Euronews, 08/06/2022
A Ucrânia tenta acelerar o processo de adesão à União Europeia e sublinha o papel importante que pode vir a ter junto dos futuros parceiros como grande produtor alimentar que é no mundo.
Com a invasão russa a controlar boa parte do leste e os acessos do país ao mar, o presidente do parlamento ucraniano esteve no Parlamento Europeu esta quarta-feira.
À Euronews, Ruslan Stefanchuk destacou a urgência de uma solução no conflito com o Kremlin para evitar uma crise alimentar.
"Sabemos que temos responsabilidade para com as pessoas no mundo e essa responsabilidade passa pelo facto de não podermos permitir esta crise alimentar global. Por isso é muito importante para nós encontrar uma solução", afirmou o líder da Verkhovna Rada, a Assembleia ucraniana.
A Ucrânia vai conseguir alimentar-se, mas não somos egoístas.
Ruslan Stefanchuk
Presidente do Parlamento da Ucrânia
Ruslan Stefanchuk receia que um eventual abrandamento no processo de adesão à União Europeia possa vir a dar a Vladimir Putin um livre trânsito para manter a invasão russa da Ucrânia sem quaisquer obstáculos.
The courage, determination & defiance of Ukrainians will be spoken for generations to come.
— Roberta Metsola (@EP_President) June 8, 2022
We have sent military, financial, political and humanitarian support. And we will continue.
For real peace. Peace with liberty, peace with justice.
Ukraine is Europe.@r_stefanchuk pic.twitter.com/ynNPb0vz7g
O líder da Verkhovna Rada garante que a Ucrânia não está a pedir qualquer tratamento especial, mas apenas "um processo franco para conseguir o estatuto de candidata".
"Mais tarde queremos cumprir tudo o que for necessário para conseguir uma adesão de plenos poderes, mas se tivermos a nossa candidatura podemos estabelecer um caminho para melhor entendermos o que temos de fazer, quando o temos de fazer, qual o melhor caminho e quando poderemos de facto passar a ser um estado membro igual aos outros", afirmou Ruslan Stefanchuk.
Ao final do dia, o ministro ucraniano dos negócios estrangeiros sublinhou não aceitar qualquer alternativa ao estatuto de candidato à União Europeia que possa vir a ser proposto pelos "27".
"Não aceitaremos qualquer versão de substituição ou alternativa ao estatuto de candidato à União Europeia, sejam elas quais forem. Precisamos do status de candidato da UE, não de 'candidato a candidato', candidato potencial ou qualquer outro substituto. Já jogamos esse jogo há muito tempo. Sabemos como funciona", afirmou Dmytro Kuleba, numa conferência de imprensa.
Os parceiros têm-se mostrado solidários com a Ucrânia e a líder do Parlamento Europeu garantiu que os "27" vão continuar a enviar "ajuda militar, financeira, política e humanitária". "Para se conseguir uma paz real, uma paz com liberdade, uma paz com justiça", escreveu Roberta Metsola nas redes sociais.
A Presidente da Comissão Europeia garante, no entanto, não haver quaisquer atalhos no processo de adesão. Os critérios democráticos e financeiros têm de ser respeitados em qualquer integração na União Europeia.
Seja como for, Ursula von der Leyen pede aos parceiros para se manterem ao lado da Ucrânia na resistência ao Kremlin, para ajudarem na reconstrução do país dizimado pela agressão russa e a levar à justiça os alegados responsáveis por crimes de guerra cometidos nesta invasão.
Nota do editor do blog: para os políticos europeus, os fundos e armas para a guerra são essenciais para a paz. O que significa que a paz só pode ser alcançada com a vitória da resistência armada do estado invadido, e não por meio de negociações diplomáticas. Sendo assim, essa "ajuda política militar e financeira" não é nada além de um eufemismo para fundos de guerra. Se essa é a forma de alcançar a paz, então ela não virá. Os políticos ucranianos divagam sobre se tornarem um novo estado-membro, mas a verdade é que a Ucrânia não existe mais como entidade territorial (estado-nação), e seu desejo de tornar seu espaço territorial uma entidade territorial europeia, não passa de uma retórica vazia. A Ucrânia existe somente como nação étnica, mas não mais como uma entidade territorial fixa em um ponto no mapa. Sua adesão não será como entidade territorial, mas como uma nação étnica. É o plurinacionalismo europeu. Portanto, a adesão da Ucrânia ocorrerá em um nível de integração migrante, e não como estado-nação (entidade territorial), ou seja, eles receberão a cidadania, mas não o reconhecimento do seu espaço territorial como sendo parte. Isso, como já disse em outros artigos, abrirá espaço para a política de desintegração da identidade nacional da Ucrânia. Os ucranianos não poderão reclamar disso, pois eles mesmos querem ser "europeus". Afinal, para que foi o Euromaidan, senão para que eles se tornassem europeus? Ser um "cidadão da União Europeia", significa que você não tem uma nacionalidade, nem um país, pois não há fronteiras nacionais, e você é um cidadão de um superestado. Sua nacionalidade é europeia, e sua terra natal é qualquer território pertencente a esse grêmio. Os ucranianos saíram da frigideira, e caíram no fogo. Ser "ucraniano" tornou-se uma mera manifestação cultural de diversidade dentro desse corpo governante.
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