13 de mar. de 2018

EUA ameaçam com intervenção na Síria, Rússia promete contra-atacar




Euronews, 13 de março de 2018. 



Por Francisco Marques



Nikki Haley garante que o Pentágono está pronto para agir na Síria se as Nações Unidas falharem na implementação do cessar-fogo em Ghouta Oriental. Rússia responde a Washington

Os Estados Unidos mantêm-se "prontos para agir" na Síria caso o Conselho de Segurança das Nações Unidas falhe na implementação da resolução 2401 aprovada por unanimidade uma semana após o início da ofensiva em Ghouta Oriental e que impunha um cessar-fogo de 30 dias ainda não respeitado.




O exército fiel ao presidente Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia e o Irão, iniciou a 18 de fevereiro uma operação contra alegados terroristas nesta região nos arredores da capital Damasco sob controlo dos opositores ao regime sírio.

Bombardeamentos e um consequente avanço terrestre do exército sírio têm colocado sob stresse milhares de residentes deste enclave rebelde.

Desde o início da ofensiva, cerca de 1160 pessoas já foram mortas em Ghouta Oriental, estima o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. A larga maioria civis, incluindo centenas de crianças.

As forças do regime de Assad já conseguiram recuperar cerca de 60% do território do enclave, com cerca de 100 quilómetros quadrados e onde residem 400.000 pessoas.

A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, pediu ao Conselho de Segurança para exigir o cumprimento das tréguas numa região sob forte ataque pelo exército de Bashar al-Assad. Se não...

"Os Estados Unidos mantêm-se preparados para agir se tivermos de o fazer. Não é o caminho que preferimos, mas é o caminho que temos demonstrado podermos seguir. E estamos preparados para o voltar a seguir", afirmou Nikki Haley perante o Conselho de Segurança, em tom de ameaça à ONU.

Haley anunciou que Washington apresentou uma nova resolução para um cessar-fogo imediato na Síria, um texto "simples, vinculativo" e que "não permite qualquer alternativa".

A embaixadora dos Estados Unidos criticou a atitude de Moscovo e de Damasco, considerando que "nunca tiveram intenção de aplicar" as tréguas de 30 dias aprovadas a 24 de fevereiro pelo Conselho de Segurança.

As forças fiéis ao presidente sírio insistem ter no alvo apenas alegados terroristas, referindo-se aos opositores descritos pelo regime como ameaças constantes à segurança da capital, Damasco.

Moscovo responde a Washington

A Rússia defende a legitimidade da ofensiva síria em Ghouta Oriental como uma operação antiterrrorismo que não viola a resolução 2401 do Conselho de Segurança da ONU, adotada a 24 de fevereiro.

Já esta terça-feira, Moscovo avisou Washington: qualquer ataque americano na Síria será contra-atacado pela Rússia, garantiu o chefe do Estado-Maior russo, o general Valery Gerasimov, citado pela agência RIA.

Antes da reunião do conselho, a França pediu à Rússia para "parar o banho de sangue" na Síria, através do embaixador francês na ONU, François Delattre.

O diplomata declarou aos jornalistas que se sabe que, "dada a sua influência sobre o regime" de Bashar al-Assad e da "sua participação nas operações", "a Rússia pode parar o banho de sangue" em Ghouta oriental.

"É natural que hoje, nesta altura da crise, os olhos se voltem para ela (a Rússia)", insistiu Delattre.

Guterres exige solução política

O secretário geral da ONU exigiu, na mesma reunião, o acesso humanitário a Ghouta Oriental e já esta terça-feira é esperada a retirada de civis do enclave rebelde.



Numa comunicação ao Conselho de Segurança sobre a não-aplicação das tréguas aprovadas há 15 dias, António Guterres sublinhou ser "urgente permitir" a retirada de pessoas daquele enclave rebelde nos arredores de Damasco.

Sem referir a Rússia, Guterres apelou ainda a "todos os Estados" para agirem de modo a que as tréguas na guerra da Síria sejam cumpridas e que a ajuda internacional chegue aos civis.

Um responsável da ajuda humanitária da ONU na Síria afirmou ser esperada para esta terça-feira a o retorno da evacuação de Ghouta Oriental, onde há famílias a dormir ao relento, por exemplo, em Douma, a maior cidade da região.


"Estamos a prever a retirada de civis, incluindo pessoas a necessitar de assistência médica", afirmou Ali al-Za'tari, citado pela Reuters, a partir do entroncamento de Al-Wafideen, perto de Douma.

A ONU apelou recentemente à retirada de cerca de mil pessoas feridas ou doentes e que precisam de urgentes cuidados médicos.


Os meios de comunicação afetos ao presidente Assad, como agência SANA ou a televisão síria estatal, estão a noticiar e a mostrar o que garantem ser a saída de civis, feridos e doentes, de Ghouta Oriental.

Militares russos, citados pela Reuters, adiantam que pelo menos uma centena de civis já terão abandonado esta terça-feira de manhã o enclave rebelde sírio.

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