RTP, 29 de novembro de 2016.
A Rússia pretende seguir o exemplo da China no que diz respeito ao controlo e filtragem de conteúdos da Internet. Os dois países têm colaborado para que a Internet russa adote elementos da Great Firewall chinesa, que regula e censura a rede no país. A estratégia foi discutida ao longo do ano em vários encontros em Moscovo e Pequim.
A legislação que concede ao Kremlin primazia sobre o ciberespaço – pontos de troca de tráfego, domínios da Internet e cabos de fibra ótica transfronteiriços que constituem a arquitetura da rede - foi anunciada este mês.
Esta limitação da liberdade na rede resulta do medo do Governo russo de que a Internet possa ser utilizada para mobilizar protestantes e disseminar informações e ideias consideradas perigosas. O tema tem sido debatido com a China ao longo do último ano.
A primeira reunião entre os dois países, em abril, contou com representantes russos e chineses, entre os quais Igor Shchyogolev, assistente de Vladimir Putin para assuntos da Internet, e Fang Binxing, membro do Partido Comunista da China (PCC) e principal responsável pela atual censura da rede no país.
Em junho, o Presidente russo foi a Pequim assinar um comunicado conjunto sobre ciberespaço.
“Origens duvidosas” da Huawei
Ainda durante o verão e na sequência de várias medidas de combate ao terrorismo, a Rússia adotou a lei de Yarovaya, segundo a qual os fornecedores de Internet russos são obrigados a armazenar os dados dos utilizadores durante seis meses e os metadados durante três anos.
No entanto, a Rússia não dispõe da tecnologia necessária para conseguir lidar com a quantidade de informação que a lei de Yarovaya implica. Não podendo contar com as tecnologias ocidentais, a ajuda da China revela-se essencial.
Em agosto, o fabricante russo de equipamentos de telecomunicações Blat começou a negociar com a empresa de telecomunicações chinesa Huawei, tendo em vista comprar tecnologias de armazenamento de dados.
“A Huawei é essencialmente um braço do Estado chinês, independentemente de quem a possui”, confessou o advogado Gordon Chang ao diário britânico The Guardian. “As suas origens são duvidosas, o crescimento é demasiado rápido para uma empresa privada na China, os representantes do Estado apoiam os seus esforços e a ausência de concorrência também significa algo”.
O caso LinkedIn
A lei de Yarovaya não é a única a restringir a utilização da Internet na Rússia. Outra legislação aprovada há dois anos obriga ainda a que os dados dos utilizadores do país sejam armazenados em território russo.
Apesar de o Facebook e o Twitter terem conseguido, até ao momento, resistir à pressão das autoridades e manter os seus servidores noutros locais sem sofrerem consequências, a rede social e profissional LinkedIn foi bloqueada em novembro. Dos 467 milhões de membros em todo o mundo, mais de seis milhões eram russos.
Esta lei parece ter influenciado a China, que a 7 de novembro também adotou a estratégia de cibersegurança da aliada Rússia e ordenou que todos os dados fossem armazenados em território nacional, levantando preocupações a nível internacional sobre a censura no país.
A colaboração entre as potências de Putin e Jinping parece, assim, beneficiar ambas as partes.
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