4 de nov. de 2016

Situação na Turquia é "inadmissível" - prisão dos opositores do governo turco




Euronews, 04 de outubro de 2016. 



Por Dulce Dias



A nova vaga de detenções, na Turquia, provocou uma avalanche de reações vindas dos mais diversos quadrantes.

E as justificações do primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, não parecem convencer ninguém:

Quem foi eleito só pode ser forçado a deixar o cargo noutra eleição. Ninguém pode dizer o contrário. Mas, claro, se as pessoas eleitas estiverem envolvidas em terrorismo, têm de pagar por isso.”

Para o porta-voz do HDP, o partido pró-curdo e mais recente vítima desta nova onda de caça às bruxas, a questão ganha novos contornos.

Já não se trata dos deputados do HDP nem do HDP. Trata-se de saber se a provocação para levar a Turquia para a guerra civil vai resultar ou não”, afirma Ayhan Bilgen.

Uma provocação, mais uma, que inquieta cada vez mais o departamento de Direitos Humanos das Nações Unidas, como afirma a porta-voz Ravina Shamdasani:

Estamos preocupados com o facto de que, embora tendo declarado o estado de urgência e uma derrogação à Convenção Internacional dos Direitos Cívicos e Políticos, as autoridades turcas estão a ir além do admissível.”

Em Berlim, Frank-Walter Steinmeier, o ministro dos Negócios Estrangeiros pede esclarecimentos a Ancara, sobre a direção que o país está a tomar, e avisa:

A luta contra o terrorismo não deve servir de justificação para silenciar a oposição política ou colocá-la atrás das grades.”

Via Twitter, a chefe da Diplomacia europeia, Federica Mogherini, diz-se “extremamente preocupada com as detenções”, e anunciou estar “em contacto com as autoridades turcas” e ter “convocado uma reunião com os embaixadores europeus em Ancara”.



Desde a tentativa de golpe de Estado, em julho, mais de 110 mil funcionários e políticos foram detidos ou suspensos, na Turquia.


Com Reuters e Anadolou

A polícia turca deteve os dois dirigentes do Partido Democrático dos Povos (HDP, pela sigla em língua turca), no quadro do que Ancara define como uma investigação relacionada com “propaganda terrorista.”

Nas eleições de junho de 2015, o HDP acabou com a maioria do AKP ou Partido da Justiça e do Desenvolvimento, do presidente conservador Recep Tayyip Erdoğan.

O HDP conta com 59 lugares dos 550 existentes na Grande Assembleia Nacional da Turquia (Türkiye Büyük Millet Meclisi) o parlamento de Ancara.

Selahattin Demirtas, um dos dirigentes do HDP, foi detido na cidade de Diarbaquir, sudeste da Turquia, na zona de maioria curda. 


Momentos antes, segundo os meios turcos, Figen Yüksekdağ, também dirigente do HDP, era detida na sua casa na capital turca, Ancara.

O HDP publicou um conjunto de imagens nas quais o domicílio de Yüksekdağ é supostamente invadido pelos agentes.

O partido disse ainda, em mensagem publicada na rede social Twitter, que a sua sede nacional, em Ancara, foi também alvo de buscas por parte da polícia.



Segundo a agência de notícias estatal Anadolou, ambos dirigentes recusaram anteriormente prestar declarações numa investigação relacionada com atividades ligadas ao terrorismo.

O Executivo turco confirmou, entretanto, que foram emitidas ordens de detenção para 13 membros do HDP.

Dois dos visados, no entanto, encontram-se no estrangeiro. A lista de detidos foi publicada pela Anadolou. 

A purga de Tayyip Erdoğan depois da tentativa de golpe de Estado. A Turquia passou por momentos de grave tensão durante a tentativa de golpe de Estado militar de 15 de julho de 2016.

O Executivo acusou então o clérigo Fethullah Gülen, atualmente exilado nos Estados Unidos, de ser um dos principais instigadores do golpe e procedeu a uma limpeza no sistema de justiça, de segurança, de ensino e administrativo turcos.

Milhares de pessoas foram despedidas e alvo de processos judiciais, num processo muito criticado pela União Europeia e Estados Unidos e descrito como uma purga por grande parte dos meios de comunicação internacionais.

A nível interno, juntam-se, às críticas da oposição, as vozes de intelectuais turcos em relação ao processo levado a cabo pelo presidente Erdoğan.

Uma dessas vozes é a do jornalista Can Dundarn, um dos três finalistas do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2016, atribuído aos ativistas da minoria Yazidi.

Em entrevista à Euronews, Dundarn referiu-se à Turquia como uma prisão para jornalistas.

Dundarn fora detido depois do jornal que dirigia ter noticiado o alegado contrabando de armas dos serviços de informações da Turquia para rebeldes na Síria.

O jornalista sofreu uma tentativa de assassinato quando se encontrava em liberdade, à espera da decisão de um apelo, tendo posteriormente procurado exílio no estrangeiro.

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