Euronews, 07/07/2022
Desta vez, Boris Johnson sai mesmo. O ainda primeiro-ministro britânico não sobreviveu ao efeito dominó de demissões no seio do seu próprio governo, em rota de colisão com o que chamaram de falta de integridade no topo do poder.
"É claramente a vontade dos deputados do Partido Conservador que haja um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro. Juntamente com Sir Graham Brady, o líder da nossa bancada parlamentar, decidimos que esse processo deve começar agora. Em política, ninguém é insubstituível. O nosso sistema, que é brilhante e darwinista, vai produzir um novo líder igualmente empenhado em levar este país para a frente neste período tão difícil", declarou frente a Downing Street.
Ou seja, Johnson só pretende deixar o governo quando o próximo líder conservador estiver escolhido e isso poderá acontecer só no congresso de outubro.
"Quero que saibam o quão triste estou por deixar o melhor trabalho do mundo. Mesmo que agora as coisas pareçam sombrias, o nosso futuro em conjunto é dourado", rematou.
O princípio do fim aconteceu na terça-feira, quando dois pesos pesados do governo bateram com a porta, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, e o ministro da Saúde, Sajid Javid.
Seguiram-se mais de meia centena de demissões em apenas 24 horas, com destaque para o recém-nomeado responsável pela pasta das Finanças, Nadim Zahawi, o que terá sido a gota de água.
Johnson ficou praticamente isolado, juntamente com uma série de escândalos que passou por vários capítulos. Incluiu as festas ilegais durante a pandemia e a alegada proteção a Chris Pincher, um responsável conservador acusado sucessivamente de assédios sexuais. Downing Street dizia que Johnson não estava a par das acusações, mas acabou por assumir que estava.
Nota do editor do blog: Boris Johnson fez parte daquilo que o ex-primeiro-ministro, David Cameron, chamou de “conservadores reformistas”, que literalmente “reformaram” o Partido Conservador de Margareth Thatcher após sua morte; ao menos no que se refere a sua política interna social e cultural. O Partido Conservador Britânico é um partido internacionalista por vocação, e não é à toa que foi pelas suas mãos que o Reino Unido entrou na União Europeia nos anos 70. Churchill sempre vociferou contra o Socialismo, mas ele sempre foi afeto da ideia de um governo mundial e expressou isso publicamente. Esse aspecto de Churchill foi muito negligenciado pelos próprios movimentos de direita ocidentais. Ele não só propôs uns Estados Unidos da Europa, usando o termo cunhado por Vitor Hugo, como pediu de forma concisa um governo mundial para além do continente europeu, acreditando (ou usando como desculpa) que havia a necessidade de um para parar países como a URSS, que ironicamente também era adepta nos primeiros dias da Liga das Nações de um governo mundial, até mesmo sendo signatária do projeto da Liga. Cameron e companhia transformaram o Partido Conservador internamente em uma sucursal das Nações Unidas, promovendo uma agenda tão e até mais esquerdista do que o Partido Trabalhista Britânico sob Gordon Brown e Tony Blair. O Partido Conservador Britânico no poder aumentou a censura na Internet, podou de todas as formas a liberdade de expressão e manifestação, bem como criou diversas leis que categorizavam o discurso e a livre expressão como “discurso de ódio”. Além de promoverem o Multiculturalismo e a imigração em massa. No Reino Unido, o mais perto que chegou de um partido conservador foi o UKIP, Partido da Independência do Reino Unido, que era basicamente contrário a boa parte da agenda promovida pelos Tory, e por ser um partido eurocético que de fato queria deixar o bloco europeu. Muitas pessoas comemoraram a saída do Reino Unido da União Europeia, e confesso que eu também fiquei feliz, mas nunca pensei naquilo como um ponto final, pois assim como a Liga das Nações foi transitória, assim também a União Europeia será. Johnson deixa o poder, e a possibilidade de um verde ou trabalhista assumir é grande. Isso provavelmente estava programado, e Johnson deliberadamente procurou um motivo para deixar o cargo, assim como o ex-primeiro-ministro australiano, o “evangélico” Scott Morrison, que fez de tudo para subjugar os australianos, e praticamente abriu caminho para os verdes e trabalhistas, que vão terminar de destruir a economia que ele debilitou. O Reino Unido caminha para o mesmo destino, e mais uma vez as coisas não parecer ser o que aparentam. É tempo de transição, e o que vier será ainda pior.
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Fonte:https://pt.euronews.com/2022/07/07/boris-johnson-anuncia-demissao
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