LDD, 07/04/2023
Os preços no varejo aumentaram 20,2% apenas em fevereiro e têm uma média mensal de quase 30% desde novembro do ano passado. A mais recente tentativa de estabilização começou a dar sinais de fracasso no terceiro trimestre de 2022.
O regime chavista não conseguiu estabilizar a economia ou a atividade econômica, apesar dos múltiplos programas lançados desde 2019. A última tentativa de estabilização começou entre março e abril de 2021 e durou até julho de 2022. Mas o programa já está completamente esgotado e a Venezuela vive um novo surto de inflação.
O Observatório Financeiro da Venezuela (OVF) confirmou que os preços no varejo subiram 20,2% em fevereiro de 2023 em relação ao período anterior, depois de terem aumentado até 39,2% em janeiro e 37,2% em dezembro de 2022.
A alta mensal dos preços tem média de 29,6% desde novembro, evidenciando uma aceleração violenta frente à média de 4,6% observada entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022. A inflação homóloga voltou a subir e representou 537,7% frente a fevereiro de 2022, voltando a o nível mais alto dos últimos dois anos.
Fevereiro marcou o sexto mês consecutivo de aumento da taxa de inflação homóloga, e esta métrica acumulou um salto de quase 423 pontos percentuais face à inflação observada em agosto de 2022 (estimada em 114,1% segundo o OVF).
A Venezuela acumulou um salto inflacionário de 67,7% apenas no primeiro bimestre de 2023. Os preços médios do setor saúde aumentaram 15,8% em fevereiro, os de vestuário, 13,5%, e os de utensílios domésticos e de manutenção, 15,1%.
Asfixiada pela terrível situação fiscal, a ditadura de Maduro foi obrigada a eliminar os subsídios econômicos diretos sobre as tarifas dos serviços públicos de eletricidade, distribuição de água, limpeza urbana e telecomunicações. Isso provocou um rearranjo de preços relativos que levou o preço das tarifas a uma média ponderada de 156,3% ao final de fevereiro, sendo o item com maior alta mensal registrada.
A tentativa fracassada de estabilização entre 2021 e 2022
O regime de Nicolás Maduro implementou uma série de medidas para tentar estabilizar a nominalidade do país, embora novamente as tentativas tenham falhado. A partir de maio de 2019, a Venezuela eliminou o antigo sistema de controle cambial que prevalecia desde a era Chávez, dado o colapso do Banco Central como regulador do mercado de câmbio. A maioria das transações cambiais foi liberalizada em um mercado de câmbio duplo.
No âmbito deste regime cambial, entre 2021 e 2022 as autoridades decidiram adotar as seguintes medidas para estabilizar os preços:
- Intervenção do câmbio livre para conter as expectativas inflacionárias, limitando a desvalorização mensal
- Novo imposto sobre operações cambiais com taxa variável entre 3% e 20% dependendo do valor negociado
- Ajuste no crescimento nominal dos gastos do setor público, principalmente pela redução dos subsídios econômicos às taxas públicas
- Manutenção da taxa de reservas bancárias entre 93% e 73%
- Aumento da taxa de juros da política monetária de 40% para 60% nominal anual
A inflação homóloga moderou de 3.867% em março de 2021 para 114,1% em agosto de 2022, e o aumento médio mensal dos preços no varejo caiu de 37% em 2020 para 19,5% em 2021, e subiu 12,74% entre janeiro e dezembro de 2022. Mas o programa entrou em colapso a partir de agosto daquele ano.
Para conter a taxa de desvalorização oficial, e como é o caso da Bolívia ou Argentina, o Banco Central da Venezuela teve que enfrentar custos significativos em termos de reservas internacionais (que conseguiu fortalecer devido à liberalização do mercado de câmbio em maio de 2019). Esse processo tornou-se cada vez mais insustentável, e a autoridade teve que permitir aumentos de desvalorização progressivamente maiores, erodindo a âncora nominal básica do programa de estabilização, que era o canal das expectativas.
Em fevereiro de 2023, a taxa de desvalorização oficial da taxa de câmbio comercial estabelecida pelo Banco Central da Venezuela subiu para 11%, em comparação com uma taxa de inflação mensal que praticamente dobrou. A valorização do câmbio real não serve mais como âncora para as expectativas, justamente porque se espera que o sistema se torne insustentável e venha uma desvalorização mais violenta.
O esgotamento da última tentativa de estabilização e o abandono do regime de desvalorizações administradas e apreciação cambial podem precipitar um novo surto de hiperinflação, ainda que a situação fiscal do setor público tenha melhorado.
Artigos recomendados: Venezuela e Inflação
Nenhum comentário:
Postar um comentário