Forcing Change, Volume 7, Edição 5.
Parte 1
A Tolerância como uma Ferramenta para a Transformação Social
Autora: Berit Kjos (http://www.crossroad.to)
Nota do Editor: Inclui materiais adicionais neste artigo utilizando caixas de texto. O objetivo foi simplesmente aumentar a conscientização do leitor de como os valores e comportamentos estão sendo visados por meio do conceito politicamente correto da "tolerância" e fornecer úteis materiais contextualizados.
"... a realização do objetivo da tolerância requer intolerância em relação às políticas, atitudes e opiniões predominantes e a extensão da tolerância às políticas, atitudes e opiniões que são proscritas ou suprimidas." — Herbert Marcuse, um influente pensador marxista. [1].
"As técnicas de lavagem cerebral desenvolvidas nos países totalitários são rotineiramente usadas nos programas de condicionamento psicológico impostos sobre as crianças nas escolas. Essas técnicas incluem o choque e a dessensibilização emocional... a remoção das defesas... e indução da aceitação de valores alternativos...." — Thomas Sowell. [2].
"Não consigo suportar idiotas de mentalidade estreita como vocês. Vocês estão seriamente doentes." — Um visitante que deixou um comentário a respeito do nosso site.
Em toda a história, "tolerância" significou coisas diferentes para pessoas diferentes. Um século atrás, a maioria definiria tolerância como civilidade em relação às pessoas discordantes, não como a aceitação de visões contrárias. Em contraste, a "tolerância" dos dias atuais exige a aceitação de visões politicamente corretas, mas intolerância em relação àqueles que se apegam aos valores "tradicionais". Ao mesmo tempo em que os líderes da mídia se sentem livres para zombarem dos cristãos, estes estão perdendo sua liberdade para declararem suas convicções. Afinal, eles podem ferir os sentimentos de alguém.
Esta transformação não aconteceu por acaso. Durante o século 20, visionários socialistas redefiniram a tolerância e começaram a usá-la como uma arma eficaz contra os valores bíblicos. Facilitadores treinados nas escolas, no governo, nas empresas e nas igrejas, começaram a virar as normas culturais de cabeça para baixo — depois fizeram as massas se sentirem obrigadas a obedecer às novas diretrizes culturais. O líder da Associação Nacional da Educação (NEA), professor Raymond Houghton, resumiu a enganação em 1970:
"... o controle absoluto do comportamento é iminente... O ponto crítico do controle do comportamento está vindo de forma sorrateira sobre a humanidade sem que esta tenha consciência que uma crise está para acontecer. O homem... nunca conscientemente saberá o que aconteceu." [3].
O ex-estrategista da Fundação Carnegie, Marc Tucker, um amigo de Hillary Clinton e o cérebro que estava por trás da agenda "Escola para o Trabalho", do governo dos EUA, compartilhava esta visão: "Nosso objetivo requererá uma mudança na cultura dominante — as atitudes, valores, normas e modos aceitos de fazer as coisas." [4] [Veja o quadro "A Carta de Tucker".].
Tucker tinha seguido os passos de "cientistas" do comportamento e de mudança da mente, como Herbert Marcuse, um marxista transformacional treinado no "círculo mais interno" do revolucionário Instituto de Pesquisa Social, de Frankfurt, na Alemanha, nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, esse "círculo mais interno" fugiu para os EUA.
A Carta de Tucker
Marc Tucker é o presidente do Centro Nacional para Educação e Economia (NCEE), que foi criado por meio do Fórum Carnegie para a Educação e Economia. Como um líder do NCEE, ele enviou uma carta a Hillary Clinton em 1992, delineando as possibilidades para reforma na educação na nova administração do presidente Clinton. Aqui está o início da carta:
"Ainda não consigo acreditar que vocês venceram. Mas, uma profunda satisfação com essa vitória permeia todos os círculos em que participo. Encontrei-me na última quarta-feira com David Rockefeller em seu escritório; John Sculley, Dave Barram e David Haselkom também estavam presentes. Foi uma grande comemoração. Tanto John e David R. estavam mais expansivos do que nas vezes em que eu os vi antes — eles literalmente irradiavam alegria. Minha visão e a deles é que este país aproveitou sua última chance."
Tucker então propôs um plano de reforma educacional destinado a transformar a paisagem americana, fornecendo uma "rede integrada de oportunidades educacionais para desenvolver as habilidades de uma pessoa, que literalmente vá do berço até a sepultura e seja o mesmo sistema para todos — jovens, velhos, pobres, ricos, trabalhadores e estudantes de tempo integral."
O que se seguiu foi uma abordagem integrada para uma força de trabalho nacional planejada, a ser coordenada por "um sistema de juntas de mercado de trabalho nos níveis local, estadual e federal."
Os perfis dos estudantes seriam incorporados em um banco de dados computadorizado que pudesse ser acessado pelos governos e grandes empresas, para permitir uma ótima empregabilidade A educação se tranformaria em treinamento da força de trabalho e as crianças se tornariam recursos humanos — uma visão tecnocrática de uma sociedade constituída por abelhas-operárias.
Como Tucker explicou:
"Mudanças radicais em atitudes, valores e crenças são necessárias para mover qualquer combinação dessas agendas. O governo federal terá pouca alavancagem direta sobre muitos dos atores envolvidos. Para grande parte daquilo que precisa ser feito, um novo e amplo consenso será necessário."
Em 1934, Marcuse, chamado de "Pai do Politicamente Correto", se uniu com outros agentes da transformação socialista na Universidade de Colúmbia, onde eles desenvolveram a base progressista já lançada anteriormente por John Dewey, o Pai da Educação Progressiva. Anos mais tarde, Marcuse escreveu o ensaio Tolerância Repressiva, que expôs seus objetivos opressores:
"A incerteza da mudança... necessita da tolerância. Entretanto, essa tolerância não pode ser indiscriminada e igual... ela não pode proteger falsas palavras e falsas obras que demonstrem que elas contradizem e se contrapõem às possibilidades de liberação..." [tradução nossa].
"Essa tolerância indiscriminada é justificada em debates inóquos... Mas, a sociedade não pode ser indiscriminada... onde a liberdade e felicidade estão em risco: aqui, certas coisas não podem ser ditas, certas ideias não podem ser expressas, certas políticas não podem ser propostas, certos comportamentos não podem ser permitidos sem tornar a tolerância um instrumento para a continuação da servidão." [Nota de rodapé 1].
Marcuse tornou-se um herói para os movimentos estudantis revolucionários durante os caóticos anos 1960s. Agora, quarenta anos mais tarde, vemos o fruto dos seus esforços: corrupção moral e intolerância com relação aos valores tradicionais. Enfrentando essas dolorosas consequências, Kevin, um adolescente cristão, nos enviou a seguinte observação: "As crianças no ônibus escolar gostam de cantar músicas de Rap que incluem muitas palavras obscenas e perversões... Os esquerdistas, gays e outros dizem que nós, os cristãos, somos intolerantes quando eles próprios são intolerantes. Certa vez, meu professor da sétima série disse que aqueles que afirmam que Deus proíbe a homossexualidade são racistas!"
Poucas das igrejas orientadas para resultados dos dias atuais tomarão posição com cristãos como Kevin. Inspiradas por líderes "bem-sucedidos", como Rick Warren, as igrejas — bem como o mundo corporativo — agora usam sua "tolerância" como um chicote para intimidar os resistentes que ainda se agarram às certezas bíblicas e às verdades que soam como intolerantes. Afinal, esses indivíduos são um obstáculo à marcha coletiva atual rumo ao reino terreal planejado de paz e solidariedade universais.
Em seu livro de grande sucesso de vendas, A Mensagem Secreta de Jesus, Brian McLaren parece ecoar Herbert Marcuse: "... para ser verdadeiramente inclusivo, o reino precisa excluir pessoas, para ser verdadeiramente reconciliador, o reino não pode se reconciliar com aqueles que recusam a reconciliação... O reino de Deus está aberto a todos, exceto aquele que querem arruiná-lo, dividindo-o contra si mesmo." [5; tradução nossa].
Berit Kjos escreveu uma série de artigos intitulada "Igreja Dirigida pelo Espírito ou Orientada por Propósitos?" (disponível na área Pragmatismo na Igreja), que enfatiza os problemas com o modelo de crescimento de igreja proposto por Rick Warren. Depois que lançou esses artigos, um de cada vez, ela foi contactada por pessoas de todo o mundo que tinham experimentado repercussões negativas por terem colocado em questão o envolvimento de suas igrejas locais com os materiais do modelo Igreja com Propósitos. De fato, histórias graves de "resistentes" foram expostas por meio de livros e artigos escritos por diversos autores cristãos preocupados, que foram publicados em canais de mídia alternativos. Aqueles que questionaram o uso, influência e dependência dos ensinos do Modelo Propósitos estavam sendo marginalizados e, algumas vezes, desligados de suas igrejas locais.
Por quê?
Um fator contribuinte inegável nesta tendência era a forte ênfase colocada em "unidade" dentro do modelo Igreja com Propósitos — interpretado com um chamado para calar os dissidentes e qualquer um que faça perguntas difíceis. Além disso, esse tema de unidade foi colocado em prática no Pacto do Membro da Igreja de Saddleback, um curto documento assinado pelos membros da igreja em que Rick Warren é pastor. Em sua maior parte, o texto parece bom, mas não tão escondido na linguagem está o conceito da submissão à liderança e às dinâmicas de grupo, algo bem óbvio quando se estuda os métodos orientados por "comunidade" do Modelo Propósitos.
A primeira parte do Pacto do Membro diz: "Protegerei a unidade de minha igreja... agindo em amor em relação aos outros membros, rejeitando a fofoca e seguindo os líderes."
Como Berit explica na Parte 4 de sua série:
"Uma razão por que as pessoas se conformam ao sedutor 'processo de transformação' nas igrejas evangélicas é o temor da perda. A rejeição dói. Mas, esse temor é útil para os agentes de transformação dos tempos atuais. Exatamente como a punição severa em público serviu ao longo dos séculos para atemorizar as massas e levá-las a conformidade exteriormente, assim também o medo da rejeição agora leva as pessoas de todas as idades 'a seguirem sem reclamar para manterem o bom relacionamento com todos'."
A Natureza Mutável da Tolerância
A tolerância nunca é neutra. Suas fronteiras continuam mudando, frequentemente por meio de governos que servem a si mesmos e que impõem valores públicos por meio de hierarquias religiosas controladas pelo Estado. Usando várias formas de propaganda e disciplina, instituições poderosas fizeram a intolerância pública se voltar contra os inimigos da planejada solidariedade.
Considere a monarquia britânica durante os séculos 16 e 17:
O desavergonhado rei Henrique VIII substituiu o Catolicismo com a Igreja da Inglaterra (Anglicana) quando o papa se recusou a aprovar seu primeiro divórcio (Henrique decapitou três de suas seis mulheres). Após sua morte e o breve reinado de seu filho de saúde frágil, o trono passou para sua filha católica, Maria I, a Sanguinária. Ela restaurou a hierarquia papal e mostrou sua intolerância aos dissidentes queimando-os na fogueira. Quando ela morreu, em 1558, Elisabete I, sua irmã anglicana, tornou-se rainha. Maria perseguiu os protestantes, mas Elisabete perseguiu aqueles que se recusavam a se conformar com a Igreja da Inglaterra. Após sua morte em 1603, o rei Tiago I, que já reinava na Escócia, adquiriu por direito o trono britânico e uniu as duas nações. Tiago formalizou os rituais da Igreja da Inglaterra e não tinha tolerância pelos separatistas protestantes que buscavam uma forma mais simples de adoração. Buscando a liberdade religiosa, esses puritanos fugiram para a Holanda. Perseguidos também ali, eles embarcaram no navio Mayflower rumo à América, em 1620.
O rei Carlos I, filho de Tiago I, foi executado por traição em 1649 e o trono permaneceu vago por cerca de trinta anos. Em 1662, o Parlamento Britânico aprovou a Lei da Uniformidade, determinando a conformidade religiosa com as práticas rituais da Igreja da Inglaterra. Os batistas, presbiterianos e puritanos (como John Bunyan, o autor de O Peregrino), que seguiam sua consciência treinada na Bíblia, foram rotulados como "inconformistas". Os pastores inconformistas que continuaram a pregar enfrentaram a perseguição.
Em 1677, o neto de Tiago, Carlos II, foi coroado. A perseguição aos dissidentes foi rapidamente intensificada. Entre aqueles que enfrentaram a tortura e morte na forca estava uma jovem criada chamada Marion Harvie. Ao se preparar para ser levada ao patíbulo, suas palavras finais mostraram sua fé em Jesus, seu Senhor:
"Porque Ele vive, eu também viverei... Eu o bendigo porque a proximidade da morte não me aterroriza. Ele me tornou tão disposta a abrir mão de minha vida quanto sempre estive disposta a viver neste mundo... Buscai-o e o encontrareis. Eu o busquei e o encontrei; eu o tenho em meu coração e não vou me afastar dele." [6].
O alívio veio em 1689 quando o Parlamento Britânico aprovou a Lei da Tolerância, concedendo liberdade limitada aos dissidentes.
Os cristãos que fugiram para a América durante aquele tempo tinham visto os perigos da religião controlada pelo governo. Um século mais tarde, a liberdade religiosa que eles procuravam tornou-se uma promessa legal, por meio da Primeira Emenda à Constituição dos EUA.
O Desvanecimento da Liberdade
Mas, essa liberdade garantida pela Primeira Emenda está rapidamente se desvanecendo. Mais uma vez, a ferramenta da "tolerância" e as determinações do governo ameaçam nossas liberdades. Mas, os líderes atuais são muito mais sutis e sofisticados do que os reis europeus eram séculos atrás. Armados com técnicas e estratégias psicossociais, os revolucionários pós-modernos estão facilitando um consenso em massa que tem como objetivo silenciar toda a oposição.
Os valores públicos de hoje mostram os resultados. Como escrevo análises sobre o entretenimento popular, geralmente em resposta às perguntas feitas por pais preocupados, recebo muitas cartas de pessoas iradas. Pouco importa que eu tente ser educada e factual em minhas análises — ou que critice a mensagem e não as pessoas — os zelosos defensores do entretenimento popular têm pouca tolerância pelas visões contrárias.
Nos comentários seguintes, observe que a ênfase está nos sentimentos, e não nos fatos.
- Infelizmente, pessoas como vocês ainda existem... Ao ler um dos muitos artigos sobre Harry Potter para uma classe sobre censura, cheguei à conclusão que o fundamentalismo religioso é perigoso e malsão, independente de que religião seja. Você são iguais aos muçulmanos...
- Vocês promovem ódios e medos.
- Vocês são uns tolos e intolerantes... Não há nada de errado com Pokemon... Vivam uma vida boa e morram.
- Suas opiniões são tão perigosas quanto aquelas expressas pelos assim chamados grupos de ódio... Guerra nas Estrelas é apenas um filme, Pokemon é apenas um jogo de cartas e o Cristianismo é apenas uma crença... A parte mais perturbadora sobre seus artigos é o vasto número de indivíduos de "mente fraca" que cegamente seguem suas crenças, aceitando um modo irracional de pensar.
- Não consigo acreditar que existam idiotas como vocês neste planeta! Vocês REALMENTE me fazem sentir medo...
Quando pergunto a esses visitantes se eles gostariam que sites como o nosso fossem proibidos, muitos respondem "Sim". Eles não acreditam que tenhamos o direito de compartilhar nossas visões ofensivas publicamente pela Internet. Em vez disso, eles afirmam o direito de não serem ofendidos por fatos e por uma lógica inconvenientes.
Nossas Respostas a um Mundo Intolerante
Se não podemos deter a transformação, como devemos nos relacionar neste estranho novo mundo? Como podemos amar aqueles que detestam nossas crenças?
Há uma pista em Provérbios 15:1: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira." Isto é verdade! Quando respondo com mansidão, muitos retornam com respostas agradecidas — até arrependidas. A correspondência subsequênte não inclui o Diálogo Hegeliano como um modo de chegar a um consenso. Em vez disso, as expressões iradas tornam-se oportunidades de mostrar o amor de Deus — sem contemporização!
O sistema tradicional de valores do Ocidente pode estar se desvanecendo, mas algumas coisas nunca mudam: a natureza humana, a Verdade atemporal de Deus e Sua força totalmente suficiente. A natureza humana pode estar dirigindo esta transformação social e espiritual. Mas, Deus e Sua Palavra nos permitem permanecer firmes no meio da batalha furiosa que está ocorrendo. "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." [1 Coríntios 15:57].
- Herbert Marcuse, Tolerância Repressiva, em http://www3.est.edu.br/nepp/revista/012/ano06n1_03.pdf
- Thomas Sowell, Ph.D., Indoctrinating the Children, Forbes, 1 de fevereiro de 1993, pág. 65.
- Raymond Houghton, To Nurture Humaneness, ASCD (braço curricular da NEA), 1970.
- Marc Tucker, How We Plan to Do It, Proposta feita à New American School Development Corporation: National Center for Education and the Economy, 9 de julho de 1992.
- Brian McLaren, A Mensagem Secreta de Jesus: Revelando a Verdade Que Poderia Mudar Tudo (Editora Thomas Nelson Brasil), pág.169-170 no original.
- Michael and Sharon Rustin, The One Year Book of Christian History (Tyndale House Publishers, 2003), pág. 52-53.
Parte 2
O Espírito do Tempo
Autor: J. R. Nyquist (http://www.jrnyquist.com)
Por que a economia de mercado está se retraindo e o Estado está crescendo cada vez mais? Houve um tempo em que era óbvio que a liberdade era a única garantia para a prosperidade. Hoje, as pessoas acreditam que o governo pode resgatá-las da pobreza. Mas, a verdade é que o governo está sugando todos recursos da economia, e tornou-se um monstro devorador que pisa o mercado sob seus pés e desmoraliza os investimentos. É preciso perguntar: Por que o mercado não foi defendido de forma bem-sucedida? Acredito que a resposta possa ser encontrada no espírito do nosso tempo e a partir das condições que fizeram surgir esse espírito.
No fim do livro The Strange Death of Marxism (A Estranha Morte do Marxismo), de Paul Gottfried, encontramos uma breve explicação do declínio da sociedade de mercado à medida que ela se degenera em uma "democracia administrada". Gottfried escreveu:
"A consolidação de um Estado administrador, que recorre à ideia de serviço à população e à governança 'científica', selou a condenação da sociedade sobre a qual esse Estado passou a dominar. O novo regime se apropriou das funções da família vitoriana, mediou as relações entre pais e filhos, e entre cônjuges em conflito e, eventualmente, veio a presidir uma sociedade de consumidores desenraizados e desvinculados."
É preciso admitir que Gottfried está falando de algo crucial, quando escreve a respeito do "novo regime" que se apropriou das funções da família vitoriana. Aqui está a chave para tudo o que está acontecendo hoje. Além disso, a aniquilação do pai foi a realização decisiva do novo regime "administrado". Se alguém duvida do impacto econômico desse acontecimento, deve considerar as estatíticas recentes que indicam que 40% dos bebês estão nascendo de mães solteiras.
Meus amigos libertários podem questionar por que os nascimentos fora de um lar constituído pelo vínculo do casamento têm algo que ver com a destruição do capitalismo. A resposta é simples: o Estado do bem-estar social se alimentou da catástrofe social que é a falta de pais provedores. Como os pais não são mais vistos como necessários, e o novo regime promete sustentar todos aqueles que estão enfrentando necessidades, a sociedade é transformada e o espírito do tempo não é mais o capitalismo.
O novo espírio é o estadismo. Agora, em vez de milhões de pais que protegem e proveem para suas esposas e filhos, temos o governo cuidando das mulheres e das crianças. Isto é verdade, pelo menos em princípio e, em última análise, pode-se dizer que todas as mulheres têm um marido estável de verdade. Esse marido é o Estado.
O capitalismo é um sistema de direito à propriedade, e a paternidade é a fonte de onde surge a propriedade. Isto é mostrado melhor no trabalho acadêmico de Stephen Baskerville, cujo artigo recente Por Que Estamos Perdendo a Batalha do Casamento explica que "o casamento existe para conectar o pai com a família". O casamento, ele diz, não é uma instituição neutra em termos de gênero. É o direito de propriedade do pai que estabelece a família como uma unidade econômica e que habilita a função regeneradora da maternidade. Sem esse direito de propriedade, o capitalismo não pode existir, não pode existir propriedade privada efetiva e não existe uma base sólida para a economia nacional.
Como Baskerville demonstra, sempre que a paternidade é descartada ou reduzida em importância, encontramos "matriarcados empobrecidos, saturados pela criminalidade e infestados pelas drogas". Assumindo o papel de proprietário, o Estado torna-se o pai dentro desses "matriarcados". De acordo com Baskerville, "sem autoridade paterna, os adolescentes tornam-se indisciplinados, fazem o que querem, e a sociedade desce ao caos".
Naturalmente, o Estado sempre tem uma razão para intervir cada vez mais nesse tipo de sociedade e, inevitavelmente, na economia. O que muitos defensores do capitalismo deixaram de compreender é a conexão entre a autoridade paterna e o livre mercado. Eles deixaram de compreender que a erosão do modelo patriarcal significou o aparecimento do Estado-leviatã: controles crescentes do governo sobre a economia e o consequente socialismo.
A erosão do patriarcado não foi acidental. Ela foi produzida por meio dos tribunais, por meio de decisões jurídicas que violaram os direitos da propriedade. Como Baskerville explica, o divórcio é o primeiro passo na destruição das liberdades:
"Exatamente como o casamento cria a paternidade, assim também o divórcio deliberadamente a destrói. As Varas de Família, que julgam os casos de divórcio, são em grande parte um método para saquear e criminalizar os pais — os homens são condenados sem terem cometido crime algum — criminalizados e grandemente prejudicados pelos procedimentos e pela legislação do divórcio."
Baskerville acrescenta: "Com um regime assim construído contra ele, nenhum homem de mente sã pensa hoje em se casar e iniciar uma família. Não adianta os moralistas, sentados em suas poltronas, repreenderem... e tentarem persuadir os homens a entrarem em um casamento, pois isso facilmente poderá significar... expropriação e até prisão para eles."
Portanto, retornamos à afirmação de Gottfried em que ele descreve o regime atual em termos do Estado se apropriar das "funções da família vitoriana", podemos encontrar um vínculo crítico entre o colapso do livre mercado e o colapso do lar formado por um homem e uma mulher.
A partir das cinzas da família tradicional surge agora uma nova ideologia multicultural. Com a família burguesa (classe média) destruída e o direito de propriedade do pai descartado, não há nada que resta, exceto a administração burocrática dos destroços humanos — as crianças sem pai e as mães que necessitam de suporte do Estado. A partir desse regime, diz Gottfried, não há como voltar atrás:
"As pré-condições sociais para um retorno ao passado, mesmo em um sentido limitado, como voltar aos papéis dos gêneros e a um Estado do bem-estar social constitucionalmente mais limitado, como o que existia até meados do século 20, não estão mais presentes. A mídia de massa e o sistema educacional alteraram a moralidade social."
Este último ponto precisa ser compreendido antes de apresentarmos o próximo e até mais devastador ponto tratado por Gottfried: o novo regime se estabeleceu como moralmente superior ao sistema que ele destruiu e essa superioridade moral baseia-se na ideia que a mídia de massa e os educadores estão "liberando" os indivíduos oprimidos do preconceito e da ignorância, da desigualdade e das injustiças do sistema patriarcal.
De acordo com Gottfried, a Europa está mais profundamente dentro desse regime que os EUA. Se olharmos para a bancarrota da Europa e se considerarmos a iminente bancarrota dos EUA, há somente uma diferença de meses, ou no máximo de alguns poucos anos, entre o colapso de um e o colapso do outro.
Por que a economia de mercado está se retraindo e por que o tamanho do Estado está crescendo continuamente? A sociedade foi transformada em seus fundamentos. Isto foi feito sem consideração pelo quadro maior. Este é o espírito do tempo. O que virá em seguida será o cataclismo do tempo.
Citações Sobre a Família
1. "Embora a unidade política básica da sociedade moderna seja o indivíduo, a unidade social básica em toda a história humana sempre foi a família: aquela unidade imemorial de um homem e uma mulher casados e seus filhos dependentes, que vivem todos juntos no mesmo lar." — William D. Gairdner, The War Against the Family (Stoddart, 1992), pág. 3.
2. "Para o cristão, o casamento e a família foram ordenados por Deus e sempre serão a instituição fundamental da sociedade. Para aonde for a família, também irá a sociedade." — David A. Noebel, Understanding the Times (Harvest House, 1991), pág. 484.
3. "A dissolução da família é o início da dissolução da nação, o início da anarquia." — John MacArthur, The Family (Moody Press, 1982), pág. 19.
4. "Felizmente, a maioria de nós foi criada por nossos pais, não pelo Estado. Aprendemos as ideias singulares de nossos pais, embora talvez não sigamos todas elas. Copiamos suas idiossincrasias, adotamos seus hábitos e suas tradições especiais. Deste modo, a unidade familiar atua como um freio ao poder do Estado, como uma zona-tampão entre o governo e o indivíduo. Se o Estado criasse todas as crianças, o poder do Estado de fazer lavagem cerebral e forçar a conformidade seria extraordinário." — John Eidsmoe, God and Caesar (Crossway, 1985), pág. 117.
5. "Se as sociedades livres têm um futuro, será por que elas entenderam ou redescobriram um modo de restaurar o valor das crianças para seus pais, e dos pais um para o outro." — Phillip Longman, The Empty Cradle (Basic Books, 2004), pág. 196.
6. "Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne." [Efésios 5:31].
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