A cantora criticou a manifestação anti-golpista convocada pelo presidente Erdogan |
DN, 11 de agosto de 2016.
Istambul cancelou os concertos da artista por achar que esta ridicularizou a luta do povo que saiu à rua para tomar posse do seu país
Três municípios turcos do partido no poder, AKP, cancelaram concertos da cantora pop Sila Gençoglu por esta ter criticado a manifestação anti-golpista convocada pelo Presidente, Recep Tayyip Erdogan, no passado domingo em Istambul, noticiou hoje o diário Hürriyet.
Sila, como é habitualmente conhecida a estrela turca, recusou-se a participar no chamado "Encontro pela Democracia e pelos Mártires", convocado para expressar a reprovação popular do golpe de Estado falhado de 15 de julho e homenagear as 240 vítimas de tiroteios ou bombardeamentos dos golpistas.
Centenas de famosos da Turquia marcaram presença na manifestação, que foi encerrada com um discurso de Erdogan proferido perante a multidão.
"É claro que sou contra o golpe, mas prefiro não estar num 'show' desse tipo", comentou Sila sobre a sua ausência na concentração, palavras que lhe valeram uma avalancha de críticas nas redes sociais.
Na quarta-feira, reiterou a sua posição: "Não quero dar explicações sobre este assunto. Quem quer interpretar mal, pois é claro que interpreta mal. Mas mantenho o que disse. Falaram de democracia? Eu também tenho as minhas ideias e disse o que penso".
Em resposta, as câmaras de Istambul, Bursa e Kayseri cancelaram os concertos agendados da cantora, indicou o Hürriyet.
"Há artistas que ridicularizam a nobre posição e luta do povo que saiu à rua para tomar posse do seu país e que a classificam como 'show'. Uma dessas artistas é Sila Gençoglu e, por isso, a câmara municipal decidiu cancelar os concertos marcados para 21 e 22 de setembro", informou a câmara de Istambul.
As autoridades de Bursa e Kayseri também suspenderam os espetáculos de Sila.
Entretanto, segundo uma sondagem hoje divulgada, o Presidente conservador islâmico do país está a registar um enorme aumento de popularidade, com cerca de dois turcos em três a declararem-se favoráveis à sua política após o golpe de Estado abortado contra o seu regime.
Das pessoas inquiridas, 68% afirmaram-se satisfeitas com o trabalho feito pelo dirigente da Turquia, o que representa um aumento de 21 pontos percentuais em relação ao mês de junho, de acordo com a sondagem da empresa Metropoll.
Trata-se do seu segundo melhor índice de popularidade desde que foi primeiro-ministro, em 2012. Erdogan foi eleito Presidente em 2014, após três mandatos à frente do executivo.
Em contrapartida, 27% dos inquiridos disseram-se insatisfeitos com a sua política, contra 47% em junho.
Esta sondagem foi realizada junto de 1.275 pessoas, entre 28 de julho e 01 de agosto, ou seja, cerca de duas semanas após o golpe falhado, por um dos institutos de sondagens mais prestigiados na Turquia.
Uma tentativa de golpe de Estado levada a cabo, segundo Ancara, por elementos infiltrados no exército leais ao teólogo muçulmano exilado nos Estados Unidos, Fethullah Gülen, ocorreu na noite de 15 de julho.
Fizeram fracassar o golpe os cidadãos turcos saídos à rua, em resposta a um apelo do Presidente, a polícia e a grande maioria do exército, que era contra.
O golpe de Estado abortado permitiu a Erdogan, acusado pelos seus críticos de autoritarismo e deriva islamita, consolidar o seu poder no sentido de obter, a prazo, o seu objetivo último: a presidencialização do sistema político turco.
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