DN, 14 de fevereiro de 2019
Shamima Begum tinha 15 anos quando fugiu para do Reino Unido para se juntar ao Estado Islâmico. Quatro anos depois está grávida e quer voltar para ter o bebé.
Shamima Begum e Amira Abase tinham 15 anos e Kadiza Sultana 16, quando desapareceram das suas casas em Londres para se juntarem ao Estado Islâmico. Quatro anos depois, uma das jovens, Shamima Begum, pede ao Reino Unido que a aceite de volta, numa entrevista partilhada esta quinta-feira e feita pelo The Times. Grávida de nove meses e sem o marido, depois de este ter sido capturado por um grupo de combatentes sírios, a jovem de 19 anos encontra-se num campo de refugiados entre milhares de pessoas e pode dar à luz "a qualquer momento".
O que motiva Shamima a querer voltar para o Reino Unido é a preocupação com a saúde do filho. Depois de ter perdido duas crianças, tem receio que a história se repita, o que a fez abandonar Baghuz e o campo de batalha. A primeira criança morreu com um ano e nove meses e foi enterrada há um mês. O segundo filho morreu há três meses, devido à falta de nutrição. "Quando o levei ao hospital não havia medicação suficiente para o ajudar". Mesmo já tendo deixado Baghuz, Shamima receia que o filho adoeça no campo de refugiados e apela ao Reino Unido para que a receba de volta. "Eu sei que no Reino Unido tudo vai ser resolvido - pelo menos, no que toca à saúde."
Mesmo querendo voltar ao seu país, a jovem britânica não mostrou em momento algum, qualquer tipo arrependimento da sua escolha em se juntar ao Estado Islâmico. Conta que a sua vida enquanto membro do Estado Islâmico foi "normal" e de acordo às suas expectativas. "Às vezes, há bombas e assim, mas de resto...". Quando questionada se algum dia tinha assistido a uma execução respondeu negativamente mas chegou a ver cabeças decepadas em caixas o que "não a incomodou minimamente". Justifica-se dizendo pensar "no que ele faria a uma mulher muçulmana se a apanhasse".
Segundo o correspondente da BBC Dominic Casciani, se houver autorização para Shamima voltar esta terá que percorrer um longo caminho." Se ela tivesse menos de 18 anos de idade, o governo teria o dever de levar em consideração o que seria melhor para o seu filho", no entanto, a jovem já atingiu a idade adulta, o que a torna responsável pelas suas escolhas.
Casciani compara a história de Shamima a outra jovem britânica, Tareena Shakil, que saiu da zona de guerra com o filho e mentiu aos serviços de segurança para conseguir voltar. Foi presa e acusada de pertencer a um grupo terrorista. "Supondo que Shamima conseguiria chegar a um aeroporto, o Reino Unido poderia bani-la temporariamente até que esta concordasse em ser investigada e monitorizada. Os serviços sociais também, certamente interviriam para questionar se o seu filho deveria ser retirado para o proteger da radicalização."
Algo que pode jogar a favor de Shamima foram as suas afirmações sobre o futuro do Estado Islâmico. A jovem conta que existe tanta corrupção e opressão a acontecer que não acredita " que eles mereçam a vitória." Quando questionado sobre o caso, o ministro da Segurança, Ben Wallace, disse que não iria colocar em risco a vida das autoridades britânicas para resgatar cidadãos britânicos que foram à Síria e ao Iraque para se juntarem ao Estado Islâmico. "Apesar de a Grã-Bretanha ter o dever de cuidar dos filhos dos britânicos na Síria, também tem o dever de proteger todos os cidadãos do Reino Unido" disse à Rádio BBC. Atualmente, não há diplomatas britânicos na Síria por causa dos riscos de segurança, logo, "se Begum quiser voltar ao Reino Unido, terá de ir à Turquia ou ao Iraque para serviços consulares"
Peter Fahy, um ex-chefe de polícia que liderou o programa de prevenção ao terrorismo, na época da fuga da jovem comentou a história de Shamima afirmando que se a jovem se mostrasse arrependida, a situação seria vista de uma forma diferente."Seria um grande desafio e exigiria uma grande quantia de dinheiro mantê-la segura e impedir que atraísse extremistas islâmicos e extremistas de direita"
Segundo o The Times, Kadiza Sultana, morreu num ataque aéreo em Raqqa, a antiga capital do território do Estado Islâmico.
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