Epoch Times, 21 de abril de 2016.
Por Leo Timm.
Vinte e quatro províncias foram afetadas e já faz cinco anos que isto está acontecendo, sendo que vários pais perderam seus filhos
Relatos dispersos de mortes misteriosas de crianças, após terem sido vacinadas por toda a China ao longo dos anos, de repente, assumiram um novo e sinistro significado recentemente, depois que uma grande rede de contrabando, que lida com inoculantes adulterados, foi descoberta.
O escândalo tem chamado a atenção, provocando raiva nos responsáveis pela corrupção endêmica da supervisão regulatória da China. Estes são temas comuns relacionados a queixas entre os chineses, embora, neste caso, eles fossem expressos com uma fúria incomum, e por indivíduos que raramente aparecem.
Autoridades no leste da China disseram que o negócio de vacinas ilícitas envolveu mais de 300 pessoas em 24 províncias, mais de 2 milhões de vacinas e 570 milhões de yuans (US $ 88 milhões). As autoridades ainda disseram que uma mulher e sua filha foram as maiores responsáveis por este crime; elas foram detidas no ano passado na província de Shandong.
As mulheres não tinham instalações adequadas para a refrigeração das vacinas que, de acordo com a mídia estatal, eram os tipos usados para tratar raiva, poliomielite, hepatite A e outras doenças.
Usar vacinas potencialmente comprometidas pode levar à incapacidade e à morte, informou a mídia estatal. Um menino de quatro anos, morador do sul da China, morreu dias depois de receber uma vacina para doença meningocócica e poliomielite. Em um caso semelhante, relatado em janeiro deste ano, vários policiais apreenderam uma criança morta dos braços de seus pais em luto.
A mãe, de sobrenome Pang, é uma farmacêutica de 47 anos, e sua filha, Sun, é uma recém-graduada na faculdade de medicina. Elas estão sendo acusadas de operarem um negócio sem licença e venderem vacinas a granel para adultos e crianças, desde 2010, informou a midia on-line chinesa Sohu.
Pang e Sun estão aguardando julgamento e uma possível sentença de morte por seus crimes. Cerca de 40 pessoas foram presas até agora. Não há estimativas de quantas pessoas foram afetadas pelas vacinas contaminadas.
Indignação e censura
Da mesma forma que aconteceu no escândalo do leite em pó em 2003, que afetou centenas de milhares de famílias e causou enorme alvoroço público com a morte de bebês que ingeriram leite em pó falsificado, internautas chineses condenaram firmemente ambas autoras imediatas, bem como o sistema oficial de regulamentação.
“Este é um caso grave e não houve sequer um único funcionário da regulamentação que aparecesse para pedir desculpas, ninguém renunciou …”, disse um usuário, de acordo com a BBC. “Este sistema, que não se importa se os cidadãos comuns vivem ou morrem, causa frustração e indignação.”
“Vinte e quatro províncias foram afetadas e já faz cinco anos que isto está acontecendo, sendo que vários pais perderam seus filhos!”, disse outro usuário em uma publicação da BBC. “Todo este tempo se passou e agora eles revelam isso! Não é um genocídio? ”
Mesmo a famosa atriz Zhang Ziyi, que apareceu em filmes internacionalmente populares como “Crouching Tiger, Hidden Dragon”, manifestou sua indignação sobre o escândalo no Sina Weibo, uma das principais plataformas chinesas de mídia social: “Eu falei no meu Weibo numerosas vezes. Há tantos casos de vacinas estragadas, onde está o sistema nacional de regulamentação? Por que existem tantos casos semelhantes e ninguém faz nada para resolver isto? ”
A atriz disse que levou sua filha para os Estados Unidos para ser vacinada.
Enquanto as autoridades liberaram mais informações específicas sobre quais tipos de vacinas foram afetadas e prometeram punir os responsáveis, o China Digital Times, um site que frequentemente publica informações sobre censura na China, traduziu detalhes das instruções dadas pelo Partido Comunista para a mídia, que haviam sido vazadas na internet.
As instruções eram para a mídia de notícias evitar publicar o escândalo da vacina ou reimprimir um artigo publicado na Peng Pai, um grande site de notícias semi-oficial, com sede em Xangai.
No caso da criança que morreu na província de Guangdong, sul da China, no início deste mês, as autoridades foram rápidas em afirmar que a morte da criança não tinha nenhuma relação com o escândalo de Shandong, embora admitissem que a investigação já estivesse incompleta.
“Se a causa exata ainda está sendo sondada, como já se pode dizer que ela não tem nada a ver com as vacinas afetadas? Disse um internauta cético. “Vocês estão se enrolando em suas próprias mentiras.”
Microbloggers observaram que apesar das alegações do Estado de que iria investigar o escândalo e punir os culpados, nada tem sido feito, e a verdadeira justiça tem estado ausente.
“As pessoas estão agora enfurecidas com o uso de vacinas expiradas na China. No entanto, muito poucos ainda se lembram que o advogado Tang Jingling dedicou-se à assistência às vítimas de vacinas tóxicas há uma década atrás “, escreveu Zhou Fengsuo, um ativista da democracia, no Twitter. “No final, os pais das crianças que foram vítimas foram detidos e Tang foi condenado à prisão por seu trabalho. Apesar disso, o caso nunca mais chamou a atenção do público da forma que merecia, e o maléfico sistema continua a criar novas vítimas”.
Ou como outro comentário chinês no Twitter dizia: “O escândalo da vacina finalmente fez com que alguns amigos meus criticassem o regime e pedissem que os funcionários fossem responsabilizados. Estes amigos costumavam se preocupar apenas com refeições saborosas, passeios e compras no exterior. Quem ama este governo é porque ainda não foi prejudicado por ele”.
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