anos do traficante e supostas conversas que comprometem o ministro da Justiça paraguaio, Ángel Barchini.

Encobrimento do governo uruguaio?

Por outro lado, Marset disse que “o tráfico de droga não vive apenas do que é classificado como trafico de droga”, confirmando as estreitas ligações do tráfico de droga com a política dos países envolvidos.

Para acabar com o tráfico de drogas, devemos primeiro acabar com os políticos e a polícia corruptos. E há muitos. Parece-me que nesse sentido o Uruguai é o menos corrupto. Não sei. Mas há países onde o tráfico de drogas é o pão de cada dia. Há países que vivem do tráfico de drogas”, concluiu.

A cobertura de Marset pelo Canal 4 está sendo repudiada pela sociedade uruguaia, que entendeu a entrevista como uma tentativa do canal lacallista de encobrir o atual governo uruguaio, à medida que as eleições se aproximam.

Por sua vez, o boliviano Eduardo del Castillo, um dos políticos mais fortes do “arcismo”, referiu-se ao caso neste domingo, após a transmissão da entrevista. “Foi a Polícia Boliviana quem revelou as múltiplas identidades do senhor Sebastián Marset (…) a atual administração – o Governo – é quem desbaratou a sua organização criminosa”, afirmou em conferência de imprensa.

Por sua vez, Del Castillo questionou os governos uruguaio e paraguaio por esconderem e protegerem Marset. “Quem financiou essa entrevista? Quem são as partes interessadas? De quem é a entrevista que vai livrar a cara?", atirou o ministro do Governo socialista.

Os advogados do traficante negaram que houvesse negociações com autoridades uruguaias, mas vale lembrar que Marset não está hoje na prisão porque o governo de Lacalle Pou lhe concedeu seu passaporte, presumivelmente sabendo de sua situação judicial, e agora ele manda uma funcionária de um dos seus canais para entrevistá-lo.

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Fonte:https://derechadiario.com.ar/latinoamerica/latinoamerica_uruguay/terremoto-politico-en-uruguay-canal-4-entrevisto-al-capo-narco-profugo-quien-revelo-una-trama-que-involucra-a-los-gobiernos-de-uruguay-bolivia-paraguay-y-colombia 

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