7 de jun. de 2018

Genocídio Armênio: Violenta Repressão da Turquia

Gatestone, 07 de junho de 2018 


Por Uzay Bulut 



  • O genocídio cristão na Turquia otomana durou 10 anos, de 1913 a 1923, visando armênios, gregos, assírios e demais cristãos. Resultou no aniquilamento de cerca de três milhões de pessoas. Lamentavelmente a agressão turca contra os armênios remanescentes continua.
  • Segundo o mito turco, na verdade foram os "traiçoeiros" armênios que perseguiam os turcos e os turcos agiam em legítima defesa para se livrarem dos armênios assassinos. Uma alegação turca amplamente difundida: "eles mereceram".
  • As mentiras e a propaganda estatal, que responsabilizam as vítimas pelo seu próprio aniquilamento, são o que permitem a incessante perseguição turca em curso contra os armênios remanescentes do país, incluindo a transformação de suas igrejas em mesquitas e a escavação de túmulos e igrejas armênios por caçadores de tesouros atrás de ouro.

O ato público em memória ao Genocídio Armênio que ocorre anualmente, organizado pelo seção de Istambul da Associação de Direitos Humanos da Turquia (IHD) e pelo Movimento Popular Antirracista Europeu (EGAM), programado para 24 de abril, que ocorria todos os anos desde 2005, foi proibido pela polícia, que confiscou faixas e cartazes sobre o genocídio e realizou checagem de antecedentes criminais dos participantes. Três ativistas dos direitos humanos foram detidos e em seguida liberados.


Em entrevista exclusiva concedida ao Gatestone Institute, Ayşe Günaysu, ativista da Comissão Contra o Racismo e Discriminação da IHD, disse que "a caminho da delegacia, os detidos foram obrigados a ouvir músicas racistas com palavras hostis sobre os armênios".

A solenidade que ocorre todos os anos lembra o cerco, prisão e massacre de mais de 200 intelectuais e líderes comunitários armênios em Istambul pelas autoridades otomanas em 24 de abril de 1915, culminando no genocídio armênio. As vítimas foram levadas para uma prisão que hoje abriga o Museu de Arte Islâmica Turca (Türk İslam Eserleri Müzesi). Os armênios foram logo levados para a estação ferroviária de Haydarpaşa de onde foram transportados para a Anatólia onde foram exterminados. Segundo Günaysu:

"Durante nossas homenagens mostramos as cenas do crime. Nós mostramos o Museu de Arte Islâmica Turca e a estação ferroviária de Haydarpaşa , os locais do crime. Nós lemos em voz alta e registramos os nomes de mais de 2 mil cidades, municípios e aldeias armênias destruídas durante o genocídio. Nós escrevemos seus nomes e os exibimos em placas e cartazes. De modo que, não só homenageamos os mortos, como também compartilhamos com o povo da Turquia a verdade sobre o genocídio".

Desde 2010, a IHD se reúne na estação ferroviária de Haydarpaşa para a homenagem. Neste ano se planejava realizar a homenagem na praça Sultanahmet. Günaysu ressaltou:

"Nós não pedimos a permissão do gabinete do governador de Istambul para lembrar o genocídio. Apenas telefonamos para informar a hora e o local do evento. Nossas faixas dizem: 'Genocídio! Reconheçam! Peçam Perdão! Indenizem!' em inglês e turco. A polícia nos avisou que poderíamos realizar o evento com a condição de que não usássemos a palavra 'genocídio'. Nós dissemos que não aceitaríamos a autocensura e que nos concentraríamos na praça Sultanahmet para homenagear as vítimas do genocídio. Também havíamos preparado um comunicado à imprensa em memória do genocídio, mas não pudemos lê-lo nem distribuí-lo à imprensa devido à intervenção policial. A polícia também confiscou nossos cartazes e as fotos dos intelectuais armênios presos em 24 de abril de 1915."

O comunicado à imprensa da IHD, que a polícia impediu de ser distribuído, dizia em parte o seguinte:

"Na raiz de todos os males deste país está o genocídio perpetrado contra os povos cristãos da Ásia Menor e do Norte da Mesopotâmia, contra armênios, assírios e gregos.

Agora, mais uma vez mostramos reverência à memória das vítimas armênias, assírias/siríacas e gregas vítimas do genocídio. E nós, descendentes dos perpetradores do genocídio, repetimos nosso sentimento de vergonha por não termos sido capazes de impedir a continuação do genocídio por meio da negação e de sucessivas ondas de destruição através das gerações."

Lamentavelmente a agressão turca contra os armênios remanescentes continua. Em 28 de dezembro de 2012, uma armênia de 85 anos chamada Maritsa Küçük foi espancada e esfaqueada até a morte em sua casa no bairro de Samatya, onde se encontra uma das maiores comunidades armênias de Istambul.

Günaysu disse que:

"em meio à intervenção policial e às detenções durante a homenagem às vítimas do genocídio em Sultanahmet, a filha de Küçük, Baydzar Midilli, gritou: 'minha mãe é uma vítima de genocídio, no entanto vocês ainda dizem que não há genocídio?!' Quando integrantes do departamento de polícia começaram a se aproximar dela, ao que tudo indica, para detê-la por protestar, Eren Keskin, advogada defensora dos direitos humanos, interferiu e disse que a mãe de Midilli foi assassinada por ser armênia. O chefe de polícia então impediu que os policiais a prendessem".

Em 24 de abril de 2011, 96º aniversário do genocídio, Sevag Balıkçı, armênio, prestando serviço militar obrigatório no exército turco, foi morto a tiros por um nacionalista turco. O assassino ainda não foi apresentado à justiça. Em meio à homenagem às vítimas realizada no mês passado, sete anos depois de seu assassinato, a família e os amigos de Balıkçı permaneceram diante de seu túmulo em Istambul para prestar homenagem a ele. Segundo Günaysu, os policiais disseram aos que estavam reunidos diante do túmulo que eles não podiam mencionar em seus discursos a palavra "genocídio":

"Havia muitos policiais armados no cemitério. Enquanto as pessoas oravam, os policiais estavam prontos a intervir. Dois ativistas pediram aos policiais que respeitassem os que oravam e que estavam de luto. Felizmente os policiais deram ouvidos aos pedidos e se afastaram um pouco da congregação."

O genocídio cristão na Turquia otomana durou 10 anos, de 1913 a 1923, visando armênios, gregos, assírios e demais cristãos. Resultou no aniquilamento de cerca de três milhões de pessoas. Embora tenha passado um século desde então, ainda é uma ferida aberta tanto para as vítimas quanto para seus descendentes. O jornal online Artı Gerçek informou recentemente que as ossadas das vítimas ainda estão visíveis em um lago na região leste da Turquia.


Moradores daquela região chamavam o lago de "Gvalé Arminu" ("lago armênio") após o massacre de mais de mil homens, mulheres e crianças que aconteceu há 103 anos. Segundo o relato, somente duas crianças, escondidas pelos camponeses, sobreviveram. Até as ossadas que aparecem quando o lago seca no verão não produziram uma investigação pelo governo turco, que continua negando o genocídio e procura de forma agressiva silenciar aqueles que tentam se manifestar a respeito.

Em 24 de abril, a Agência Anadolu (AA) financiada pelo governo, publicou uma história com a seguinte manchete: "A Fonte da Renda dos Lobbies Armênios: A Indústria do Genocídio", alegando que a diáspora armênia e a república da Armênia fazem afirmações falsas sobre "a mentira do genocídio armênio" para obter ganhos financeiros.

Naquele mesmo dia, a AA publicou outra história: "os turcos se lembram de terem fugido da opressão armênia". Segundo o mito turco, na verdade foram os "traiçoeiros" armênios que perseguiam os turcos e os turcos agiam em legítima defesa para se livrarem dos armênios assassinos. Uma alegação turca amplamente difundida: "eles mereceram".

As mentiras e a propaganda estatal, que responsabilizam as vítimas pelo seu próprio aniquilamento, são o que permitem a incessante perseguição turca em curso contra os armênios remanescentes do país, incluindo a transformação de suas igrejas em mesquitas e a escavação de túmulos e igrejas armênios por caçadores de tesouros atrás de ouro.

O governo turco precisa acabar com isso.
Uzay Bulut é jornalista da Turquia e membro do grupo de notícias e políticas públicas do Haym Salomon Center. Ela está presentemente radicada em Washington D.C.
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