Euronews, 29 de maio de 2017.
Um grupo de soldados faz um treino de rotina numa floresta da Gotlândia, a maior das ilhas da Suécia. A base militar situa-se no continente. Estes exercícios estendem-se por alguns meses apenas e servem como preparação para o reforço das tropas destacadas aqui. Em breve, haverá cerca de 300 militares mobilizados de forma permanente na Gotlândia. Há preparativos, aliás, em todo o país para um eventual conflito que não tem nome, embora o espetro da Rússia esteja sempre presente.
“Esta mobilização explica-se pelo contexto instável que se vive no Báltico. Há cada vez mais exercícios militares nesta região. A Suécia está a reforçar a sua capacidade militar e a Gotlândia é uma parte importante desse processo”, explica-nos o comandante Mattias Ardin.
Esta ilha de 57 mil habitantes ocupa uma posição estratégica, em pleno mar Báltico, face a vários países e ao enclave russo de Kaliningrado. O cenário de uma ofensiva por parte de Moscovo é considerado altamente improvável. Mas os responsáveis militares suecos querem estar preparados para qualquer eventualidade.
#Gotland. L'équilibre de la #Baltique menacé par la #Russie ? #Suède #Otan par @CamilleStrub : https://t.co/GaZbORQ1Km— Regard sur l'Est (@RegardsurlEst) 19 de maio de 2016
“Temos mísseis de defesa antiaérea. As companhias contam com 4 unidades cada uma, com uma capacidade de alcance que cobre toda a área da Gotlândia. Podemos enfrentar qualquer tipo de ameaça. Mas é verdade que isso é cada vez mais difícil, dada a diversidade de armamento e tecnologias que existe hoje em dia. O míssil Iskander, por exemplo, pode atingir a Gotlândia se for disparado de Kaliningrado”, afirma o sargento-mor Henrik Wulff.
“Neste momento, ainda não tenho receio”
Estocolmo aumentou os gastos no setor militar e fechou recentemente um acordo com a NATO, da qual não faz parte, que prevê a mobilização das tropas da Aliança Atlântica para esta ilha em caso de necessidade.
Will Gotland join NATO before (the rest of) Sweden does? https://t.co/a3UvlbESD9— Edward Lucas (@edwardlucas) 20 de abril de 2017
No próximo mês de setembro, a Gotlândia vai acolher cerca de 20 mil soldados para exercícios militares, aos quais se vão juntar tropas dos Estados Unidos, França, Noruega, Dinamarca e Estónia. Nada que impressione muito Moscovo, que por sua vez conta organizar simulações na Bielorrússia e em Kaliningrado com mais de 100 mil soldados.
Durante décadas a Gotlândia foi um ponto nevrálgico na defesa sueca. Em 2005, Estocolmo decidiu desmilitarizá-la, face à evolução do contexto da segurança. As recentes reviravoltas geopolíticas voltaram a motivar a presença de soldados na ilha. Nada que pareça perturbar os habitantes locais.
“Acho que é positivo que restabeleçam a capacidade militar aqui da ilha. Não que considere que haja uma ameaça iminente por parte da Rússia. Não acredito que aconteça, não há razão para isso. Mas se acontecer alguma coisa noutra parte do mundo, pode haver um efeito de ‘bola de neve’ que nos afete”, aponta Egil Falke, um residente.
Outra moradora, Anne Scheffer, realça que “quando se decide reforçar a presença militar, é porque existe a possibilidade de acontecer alguma coisa. É a regra do jogo. Sempre que há uma escalada, há uma resposta. Talvez as coisas mudem mesmo. Mas, neste momento, ainda não diria que tenho receio”.
Procedimentos em caso de conflito
É um facto que o Estado sueco solicitou a todas as câmaras municipais o desenvolvimento de programas de defesa civil no âmbito do plano nacional de segurança, no sentido de preparar a população para situações de emergência, incluindo um conflito militar. O responsável do plano de contingência na Gotlândia é Christer Stolz.
“Temos uma lista das coisas que as pessoas devem ter em casa num contexto de crise. Utensílios de cozinha, roupas quentes, fósforos, velas, garrafões de água e comida enlatada para, pelo menos, 3 dias. Há vários cenários diferentes. Pode ser um corte de eletricidade, por exemplo, ou algo que perturbe o funcionamento geral da sociedade. A Gotlândia é uma ilha. Estamos dependentes dos transportes. Se estes forem interrompidos, as pessoas têm de conseguir governar-se durante três ou mais dias”, afirma.
A Suécia lançou também um vasto programa de reabilitação de abrigos antiaéreos que datam da Guerra Fria. Ao todo, há cerca de 65 mil em todo o país, o maior rácio por habitante a nível mundial.
A missão de André Samuelson é apurar o estado em que se encontram os perto de 350 abrigos listados na Gotlândia. “As pessoas usam-nos para arrumação. O meu trabalho é verificar se foram feitas modificações ao longo dos anos. Tenho de ver se as paredes e o interior estão em conformidade, se há danos. Um abrigo deve estar pronto a usar no espaço de 48 horas. Este, por exemplo, deve poder acolher 120 pessoas. É possível deitar fora facilmente tudo o que está aqui”, explica.
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