IP, 24/09/2023
O presidente Emmanuel Macron disse neste domingo que a França retirará iminentemente o seu embaixador do Níger, seguido pelo contingente militar francês nos próximos meses, na sequência do golpe no país da África Ocidental que depôs o presidente pró-Paris.
O anúncio de Macron surge após dois meses lidando com a questão do golpe, que fez com que Paris mantivesse o seu embaixador em Niamey, apesar de ele ter sido ordenado pelos líderes do golpe a partir.
“A França decidiu retirar o seu embaixador. Nas próximas horas o nosso embaixador e vários diplomatas retornarão a França”, disse Macron numa entrevista à televisão francesa, sem dar detalhes sobre como isso seria organizado.
Os governantes militares do Níger proibiram “aeronaves francesas” de sobrevoar o espaço aéreo do país, de acordo com o site da Agência para a Segurança da Navegação Aérea na África e Madagáscar (ASECNA). Não ficou claro se isso afetaria a saída do embaixador.
Macron acrescentou que a cooperação militar “acabou” e que as tropas francesas se retirarão “nos próximos meses e semanas”, com uma retirada total “até ao final do ano”.
“Nas próximas semanas e meses, consultaremos os golpistas, porque queremos que isso seja feito de forma pacífica”, acrescentou.
A França mantém cerca de 1.500 soldados no Níger como parte de um destacamento anti-jihadista na região do Sahel. Macron disse que as autoridades pós-golpe “não queriam mais lutar contra o terrorismo”.
Os líderes militares do Níger disseram ao embaixador francês, Sylvain Itte, que ele tem de deixar o país depois de terem derrubado o presidente Mohamed Bazoum em 26 de julho.
Mas um ultimato de 48 horas para a sua saída, emitido em Agosto, foi aprovado com ele ainda em em missão, uma vez que o governo francês se recusou a cumprir ou a reconhecer o regime militar como legítimo.
– ‘Muito preocupado com a região’ –
No início deste mês, Macron disse que o embaixador e a sua equipe estavam “literalmente sendo mantidos como reféns” na missão, comendo rações militares, sem que ocorressem entregas de alimentos.
Na entrevista, Macron reafirmou a posição da França de que Bazoum estava sendo mantido “refém”, e continuava sendo a “única autoridade legítima” no país.
“Ele foi alvo deste golpe de Estado porque estava levando a cabo reformas corajosas, e porque houve um acerto de contas em grande parte étnico e muita covardia política”, argumentou.
O golpe contra Bazoum foi o terceiro golpe deste tipo na região em tantos anos, após ações semelhantes no Mali e no Burkina Faso em 2021 e 2022, que também forçaram a retirada das tropas francesas.
Mas o golpe no Níger é particularmente contundente para Macron, depois de este ter procurado fazer de Niamey um aliado especial, e um centro para a presença da França na região após o golpe no Mali. Os EUA também têm mais de 1.000 soldados no país.
Macron fala regularmente por telefone com Bazoum, que permanece em prisão domiciliár na residência presidencial.
O presidente francês tem falado repetidamente em fazer uma mudança histórica na pecha pós-colonial da França na África, mas analistas dizem que Paris está perdendo influência em todo o continente, especialmente diante da crescente presença chinesa, turca e russa.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou com uma ação militar para restaurar Bazoum, mas até agora as suas ameaças, que foram fortemente apoiadas pela França, não se materializaram em ações concretas.
“Não estamos aqui para sermos reféns dos golpistas”, disse Macron. “Os golpistas são os aliados da desordem”, acrescentou.
Macron disse que os ataques jihadistas causaram “dezenas de mortes todos os dias no Mali” após o golpe, e que agora tais ataques foram retomados no Níger.
“Estou muito preocupado com esta região”, disse ele.
“A França, por vezes sozinha, assumiu todas as suas responsabilidades e estou orgulhoso dos nossos militares. Mas não somos responsáveis pela vida política destes países e lavamos nossas mãos de todas as consequências.”
Artigos recomendados: África e França
Fonte:https://insiderpaper.com/france-withdrawing-ambassador-troops-from-niger-after-coup-macron/
Nenhum comentário:
Postar um comentário