LDD, 04/07/2023
Por Santiago Vera
O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a retirada total das forças de paz da ONU no Mali, embora os últimos "capacetes azuis" demorem seis meses para sair.
Os membros do Conselho de Segurança reiteraram seu apoio à retirada total da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para Estabilização no Mali (MINUSMA), e à transferência das responsabilidades de segurança para o governo de transição do país, que está no poder desde o golpe ocorrido em 2021.
A resolução, proposta pela França, aprovada por 15 votos a 0, encerrou o mandato da missão de paz e ordenou a retirada de mais de 15 mil soldados a partir de sábado, 1º de julho, que será concluída até o final do ano.
A resolução do Conselho de Segurança autoriza ainda a MINUSMA a responder “em sua vizinhança imediata” a ameaças iminentes de violência contra civis, e a contribuir para a entrega segura de assistência humanitária liderada por civis até 30 de setembro.
Vale ressaltar que muitos membros do Conselho concordaram que a redução da missão não põe fim à assistência da comunidade internacional ao Mali.
Neste sentido, a vice-embaixadora da Rússia junto da ONU, Anna Evstigneeva, salientou, depois de ter manifestado que Moscou apoia a "aspiração do governo de transição para assumir a plena responsabilidade e desempenhar o papel principal na estabilização do estado do Mali", que seu país continuará a apoiar o governo do Mali.
Recorde-se que as autoridades militares interinas do Mali solicitaram semanas atrás que as forças de manutenção da paz das Nações Unidas se retirassem “sem demora” devido a uma “crise de confiança” entre as autoridades do Mali e as forças da ONU.
“A MINUSMA parece ter se tornado parte do problema ao alimentar as tensões da comunidade exacerbadas por acusações extremamente graves que são altamente prejudiciais à paz, reconciliação e coesão nacional no Mali”, disse Abdoulaye Diop, ministro das Relações Exteriores do Mali.
Nota-se também que, uma vez efetivada a retirada, as Forças Armadas malianas terão apenas como sócios o Grupo Wagner, descrito pela junta no poder como “instrutores”.
A embaixadora britânica, Barbara Woodward, lamentou que o Mali desejasse a saída das forças de paz, numa altura em que a região "enfrenta uma instabilidade crescente e necessidades humanitárias". "E não acreditamos que a associação com o Grupo Wagner irá proporcionar estabilidade ou segurança a longo prazo ao povo maliano", acrescentou o diplomata britânico.
Aumentando a preocupação, o embaixador dos EUA, Jeffrey DeLaurentis, disse que todos os esforços devem ser feitos para abordar questões como a presença de atores armados, principalmente do Grupo Wagner.
“A ONU tem a responsabilidade de minimizar o risco de seus ativos caírem nas mãos daqueles que buscam desestabilizar o Mali ou prejudicar seu povo, incluindo organizações extremistas violentas e o Grupo Wagner”, disse DeLaurentis.
Além disso, o diplomata norte-americano acrescentou que, “apesar de lamentarmos a decisão do governo de transição de abandonar a MINUSMA e o fato de isso prejudicar a população do Mali, votamos a favor da resolução por estarmos satisfeitos com o plano de retirada adotado”.
Abdoulaye Diop, ministro das Relações Exteriores do Mali |
Por sua vez, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, expressou profunda preocupação com as atividades desestabilizadoras de Wagner na África, especialmente em Mali e na República Centro-Africana.
Informações dos Estados Unidos indicam que "o governo de transição do Mali pagou mais de US$ 200 milhões a Wagner desde o final de 2021", acrescentou Kirby. Apesar dos pagamentos, disse ele, a segurança não melhorou e os ataques terroristas e crimes violentos aumentaram no centro do Mali.
Por sua vez, o embaixador do Mali na ONU, Issa Konfourou, disse ao Conselho que, embora a MINUSMA não tenha alcançado seu objetivo fundamental de apoiar os esforços do governo para garantir a segurança do país, do povo e do governo do Mali, “eles gostariam de aplaudir sua contribuição em outras áreas”, especialmente assistência humanitária e social.
Elogiando a operação de manutenção da paz e seu pessoal, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu a "total cooperação do governo de transição para uma retirada ordenada e segura do pessoal e dos bens da missão nos próximos meses", disse Farhan Haq, seu vice-porta-voz.
O secretário-geral da ONU também pediu a todas as partes signatárias do Acordo de Paz e Reconciliação de 2015 no Mali "que continuem a honrar o cessar-fogo enquanto a MINUSMA se retira", observou Haq.
Enquanto isso, o Secretário-Geral continuará a se envolver com o governo de transição sobre a melhor forma de atender aos interesses do povo do Mali, em cooperação com a Equipe das Nações Unidas no Mali, o Escritório das Nações Unidas para a África Ocidental e o Sahel (UNOWAS) e outros parceiros.
Tropas chadianas ativas na MINUSMA em Kidal, Mali |
Estabelecida pelo Conselho em 2013 após um golpe no ano anterior, a presença da missão, em fevereiro de 2023, é de mais de 15.000 soldados, segundo a MINUSMA.
Na última década, Mali e a região do Sahel viram um aumento nos confrontos e ataques de grupos armados e terroristas, com mais de 300 soldados da paz mortos, segundo a MINUSMA.
As condições também pioraram devido aos choques climáticos e às crescentes tensões entre as comunidades por causa dos recursos escassos, que se tornaram os principais impulsionadores da violência contínua, deslocamento em massa, instabilidade e tráfico transfronteiriço.
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