18 de jan. de 2018

Igrejas se mobilizam em protestos maciços contra lei que proíbe evangelismo na Bolívia





Gospel Notícias, 18 de janeiro de 2018. 



Os cristãos da Bolívia continuam se mobilizando contra o Novo Código do Sistema Criminal proposto pelo governo e aprovado pelo Poder Legislativo, que criminaliza a atividade evangelística com pena de prisão prevista para quem não cumpri-la.

Em depoimento ao Jornal da RIT TV, o pastor Eder Luís, um dos dirigentes da Igreja Internacional da Graça de Deus no país, afirmou que a comunidade cristã foi surpreendida com a notícia da possibilidade de condenação à prisão por sete a doze anos para quem convidar um não-crente a um culto ou falar sobre a fé cristã.



Essa semana fomos surpreendidos com a notícia de que no novo código penal, que entrará em vigor em um ano e meio, no artigo 88, está criminalizando a prática religiosa. Então estamos aqui lutando, as igrejas evangélicas estão se manifestando e se unindo para que este artigo seja revogado”, declarou Luís.

Vídeos que circulam na internet mostram que estão ocorrendo manifestações na capital La Paz, envolvendo também outros setores da sociedade, como jornalistas, escritores, advogados e outros profissionais autônomos, que também tiveram suas áreas de atuação afetada pela nova legislação, proposta pelo presidente Evo Morales.

O Consulado-Geral do Brasil em Cochabamba, a terceira maior cidade da Bolívia, aconselhou aos brasileiros que vivem no país a não se envolverem nas manifestações, a fim de evitar medidas mais severas da parte das autoridades, como a expulsão.

Aconselha-se a comunidade brasileira residente e de passagem por esta jurisdição consular a não se engajar às aludidas manifestações, em vista das incitações e desdobramentos passíveis de violência; [e] a permanecer em suas respectivas residências, evitando, portanto, ultrapassar os bloqueios que estarão estrategicamente distribuídos pela cidade”, dizia o texto do consulado.


Silêncio

A Igreja Católica é a denominação com maior número de fiéis na Bolívia, e o papa Francisco já se encontrou com Evo Morales em um punhado de ocasiões. Em uma delas, em julho de 2015, o presidente entregou um crucifixo ao pontífice sobre uma escultura de uma foice com um martelo, o símbolo comunista. O gesto foi considerado uma provocação ao líder católico.

Até a última semana, os clérigos católicos bolivianos vinham se mantendo em silêncio a respeito da iniciativa de cerceamento da liberdade religiosa no país, repetindo o comportamento do papa Francisco.

Agora, a Conferencia Episcopal Boliviana afirmou que o projeto de Morales – aprovado no Poder Legislativo – “atenta contra os direitos humanos e os direitos fundamentais”, que incluem a liberdade religiosa.

No entanto essa manifestação havia sido considerada tímida. Em resposta, o arcebispo de Santa Cruz, Sergio Gualberti, fez um sermão contundente, que repercutiu de forma intensa junto à comunidade cristã boliviana.

O bispo afirmou que Evo Morales vem colocando, ao longo dos anos, um plano de perpetuação de poder com as mudanças feitas na Constituição, que o permitiram chegar ao quarto mandato consecutivo como presidente.

Com este sistema, a única coisa que conseguirá será a paz dos cemitérios”, afirmou o bispo, o que gerou enorme comoção. “Hoje, em nosso país, ignorando o clamor do povo, tentam impor um sistema que lhes permite perpetuarem-se no poder, que limita as liberdades, abre caminho à perseguição da oposição e favorece a impunidade da corrupção daqueles que estão no governo”, acrescentou.

O Evangelho nos encoraja a viver nossa vocação para levar a palavra do Senhor com alegria e convicção”, concluiu o bispo, convocando os cristãos do país a protestarem contra a iniciativa, segundo informações do portal Los Tiempos.

O governo, seguindo a cartilha de argumentação dos movimentos de esquerda, reagiu ao discurso do bispo católico, com uma fala evasiva do ministro Galo Bonifaz, que afirmou que a “postura política” da Igreja Católica era inadequada, pois estaria alinhada à “movimentos de extrema-direita”, sem, no entanto, responder aos questionamentos que enxergam as medidas como prenúncios de uma ditadura assumida no país.

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