Gatestone, 05 de novembro
Por Raymond Ibrahim
- "Tenho orgulho de ser iraquiano, amo meu país. Mas o meu país não tem orgulho que eu faça parte dele. O que está acontecendo com meu povo (cristão) não é nada menos do que genocídio. Acordem!" — Douglas al-Bazi, Pároco Católico Iraquiano de Erbil.
- "Entrar em contato com as autoridades nos obriga a nos identificarmos (como cristãos) e não temos certeza se os que nos ameaçam não são os mesmos que estão nas repartições públicas para nos protegerem." − Cristão Iraquiano, explicando porque os cristãos do Iraque não apelam para as autoridades governamentais e pedem proteção.
- Os currículos escolares patrocinados pelo governo mostram os cristãos autóctones como "estrangeiros" indesejados, embora o Iraque tivesse sido cristão por séculos antes de ser conquistado pelos muçulmanos no século VII.
"Mais uma onda de perseguições aos cristãos do Iraque será jogar uma pá de cal no cristianismo do país após 2 mil anos", ressaltou recentemente um líder cristão iraquiano. Em uma entrevista concedida no início deste mês, o arcebispo caldeu Habib Nafali de Basra ponderou sobre a conjuntura de mais de uma década de violenta perseguição que praticamente exterminou a minoria cristã do Iraque. Desde a invasão liderada pelos EUA em 2003, a população cristã encolheu de 1,5 milhão para cerca de 250 mil, uma queda de 85%. Nesses 15 anos, os cristãos foram sequestrados, escravizados, estuprados e massacrados, por vezes crucificados; em média a cada 40 dias uma igreja ou um mosteiro foi destruído, ressaltou o arcebispo.
Embora muitas vezes se parta do pressuposto que o Estado Islâmico (ISIS) tenha sido a fonte de inspiração da perseguição, desde a retirada do grupo terrorista do Iraque, a situação dos cristãos não melhorou praticamente nada. Conforme salientou o arcebispo, os cristãos continuam sofrendo de "violência sistemática" cujo propósito é "destruir seu idioma, a fim de criar rachas nas famílias e impeli-las a deixarem o Iraque".
De acordo com o relatório do "World Watch List 2018" os cristãos do Iraque, o oitavo pior país do planeta para se ser cristão, estão sofrendo de "perseguição extrema" e não apenas dos "extremistas".
A despeito de "Grupos Religiosos Violentos" (como o Estado Islâmico) serem "assombrosamente" responsáveis, duas outras classes sociais raramente associadas à perseguição de cristãos no Iraque também são "assombrosamente" responsáveis, assinala o relatório: 1) "autoridades governamentais em qualquer hierarquia, local ou nacional", e 2) "líderes religiosos não cristãos em qualquer nível, local ou nacional". Além disso, mais três grupos sociais − 1) "líderes de grupos étnicos", 2) "cidadãos comuns (pessoas do público em geral), incluindo aí vândalos", e 3) "partidos políticos em qualquer esfera, local ou nacional" − todos "imensamente" responsáveis pela perseguição aos cristãos no Iraque. Em outras palavras, praticamente todos estão envolvidos.
O relatório explica:
"Grupos religiosos violentos como o ISIS e outros militantes radicais são conhecidos por atacarem cristãos e outras minorias religiosas por meio de sequestros e assassinatos. Outra fonte de perseguição são os líderes islâmicos, em qualquer esfera, principalmente na forma de discurso de incitamento ao ódio nas mesquitas. As autoridades governamentais em todos os níveis hierárquicos ameaçam os cristãos e os 'incentivam' a emigrar. Além disso, os cidadãos comuns na região norte do país teceram comentários em público, questionando porque os cristãos ainda estão no Iraque".
Inúmeros líderes cristãos regionais confirmam tudo isso. Segundo o bispo ortodoxo sírio George Saliba:
"O que está acontecendo no Iraque é algo estranho, mas para os muçulmanos é normal, isso porque eles nunca trataram bem os cristãos e sempre tiveram uma postura hostil e difamatória contra os cristãos ... Nós costumávamos viver e conviver com os muçulmanos, mas só depois eles mostraram suas garras.... Eles não têm o direito de invadir casas, roubar e atacar a honra dos cristãos. A maioria dos muçulmanos age assim, os otomanos nos assassinavam e subsequentemente os governos dos estados-nação entenderam as circunstâncias, mas sempre deram prioridade aos muçulmanos. O Islã nunca mudou".
O Padre Douglas al-Bazi, pároco católico iraquiano de Erbil, que ainda carrega as cicatrizes da tortura a que foi submetido há 9 anos, diz o mesmo:
Tenho orgulho de ser iraquiano, amo meu país. Mas o meu país não tem orgulho que eu faça parte dele. O que está acontecendo com meu povo (cristão) não é nada menos do que genocídio. Eu imploro: não provoquem outro conflito. É genocídio ... Quando o Islã se encontra em seu meio, a situação pode aparentar ser aceitável. Mas quando se está no meio muçulmano (como minoria), tudo se torna impossível.... Acordem! O câncer está à sua porta. Eles vão nos liquidar. Nós, cristãos do Oriente Médio, somos o único grupo que viu a face do mal: o Islã.
O governo iraquiano é cúmplice, senão atuante, na perseguição. Como um cristão explicou após ser questionado sobre o porquê dos cristãos do Iraque não apelarem para as autoridades governamentais com o intuito de obterem proteção:
"Entrar em contato com as autoridades nos obriga a nos identificarmos (como cristãos) e não temos certeza se os que nos ameaçam não são os mesmos que estão nas repartições públicas para nos protegerem."
Quando os cristãos decidem correr o risco de contatar as autoridades locais, a polícia às vezes os repreende fazendo comentários do tipo: "vocês não deveriam estar no Iraque porque o Iraque é território muçulmano".
O governo iraquiano apenas e tão somente ajudou a fomentar esses sentimentos anticristãos. No final de 2015, por exemplo, o governo iraquiano conseguiu aprovar uma lei que força legalmente crianças cristãs e todas as crianças não muçulmanas a se converterem ao Islã caso o pai delas se converta ao Islã ou caso a mãe cristã se case com um muçulmano.
Os currículos escolares patrocinados pelo governo mostram os cristãos autóctones como "estrangeiros" indesejados, embora o Iraque tivesse sido cristão por séculos antes de ser conquistado pelos muçulmanos no século VII. Conforme um político cristão que trabalha no Ministério da Educação do Iraque explica:
"Não há praticamente nada a nosso (cristão) respeito em nossos livros de história e o que há está totalmente errado. Não há nada sobre o fato de nós estarmos aqui antes do Islã. Os únicos cristãos mencionados são os do Ocidente. Muitos iraquianos acreditam que nós viemos para cá do Ocidente. Que somos hóspedes neste país".
"Se as crianças (cristãs) disserem na escola que acreditam em Jesus", observa um relatório," elas se arriscam a serem espancadas e desprezadas pelos professores".
O mais revelador é que o governo iraquiano contrata e oferece plataformas a clérigos radicais cujos ensinamentos são quase idênticos aos do Estado Islâmico. Por exemplo, o Grande Ayatollah Ahmad al-Baghdadi, um dos principais clérigos xiitas do país, explicou em uma entrevista a uma TV a situação de não muçulmanos que vivem sob o domínio muçulmano:
"Se eles forem do Povo do Livro (judeus e cristãos) exigimos deles o jizya (um imposto sobre os não muçulmanos), se eles recusarem, então nós os combateremos. Isto é, se ele for cristão. Ele tem três opções: se converter ao islamismo ou, se ele se recusar e desejar permanecer cristão, então terá que pagar o jizya. Mas se eles ainda assim se recusarem, então nós lutaremos com eles, nós raptaremos suas mulheres e destruiremos suas igrejas, isto é o Islã!... Esta é a palavra de Alá!"
Considerando que os muçulmanos do Iraque são doutrinados por uma retórica anticristã desde a juventude, começando nas salas de aula e continuando nas mesquitas, talvez não devesse causar espécie o fato de muitos muçulmanos se voltarem contra os cristãos, seus vizinhos, sempre que a oportunidade aparecer.
No vídeo por exemplo, uma família cristã do Iraque traumatizada conta como seus filhos, ainda pequenos, foram assassinados, queimados vivos "simplesmente por usarem uma cruz". A mãe explica como o "ISIS" que atacou e assassinou seus filhos eram seus próprios vizinhos muçulmanos, com quem eles comiam, riram e a quem prestaram serviços educacionais e médicos, que se viraram contra eles e os atacaram.
Ao ser perguntado quem exatamente ameaçou e expulsou os cristãos de Mossul, outro refugiado cristão disse:
"Nós deixamos Mossul porque o ISIS veio para a cidade. A população (muçulmana sunita) de Mossul abraçou o Estado Islâmico e expulsou os cristãos da cidade. Quando o ISIS invadiu Mossul, a população os festejou e expulsou os cristãos... Aquelas mesmas pessoas que abraçaram o ISIS eram as pessoas que moravam lá com a gente... Sim, meus vizinhos. Nossos vizinhos e outros nos ameaçaram. Eles diziam: 'saiam antes que o ISIS pegue vocês'. O que significa isso? Para onde deveríamos ir? Os cristãos não têm nenhum tipo de proteção no Iraque. Quem disser que está protegendo os cristãos é um mentiroso. Um mentiroso!"
Os cristãos do Iraque estão à beira da extinção, menos por causa do Estado Islâmico e mais porque praticamente em todos os níveis da sociedade iraquiana o propósito têm sido e continua sendo o de dar um fim neles.
"Se isso não é genocídio," ressaltou o arcebispo caldeu Habib Nafali no final de uma entrevista recente, "então o que é?"
Raymond Ibrahim, autor do novo livro,Sword and Scimitar, Fourteen Centuries of War between Islam and the West, é Ilustre Colaborador Sênior do Gatestone Institute e Membro do Instituto de Pesquisa Judith Friedman Rosen do Middle East Forum.
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