Euronews, 20/09/2023
Por Verónica Romano
No entanto, primeiro-ministro da Armênia diz que o país "não participou" na elaboração do acordo
O Azerbaijão e as forças armênias chegam a acordo para cessar-fogo em Nagorno-Karabakh.
A decisão deverá pôr fim aos violentos combates que começaram esta terça-feira no território separatista. O cessar-fogo terá entrado em vigor às 13h00 locais (10h00 em Portugal) esta quarta-feira.
No entanto, o primeiro-ministro da Armênia diz que o país não participou na elaboração do acordo.
As forças russas para a manutenção da paz na região mediaram as negociações. O acordo prevê a retirada das unidades e equipamentos militares armênios de Karabakh, bem como o desarmamento das forças de defesa locais, confirmou o Ministério da Defesa azeri.
O cessar-fogo surge um dia depois de o Azerbaijão ter anunciado uma operação militar no território separatista.
Nagorno-Karabakh: Eurodeputados pedem sanções da UE contra Azerbaijão
O Parlamento Europeu criticou a inação da União Europeia (UE) face à crise do Nagorno-Karabakh, apelando à imposição de sanções económicas ao Azerbaijão. Este país entrou em confronto violento com a Armênia, esta semana, tendo hoje sido declarado um cessar-fogo.
"A UE deve atuar, impor sanções, incluindo a suspensão das importações de gás", disse Reinhard Bütikofer, eurodeputado alemão do grupo dos Verdes, à Euronews.
O ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão ordenou, na terça-feiras, uma operação "antiterrorista" em Nagorno-Karabakh, o enclave disputado que é maioritariamente governado pela população de etnia armênia, mas reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão.
O ataque segue-se a meses de tensões crescentes sobre a região separatista, despertando o receio de um regresso às hostilidades da guerra de 2020, em que milhares de pessoas perderam a vida.
A UE condenou a agressão, mas não adoptou quaisquer medidas de retaliação. O bloco assinou, recentemente, um novo acordo para duplicar as importações de gás azeri para a UE, até 2027. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classifica o governo do Azerbaijão de parceiro "fiável".
As tentativas da UE para desanuviar o conflito de décadas entre a Armênia e o Azerbaijão também não tiveram êxito.
Num debate realizado no Parlamento Europeu, esta quarta-feira, os eurodeputados de todas as bancadas políticas afirmaram que a UE tem sido lenta a reagir aos pedidos de ajuda da Armênia desde que as forças azeris bloquearam o corredor de Lachin, há nove meses, impedindo que fornecimentos essenciais como alimentos, medicamentos e combustível chegassem à população de etnia armênia.
Os eurodeputados apelaram, ainda, à aplicação de sanções económicas e comerciais e à suspensão de todas as relações bilaterais com Baku.
O debate teve lugar horas antes de a região separatista ter aceite um cessar-fogo proposto pelas forças de manutenção da paz russas, que estão presentes no Nagorno-Karabakh desde o cessar-fogo mediado por Moscovo em 2020.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, tem pedido ao Ocidente mais apoio, expressando frustração com a posiçãoa da Rússia.
"Não fomos capazes de impedir um ataque que previmos que estava para vir", afirmou a eurodeputada francesa liberal Nathalie Loiseau.
"A mediação foi um fracasso total. Nunca nomeámos o agressor. Ignorámos o primeiro-ministro armênio quando este pediu a nossa ajuda", acrescentou.
"A nossa fraqueza e a nossa passividade tornaram-nos cúmplices desta situação", afirmou Loiseau, que também fez eco das afirmações de Nikol Pashinyan, segundo as quais as autoridades de Baku estão a prosseguir uma política de limpeza étnica.
Baku não é um parceiro "fiável
Os eurodeputados criticaram também os acordos da UE com o primeiro-ministro azeri, Ilham Aliyev. O seu comissário para o Alargamento, Olivier Várhelyi, também se encontrou com o ministro dos Negócios Estrangeiros azeri, em Budapeste, no início deste mês, para discutir projetos estratégicos de transporte e energia.
O porta-voz da Comissão Europeia disse, quarta-feira, que as sanções só podem ser impostas pelos Estados-membros da UE, mas que os líderes da UE vão discutir possíveis medidas durante a Assembleia Geral da ONU, a decorrer em Nova Iorque.
Os eurodeputados afirmam que a fatura de gás da UE proveniente de Baku está a financiar diretamente a agressão e a campanha de limpeza étnica do Azerbaijão.
Os países da UE importaram 15,6 mil milhões de euros em gás natural do Azerbaijão no ano passado, quatro vezes mais do que em 2021. A Bulgária, a Roménia, a Hungria e a Eslováquia também se comprometer am a aumentar as importações de gás do país rico em petróleo.
Os eurodeputados manifestaram preocupação com a possibilidade de o gás que chega à Europa proveniente do Azerbaijão ser "gás russo, de fato" e pediram investigações urgentes sobre a origem do gás importado através do corredor sul.
O porta-voz da Comissão Europeia rejeitou essa afirmação, dizendo aos jornalistas que "o gás que estamos a receber do Azerbaijão é gás do Cáspio". Questionado sobre como podem ter a certeza de que o gás não tem origem na Rússia, o porta-voz disse: "É apenas uma questão de volumes".
"De acordo com as informações de que dispomos, o volume de gás que é exportado da Rússia para o Azerbaijão é significativamente inferior ao gás que estamos a importar do Azerbaijão".
Interesses geopolíticos
A Rússia e o Azerbaijão têm interesse em instalar um regime fantoche na Armênia, uma vez que o Kremlin pretende reforçar a sua influência no Cáucaso do Sul.
"O objetivo da Rússia é claramente destituir o primeiro-ministro armênio Pashinyan", disse Raphaël Glucksmann, eurodeputado francês do centro-esquerda. "Querem livrar-se de um governo democrático na Armênia, que foi escolhido em liberdade e emancipação", acrescentou.
"Como é que se pode esperar que a União Europeia se afirme como uma potência geopolítica se estamos dispostos a sacrificar aliados tão importantes como os armênios desta forma?", questionou.
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Fonte:https://pt.euronews.com/2023/09/20/anunciado-cessar-fogo-em-nagorno-karabakh
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