Euronews, 07 de junho de 2016.
Por Francisco Marques | Com TASS, TIMES OF ISRAEL
Vladimir Putin anunciou esta terça-feira uma parceria “na luta contra o terrorismo” entre a Rússia e Israel. A aliança foi revelada no decorrer da terceira visita, em nove meses, de Benjamin Netanyahu a Moscovo.
Acompanhado pela mulher e dois outros membros do governo hebraico, o primeiro-ministro de Israel — curiosamente um forte aliado dos Estados Unidos — foi recebido esta terça-feira, no Kremlin, pelo Presidente da Rússia.
#Netanyahu arrives in Moscow for talks with Putin (VIDEO) https://t.co/CR7H1QdNZB— RT (@RT_com) 7 de junho de 2016
Prime Minister Benjamin Netanyahu met today with Russian President Vladimir Putin at the Kremlin in Moscow. pic.twitter.com/6zAp0OWYQb— PM of Israel (@IsraeliPM) 7 de junho de 2016
Nas boas vindas, Putin sublinhou a importância para a Rússia de boas relações com Israel. “Não apenas porque Israel é uma peça-chave no Médio Oriente, mas também pelas relações históricas entre os nossos países”, afirmou o Presidente russo, destacando, sobretudo, o forte potencial para o reforço de relações bilaterais da significativa imigração russa estabelecida há muita no Estado hebraico.
#Moscow: Meeting with Prime Minister of Israel Benjamin Netanyahu https://t.co/0r8u0zsCUJ pic.twitter.com/JjCnqIAvTK— President of Russia (@KremlinRussia_E) 7 de junho de 2016
Benjamin Netanyahu, por seu lado, sublinhou os interesses comuns entre israelitas e russos, destacando áreas como “a tecnologia, a cooperação agrícola, o comércio e os conflitos regionais”. O conflito sírio, por exemplo, onde a Rússia tem estado envolvida diretamente no apoio ao regime de Bashar al-Assad, estava anunciado como um dos mais importantes na agenda deste encontro.
A presente visita do primeiro-ministro israelita ao líder do Kremlin teve por base os 25 anos do reatar de relações diplomáticas com a Rússia e, tal como em Washington há alguns meses, incluiu em Moscovo a deposição de uma coroa de flores no memorial ao soldado desconhecido, numa clara evocação da II Guerra Mundial, ma qual o “exército vermelho” soviético teve papel decisivo na libertação dos judeus do campo de concentração nazi de Auschwitz.
We came from the ceremony for the unknown soldier and the tunes that were heard are tunes we remember from childhood pic.twitter.com/z5IkVR4Vb1— PM of Israel (@IsraeliPM) 7 de junho de 2016
Nota do editor: na virada do milênio, e até agora, Irã e Israel protagonizaram as maiores tensões diplomáticas na história, talvez até maior do que entre Israel e Palestina. O Irã é de longa data um forte aliado da Rússia no Oriente Médio. A Rússia, por sua vez, que desintegrou a URSS, mas nunca deixou de prontamente apoiar regimes autoritários, faz às vezes de tutor das ditaduras árabes, ou de mercearia, para vender-lhes armas das quais outrora elas nem sequer sonhavam. Foi assim com Gaddafi, com Saddam e Arafat. Vários países potencialmente perigosos possuem armas nucleares, graças à Rússia – o Irã é o mais novo da lista. Durante a virada do milênio, as preocupações crescentes de Israel foi que essa tecnologia parasse nas mãos do Irã, que há muito declarava o seu anseio por destruir o estado judeu.
Quando o presidente Bush invadiu o Iraque, e destituiu o regime socialista de Saddam Hussein, o vitorioso naquela guerra seria o Irã, por vários fatores: primeiro, que o regime do Iraque não era favorável ao xiismo, e tinha forte resistência aos grupos sectários que agiam dentro do país – até por conta de sua adesão ao Baathismo – e estes grupos, muitas vezes, iam contra os interesses do governo, porém, sem nunca serem incomodados. Um caso a que devemos nos atentar é o de Moqtada Al-Sadr, um clérigo xiita iraquiano, que após a queda de Saddam Hussein advogou para si o direito de governar, incitando fanáticos xiitas contra as forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Isso em meados de 2004. Posteriormente, Sadr fugiu do Iraque, e se estabeleceu no Irã xiita. Bush deveria ter feito uma caçada contra Sadr, mas preferiu não investir tanto nisso, e o resultado, é que sob a égide da administração Obama, Sadr retorna ao Iraque e começa a agitação civil mais uma vez. Ou seja: o responsável por várias mortes em 2004, por incitar fanáticos xiitas, continua no Iraque, e sob a proteção de Barack Obama, mas foi George Bush quem não tomou a iniciativa de caçar Sadr, e hoje, o Irã estende sua influência no Iraque por meio dos clérigos xiitas que lá estão. Bush e Obama são culpados disso.A Rússia tem dado ultimatos a Erdogan, mas visando as forças da OTAN por detrás dele. Teerã e Moscou têm planos para o Iraque, e não querem empecilhos em seu caminho. Como Barack Obama não parece mostrar oposição, Teerã e Moscou terão vida fácil. Mas o perigo maior é que com a aproximação gradual do Irã ao Iraque, as forças sectárias podem ganhar nova vida, e o Irã pode transformar o Iraque naquilo que sempre quis: um feudo. Isso por si só constitui um perigo imenso para a região, e principalmente Israel. O Departamento de Estado norte-americano, catalogou o Irã como sendo o principal Estado patrocinador do terrorismo, e ele assim o é. Durante a virada do milênio, além das invasões ao Iraque, e ao Afeganistão, o Irã havia se tornado a maior preocupação por conta da sua suposta aquisição de uma bomba nuclear. As políticas do presidente Bush, nos anos finais de seu mandato giravam em torno disso, e as políticas de Obama deram seguimento a isto. No entanto, bem antes das negociações o Irã já havia obtido essa tecnologia por meio da Rússia. As tensões em meados de 2010 a 2011 eram tamanhas, que a Rússia pessoalmente ameaçou Israel e Estados Unidos, caso interferissem militarmente nas instalações nucleares de Teerã. Na época, Barack Obama já era presidente, e estava no segundo mandato, no entanto, demonstrou uma fraqueza sem igual diante de Moscou e Teerã, e Israel seguiu de cabeça baixa, engolindo o sapo, e deixando a provocação de lado.O fato da Rússia ter ameaçado Israel, e ser uma das aliadas dos maiores inimigos de Israel, por si só já demonstra que essa história de que Israel e Rússia podem cooperar para combater o terrorismo – ou é um erro de Netanyahu, ou é loucura! Ou mau-caratismo. Sergei Lavrov pessoalmente ameaçou retaliar, caso Israel intervisse militarmente em Teerã, no entanto, Netanyahu agora diz que está disposto a cooperar com a Rússia no combate ao terrorismo? Desde a invasão ao Iraque em 2003 em diante, o presidente Bush também manteve-se reticente em atacar o Irã e suas instalações nucleares – e sempre refreando Israel, que já fazia claras advertências a Teerã de que iria intervir, pois estava ciente das atividades nucleares do então presidente Ahmadinejad. Netanyahu causa estranheza – a mim pelo menos – em dizer que pode cooperar com a Rússia, sendo que já recebeu ameaças de Moscou em caso de invadir, ou atacar nuclearmente as instalações onde são desenvolvidos os programas nucleares.O próprio Benjamin Netanyahu disse que as negociações entre o Ocidente e Teerã eram um erro histórico, porque não garantiam que o país obtivesse meios de desenvolver armas nucleares. Quem tem participação nessa chamada “fraude” é a Rússia. Foram os russos que fizeram arranjos para que Teerã obtivesse a “melhor parte” no acordo, onde Obama e o Ocidente retirariam as sanções, enquanto isso, tudo o que os mulás precisariam fazer era esperar o dinheiro retornar ao bolso, e com compensações extras.A Rússia combate tanto o terrorismo quanto o Irã, mas Netanyahu realmente espanta a todos com sua fala dúbia. Se realmente Israel procura cooperar com a Rússia no combate ao terrorismo, então há motivos para duvidar se isso é uma entrega, ou ingenuidade.
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