ZMSCE, 08/02/2025
Por Mihai Andrei
Isso pode abrir caminho para uma alternativa aos laticínios mais sustentável e econômica.
Uma empresa emergente de agricultura molecular revelou uma inovação alimentar inesperada—batatas geneticamente modificadas que produzem proteínas reais do leite de vaca. Essa abordagem revolucionária pode reduzir a necessidade de vacas e diminuir as emissões de gases de efeito estufa. E, no futuro, isso pode levar a um "queijo de batata" nos supermercados, mantendo o sabor e a funcionalidade dos laticínios tradicionais.
Essa tecnologia se baseia na engenharia genética impulsionada por IA para analisar bancos de dados genéticos, e identificar sequências de DNA de origem animal que possam ser integradas com sucesso às células vegetais.
Um novo tipo de queijo
Os humanos consomem queijo há mais de 7.000 anos, e não é difícil entender o motivo. O queijo é rico em nutrientes e calorias, além de ter uma longa durabilidade. No entanto, a indústria de laticínios se tornou uma grande fonte de emissões de gases de efeito estufa, representando cerca de 4% das emissões globais—o mesmo que os setores de aviação e transporte marítimo combinados.
A Finally Foods tem uma ideia para reduzir esse impacto. A empresa israelense quer cultivar proteínas do leite em plantas.
Em vez de depender de vacas para produzir caseína, a proteína essencial para a estrutura do leite e a fabricação de queijo, a empresa modificou geneticamente batatas para que elas produzam essa proteína naturalmente. Funcionando como "biorreatores", essas batatas podem gerar caseína com um custo ambiental muito menor do que a pecuária leiteira tradicional.
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Batatas de caseina |
A caseína representa cerca de 80% das proteínas do leite e desempenha um papel crucial na produção de queijo. Ela é responsável pela textura única do queijo e pelo processo de coalhagem quando exposta ao coalho ou a ácidos, etapa fundamental na fabricação de queijos. Além disso, a caseína garante queijos mais derretíveis, elásticos e estruturados, tornando-se insubstituível em produtos lácteos como iogurte.
Embora alternativas à base de fermentação, como proteínas lácteas derivadas de leveduras e bactérias, tenham avançado na indústria, a abordagem da Finally Foods com batatas promete ser mais simples, acessível e escalável. Em resumo, isso poderia resultar em leite e queijo mais baratos e ecológicos.
Por que batatas?
Essas batatas produtoras de caseína são cultivadas como batatas comuns e, após a colheita, a proteína de caseína é extraída para ser usada na produção de laticínios.
Várias outras plantas poderiam ser utilizadas, mas as batatas são uma escolha ideal porque crescem de forma eficiente em diferentes climas, oferecem altos rendimentos e são amplamente disponíveis no mundo todo. Além disso, o processo de extração da proteína é mais simples do que em culturas como a soja.
A empresa anunciou outro avanço importante. Os laticínios tradicionais possuem quatro proteínas principais de caseína—alfa 1, alfa 2, beta e kappa—todas essenciais para que o leite possa coalhar, derreter e esticar no queijo. A maioria dos métodos de fermentação microbiana tem dificuldade em produzir todas as quatro caseínas juntas, exigindo diferentes cepas microbianas para fabricar cada proteína separadamente. Em batatas, pesquisadores aparentemente conseguiram cultivar todas as quatro ao mesmo tempo, essencialmente criando a proteína do queijo por completo.
Se bem-sucedida, essa descoberta significa que a caseína cultivada em batatas poderia levar a um queijo idêntico ao queijo lácteo tradicional.
"Nosso objetivo não é fornecer ao mercado uma mistura de proteínas de caseína e outras proteínas da planta hospedeira", afirma Dafna Gabbay. "Estamos produzindo proteínas de caseína puras, sem DNA, para que o produto final não seja um OGM (organismo geneticamente modificado). O que estamos desenvolvendo é um sistema que nos permitirá extrair e purificar as proteínas de caseína de forma econômica."
Isso pode realmente substituir a produção de laticínios?
O leite sintético é um novo produto, mas ainda é um mercado emergente. De acordo com um relatório recente, a fermentação sintética pode criar um milhão de empregos até 2035 apenas nos EUA, com o setor de laticínios desempenhando um papel importante nesse crescimento.
Enquanto a fermentação de precisão continuará ganhando força, a agricultura molecular oferece uma abordagem potencialmente mais barata e escalável. A economia de cultivar proteínas lácteas em plantas pode tornar essa técnica mais competitiva a longo prazo.
Mas haverá grandes desafios no caminho.
Os governos frequentemente impõem regras rigorosas sobre culturas geneticamente modificadas e, de modo geral, tendem a ser mais restritivos com plantas do que com produtos de fermentação artificial. Além disso, microrganismos crescem em dias, enquanto plantas levam semanas ou meses.
No entanto, o maior desafio pode ser convencer as pessoas a aceitar culturas geneticamente modificadas para a produção de laticínios. A Finally Foods pretende vender para outras empresas, e não diretamente aos consumidores. Mas essas empresas ainda precisarão convencer os consumidores.
Por enquanto, o primeiro teste de campo está programado para acontecer no sul de Israel. Se os resultados forem positivos, a empresa buscará aprovação regulatória em Israel e nos EUA.
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Fonte:https://www.zmescience.com/science/news-science/protein-dairy-inside-potato/
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