27 de out. de 2023

Ativistas brasileiros alegam que o Agro é responsável por 74% das emissões de carbono e a carne bovina é o principal




GQ, 26/10/2023 



Por Anay Mridul 



No Brasil, a indústria alimentícia é responsável por quase três quartos (74%) do total de emissões de gases de efeito estufa – e a carne bovina está associada a uma grande parte delas, de acordo com um novo relatório.

O estudo, divulgado pelo grupo ambientalista brasileiro Observatório do Clima, revelou que, em 2021, o país emitiu 1,8 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa para a produção de alimentos, e a carne bovina esteve associada a 78% desse valor. A percentagem de emissões ligadas à indústria alimentar é mais do dobro da estimativa global, que se pensa ser responsável por um terço de todas as emissões antropogônicas.

Outro relatório da organização – publicado no ano passado – constatou que as emissões do país tiveram um aumento de 12,2% em 2021 – o maior aumento em 19 anos. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina (atrás dos EUA) e o maior exportador de carne bovina e soja. A investigação mais recente indicava que a sua indústria de carne bovina, por si só, seria o sétimo maior emissor mundial de gases de efeito estufa, ultrapassando países inteiros como o Japão.

Grande carne bovina, grandes emissões

As emissões associadas à produção de carne bovina no Brasil incluíram aquelas ligadas à pecuária e à poluição proveniente de frigoríficos de carne bovina. De acordo com um estudo histórico de 2018 realizado por investigadores da Universidade de Oxford, a carne bovina é, de longe, o alimento que mais emite emissões – com emissões duas vezes superiores às do próximo alimento da lista, o chocolate preto (e isso sem incluir a carne bovina derivada de rebanhos leiteiros).



Uma grande razão por trás desses números pode ser o fato de o Brasil abrigar a maior empresa de carnes do mundo, a JBS. A imagem do produtor está repleta de greenwashing e controvérsias éticas envolvendo seu impacto climático, questões trabalhistas e abuso de animais.

No ano passado, um estudo constatou que as emissões de gases de efeito estufa da JBS aumentaram 50% nos cinco anos anteriores, à medida que adquiriu novas unidades avícolas e pecuárias. Isto significava que – apesar de se comprometer a atingir emissões líquidas zero de carbono até 2040 – tinha uma pegada ambiental maior do que a Itália (a JBS negou estes números e os considerou imprecisos).

A empresa, cujas receitas ultrapassam os 72 milhões de dólares, segundo a Forbes, também tem sido notícia recentemente, depois de, em Agosto, terem surgido apelos de ativistas climáticos para suspender a sua planejada IPO nos EUA, que a rotularam como a “maior listagem de IPO de risco climático da história”.

A Rainforest Action Network listou as acusações rotuladas na JBS nos últimos 15 anos: “Ilegalidade; desmatamento; invasão e grilagem de territórios indígenas e tradicionais; conflitos fundiários e violência contra defensores de direitos, escravatura e abusos laborais na sua cadeia de abastecimento; falta de rastreabilidade; corrupção; e lavagem verde."




Desmatamento na Amazônia atinge ponto crítico

O novo relatório do Observatório do Clima considerou o desmatamento e as mudanças no uso da terra, as emissões de metano provenientes dos arrotos das vacas e o uso de energia e resíduos de processos agrícolas e industriais. Ele destacou que a maior parte das emissões da indústria alimentícia no Brasil não vem diretamente da produção de alimentos, mas sim do arrendamento de terras para converter vegetação nativa em fazendas e pastagens, que é a principal fonte de liberação de carbono no país.

O desmatamento na Amazônia – a maior parte do qual ocorreu no Brasil em 2021 – se aproximou de um ponto de inflexão climático. O Observatório do Clima revelou no ano passado que o "reinado" do ex-presidente Jair Bolsonaro de 2019-22 viu um aumento de 60% no desmatamento da floresta tropical em comparação com os quatro anos anteriores, o maior aumento entre mandatos presidenciais desde que os registros começaram em 1988.

O regime Bolsonaro foi uma máquina de queimar florestas. O presidente cessante tomou posse com o desmatamento em 7.500 quilômetros quadrados e está saindo com 11.500 quilômetros quadrados”, disse na época o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini. “A única boa notícia aqui é precisamente que ele está saindo.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a pecuária é a principal causa do desmatamento da floresta tropical, contribuindo para 80% da destruição florestal e 340 milhões de toneladas de emissões de carbono anualmente. E a JBS está entre os maiores impulsionadores do desmatamento da Amazônia, com seus frigoríficos na região mais que dobrando entre 2009 e 2020.



Uma pesquisa da Mighty Earth e da AidEnvironment estima que a pegada total de desmatamento da gigante da carne “em seis estados brasileiros desde 2008, pode chegar a 200.000 hectares em sua cadeia de abastecimento direta e cerca de 1,5 milhão de hectares em sua cadeia de abastecimento indireta”. As organizações identificaram 68 casos de desmatamento ligados à cadeia de fornecimento de carne bovina da JBS, abrangendo uma área de mais de 125 mil hectares – quase equivalente à de São Paulo ou Londres.

Este relatório deve ser lido pelos representantes do agronegócio e pelo governo como um alerta”, disse Astrini. “Isso demonstra, sem sombra de dúvida, que o agronegócio determinará se o Brasil é um herói ou vilão climático.”

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Fonte:https://www.greenqueen.com.hk/bad-bovina-food-sector-responsible-for-74-of-brazils-ghg-emissions-with-beef-the-major-contributor/ 

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