PM, 12/01/2023
Por Alex Timothy
"Uma possível base chinesa em Ushuaia permitiria a Pequim ter um enclave permanente no Hemisfério Sul... A China poderia interceptar todos os tipos de comunicações regionais com claro impacto econômico e estratégico"
A China está se movendo para construir uma base naval em Ushuaia, Tierra del Fuego, no extremo sul da Argentina, o que abriria as portas da Antártida para Pequim.
A base daria à China o controle da passagem entre os oceanos Pacífico e Atlântico, permitindo ao país asiático monitorar as comunicações em todo o hemisfério sul, segundo a Diálogo, revista publicada pelo Comando Sul dos Estados Unidos.
China 🇨🇳/Argentina 🇦🇷: A China está pressionando a Argentina para construir uma base naval em Ushuaia, Tierra del Fuego.
— Ivan Kleber (@lordivan22) January 13, 2023
A base permitiria a China o controle da passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
"Uma possível base chinesa em Ushuaia permitiria a Pequim ter um enclave permanente no Hemisfério Sul, com projeção para o Atlântico Sul que, dependendo das condições negociadas com a Argentina, poderia permitir a construção de instalações, bem como a presença de unidades navais e contingentes militares neste quadrante", disse à Diálogo Alberto Rojas, diretor do Observatório de Assuntos Internacionais da Universidade Finis Terrae, no Chile.
"A China pode interceptar todo tipo de comunicação regional com claro impacto econômico e estratégico, além de ganhar potencial para manter monitoramento permanente do trânsito marítimo", acrescentou, sugerindo que isso pode levar a uma interferência clara e massiva nos assuntos internacionais.
Tu Shuiping, um funcionário do PCC baseado na Argentina, está liderando as negociações e supostamente persuadiu o governador da Tirra del Fogo, Gustavo Melella, a aceitar melhor o investimento chinês em sua província.
Rojas acredita que o esforço dos chineses para construir essa base é um movimento estratégico importante para a potência asiática.
“O projeto Belt and Road [BRI] anunciado pela China em 2013 busca ter uma projeção clara para essa área do continente”, afirmou. "E se esta base em Ushuaia se materializar, poderá se tornar a primeira de muitas outras, tanto na costa atlântica como na costa do Pacífico ou na zona andina."
Rojas acrescentou que acredita que o projeto BRI da China é uma tentativa velada de aumentar o domínio e o controle chinês sobre as nações em desenvolvimento.
Atualmente, Pequim possui três enclaves operacionais no exterior, sendo o mais conhecido o de Djibuti, nação da África Oriental, que dá à China uma presença estratégica ao longo da rota do Mar Vermelho ao Oceano Índico, explicou Rojas.
“Há também a base naval Ream, no Camboja, onde a China tem uma projeção importante na área do Sudeste Asiático, e um alto grau de autonomia tanto na base quanto em seu entorno, a ponto de já ter construído um novo porto", ele acrescentou. "E há a base no Tadjiquistão, em construção na região autônoma de Gorno-Badakhshan, que faz fronteira com a China e o Afeganistão, com a qual Pequim busca reforçar sua presença na Ásia Central."
No topo dessas bases, há uma estação espacial chinesa em Neuquén, localizada no centro da Argentina.
A General do Exército dos EUA, Laura J. Richardson, comandante do Comando Sul dos EUA, expressou suspeitas sobre esses movimentos.
"O que eles estão fazendo? Eles [a China] não têm as mesmas preocupações que nós temos em termos de liberdade e um Hemisfério Ocidental livre, seguro e próspero", disse ela. "São facilidades de um governo autoritário."
Artigos recomendados: China e Argentina
Nenhum comentário:
Postar um comentário