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O Abismo Entre Individualismo e Coletivismo
G. Edward Griffin — Freedom Force International, em: http://www.freedomforceinternational.org
Revisado pelo autor em 06/07/2005
Introdução
G. Edward Griffin é autor e produtor de filmes documentários com muitos títulos de sucesso. Incluído no Who is Who in America, ele é bem conhecido por causa de seu talento em pesquisar tópicos difíceis e apresentá-los em termos claros que todos podem compreender. Ele lida com assuntos tão diversos quanto arqueologia e história do antigo Egito, o sistema da Federal Reserve e os bancos internacionais, terrorismo, subversão interna, a história da tributação, política externa norte-americana, ciência e política do tratamento do câncer, a Suprema Corte e as Nações Unidas. Suas obras mais conhecidas incluem The Creature From Jekyll Island, World Without Cancer, The Discover of Noah's Ark, Moles in the High Places, The Open Gates of Troy, No Place to Hide, The Capitalist Conspiracy, More Deadly Than War, The Grand Design, The Great Prison Break, e The Fearful Master.
Griffin é formado pela Universidade de Michigan, onde estudou Linguagem e Comunicações. Para se preparar para escrever seu livro sobre o sistema da Federal Reserve, ele se matriculou no College for Financial Planning, em Denver, no Colorado. Seu objetivo não era se tornar um profissional em planejamento financeiro, mas compreender melhor o mundo real dos investimentos e dos mercados financeiros. Ele obteve sua designação como CFP (Certified Financial Planner) em 1989.
Griffin recebeu o cobiçado Prêmio Telly por excelência em produção para a televisão, é o criador dos arquivos de áudio Reality Zone, e é presidente da America Media, uma empresa de editoração e produção de vídeos no sul da Califórnia. Ele também participou da diretoria da The National Health Federation e da The International Association of Cancer Victors and Friends, e é fundador e presidente da The Cancer Cure Association. É o fundador e presidente da Freedom Force International.
Visão Geral
Obrigado, Richard e obrigado a vocês, senhoras e senhores. Que apresentação tremenda foi esta; mas, com toda a honestidade, preciso dizer que ela exagera grandemente a importância do meu trabalho. Eu devo saber, afinal eu o escrevi.
O perigo dessas apresentações de plataforma é que tendem a criar expectativas irrealistas. Vocês são levados a acreditar que, de alguma maneira, vou tornar um assunto complexo fácil de entender. Bem, é uma ótima propaganda. Espero que eu consiga atender a essa expectativa hoje; resta saber se poderei realmente fazer isso com o tópico A Guerra ao Terrorismo. Como pode alguém tornar isso fácil de entender? Existem tantas questões e tanta confusão. Sinto-me como o proverbial pernilongo em um campo de nudismo. Sei o que preciso fazer, mas não por onde começar.
Há uma regra bem conhecida de falar em público que aplica-se aos tópicos complexos. Primeiro, diga-lhes o que você vai dizer. Em seguida, diga o que tem a dizer; finalmente, diga-lhes o que você lhes disse. Vou seguir essa regra hoje e começarei fazendo uma afirmação que elaborei com muito cuidado para ser a mais chocante possível. A razão é que quero que vocês se lembrem dela. Quando eu disser o que vou lhes dizer, sei que, para muitos, soará absurdo, e vocês pensarão que estou totalmente insano. Então, para o corpo principal da apresentação, eu lhes direi o que disse a vocês, apresentando fatos para provar que tudo que eu disse realmente é verdade. E, finalmente, no fim, eu lhes direi o que eu disse, repetindo minha afirmação na abertura; e, então, espero, ela não mais parecerá absurda.
O que vou dizer é isto: embora creia-se comumente que a Guerra ao Terrorismo é um esforço nobre para defender as liberdades, na realidade ela tem pouco a ver com o terrorismo e menos ainda com a defesa das liberdades. Existem outras agendas em operação; agendas que são muito menos louváveis; agendas que, na verdade, são exatamente o oposto do que aquilo que nos dizem. O propósito desta apresentação é provar que, o que está se desdobrando hoje, não é uma guerra ao terrorismo para defender as liberdades, mas uma guerra contra as liberdades que requer a defesa do terrorismo.
Isso é o que vou dizer hoje, e vocês provavelmente estão se perguntando como alguém em sua mente sã poderia pensar que poderemos provar um argumento como esse? Assim, vamos direto para ele; e a primeira coisa que precisamos fazer é confrontar a palavra prova. O que é prova? Não existe prova absoluta. Existe somente evidência. A prova pode ser definida como evidência suficiente para convencer o observador que uma determinada hipótese é verdadeira. A mesma evidência que é convincente para uma pessoa pode não convencer outra. Destarte, o caso é provado para a primeira pessoa, mas não para a segunda, que ainda precisa de maiores evidências. Portanto, quando falamos de prova, estamos na verdade falando de evidências.
É meu intento dizer a vocês aquilo que eu disse a vocês desenvolvendo o caso lenta e metodicamente; mostrar o motivo e a oportunidade; apresentar testemunhas oculares e o testemunho de especialistas. Em outras palavras, fornecerei evidências — com base em evidência — e mais evidências, até que a montanha esteja tão alta que até o cético mais relutante terá de concluir que o caso foi provado.
Onde encontramos essa evidência? O primeiro lugar a olhar é a história. O passado é a chave para o presente, e nunca podemos compreender plenamente onde estamos hoje a não ser que saibamos que caminho foi percorrido para chegar aqui. Foi Will Durant quem disse: "Aqueles que não sabem nada da história estão condenados para sempre a repeti-la.".
Estamos condenados a repetir a história na guerra contra o terrorismo? Se continuarmos a seguir o caminho circular em que estamos agora, acredito que sim. Mas para descobrir se isso é verdadeiro, precisamos voltar atrás no tempo. Portanto, eu agora os convido a me seguirem em minha máquina do tempo. Vamos nos deslocar na história um pouco e ver alguns grandes eventos e grandes erros para ver se existem paralelos, lições a serem aprendidas para os dias atuais. Preciso adverti-los que parecerá que estamos perdidos no tempo. Vamos para ali e para lá e então saltar ainda mais para trás, e depois para frente no tempo, e estaremos examinando questões que podem fazer você pensar: "que raios isso tem que ver com o hoje?" Mas posso assegurar que, quando chegarmos ao fim da nossa jornada, você verá que tudo que abordamos tem uma relevância direta com o hoje e, em particular, com a guerra contra o terrorismo.
A Agenda Oculta
Agora que estamos em nossa máquina do tempo, fazemos o seletor apontar para o ano 1954 e, subitamente, encontramo-nos nos luxuosos escritórios da Fundação Ford, em Nova York. Ali estão dois homens sentados a uma mesa de mogno, conversando um com o outro. Eles não podem nos ver nem ouvir, mas podemos vê-los muito bem. Um desses homens é Rowan Gaither, que era presidente da Fundação Ford naquele tempo. O outro era Norman Dodd, o investigador-chefe para o que foi chamado de Comitê do Congresso Para Investigar as Fundações Isentas de Impostos. A Fundação Ford era uma dessas, de modo que Dodd estava ali como parte de sua atribuição no Congresso.
Preciso dizer a vocês que foi em 1982 que encontrei o Sr. Dodd em seu estado natal da Virgínia onde, naquele tempo, eu tinha uma equipe de televisão fazendo entrevistas para um filme documentário. Eu tinha anteriormente lido o testemunho do Sr. Dodd e percebi o quão importante ele era; assim, quando nossa equipe teve um tempo livre, telefonei para ele e perguntei se estaria disposto a fazer uma declaração diante de nossas câmeras e ele disse: "Sim, é claro". Estou contente por termos obtido a entrevista, porque Dodd já era avançado em idade, e não demorou muito para ele vir a falecer. Fomos sortudos em captar a história dele em suas próprias palavras. O que estamos agora testemunhando com nossa máquina do tempo foi confirmado em detalhes vinte anos depois e preservado em vídeo.
Estamos agora no ano de 1954, e ouvimos Gaither dizer a Dodd: "Você estaria interessado em saber o que fazemos aqui na Fundação Ford?" E Dodd diz: "Sim! É precisamente para isso que estou aqui. Estaria muito interessado." Então, sem absolutamente qualquer provocação, Gaither diz: "Sr. Dodd, operamos em resposta a algumas diretrizes, a essência das quais é que usaremos nossa capacidade de conceder bolsas para alterar a vida nos Estados Unidos para que o país possa ser confortavelmente fundido com a União Soviética.".
Dodd quase cai da cadeira quando ouve isto. Então ele diz a Gaither: "Bem, vocês podem fazer qualquer coisa que quiserem com sua capacidade de conceder bolsas, mas não acha que têm a obrigação de revelar isso ao povo americano? Vocês têm isenção de impostos, o que significa que são subsidiados indiretamente pelo contribuinte, então, por que não dizem ao Congresso e ao povo americano o que acaba de me dizer?" E Gaither responde: "Nunca faríamos isso, nem sonhando.".
Uma Estratégia para Controlar o Ensino da História
A questão que surge na mente de Dodd é: "Como seria possível para alguém pensar que poderia alterar a vida nos EUA para que o país pudesse ser confortavelmente fundido com a União Soviética e, por implicação, com outros países do mundo?" Que idéia absurda seria — especialmente em 1954. Isso requereria o abandono dos conceitos americanos de justiça, as tradições de liberdade, de soberania nacional, de identidade cultural, as proteções constitucionais, e a independência política, para citar apenas alguns. Porém, esses homens estavam sendo mortalmente sérios. Eles não estavam focados na questão se isso podia ser feito. A única questão era como fazer. O que seria necessário para alterar as atitudes do povo americano? O que seria necessário para convencê-los a abandonar sua herança em troca de uma união global?
A resposta foi fornecida por outra prestigiosa e famosa fundação isenta de impostos, a Carnegie Endowment Fund for International Peace. Quando Dodd visitou essa organização e começou a fazer perguntas sobre suas atividades, o presidente disse: "Sr. Dodd, o senhor tem muitas perguntas. Seria muito tedioso e demorado para nós respondermos a todas elas, de modo que tenho uma contraproposta a lhe fazer. Por que o Sr. não envia um membro de sua equipe para nossas instalações, e abriremos nossas atas desde a primeira reunião do Fundo Carnegie, e essa pessoa poderá então examiná-las e copiar tudo o que encontrar ali. Assim, vocês saberão tudo o que estamos fazendo.".
Novamente, Dodd ficou admirado. Ele observou que o presidente era novo no cargo e provavelmente nunca tinha lido as atas. Assim, ele aceitou a oferta e enviou um membro de sua equipe para as instalações do Carnegie Endowment. O nome dessa pessoa era Catherine Casey, que, a propósito, era hostil à atividade do Comitê do Congresso. Os adversários políticos do Comitê a tinham colocado na equipe para ser um cão de guarda e um estorvo na operação. A atitude dela era: "O que pode haver de errado com as fundações isentas de impostos? Elas fazem tantas coisas boas." Assim, essa era a visão da Srta. Casey quando foi à sala da diretoria da Fundação Carnegie. Ela levou seu gravador Dictaphone (naquele tempo eles usavam cintas magnéticas) e gravou, palavra por palavra, muitas das passagens fundamentais das atas dessa organização, iniciando com a primeira reunião. O que ela descobriu foi tão chocante, que Dodd diz que ela quase ficou fora de si. Ela se tornou incapaz de realizar seu trabalho após isso e teve de receber outra atribuição.
Isto é o que aquelas minutas revelaram: desde o início, os membros da junta de diretores discutiam como alterar a vida nos Estados Unidos; como modificar as atitudes da população para que abrissem mão de seus princípios tradicionais e os conceitos de governo e fossem mais receptivos aos que eles chamavam de modelo coletivista de sociedade. Falarei mais sobre o significado da palavra coletivista em um momento, mas aqueles que escreveram os documentos que estaremos citando usam essa palavra freqüentemente e têm uma clara compreensão do que ela significa. Nas reuniões da diretoria da Fundação Carnegie, eles discutiam essa questão de uma forma bem acadêmica. Após muitos meses de deliberação, eles chegaram à conclusão que, de todas as opções disponíveis para alterar as atitudes políticas e sociais havia somente uma que era historicamente confiável. Essa opção era a guerra. Somente em tempos de guerra, eles raciocinavam, as pessoas estariam dispostas a abrir mão das coisas que amavam em troca da desesperadora necessidade e desejo de segurança contra um inimigo mortal. E, assim, o Carnegie Endowment Fund for International Peace (Fundo Carnegie Para a Paz Internacional) declarava em suas minutas que precisava fazer todo o possível para colocar os EUA em guerra.
Eles também diziam que havia outras ações necessárias, e estas eram as palavras exatas: "Precisamos controlar a educação nos Estados Unidos." Eles perceberam que essa era uma tarefa muito grande, de modo que se uniram com a Fundação Rockefeller e com a Fundação Guggenheim para aplicarem em conjunto seus recursos financeiros para controlar a educação no EUA — em particular, para controlar o ensino da história. Eles atribuíram essas áreas de responsabilidade que envolviam questões relacionadas com assuntos domésticos à Fundação Rockefeller, as questões que se relacionavam com as questões internacionais foram assumidas como responsabilidades pelo Carnegie Endowment.
O primeiro objetivo deles era reescrever os livros de história, e discutiram em profundidade como fazer isso. Eles abordaram alguns dos historiadores mais proeminentes da época e apresentaram-lhes a proposta para eles reescreverem a história de modo a favorecer o conceito de coletivismo, mas foram prontamente rejeitados. Então eles decidiram — e, novamente, estas são suas próprias palavras, "Precisamos criar nossa própria safra de historiadores.".
Eles selecionaram vinte candidatos no nível universitário que estavam fazendo doutorado em História Americana. Eles então foram à Fundação Guggenheim e disseram: "Vocês dariam bolsas para os candidatos que selecionássemos, que têm a estrutura mental correta, aqueles que vejam o valor do coletivismo, como nós vemos? Vocês os ajudariam a obter seus doutorados para que possamos colocá-los em posições de proeminência e liderança no mundo acadêmico?" E a resposta foi "Sim".
Assim, eles juntaram uma lista de jovens que estavam buscando obter o doutorado. Eles os entrevistaram, analisaram suas atitudes, e escolheram os vinte que acharam que eram os mais adequados para seus propósitos. Eles os enviaram a Londres para receberem instruções. (Posteriormente, explicarei por que Londres é tão importante.) Nessa reunião, eles ouviram o que seria esperado deles depois de receberem os doutorados que estavam buscando. Eles foram instruídos que teriam de ver a história, escrever a história e ensinar a história da perspectiva que o coletivismo era uma força positiva no mundo e era a onda do futuro.
Agora, vamos para as próprias palavras do Sr. Dodd, como ele descreveu esse evento diante de nossas câmeras em 1982. Ele disse:
"Esse grupo de vinte historiadores eventualmente formou o núcleo da Associação Americana de História. Em seguida, por volta do fim dos anos 1920, o Carnegie Endowment concede à Associação Americana de História $ 400.000 (uma vastíssima soma naquele tempo) para um estudo da história de uma maneira que aponte para o que este país pode esperar no futuro. Isso culmina em um estudo de sete volumes, o último dos quais é um resumo do conteúdo dos outros seis. E a essência do último volume é: o futuro deste país pertence ao coletivismo, administrado com as características da eficiência americana." [1].
Agora, precisamos desligar por alguns instantes nossa máquina do tempo e tratar dessa palavra coletivismo. Você a ouvirá muitas vezes. Especialmente se mergulhar dos documentos históricos dos indivíduos e grupos que estamos discutindo, você os encontrará usando essa palavra repetidamente. Embora a maioria das pessoas tenha somente um vago conceito do que ela significa, os defensores do coletivismo têm uma compreensão muito clara dele, de modo que vamos lidar com isso agora.
O Abismo: Duas Éticas Que Dividem o Mundo Ocidental
Existem muitas palavras comumente usadas hoje em dia para descrever as atitudes políticas. Ouvimos dizer que existem conservadores, liberais, libertários, direitistas, esquerdistas, progressistas, socialistas, comunistas, trotskistas, maoístas, fascistas, nazistas e, como se isso tudo não fosse confuso o bastante, agora temos os neoconservadores, os neonazistas, e os neo-qualquer coisa mais. Quando nos perguntam qual é nossa orientação política, esperam que escolhamos a partir de uma dessas palavras. Se não tivermos uma opinião política ou se estivermos receosos de fazer uma má escolha, então, por segurança, dizemos que somos moderados — acrescentando mais uma palavra à lista. Porém, nem uma pessoa em cada mil pode definir claramente a ideologia que qualquer uma dessas palavras representa. Elas são usadas, primeiro, como rótulos para colocar uma aura de bondade ou de malignidade, dependendo de quem usa as palavras e quais emoções elas acionam em suas mentes.
Por exemplo, qual é a definição realista de conservador? Uma resposta comum seria que um conservador é uma pessoa que quer conservar o status quo e se opõe à mudança. Mas, a maioria das pessoas que chamam a si mesmas de conservadoras não está a favor de manter o atual sistema de tributação elevada, os gastos maiores do que as receitas, a expansão das políticas de bem-estar social, a leniência com relação aos criminosos, a ajuda externa, o crescimento do governo, e qualquer uma das outras marcas características da ordem atual. Esses são os bastiões muito bem guardados daquilo que chamamos de liberalismo. Os liberais de ontem são os conservadores de hoje, e as pessoas que chamam a si mesmas de conservadoras são realmente radicais, por que querem uma mudança radical do status quo. Não é maravilha que a maioria dos debates políticos soe como se tivesse sido originado na torre de Babel. Todos estão falando uma linguagem diferente. As palavras podem soar familiares, mas os oradores e os ouvintes têm cada um suas próprias definições particulares.
Na minha experiência já observei que, uma vez que as definições são comumente compreendidas, a maioria das discórdias chega ao fim. Para a admiração daqueles que pensam que eram oponentes ideológicos amargos, eles frequentemente descobrem que, na verdade, estão em concordância básica. Assim, para tratar com essa palavra, coletivismo, nossa primeira ordem do dia é lançar fora o lixo. Para compreendermos as agendas políticas que dominam nosso mundo atualmente, não podemos permitir que nosso pensamento seja contaminado pela carga emocional do antigo vocabulário.
Pode surpreender você saber que a maioria dos grandes debates do nosso tempo — pelo menos no mundo ocidental — pode ser dividida em apenas dois pontos de vista. Todo o resto é enchimento. Tipicamente, eles enfocam se uma determinada ação deve ser seguida; mas o conflito real não é sobre os méritos da ação; é sobre os princípios, o código ético que justifica ou proíbe essa ação. É uma competição entre a ética do coletivismo de um lado, e o individualismo do outro. Essas são palavras que têm significado, e descrevem um abismo filosófico que divide todo o mundo ocidental! [2].
A única coisa que é comum tanto aos coletivistas quanto aos individualistas é que a vasta maioria deles é bem intencionada. Eles querem a melhor vida possível para suas famílias, para seus compatriotas, e para a humanidade. Eles querem prosperidade e justiça para todos. Eles discordam na forma de produzir esses ideais.
Estudei a literatura coletivista por mais de quarenta anos e, após certo tempo, percebi que existiam certos temas recorrentes, que considero os seis pilares do coletivismo. Se eles forem virados de cabeça para baixo, são também os seis pilares do individualismo. Em outras palavras, existem seis conceitos principais dos relacionamentos políticos e sociais; e, dentro de cada um deles, os coletivistas e os individualistas têm pontos de vista opostos.
1. A Natureza dos Direitos Humanos
O primeiro desses tem que ver com a natureza dos direitos humanos. Os coletivistas e os individualistas concordam que os direitos humanos são importantes, mas diferem sobre o quão importantes e especialmente sobre o que é presumido como sendo a origem desses direitos. Existem somente duas possibilidades nesse debate. Ou os direitos do homem são intrínsecos ao seu ser, ou são extrínsecos, o que significa que ou ele os possui no nascimento ou eles lhe são dados depois. Em outras palavras, eles são hardware, ou software. Os individualistas acreditam que eles são hardware; os coletivistas acreditam que eles são software.
Se os direitos são dados ao indivíduo após o nascimento, então quem tem o poder de fazer isso? Os coletivistas acreditam que essa é uma função do governo. Os individualistas ficam nervosos com essa concepção, porque, se o Estado tem o poder de conceder direitos, também tem o poder de retirá-los, e esse conceito é incompatível com a liberdade individual.
A visão do individualismo foi expressa claramente na Declaração de Independência dos EUA, que diz:
"Consideramos essas verdades auto-evidentes, que todos os homens foram criados iguais, que receberam do Criador certos direitos inalienáveis, que entre esses direitos estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que para assegurar esses direitos, os governos são instituídos entre os homens..."
Nada poderia ser mais claro do que isso. "Direitos inalienáveis" significa que eles são a posse natural de cada um de nós ao nascer e não são concedidos pelo Estado. O propósito do governo não é conceder direitos, mas garanti-los e protegê-los.
Em contraste, todos os sistemas políticos coletivistas adotam a visão oposta que os direitos são concedidos pelo Estado. Isso inclui os nazistas, fascistas, e comunistas. É também um dogma das Nações Unidas. O artigo Quarto da Convenção da ONU Sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais diz:
"Os Estados participantes da presente Convenção reconhecem que, no gozo desses direitos oferecidos pelo Estado... o Estado poderá sujeitar esses direitos somente às limitações conforme forem determinadas por lei."
Repito: se aceitarmos que o Estado tem o poder de outorgar direitos, então precisamos também concordar que ele tem o poder de retirar esses direitos. Observe o fraseado da Convenção da ONU. Após proclamar que os direitos são oferecidos pelo Estado, ela então diz que esses direitos podem estar sujeitos a limitações "conforme forem determinadas pela lei". Em outras palavras, os coletivistas na ONU se atrevem a nos conceder nossos direitos e, quando estiverem prontos para retirá-los, tudo o têm a fazer é aprovar uma lei autorizando a supressão desses direitos.
Compare isso com a Carta de Direitos na Constituição dos Estados Unidos. Ela diz que o Congresso não passará leis que restrinjam os direitos da liberdade de expressão, de religião, de assembléia pacífica, o direito de portar armas, e assim por diante — sem exceções "conforme determinadas por lei". A Constituição incorpora a ética do individualismo. A ONU incorpora a ética do coletivismo, e que diferença isso faz!
2. A Origem do Poder do Estado
O segundo conceito que separa o coletivismo do individualismo tem que ver com a origem do poder do estado. Os individualistas acreditam que um governo justo deriva seu poder, não da conquista e subjugação de seus cidadãos, mas do livre consentimento dos governados. Isso significa que o estado não pode ter poderes legítimos a não ser que eles sejam dados a ele por seus cidadãos. Dito de outra forma, os governos somente podem fazer coisas que seus cidadãos também têm o direito de fazer. Se os indivíduos não têm o direito de realizar um determinado ato, então não podem conceder esse direito aos seus representantes eleitos. Eles não podem delegar aquilo que não têm.
Vamos usar um exemplo extremo. Vamos assumir que um navio afundou em uma tempestade e três homens exaustos estão lutando para sobreviver no mar. Subitamente, eles alcançam um bote salva-vidas. O bote foi projetado para manter uma única pessoa flutuando; mas com cuidadosa cooperação entre elas, consegue manter duas pessoas flutuando. Entretanto, se uma terceira pessoa se agarrar ao bote salva-vidas, ele se torna inútil, e todas as três ficarão novamente à mercê do mar. Os homens tentam se alternar: um bóia na água enquanto os outros dois se agarram ao bote salva-vidas; mas após algumas horas, nenhum deles tem mais forças para continuar. A triste verdade gradualmente se torna clara: a não ser que um deles seja separado do grupo, todos os três morrerão afogados. O que devem, então, esses três homens fazer?
A maioria das pessoas hoje diria que dois homens estariam justificados em forçar o terceiro a se afastar. O direito da auto-sobrevivência é de fundamental importância. Tirar a vida de outra pessoa, embora seja um ato terrível, é moralmente justificável se for necessário para salvar a própria vida. Essa certeza é verdadeira para a ação individual, mas e a ação coletiva? Onde dois homens recebem o direito de se unir e atacar o terceiro homem?
O coletivista responde que os dois homens têm um direito maior à vida porque são numericamente superiores ao terceiro homem, que está só. É uma questão de matemática: o maior bem para o maior número de pessoas. Isso torna o grupo mais importante que o indivíduo e justifica que dois homens forcem o terceiro a se afastar do bote salva-vidas. Há certa lógica nesse argumento, mas, se simplificarmos ainda mais o exemplo, veremos que, embora a ação seja correta, ela é justificada pelo raciocínio errado.
Vamos assumir agora que existam somente dois sobreviventes — de modo que eliminamos o conceito de grupo — e vamos também assumir que o bote suporte somente uma pessoa, não duas. Sob essas condições, seria similar a enfrentar um inimigo em uma batalha. Você precisa matar ou morrer. Somente um poderá sobreviver. Estamos lidando agora com o direito de competição pela auto-sobrevivência para cada indivíduo, e não há um grupo mitológico para confundir a questão. Sob essa condição extrema, é claro que cada pessoa teria o direito de fazer qualquer coisa que possa para preservar sua própria vida, mesmo se isso levar à morte de outra pessoa. Alguns podem argumentar que seria melhor sacrificar a própria vida em favor de um estranho, mas poucos argumentariam que não fazer isso seria errado. Assim, quando as condições são simplificadas para sua essência mais crua, vemos que o direito de negar vida aos outros vem do direito do indivíduo de proteger sua própria vida. Ele não precisa do assim-chamado grupo para ordená-lo.
No caso original dos três sobreviventes, a justificativa para negar a vida a um deles não vem do voto da maioria, mas de seus direitos individuais e separados de garantir sua própria sobrevivência. Em outras palavras, qualquer um deles, agindo sozinho, estaria justificado nessa ação. Eles não são capacitados pelo grupo. Quando contratamos a polícia para proteger nossa comunidade, estamos simplesmente pedindo-lhe para fazer aquilo que nós mesmos temos o direito de fazer. Usar a força física para proteger nossas vidas, nossa liberdade e nossa propriedade é uma função legítima do governo, porque esse poder é derivado do povo como indivíduos. Ele não surge a partir do grupo. [3].
Aqui está mais um exemplo — menos extremo, mas muito mais típico do que realmente acontece todos os dias nos corpos legislativos. Se altos funcionários do governo decidem um dia que ninguém deve trabalhar aos domingos, e até assumindo que a comunidade geralmente suporte a decisão deles, onde eles teriam a autoridade de usar o poder de polícia do Estado para impor esse decreto? Os cidadãos individuais não têm o direito de compelir seus vizinhos a não trabalhar, de modo que não podem delegar esse direito aos seus governos. Onde, então, teria o Estado obtido a autoridade? A resposta é que ela viria de si mesmo; seria autogerada. Seria similar ao direito divino das antigas monarquias, em que assumia-se que os governos representavam o poder e a vontade de Deus — conforme interpretado pelos líderes terreais, é claro. Em tempos mais modernos, a maioria dos governos não pretende ter Deus como sua autoridade, eles apenas confiam nas tropas de elite e nos exércitos, e qualquer um que crie objeções é eliminado. Como disse aquele bem-conhecido coletivista, Mao Tse-Tung, "O poder político cresce a partir do cano de um pistola.".
Quando os governos afirmam derivar sua autoridade de qualquer força que não os governados, isso sempre leva à destruição da liberdade. Impedir que as pessoas trabalhassem aos domingos não seria visto como uma grande ameaça à liberdade, mas uma vez que o princípio é estabelecido, ele abre a porta para mais éditos, e mais, e mais, até que a liberdade se acabe. Se aceitarmos que o Estado ou qualquer grupo tenha o direito de fazer coisas que os indivíduos sozinhos não têm o direito de fazer, então, talvez de forma não intencional, estejamos apoiamos o conceito que os direitos não são intrínsecos ao indivíduo e que eles, na verdade, originam-se com o Estado. Uma vez que aceitássemos isso, estaríamos na estrada para a tirania.
Os coletivistas não estão preocupados com essas questiúnculas. Eles acreditam que os governos têm realmente poderes que são maiores do que o dos cidadãos, e a fonte desses poderes, eles dizem, está, não nos indivíduos dentro da sociedade, mas na própria sociedade, o grupo ao qual os indivíduos pertencem.
3. Supremacia do Grupo
Este é o terceiro conceito que divide o coletivismo do individualismo. O coletivismo está baseado na crença que o grupo é mais importante que o indivíduo. De acordo com essa visão, o grupo é uma entidade e tem seus próprios direitos. Além disso, esses direitos são mais importantes que os direitos individuais. Portanto, é aceitável sacrificar os indivíduos, se necessário para o "bem maior do número maior". Quantas vezes temos ouvido isso? Quem pode fazer objeções à perda da liberdade se ela for justificada como necessária para o bem maior da sociedade? O grupo final, é claro, é o Estado. Portanto, o Estado é mais importante que os cidadãos individuais, e é aceitável sacrificar os indivíduos, se necessário, para o benefício do Estado. Esse conceito está na essência de todos os sistemas totalitários modernos criados com base no modelo coletivista.
Por outro lado, os individualistas dizem, "Espere um minuto. Grupo? O que é um grupo? Isso é apenas uma palavra. Você não pode tocar um grupo. Você não pode ver um grupo. Tudo o que você pode ver e tocar são os indivíduos. A palavra grupo é uma abstração e não existe como uma realidade tangível. É como a abstração chamada floresta. Não existem florestas; o que existem são árvores. Floresta é um conceito de muitas árvores. Da mesma forma, a palavra grupo meramente descreve o conceito abstrato de muitos indivíduos. Somente os indivíduos são reais e, portanto, não existe essa coisa de direitos do grupo. Somente os indivíduos é que têm direitos.
O simples fato de existirem muitos indivíduos em um grupo e somente alguns em outro não dá maior prioridade aos indivíduos no grupo maior — mesmo se você chamá-lo de Estado. Uma maioria de eleitores não tem mais direitos que a minoria. Os direitos não são derivados do poder dos números. Eles não vêm do grupo. Eles são intrínsecos com cada ser humano.
Quando alguém argumenta que os indivíduos precisam ser sacrificados para o bem maior da sociedade, o que está realmente dizendo é que alguns indivíduos devem ser sacrificados para o bem maior de outros indivíduos. A moralidade do coletivismo está baseada nos números. Qualquer coisa pode ser feita desde que o número de pessoas que supostamente se beneficiará seja maior que o número de pessoas que serão sacrificadas. Digo supostamente porque no mundo real, aqueles que decidem quem será sacrificado não contam de forma justa. Os ditadores sempre afirmam que representam o bem maior do maior número, mas, na realidade, eles e suas supostas organizações constituem menos de 1% da população. A teoria é que alguém tem de falar pelas massas e representar seus melhores interesses, porque as pessoas são estúpidas demais para descobrir por si mesmas. Portanto, os líderes coletivistas, sábios e virtuosos como são, tomam as decisões para elas. É possível explicar qualquer atrocidade ou injustiça como uma medida necessária para o bem maior da sociedade. Os totalitários sempre se apresentam como humanitários.
Como os individualistas não aceitam a supremacia do grupo, os coletivistas freqüentemente os retratam como egoístas e insensíveis às necessidades dos outros. Esse tema é comum nas escolas hoje. Se uma criança não está disposta a seguir com o grupo, ela é criticada por ser socialmente indisciplinada e por não ser um bom "jogador de equipe" ou um bom cidadão. Aquelas elegantes pessoas nas fundações isentas de impostos têm muito a ver com isso. Mas o individualismo não está baseado apenas no ego. Está baseado em um princípio. Se você aceitar a premissa que os indivíduos podem ser sacrificados pelo grupo, cometeu um grave erro em duas frentes. Primeiro, os indivíduos são a essência do grupo, o que significa que o grupo está sendo sacrificado de qualquer forma, parte por parte. Segundo, o princípio subjacente é mortal. Hoje, o indivíduo que está sendo sacrificado pode ser desconhecido para você, ou ser até mesmo alguém de quem você não gosta. Amanhã, pode ser você. Leva apenas um momento de reflexão para perceber que o bem maior para o número maior não é alcançado sacrificando-se os indivíduos, mas protegendo-se os indivíduos. A sociedade é melhor servida pelo individualismo, não pelo coletivismo.
Repúblicas x Democracias
Estamos lidando aqui com uma das razões por que as pessoas fazem distinção entre repúblicas e democracias. Em anos recentes, fomos ensinados que uma democracia é a forma ideal de governo. Supostamente, isso é o que foi criado pela Constituição Americana. Mas, se você ler os documentos e as transcrições dos discursos dos homens que escreveram a Constituição, descobrirá que eles falaram muito mal da democracia. Eles disseram em palavras bem simples que uma democracia era uma das piores formas possíveis de governo. Portanto, eles criaram o que chamaram de república. É por isso que a palavra democracia não aparece em parte alguma da Constituição; e, quando os americanos fazem o juramento à bandeira, é para a república que ela representa, não a democracia. Quando o coronel Davy Crockett aderiu à Revolução do Texas antes da famosa Batalha do Álamo, recusou-se a assinar o juramento de fidelidade ao futuro governo do Texas até que a palavra fosse modificada para o futuro governo republicano do Texas. [4] A razão que é importante é que a diferença entre uma democracia e uma república é a diferença entre coletivismo e individualismo.
Em uma pura democracia, a maioria governa; fim da discussão. Você pode dizer, "O que há de errado nisso?" Bem, pode haver muita coisa errada com isso. Imagine uma multidão que decida linchar alguém. Há somente uma pessoa com voto contrário, e essa é a pessoa que será linchada. Isso é pura democracia em ação.
"Ah, espere um minuto", você diz. "A maioria deve governar. Sim, mas não ao ponto de negar os direitos da minoria", e, é claro, você estaria correto. Isso é exatamente o que uma república faz. Uma república é um governo baseado no princípio do governo limitado da maioria para que a minoria — até mesmo a minoria de uma única pessoa — seja protegida dos desejos e paixões da maioria. As repúblicas são freqüentemente caracterizadas por constituições escritas que definem as regras para tornar isso possível. Essa foi a função da Carta dos Direitos, que não é nada mais que uma lista de coisas que o governo não pode fazer. Ela diz que o Congresso, embora represente a maioria, não aprovará leis que neguem à minoria seus direitos do livre exercício da religião, da liberdade de expressão, da assembléia pacífica, o direito de portar armas, e outros direitos "inalienáveis."
Essas limitações no governo da maioria são a essência de uma república, e também estão no centro da ideologia chamada individualismo. Portanto, aqui está outra grande diferença entre esses dois conceitos: o coletivismo por um lado, suportando qualquer ação do governo desde que ela possa ser explicada como sendo para o bem maior do número maior de pessoas; e o individualismo, por outro lado, defendendo os direitos da minoria contra as paixões e a cobiça da maioria.
4. Coerção Versus Liberdade
O quarto conceito que divide o coletivismo do individualismo tem que ver com as responsabilidades e a liberdade de escolha. Falamos sobre a origem dos direitos, mas há uma questão similar que envolve a origem das responsabilidades. Direitos e responsabilidades caminham juntos. Se você valoriza o direito de viver sua vida sem que os outros lhe digam o que fazer, então precisa assumir a responsabilidade de ser independente, de prover para si mesmo sem esperar que os outros cuidem de você. Direitos e responsabilidades são meramente lados diferentes da mesma moeda.
Se somente os indivíduos têm direitos, então segue-se que somente os indivíduos têm responsabilidades. Se grupos têm direitos, então os grupos também precisam ter responsabilidades; e aí está um dos maiores desafios ideológicos dos tempos modernos.
Os individualistas são campeões dos direitos individuais. Portanto, aceitam o princípio da responsabilidade individual em vez de a responsabilidade do grupo. Eles acreditam que todos têm uma obrigação pessoal e direta para prover, primeiro por si mesmo e por sua família, e depois pelos outros que possam estar em necessidade. Isso não significa que eles não acreditam em ajudar uns aos outros. Simplesmente porque sou um individualista não significa que tenho de mover meu piano sozinho. Significa que acredito que mover o piano é minha responsabilidade, não a de outra pessoa, e preciso organizar a ajuda voluntária de outras pessoas.
O coletivista, por outro lado, declara que os indivíduos não são pessoalmente responsáveis pela caridade, por educar seus próprios filhos, de prover por seus pais na velhice, ou até de proverem para si mesmos. Essas são obrigações de grupo do Estado. Os individualistas esperam fazer tudo isso eles mesmos; o coletivista quer que o governo faça para ele; forneça emprego e cuidados com a saúde, um salário mínimo, alimentação, educação e um lugar decente para morar. Os coletivistas estão enamorados pelo governo. Eles adoram o governo; têm uma fixação pelo governo como o melhor mecanismo de grupo para solucionar todos os problemas.
Os individualistas não compartilham dessa crença. Eles vêem o governo como criador de mais problemas do que de soluções. Eles acreditam que a liberdade de escolha levará à melhor solução dos problemas sociais e econômicos. Milhões de idéias e esforços, cada um sujeito à tentativa e erro e competição — em que a melhor solução se torna óbvia comparando seus resultados com todas as outras — esse processo produzirá resultados que são muito superiores aos que podem ser alcançados por um grupo de políticos ou por um comitê de assim-chamados homens sábios e notáveis.
Em contraste, os coletivistas não confiam na liberdade. Eles têm medo da liberdade. Eles estão convencidos que a liberdade pode ser boa nas questões pequenas como a cor das meias você quer usar, mas com questões importantes como a quantidade de dinheiro em circulação, atividades dos bancos, investimentos, programas de seguro, assistência médica, educação, e assim por diante, a liberdade não funciona. Essas coisas, eles dizem, precisam ser controladas pelo governo, caso contrário haverá o caos.
Existem duas razões para a popularidade desse conceito. Uma é que a maioria de nós estudou em escolas públicas e é isso que nos foi ensinado. A outra razão é que o governo é o único grupo que pode legalmente forçar todos a participarem. Ele tem o poder de tributar, apoiado pela cadeia e a força das armas para compelir todos a entrarem na linha, e esse é um conceito que tem um apelo muito forte para os intelectuais que se vêem como engenheiros sociais.
Os coletivistas dizem: "Precisamos forçar as pessoas a fazerem o que achamos que elas devam fazer, porque elas são burras demais para pensarem por sua própria conta. Nós, por outro lado, estivemos na escola e lemos os livros. Somos informados; somos mais espertos do que essas pessoas ai. Se deixarmos isso com elas, cometerão erros terríveis. Assim, é nosso dever, nós, os esclarecidos. Decidiremos em nome da sociedade e imporemos nossas decisões pela lei para que ninguém tenha escolha. Que devamos governar dessa forma é nossa obrigação para a humanidade.".
Em contraste, os individualistas dizem: "Também achamos que estamos certos e que as massas raramente fazem o que achamos que elas deveriam fazer, mas não acreditamos em forçar as pessoas a seguirem a nossa vontade por que, se concedermos esse princípio, então outros, representando grupos maiores que nós mesmos, poderiam nos obrigar a agir como eles decretassem, e isso seria o fim da nossa liberdade.".
A afinidade entre o egotismo e a coerção intelectual foi dramaticamente demonstrada pelo professor de Direito canadense, Alan Young, que escreveu um editorial na edição de 28 de março de 2004 do Toronto Star. O tópico dele era "os crimes de ódio" e sua solução foi um exemplo clássico da mentalidade coletivista. Ele escreveu:
"A característica de definição do criminoso de ódio é a estupidez. É um crime que nasce a partir da deficiência intelectual... A justiça criminal na verdade pode fazer muito pouco para combater a estupidez... O criminoso de ódio precisa de uma rigorosa desprogramação..."
"Exatamente como alguns tipos de câncer requerem cirurgia invasiva, o crime de ódio precisa de medidas intrusivas... A abordagem usual para a punição moderna simplesmente não funciona nesse caso. Para os crimes de suprema estupidez precisamos da justiça mostrada no filme Laranja Mecânica — amarrar o criminoso de ódio em uma cadeira por um bom tempo e manter seus olhos arregalados com pinças metálicas, para obrigá-lo a assistir a uma torrente de imagens cinemáticas criadas especialmente para romper sua adesão neurótica de deficiência intelectual auto-induzida."
"No contexto dos crimes de ódio, tenho a lamentar que exista uma proibição constitucional à punição cruel e fora do comum." [5].
Um dos modos mais rápidos de identificar um coletivista é ver como ele reage diante dos problemas públicos. Independente do que o incomode em sua rotina do dia-a-dia — seja jogar lixo nas ruas, fumar em locais públicos, vestir-se de forma indecente, preconceito, enviar mensagens não-solicitadas de correio eletrônico — seja o que for, sua resposta imediata é "Vamos criar uma lei!" E, é lógico, os profissionais no governo que ganham a vida fazendo coerções estão mais do que satisfeitos em cooperar. A conseqüência é que o governo cresce cada vez mais. É uma rua de mão única. Cada ano existem mais e mais leis e menos e menos liberdade. Cada lei por si só parece relativamente benigna, justificada por alguma conveniência ou para o bem maior do número maior de pessoas, mas o processo continua perpetuamente até que o governo seja total e a liberdade esteja morta. Pouco a pouco, o próprio povo defende sua própria escravização.
A Síndrome de Robin Hood
Um bom exemplo dessa mentalidade coletivista é o uso do governo para realizar atos de caridade. A maioria das pessoas acredita que todos temos uma responsabilidade em ajudar aqueles que estão passando por necessidade, se pudermos. Mas e aqueles que discordam, aqueles que não se preocupam nem um pouco com as necessidades dos outros? Eles deveriam ter a permissão de serem egoístas enquanto somos tão generosos? O coletivista vê as pessoas como essas como uma justificativa para o uso da coerção, pois a causa é tão nobre. Ele vê a si mesmo como um moderno Robin Hood, que rouba dos ricos para dar aos pobres. Logicamente, nem tudo chega aos pobres. Afinal, Robin e seus homens têm de comer, beber e se divertir em festas, e isso custa dinheiro. É necessária uma gigantesca burocracia para administrar uma obra de caridade pública, e os Robin Hoods nos governos se acostumaram a receber uma enorme parcela do saque, enquanto os camponeses — bem, eles estarão contentes com qualquer coisa que receberem. Eles não se preocupam com o quanto foi consumido no caminho até chegar a eles. Afinal, tudo foi roubado de outra pessoa mesmo.
A assim-chamada caridade do coletivismo é uma perversão da história bíblica do Bom Samaritano, que parou na estrada para ajudar um estranho que tinha sido assaltado e surrado. O samaritano levou a vítima até uma estalagem e pagou pela sua estadia ali até que ela se recuperasse. Todos aprovam esses atos de compaixão e caridade, mas o que você pensaria se o samaritano tivesse apontado sua espada para o próximo viajante e ameaçasse matá-lo se ele também não ajudasse? Se isso tivesse acontecido, duvido que a história tivesse entrado na Bíblia; porque, nesse ponto, o samaritano não seria muito diferente dos salteadores originais — que também poderiam ter um motivo virtuoso. Afinal, eles podiam alegar que tinham famílias e filhos para sustentar. A maioria dos crimes tem esse tipo de lógica, mas são crimes mesmo assim. Quando a coerção entra, a caridade sai. [6].
Os individualistas recusam-se a brincar com esse jogo. Esperamos que todos sejam misericordiosos e pratiquem a caridade, mas também acreditamos que uma pessoa deva ter a liberdade de não praticar a caridade, se não quiser. Se ela preferir dar uma porção menor que aquilo que pensamos que deva dar, ou se preferir não dar absolutamente nada, acreditamos que não temos o direito de forçá-la a fazer nossa vontade. Podemos tentar persuadi-la a fazer isso; podemos apelar para a sua consciência; e, especialmente, podemos mostrar o caminho por meio de nosso bom exemplo, mas rejeitamos qualquer tentativa de atacá-la, seja imobilizando fisicamente enquanto removemos o dinheiro de seus bolsos, ou usando as urnas para aprovar leis que tirem seu dinheiro por meio da tributação. Em ambos os casos, o princípio é o mesmo. Chama-se roubo.
Os coletivistas querem que você pense que o individualismo é simplesmente outra palavra para egoísmo, porque os individualistas se opõem às políticas do bem-estar social e outras formas de redistribuição coercitiva da riqueza, mas o oposto é que é verdade. Os individualistas defendem a verdadeira caridade, que é a entrega voluntária do seu próprio dinheiro, enquanto os coletivistas advogam a coerção para dar o dinheiro dos outros; o que, é claro, é a razão por que ele é tão popular.
Mais um exemplo: o coletivista diz: "Acho que todos deveriam usar cintos de segurança. Isso faz sentido. As pessoas podem se ferir se não usarem o cinto. Portanto, vamos aprovar uma lei que obrigue todos a usarem o cinto. Se elas não usarem, vamos multá-las, ou colocá-las na prisão." O individualista diz, "Acho que todos deveriam usar o cinto de segurança. As pessoas podem se ferir em acidentes se não estiverem usando o cinto, mas não acredito em forçar as pessoas a usarem. Acredito em convencê-las com a lógica, a persuasão e os bons exemplos, se pudermos, mas também acredito na liberdade de escolha.".
Um dos slogans mais comuns do marxismo é: "De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com sua necessidade." Essa é a pedra angular do socialismo teórico, e é um conceito que tem um apelo muito forte. Uma pessoa que ouça esse slogan pela primeira vez poderia dizer: "O que há de errado com isso? Essa não é a essência da caridade e da compaixão por aqueles que estão enfrentando necessidades? O que pode estar errado com dar de acordo com sua capacidade aos outros e de acordo com as necessidades deles? " E a resposta é, nada está errado com isso — à primeira vista, mas esse é um conceito incompleto. A questão não respondida é como isso será realizado? Será em liberdade ou por meio da coerção? Mencionei anteriormente que os coletivistas e os individualistas normalmente concordam com os objetivos, mas discordam com relação aos meios e esse é um exemplo clássico. O coletivista diz: tome pela força da lei O individualista diz: dê por meio do livre arbítrio. O coletivista diz: não muitas pessoas responderão, a não ser que sejam forçadas. O individualista diz: um número suficiente de pessoas responderá para permitir que a tarefa seja realizada. Além disso, a preservação da liberdade também é importante. O coletivista defende o saque legalizado em nome de uma causa nobre, acreditando que o fim justifica os meios. O individualista advoga o livre arbítrio e a verdadeira caridade, acreditando que um objetivo nobre não justifica a perpetração do roubo e a entrega da liberdade.
Existe uma história de um revolucionário bolchevista que estava falando de cima de um caixote para uma pequena multidão em Times Square, em Nova York. Após descrever as maravilhas do socialismo e do comunismo, ele disse: "— A revolução virá, e todos comerão pêssegos em calda com creme de leite." Um velhinho que estava na parte de trás da multidão gritou: "— Eu não gosto de pêssegos em calda com creme de leite." O bolchevista refletiu por alguns instantes e então respondeu: "— A revolução virá, camarada, e você aprenderá a gostar de pêssegos em calda com creme de leite.".
Esta é, então, a quarta diferença entre o coletivismo e o individualismo, e é talvez a mais fundamental de todas: os coletivistas acreditam na coerção; os individualistas acreditam na liberdade.
5. Igualdade x Desigualdade Debaixo da Lei
O quinto conceito que divide o coletivismo do individualismo tem que ver com o modo como as pessoas são tratadas sob a lei. Os individualistas acreditam que não existem duas pessoas iguais, e cada uma é superior ou inferior às outras de muitos modos, mas, debaixo da lei, todas devem ser tratadas da mesma forma. Os coletivistas acreditam que a lei deve tratar as pessoas de forma desigual de modo a produzir as mudanças desejadas na sociedade. Eles vêem o mundo como tragicamente imperfeito. Eles vêem a pobreza, o sofrimento, a injustiça e concluem que algo precisa ser feito para alterar as forças que produziram esses efeitos. Eles pensam em si mesmos como engenheiros sociais que têm a sabedoria para reestruturar a sociedade em uma ordem mais humana e mais lógica. Para fazer isso, eles precisam intervir na vida das pessoas em todos os níveis e redirecionar suas atividades de acordo com um plano-mestre. Isso significa que eles precisam redistribuir a riqueza e usar o poder de polícia do Estado para impor o comportamento prescrito.
A conseqüência dessa mentalidade pode ser vista em toda a parte na sociedade atualmente. Quase todo país no mundo tem um sistema tributário que trata as pessoas de forma desigual, dependendo do nível de renda, do estado civil, do número de dependentes, da idade, e do tipo de investimentos que elas possam ter. O propósito desse arranjo é redistribuir a riqueza, o que significa favorecer algumas classes em detrimento de outras. Em alguns casos, existem brechas bizarras na legislação tributária apenas para favorecer uma grande empresa ou um grupo politicamente influente. Outras leis oferecem isenção de impostos e subsídios para favorecer certos grupos ou empresas. A desigualdade é todo o propósito dessas leis.
No terreno das relações sociais, existem leis para estabelecer cotas raciais, quotas para os sexos, iniciativas de ação afirmativa, e para proibir as expressões de opinião que possam ser questionáveis a algum grupo ou para os planejadores-mestres. Em todas essas medidas, há uma aplicação desigual da lei com base em que grupo ou classe você esteja ou que opinião tenha. Eles dizem que isso é necessário para realizar uma mudança desejada na sociedade. Entretanto, após mais de cem anos de engenharia social, não há um lugar no mundo em que os coletivistas possam apontar o dedo com orgulho e mostrar onde o plano-mestre deles funcionou realmente como eles previam. Existem muitos livros sobre a utopia coletivista, mas eles nunca foram materializados no mundo real. Em toda a parte que o coletivismo foi aplicado, os resultados foram maior pobreza do que antes, mais sofrimento do que antes, e certamente mais injustiça do que antes.
Existe um caminho melhor. O individualismo está baseado na premissa que todos os cidadãos devem ser iguais debaixo da lei, independente de sua origem nacional, raça, religião, gênero, educação, status econômico, estilo de vida, ou opinião política. Nenhuma classe deve receber tratamento preferencial, independente do mérito ou da popularidade de sua causa. Favorecer uma classe em detrimento de outra não é igualdade debaixo da lei.
6. O Papel Apropriado Para o Governo
Quando todos esses fatores são considerados em conjunto, chegamos à sexta divisão ideológica entre o coletivismo e o individualismo. Os coletivistas acreditam que o papel correto do governo deva ser positivo, que o Estado deve tomar a iniciativa em todos os aspectos da vida das pessoas, que deve ser agressivo, liderar e prover. Ele deve ser o grande organizador da sociedade.
Os individualistas acreditam que a função apropriada do governo é negativa e defensiva. Ele deve proteger, não prover; pois se ao Estado for dado o poder de prover para alguns, ele também precisará de poder para tirar de outros, e uma vez que esse poder for concedido, existem aqueles que o buscarão para seu próprio ganho. Isso sempre leva a mais saque legalizado e à perda da liberdade. Se o governo for poderoso o suficiente para nos dar tudo o que queremos, também será poderoso o suficiente para tomar de nós tudo o que temos. Portanto, a função correta do governo é proteger as vidas, a liberdade, e a propriedade de seus cidadãos, nada mais. [7].
O Espectro Político
Hoje, ouvimos muito a respeito de direita versus esquerda, mas o que esses termos realmente significam? Por exemplo, ouvimos dizer que os comunistas e os socialistas estão na extrema esquerda, e que os nazistas e os fascistas estão na extrema direita. Aqui temos a imagem de dois poderosos adversários ideológicos em oposição um ao outro, e a impressão é que, de alguma forma, eles são opostos. Mas, qual é a diferença? Eles não são opostos, absolutamente. Eles são os mesmos. As insígnias podem ser diferentes, mas quando você analisa o comunismo e o nazismo, ambos incorporam os princípios do socialismo. Os comunistas não escondem o fato de o socialismo ser o seu ideal, e o movimento nazista na Alemanha era realmente chamado de Partido Nacional Socialista. Os comunistas acreditam no socialismo internacional, enquanto que os nazistas defendiam o socialismo nacional. Os comunistas promovem o ódio entre as classes e o conflito de classes para motivar a lealdade e a obediência cega de seus seguidores, enquanto que os nazistas usaram o conflito racial e o ódio entre as raças para alcançar os mesmos objetivos. Tirando isto, não há diferença entre comunismo e nazismo. Ambos são a epítome do coletivismo; apesar disso ouvimos dizer que eles estão, supostamente, nos lados opostos do espectro das opções políticas!
Há somente uma coisa que faz sentido na construção de um espectro político e isso é colocar zero de governo em um extremo da linha e 100% de governo na outra extremidade. Agora temos algo que podemos compreender. Aqueles que acreditam em zero de governo são os anarquistas, e aqueles que acreditam em um governo total são os totalitários. Com essa definição, descobrimos que o comunismo e o nazismo estão juntos na mesma ponta. Ambos são totalitários. Por quê? Porque ambos estão baseados no modelo do coletivismo. O comunismo, o nazismo, o fascismo, e o socialismo gravitam todos em torno de um governo maior e maior, pois essa é a extensão lógica de sua ideologia comum. No coletivismo, todos os problemas são de responsabilidade do Estado e precisam ser solucionados pelo Estado. Quanto mais problemas existirem, mas poderoso se tornará o Estado. Uma vez que você entra nessa ladeira escorregadia, não há lugar para parar até que desça até o fim da escala, que é o governo total. Independente do nome que você dê a isso, independente de como o rotule para fazê-lo parecer novo ou diferente, coletivismo é totalitarismo.
Na verdade, o conceito da linha reta de um espectro político é um pouco enganoso. Na verdade, é um círculo. Você pode seguir essa linha reta com 100% de governo em uma ponta e zero na outra, dobrá-la, e tocar as pontas no alto. Agora é um círculo, pois, na anarquia, onde não há governo algum, você tem o governo absoluto por aqueles que têm os punhos mais fortes e as armas mais poderosas. Assim, você salta de zero governo para o totalitarismo em um segundo. Eles se encontram no alto. Estamos realmente lidando com um círculo e o único local lógico para estarmos é em algum ponto no meio dos extremos. Precisamos do governo, é claro, mas ele precisa ser construído com base no individualismo — uma ideologia com uma afinidade com aquela parte do espectro com a mínima quantidade de governo possível — em vez de no coletivismo — com uma afinidade com a outra extremidade do espectro com a maior quantidade de governo possível. O melhor governo é o menor governo.
Agora, estamos finalmente prontos para reativar nossa máquina do tempo. As últimas imagens ainda estão diante de nós. Ainda vemos os diretores das grandes fundações isentas de impostos aplicando seus vastos recursos financeiros para alterar as atitudes da população para que ela aceite a fusão deste país (os EUA) com os regimes totalitários; e ainda ouvimos suas palavras proclamando que "o futuro deste país pertence ao coletivismo, administrado com a característica eficiência americana." Não é impressionante o quanto está contido nessa pequena palavra, coletivismo?
Notas Finais
[1]. A transcrição completa do testemunho do Sr. Dodd pode ser baixada sem custo do sítio da Freedom Force International, em http://www.freedomforceinternational.org. O vídeo a partir do qual ela foi tirada intitula-e "The Hidden Agenda" e pode ser obtido no sítio da Reality Zone, em http://www.realityzone.com.
[2]. No Oriente Médio e em partes da África e da Ásia, existe uma terceira ética chamada teocracia, uma forma de governo que combina igreja e Estado e força os cidadãos a aceitarem uma determinada prática religiosa. Isso foi comum antigamente em toda a cristandade européia e existiu também em algumas colônias nos Estados Unidos. Ela sobrevive no mundo de hoje na forma do Islã e tem milhões de defensores. Qualquer visão abrangente da ideologia política precisa incluir a teocracia, mas o tempo não nos permite essa abrangência nesta apresentação. Para aqueles de vocês que estiverem mais interessados na visão mais ampla do autor, incluindo a teocracia, há um resumo intitulado Que Caminho Para a Humanidade? — anexado no fim deste estudo.
[3]. A questão relacionada de um direito de usar força mortal para proteger as vidas dos outros é revista na Parte 4, em conexão com a ordem da Casa Branca para abater aviões se eles representarem uma ameaça às populações no solo.
[4]. David Crockett: Parliamentarian, de William Reed, National Parliamentarian, vol. 64, Third Quarter, 2003, pág. 30.
[5]. "Hate Criminal Needs Deprogramming", Alan Young, Toronto Star, 28/3/2004, pág. F-7.
[6]. Sejamos claros nisto. Se nós ou nossas famílias estivessem passando fome, a maioria de nós roubaria, se esse fosse o único modo de obter comida. O furto seria motivado pelo nosso direito intrínseco de viver, mas não vamos chamá-lo de caridade virtuosa. Seria mera sobrevivência.
[7]. Há muito mais a ser dito do que é permitido pelas limitações de tempo desta apresentação. Uma questão importante é o fato que há uma terceira categoria de ação humana que não é nem apropriada nem imprópria, nem defensiva nem agressiva; que existem áreas de atividade que podem ser realizadas pelo Estado por conveniência — como a construção de estradas e a conservação dos parques recreativos — desde que eles sejam financiados, não com os impostos gerais, mas totalmente por aqueles que os utilizam. Caso contrário, alguns se beneficiarão à custa dos outros, e isso seria uma redistribuição coercitiva da riqueza, um poder que precisa ser negado ao Estado. Essas atividades seriam permitidas porque têm um impacto desprezível na liberdade. Estou convencido que elas seriam administradas com maior eficiência e ofereceriam um serviço público melhor se pertencessem e fossem operadas pela iniciativa privada, mas não há mérito em ser argumentativo nessa questão quando questões muito mais calorosas estão em risco. Após a liberdade estar assegurada, poderemos nos dar ao luxo de debater esses pontos mais refinados. Outro exemplo de uma atividade ótima é a alocação das freqüências de transmissão de rádio e televisão. Embora isso não proteja as vidas, a liberdade, ou a propriedade, é uma questão de conveniência para manter a ordem nas comunicações. Não há ameaça à liberdade pessoal, desde que a autoridade de conceder as licenças seja administrada de forma imparcial, e não em favor de uma classe de cidadãos ou de um ponto de vista em detrimento dos outros. Outro exemplo de uma atividade ótima do governo seria uma lei no Havaí para impedir a importação de serpentes. A maior parte da população do Havaí quer essa lei por conveniência. Estritamente falando, essa não é uma função apropriada para o governo, porque não protege as vidas, a liberdade ou a propriedade dos cidadãos, mas não é imprópria desde que seja administrada de tal maneira que todos arquem com o custo de forma equitativa, não somente por alguns, enquanto outros são excluídos. Pode-se argumentar que essa é uma função apropriada para o governo, pois as serpentes poderiam ameaçar os animais domésticos que são a propriedade de seus cidadãos, mas isso seria alargar demais o ponto. É exatamente esse tipo de alargamento da razão que os demagogos usam quando querem consolidar poder. Qualquer ação do governo poderia ser explicada como uma proteção indireta da vida, da liberdade ou da propriedade. A defesa definitiva contra o jogo de palavras desse tipo é permanecer firme no terreno que proíbe o financiamento de qualquer modo que cause uma transferência de riqueza de um grupo para outro. Isso remove logo de cara a vantagem política que motiva a maioria dos esquemas coletivistas. Sem a possibilidade de saque legalizado, a maioria dos jogos cerebrais cessaria. Finalmente, quando a questões se tornarem obscuras, e for realmente impossível ver claramente se uma ação é aceitável para o governo, há sempre uma regra de ouro em que se pode confiar para mostrar o caminho apropriado: o melhor governo é aquele que governa menos.
Qual Caminho Para a Humanidade?
QUATRO MODELOS PARA A ORDEM SOCIAL — © 2003 G. Edward Griffin
Fim da Parte 1
Introdução ao Credo da Liberdade
Não há nada mais comum na história do que um povo oprimido se levantar contra seus governantes e, com grande sacrifício de recursos e de sangue, derrubar o antigo regime somente para descobrir depois que o substituiu por outro regime tão ruim ou até pior. Isso acontece porque é fácil saber o que não gostamos em um sistema político, mas não é tão fácil concordar com o que seria melhor. Na maior parte da história, tem sido o hábito humano enfocar nas personalidades em vez de nos princípios. As pessoas pensam que o problema está como o homem que governa, não com o sistema que o sustenta. Assim, elas meramente substituem um déspota por outro, pensando que, de alguma forma, o novo será mais sábio e mais benevolente. Mesmo se o novo governante tiver boas intenções, ele pode ser corrompido pelas tentações do poder; e, nos raros casos em que não é, ele eventualmente é substituído por outro que não tem as mesmas auto-restrições. Enquanto o sistema permitir, é apenas uma questão de tempo até que um novo déspota ascenda ao poder. Para impedir que isso aconteça, é necessário enfocar o sistema, e não as personalidades. Para fazer isso, é tão importante conhecer o que defendemos como é saber contra o que lutamos.
Até mesmo hoje, como tanta conversa sobre lutar para defender as liberdades, quem pode se levantar e definir o que isso significa? Para alguns, a liberdade significa simplesmente não estar atrás das grades de uma prisão. Quem pode definir a essência da liberdade pessoal? Quem pode olhar para dentro dos seus olhos e dizer: "Nisto eu acredito, e acredito por esta razão, e por esta, e por esta também." O mundo está precisando de algo em que acreditar, uma declaração de princípios que não deixe espaço para mal-entendidos; um credo que todos de boa fé com relação aos outros seres humanos possam aceitar com clareza de mente e força da decisão. Há um velho ditado que diz que se você não se alinha com alguma coisa, então você se deixará seduzir por qualquer coisa. O Credo da Liberdade que você vai ler é o terreno sólido que nos permitirá permanecer firmes contra todas as panacéias políticas do nosso tempo, e também as do futuro.
O Credo da Liberdade expressa a ideologia central que une os membros da Freedom Force. Ele não é como a plataforma de um partido político, que tipicamente é uma declaração de posições em uma longa lista de questões específicas e que muda de ano para ano para acomodar os ventos mutáveis da opinião pública. Em vez disso, o credo é definido em termos de princípios amplos que não mudam com o tempo e que não estão de forma alguma focados em questões específicas. Se esses princípios forem seguidos, então a maioria das aflitivas questões políticas e sociais do nosso tempo podem ser rapidamente resolvidas em confiança que a ação resultante será consistente com a justiça e com a liberdade.
Embora eu seja o autor do Credo, não posso reivindicar os créditos. Qualquer pessoa familiarizada com os tratados clássicos sobre a liberdade reconhecerá que a maioria de seus conceitos foi tirada dos grandes pensadores e autores do passado. Meu papel foi simplesmente o de ler a literatura, identificar os conceitos, organizá-los em uma seqüência lógica, e condensá-los em uma única página.
O Credo da Liberdade
A Natureza Intrínseca dos Direitos
Acredito que somente os indivíduos têm direitos, não o grupo coletivo; que esses direitos são intrínsecos a cada indivíduo, não concedidos pelo Estado; porque, se o Estado tiver o poder de concedê-los, também terá o poder de negá-los, e isso é incompatível com a liberdade pessoal.
Acredito que um governo justo deriva seu poder unicamente dos governados. Portanto, o Estado não deve se atrever a fazer algo além daquilo que os cidadãos individuais também têm o direito de fazer. Caso contrário, o Estado é um poder em si mesmo e torna-se o mestre, em vez de um servo da sociedade.
Supremacia do Indivíduo
Acredito que uma das maiores ameaças à liberdade é permitir que qualquer grupo, independente de sua superioridade numérica, negue os direitos da minoria; e que uma das principais funções de um governo justo é proteger cada indivíduo da cobiça e das paixões da maioria.
Liberdade de Escolha
Acredito que objetivos sociais e econômicos desejáveis são melhor alcançados pela ação voluntária do que pela coerção da lei. Acredito que a tranqüilidade social e a irmandade sejam melhor alcançadas pela tolerância, persuasão, e o poder do bom exemplo do que pela coerção da lei. Acredito que aqueles que estão enfrentando necessidades são melhor servidos pela caridade, que é dar do seu próprio dinheiro, em vez de por meio de políticas de bem-estar social, que dão o dinheiro de outra pessoa por meio da coerção da lei.
Igualdade Debaixo da Lei
Acredito que todos os indivíduos devam ser iguais debaixo da lei, independente de sua origem nacional, grupo étnico, religião, gênero, educação, status econômico, estilo de vida ou opinião política. Da mesma forma, nenhuma classe deve receber tratamento preferencial, independente do mérito ou da popularidade de sua causa. Favorecer uma classe em detrimento de outra não é igualdade debaixo da lei.
Papel Apropriado Para o Governo
Acredito que o papel apropriado para o governo é negativo, não positivo; defensivo, não agressivo. O governo deve proteger, não prover; porque se o Estado receber o poder de prover para alguns, precisará também tirar de outros, e uma vez que esse poder seja concedido, existem aqueles que o buscarão para seu próprio proveito. Isso sempre leva ao saque legalizado e à perda da liberdade. Se o governo for poderoso o suficiente para nos dar tudo o que queremos, também será poderoso o suficiente para tirar de nós tudo o que temos. Portanto, a função correta do governo é proteger as vidas, a liberdade e a propriedade de seus cidadãos; nada mais. O melhor governo é o menor governo.
Os Três Mandamentos da Liberdade
O Credo da Liberdade está baseado em cinco princípios. Entretanto, na aplicação do dia-a-dia, eles podem ser reduzidos para apenas três códigos de conduta. Considero-os como os Três Mandamentos da Liberdade.
Direitos Individuais
Não sacrificarás os direitos de um indivíduo ou de uma minoria para o suposto direito do grupo.Igualdade Debaixo da Lei
Não apoiarás qualquer lei que não se aplique a todos os cidadãos igualmente.
Liberdade de Escolha
Não usarás de coerção para qualquer propósito, exceto para proteger a vida humana, a liberdade ou a propriedade.
Os Três Pilares da Liberdade
Outro modo de ver esses princípios é considerá-los como os três pilares da liberdade. Eles são os conceitos subjacentes à ideologia do individualismo, e o individualismo é a base indispensável da liberdade.
Leia a Parte 2.
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