Gatestone, 06 de outubro de 2016
"As ações de seus antepassados são o motivo de nossas ações de hoje".
Por Soeren Kern.
- O documento do Estado Islâmico sustenta que desde o estabelecimento da inquisição espanhola de 1478, a Espanha "fez de tudo para destruir o Alcorão". Ele denota que a Espanha torturava muçulmanos, incluindo queimá-los vivos. Assim sendo, de acordo com o Estado Islâmico, "a Espanha é um estado criminoso que usurpa a nossa terra". O documento incita os jihadistas a "fazerem reconhecimento das rotas das companhias aéreas e de trens para futuros ataques". Ele também conclama seus seguidores a "envenenarem a água e os alimentos" com inseticidas.
- "Nós iremos matar qualquer infiel espanhol inocente que encontrarmos em terras muçulmanas, e... independentemente se somos de origem europeia ou não, nós iremos matá-los em suas cidades de acordo com nosso plano". — Documento do Estado Islâmico, 30 de maio de 2016.
- "Recuperaremos a al-Andalus, se Alá assim o desejar. Ó querida Andalus! Você achou que esquecemos de você. Juro por Alá que nunca esquecemos de você. Nenhum muçulmano pode esquecer Córdoba, Toledo ou Xátiva. Há muitos muçulmanos fiéis e sinceros que juram que voltarão à al-Andalus". — Vídeo do Estado Islâmico, 31 de janeiro de 2016.
- "A Espanha é a terra de nossos ancestrais e nós a recuperaremos com o poder de Alá". — Vídeo do Estado Islâmico, 7 de janeiro de 2016.
Militantes islâmicos estão intensificando a guerra de propaganda contra a Espanha. Nos últimos meses o Estado Islâmico e outros grupos jihadistas produziram uma enxurrada de vídeos e documentos, convocando os muçulmanos a reconquistarem a al-Andalus.
Al-Andalus é o nome árabe dado às regiões da Espanha, Portugal e França ocupadas pelos conquistadores muçulmanos (também conhecidos como Mouros) de 711 a 1492. Muitos muçulmanos acreditam que os territórios perdidos por eles durante a Reconquista cristã da Espanha ainda pertençam ao mundo islâmico. Eles sustentam que a lei islâmica lhes dá o direito de reestabelecer o domínio muçulmano naquela região.
O documento sustenta que desde o estabelecimento da inquisição espanhola de 1478, a Espanha "fez de tudo para destruir o Alcorão". Ele denota que a Espanha torturava muçulmanos, incluindo queimá-los vivos. Assim sendo, de acordo com o Estado Islâmico, "a Espanha é um estado criminoso que usurpa a nossa terra". O documento incita os jihadistas a "fazerem reconhecimento das rotas das companhias aéreas e de trens para futuros ataques". Ele também conclama seus seguidores a "envenenarem a água e os alimentos" com inseticidas.
O documento conclui que: "as ações de seus antepassados são o motivo de nossas ações de hoje".
Em 15 de julho de 2016 o Estado Islâmico divulgou seu primeiro vídeo de propaganda com legendas em espanhol. A alta qualidade da tradução para o espanhol, tanto na escrita quanto na sintaxe, levou alguns analistas a concluírem que a língua-mãe do tradutor é o espanhol e que a legendagem pode até ter sido feita dentro da Espanha.
Em 3 de junho o Estado Islâmico divulgou o vídeo — "Mês do Ramadã, Mês da Conquista" — que menciona a al-Andalus quatro vezes. A Espanha é o único país não muçulmano, mencionado no vídeo.
Em 30 de maio o Estado Islâmico divulgou um documento de duas páginas em espanhol onde fazia ameaças diretamente à Espanha. O documento anunciava:
"Nós iremos matar qualquer infiel espanhol inocente que encontrarmos em terras muçulmanas, isso para não dizer em sua própria terra. Nossa religião e nossa fé está em seu meio e, muito embora vocês não saibam nossos nomes ou como é a nossa aparência ou se a nossa origem é europeia ou não, nós iremos matá-los em suas cidades de acordo com nosso plano, da mesma forma que vocês estão matando nossas famílias".
Em 31 de Janeiro o Estado Islâmico divulgou um vídeo no qual um de seus jihadistas espanhol adverte a Espanha que ela "irá pagar um preço muito alto" por expulsar os muçulmanos da al-Andalus. O vídeo de oito minutos inclui a seguinte declaração:
"Eu juro por Alá que vocês pagarão um preço muito alto e sua morte será muito sofrida. Recuperaremos a al-Andalus, se Alá assim o desejar. Ó querida Andalus! Você achou que esquecemos de você. Juro por Alá que nunca esquecemos de você. Nenhum muçulmano pode esquecer Córdoba, Toledo ou Xátiva. Há muitos muçulmanos fiéis e sinceros que juram que voltarão à al-Andalus".
Em 7 de Janeiro, a Al-Qaeda no Magreb Islâmico, que está lutando contra o Estado Islâmico pela hegemonia do Norte da África, divulgou um vídeo conclamando por ataques jihadistas em Madrid, como estratégia para ajudar os muçulmanos a recuperarem os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilha no norte da África.
Outro vídeo do Estado islâmico jurou libertar al-Andalus das mãos dos não muçulmanos. Um jihadista falando em espanhol com um forte sotaque norte-africano adverte:
"Digo ao mundo inteiro como alerta: vivemos sob a bandeira islâmica, o califado islâmico. Morreremos por ele até libertar as terras ocupadas, de Jacarta à Andaluzia. E eu declaro: a Espanha é a terra dos nossos antepassados e nós a tomaremos de volta com o poder de Alá. "
Enquanto isso 33 jihadistas foram presos na Espanha em 17 batidas policiais nos primeiros nove meses de 2016, de acordo com o Ministério do Interior espanhol.
Mais recentemente dois cidadãos espanhóis de origem marroquina — Karim El Idrissi Soussi, de 27 anos de idade e outro homem identificado como O.S.A.A de 18 — foram presos em Madrid acusados de atividades terroristas jihadistas. Karim, um dos detidos, estudante de ciência da computação assistiu aos vídeos de propaganda jihadista durante as aulas e ameaçou massacrar seus colegas estudantes.
De acordo com o Ministério do Interior, Soussi tentou se juntar ao Estado Islâmico, mas foi detido pelas autoridades turcas ao tentar cruzar a fronteira com a Síria. Ele foi deportado e acaba de retornar à Espanha.
O Ministério do Interior assinalou que a forte inclinação de Soussi pelo Islã radical ficou evidente em novembro de 2015, quando o centro de treinamento técnico onde ele estudava ciência da computação fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos ataques jihadistas em Paris. Segundo os professores e alunos, Soussi gritava palavras de ordem em apoio aos ataques que mataram 130 pessoas, incluindo 89 na casa noturna Bataclan.
Em outras ocasiões, Soussi justificava publicamente os ataques jihadistas desfechados pelo Estado islâmico, que segundo ele era a forma ideal de governo para todos os muçulmanos. De acordo com o Ministério do Interior, Soussi ia a uma biblioteca pública quase que diariamente para se conectar à Internet e navegar pelos sites jihadistas. Ao que tudo indica ele criava perfis falsos e postava material jihadista em sites de redes sociais. Soussi também criticava os assim chamados muçulmanos moderados e expressava a esperança de que um dia a Espanha se tornasse um emirado islâmico.
Soussi, ao que tudo indica, assistiu os vídeos de propaganda do Estado Islâmico durante as aula de ciência da computação e constantemente ameaçava levar armas para a escola para matar seus colegas.
O outro jihadista, O.S.A.A., foi preso pelos crimes de "glorificar o terrorismo jihadista" e "doutrinar-se para fins terroristas". O Ministério do Interior não deu maiores esclarecimentos.
Um total de 636 jihadistas foi detido no país desde os atentados ao trem de Madrid em março de 2004 nos quais cerca de 200 pessoas foram mortas e mais de 2.000 feridas.
Um estudo recente realizado pelo Instituto Elcano Institute de Madrid constatou que dos 150 jihadistas presos na Espanha nos últimos quatro anos, 124 (81,6%) estavam ligados ao Estado Islâmico e 26 (18,4%) à al-Qaeda.
Dos ligados ao Estado Islâmico, 45,3% são cidadãos espanhóis, 41,1% são marroquinos e 13,6% de outras nacionalidades. Em termos de naturalidade, 45,6% nasceram no Marrocos e 39,1% nasceram na Espanha. Somente 15,3% nasceram em outros países.
No tocante à imigração, 51,7% são imigrantes da primeira geração, 42,2% da segunda ou terceira gerações e 6,1% não têm nenhum background relacionado à imigração, o que significa que são espanhóis convertidos ao Islã.
Quanto à residência, 29,8% foram presos em Barcelona, 22,1% no enclave espanhol de Ceuta no Norte da África e 15,3% em Madrid. Os demais foram presos em mais de uma dezenas de outras localidades ao redor do país.
O Estado Islâmico sofreu uma série de reveses nos campos de batalha do Oriente Médio, mas a ameaça de terrorismo jihadista permanece inalterada. Nas palavras do analista espanhol especializado em terrorismo Florentino Portero: "o Estado Islâmico está respondendo às derrotas militares com mais terrorismo".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter.
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