Reuters, 03 de julho de 2016.
Por Aleksandar Vasovic.
A Sérvia está realizando um ato de equilíbrio delicado entre suas aspirações europeias, sua parceria com a OTAN, e os seus séculos de aliança religiosa étnica e política com a Rússia.
Belgrado está sendo cortejado pelo Ocidente que tem procurado trazê-lo para o rebanho desde a queda de Slobodan Milosevic em 2000. A Sérvia é agora um candidato a adesão ao bloco da União Europeia, seu parceiro comercial superior e benfeitor.
Belgrado está tranquilamente se movendo em direção a OTAN, apesar das reservas da maioria dos sérvios, mas está sendo cauteloso também em não danificar sua amizade proclamada com a Rússia, que quer aumentar sua influência na região já que é hostil à aliança militar.
“A Sérvia não pode ser totalmente membro da OTAN, mas irá manter o nível máximo de cooperação com ela, sem alterar o seu status (de adesão)”, disse Genady Sysoev, correspondente dos Bálcãs para o jornal Kommersant da Rússia, e especialista em política de Moscou na região.
“A Sérvia não pode se juntar a Rússia, porque... Nenhuma liderança sérvia correria o risco de perder o investimento e a ajuda ocidental”.
A Sérvia é um dos poucos países dos Bálcãs não pertencente aos 28 membros da OTAN, que é extremamente impopular entre os sérvios após a sua campanha de bombardeio de 1999 para expulsar as forças sérvias do Kosovo.
As forças de paz da Aliança ainda estão implantadas no Kosovo, ex-província do Sul da Sérvia, cuja independência em 2008 não foi aceita por Belgrado.
Mas em 2006 a Sérvia, que aprovou a neutralidade militar, juntou-se em parceria com a OTAN para o programa da Paz em 2015, assinando o Plano de Ação de Parceria Individual – o mais alto grau de cooperação entre a aliança e um país que não é aspirante a se juntar a ela.
“A Sérvia demonstrou grande entusiasmo para a parceria com a OTAN, as relações entre a OTAN e a Sérvia estão em desenvolvimento, e os benefícios para a Sérvia vão aumentar”, Gordon Duguid, vice-chefe da missão dos Estados Unidos para a Sérvia, foi citado pela agência de notícias Tanjug como tendo dito isso em 28 de junho.
A Sérvia está, no entanto, em profunda cooperação com a OTAN como um não membro, mas é uma aliada da Rússia que, por exemplo, pediu que o Kosovo se torne um membro das Nações Unidas, a pedido de Belgrado.
A Sérvia também compartilha tradições cristãs eslavas ortodoxas com a Rússia e depende dela para questões de energia. A maior companhia de petróleo da Sérvia, Naftna Industrija Srbije, é intermediária da Rússia e suas importações de gás provenientes do país, e é de propriedade majoritária de Moscou.
Como um símbolo de boas relações, Belgrado em 2012 também permitiu que Moscou criasse uma base de resposta rápida em situações de emergência, como incêndios florestais e inundações na cidade do sul da Sérvia, em Nis.
O poder militar sérvio está vagamente baseado na tecnologia russa, um legado dos antigos laços da Iugoslávia com a União Soviética.
Linhas finais.
Políticos sérvios não querem reconhecer abertamente a extensão da parceria com a OTAN, porque eles não querem alienar as pessoas no interior do país que olham para a Rússia ou têm ressentimentos da Aliança Atlântica.
“Eles estão com medo que cada menção a ela (OTAN) vá afetar o modo como veem a aliança que é muito impopular”, disse Milan Karagaca, um ex-diplomata militar e membro do Centro de Belgrado para a Política Externa, um Think-Tank.
Belgrado, que se recusou a juntar-se as sanções do Ocidente contra a Rússia, embora mantendo o seu comprometimento e respeito pela integridade territorial da Ucrânia, também pisou em gelo fino para evitar desagradar Moscou.
Desde 2000, a Rússia de Vladimir Putin como presidente e primeiro-ministro, visitou a Sérvia várias vezes, incluindo em uma viagem em 2014, quando ele foi convidado de honra no desfile militar que marca a libertação de Belgrado da Alemanha Nazista.
O presidente sérvio Tomislav Nikolic e o primeiro-ministro Aleksandar Vucic também viajaram a Moscou em várias ocasiões e suas visitas foram seguidas de relatos da mídia sobre compras de armas em grande escala. Em 28 de junho, Vucic disse que a Sérvia quer comprar quatro caças russos MIG-29 por 260 milhões de euros.
A mídia pró-governo tem especulado que a visita do primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, também abordará a queda provisória de cooperação militar.
Mas até agora, os resultados têm sido modestos. Em 28 de junho, o país recebeu dois helicópteros russos de serviço público Mi17, que foram comprados por 25 milhões de euros. Sua chegada, com Vucic presente, foi mostrada ao vivo na televisão nacional, ao contrário de eventos de natureza semelhante envolvendo a OTAN.
“A cooperação militar-política (entre Sérvia e a Rússia) não se expandiu significativamente...Tem havido muita conversa”, disse Sysoev.
Por outro lado, em 2015, o exército sérvio participou em 197 atividades com a OTAN e outras 370 atividades bilatérias com países que são membros da aliança. Apenas 36 foram organizados com a Rússia. De 21 exercícios de treinamento multinacional, os militares sérvios participaram apenas de dois com a Rússia.
“O objetivo da Sérvia é aderir à União Europeia e o processo também incluirá agenda de Segurança Comum e de Política de Defesa da União Europeia. A maioria das políticas da OTAN cabem na agenda”, disse um oficial da defesa sérvia, sob condição de anonimato. “A Rússia continua a ser um parceiro, não vamos aderir à OTAN, mas nossas faces estão viradas para o Ocidente”, disse ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário